Em 2025, celebra-se o centenário simbólico do estilo exuberante marcado por geometria ornamental e materiais nobres Os “loucos anos 1920” – ou “roaring twenties” em inglês – não ganharam fama à toa. O fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) deixou profundas transformações no mundo: os Estados Unidos ascendiam como potência global enquanto a Europa se reconstruía. Automóveis produzidos em massa, crescimento da aviação comercial, popularização do rádio e expansão da indústria cinematográfica, entre outras efervescências, batiam à porta dos novos tempos. Obviamente, a arquitetura e o design não ficaram de fora. Em meio ao caldeirão borbulhante de inovações, a cidade de Paris sediou, em 1925, a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas. O evento exibiu pavilhões construídos especialmente para a ocasião, onde ostentava-se o que havia de mais atual na produção de diversas nações. Era uma síntese entre o que vinha sendo criado nos últimos anos e as tendências para o futuro. Naquele momento e lugar fixaram-se as raízes do chamado art déco, termo que exige um mergulho profundo na história para ser compreendido.
, detalhe de uma cabine do trem Venice Simplon-Orient Express, operado na Europa pela rede Belmond: a iniciativa aposta no revival do glamour art déco para encantar os viajantes
Divulgação
Afinal, como defini-lo? “Trata-se de um estilo de design que surgiu na Europa após a Primeira Guerra Mundial e floresceu internacionalmente entre as duas guerras. O art déco se inspira em vários movimentos artísticos de vanguarda, incluindo o cubismo, a secessão de Viena, a Bauhaus e o construtivismo. É frequentemente caracterizado por formas geométricas ousadas e simplificadas, cores ricas e ornamentação estilizada”, explica o arquiteto Steve Knight, presidente da Sociedade Art Déco de Washington e secretário da Coalizão Internacional de Sociedades Art Déco (Icads). Ele ressalta que, curiosamente, o próprio termo art déco só surgiu na década de 1960, quando o historiador de arte britânico Bevis Hillier batizou o estilo retroativamente, em alusão à exposição de artes decorativas de 1925.
A escultura de Lee Lawrie, na entrada do Rockefeller Center (1939), em Nova York, remete à figura da sabedoria
Lee Lawrie/Adobe Stock
“O art déco não constituiu um movimento organizado, com conteúdo ideológico próprio e sólido, ao contrário do modernismo, por exemplo, que tinha forte consistência social e cultural”, pondera o arquiteto José Eduardo de Assis Lefèvre, professor de história da arquitetura da FAU-USP. “Em síntese, o art déco foi uma busca de modernização, mas aplicada superficialmente, mais voltada à ornamentação”, diz.
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Da Europa para o mundo
O Théâtre des Champs-Elysées (1913), em Paris, tem fachada de linhas retas considerada feia à época, por romper com o que era praticado até então
Bridgeman Images/Fotoarena
Apesar de 1925 marcar simbolicamente o centenário do art déco, o exemplar mais antigo dessa estética é da década anterior: o Théâtre des Champs-Elysées, concluído em 1913, foi o primeiro teatro parisiense todo erguido em concreto armado, com linhas retas e estética que rompia com as curvas típicas do estilo art nouveau praticado à época. O projeto, assinado por Henry van de Velde, irmãos Perret, Antoine Bourdelle e Maurice Denis é preservado até hoje como uma joia arquitetônica.
Na vizinha Bélgica, o arquiteto Victor Horta, famoso por obras art nouveau, começou a repensar suas criações a partir de 1922, quando iniciou em Bruxelas a construção do Palais des Beaux-Arts, seguindo novos padrões. Finalizado em 1929, é considerado o primeiro prédio art déco do país, e atualmente funciona como espaço cultural.
Eastern Columbia Building (1930), em Los Angeles, revestido de cerâmica turquesa com toques de dourado
Adobe Stock
Em 1925, ao longo de cinco meses, a mostra de Paris reuniu expositores de mais de 20 nações. Era uma época de competição econômica entre elas, o que contribuiu para a visão elitista associada ao art déco. Os Estados Unidos não participaram como expositores do evento, mas designers e comerciantes americanos o visitaram e levaram de volta um olhar renovado ao seu país, que até então não tinha exemplos de art déco, segundo Steve Knight. “A adoção entusiasmada do novo estilo levou a construções icônicas como os edifícios Barclay-Vesey, o Chrysler e o Chanin, em Nova York”, diz o arquiteto. Com grandes corporações e famílias prósperas financiando as obras, exemplares art déco se espalharam da costa leste à oeste do país. “Utilizavam-se materiais luxuosos como mármore, bronze, níquel-prata e aço inoxidável. À medida que o estilo evoluiu na década de 1930, o design foi simplificado, expressando movimento, velocidade e eficiência. Isso aconteceu, em certa medida, por necessidade, com a quebra da bolsa de valores em 1929 e a subsequente depressão que atingiu grande parte do globo”, afirma. O distrito histórico de art déco em Miami, na Flórida, com seus predinhos estilizados em tons pastel, é um famoso exemplo dessa vertente mais contida, porém não menos interessante.
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Em Miami, o distrito histórico de art déco tem prédios baixos estilizados em tons pastel, numa vertente mais contida do estilo, como o Colony Hotel
Fotoarena
O estilo não encontrou barreiras geográficas e se espalhou com celeridade. “Levado pelos ventos do comércio e do capitalismo, o art déco rapidamente se popularizou em todo o mundo. Novos meios de comunicação, mídia e transporte ajudaram a transmitir a estética a um público amplo”, resume o site do museu britânico Victoria Albert, que abriga a maior coleção de artes decorativas do mundo. De fato, não precisa procurar muito: art déco pode ser encontrado nos quatro cantos do planeta. Napier, cidade na Nova Zelândia sacudida por um terremoto em 1931, foi reconstruída em estilo art déco. No Japão, a família imperial chegou a ter, em 1933, um palácio art déco (hoje aberto ao público como Museu Metropolitano de Arte Teien de Tóquio). Em Mumbai, na Índia, um conjunto de edifícios art déco é Patrimônio Mundial da Unesco. O mesmo reconhecimento foi concedido a Asmara, capital da Eritreia, devido a sua notável coleção de construções art déco. No Marrocos, cidades como Casablanca e Marrakech têm forte presença art déco, que se fundiu ao estilo local. Isso só para citar alguns poucos exemplos.
Brasil: capítulo à parte
O Cristo Redentor (1931), no Rio de Janeiro, é um dos monumentos art déco mais famosos do mundo
Irina Brester/Adobe Stock
Muitos não sabem, mas o Brasil é lar de importantes manifestações art déco, que começaram a aportar aqui após a exposição de Paris. “No Rio de Janeiro, uma das primeiras obras afinadas ao art déco é o monumento ao Cristo Redentor [1931], com projeto de Heitor da Silva Costa, Paul Landowsky e Lelio Landucci”, diz o professor Lefèvre. Com 30 metros de altura, o Cristo, considerado pela Unesco uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, foi erguido em concreto armado e tem a superfície coberta por milhares de pequenos triângulos de pedra-sabão. A capital fluminense é permeada por uma série de outras construções art déco, conforme Lefèvre exemplifica: o Edifício Natal (1927), onde funcionou o extinto Cine Pathé, do arquiteto Ricardo Wriedt; o Edifício OK, de 1928 (atualmente Edifício Ribeiro Moreira), projetado por Gusmão, Dourado Baldassini, e o Edifício A Noite (1929), de Joseph Gire e Elisiário da Cunha Bahiana, só para citar alguns.
Edifício Altino Arantes (1947), atual Farol Santander, no centro de São Paulo, projetado por Plínio Botelho do Amaral
Wsfurlan/Getty Images
São Paulo não fica para trás. “Arquitetos modernos, em diversos projetos dos anos 1930, adotaram uma linguagem arquitetônica afinada ao art déco, como Oswaldo Bratke, que projetou o Viaduto Boa Vista. E Mário Whately, autor do projeto do Instituto Biológico [1930]”, diz o professor da FAU-USP. O centro histórico exibe o Edifício Banco de São Paulo, de Álvaro Arruda Botelho, concluído em 1935. “Talvez seja o prédio art déco mais primoroso de São Paulo”, opina. Um pouco mais recentes, o Estádio do Pacaembu (1940) e o Jockey Club (1941) são também imponentes integrantes da lista art déco da capital paulista.
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Vale lembrar de cidades como Goiânia, fundada em 1933 com um plano urbanístico idealizado sob influência do estilo. E Santa Maria, RS, onde há um vasto acervo de construções que seguem a estética. Ambos os municípios estão em clima de comemoração este ano, com agenda cultural dedicada ao tema.
Acima, desenhos do suíço John Graz, precursor do art déco no Brasil – alguns de seus móveis são reeditados e produzidos pela Dpot até hoje
Instituto John Graz
Já quando se adentra o campo de décor e design de mobiliário, o primeiro nome que surge é o do artista suíço John Graz, que se mudou para o Brasil em 1920. “Ele foi considerado o introdutor do art déco no país e trabalhou com bastante intensidade na arquitetura de interiores. Os projetos eram criados com guache, em tamanho A2 ou A3”, afirma Claudia Taddei, diretora do Instituto John Graz. “Ele pôs em prática no Brasil a experiência do design total: projetava móveis, tapeçarias, luminárias e interiores em conjunto, algo inédito até então. O mobiliário criado por Graz combina formas geométricas simples, elegância e funcionalidade, com inspiração tanto no art déco europeu quanto em elementos brasileiros, como cores e formas tropicais”, resume Baba Vacaro, diretora de criação da Dpot, que há 20 anos produz reedições das peças do designer.
Lobby revitalizado do antigo Cine Roxy (1938), hoje Roxy Dinner Show, em Copacabana – o local está na lista de bens imateriais do Rio de Janeiro
Tomas Rangel
Não é possível falar sobre art déco no âmbito nacional sem citar o nome do arquiteto Jayme Fonseca Rodrigues, que além de autor de obras arquitetônicas com características do estilo, como a casa da Rua Ceará (1935), em São Paulo, e o Edifício Sobre as Ondas (1951), no Guarujá, SP, atuou também como designer. “No mobiliário, sua obra revela uma elegância contida, marcada pela precisão geométrica, pela simetria e pelo uso apurado de materiais nobres”, diz Lissa Carmona, CEO e curadora da Etel, marca responsável por reedições de móveis de Fonseca Rodrigues. “Peças mais icônicas, como a Papeleira JFR e a Penteadeira JFR, traduzem perfeitamente essa linguagem: formas refinadas, proporções harmônicas e artesanato de altíssimo nível, que permanece relevante ainda hoje. Na Etel, temos orgulho de reeditar essas criações. Ao trazê-las de volta ao circuito contemporâneo, não apenas preservamos a memória de um autor fundamental para o design brasileiro como reafirmamos o valor atemporal do art déco”, finaliza. Como não celebrar essa história?
*Matéria originalmente publicada no Yearbook 2025 da Casa Vogue (CV473), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual e para assinantes no app Globo Mais
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, detalhe de uma cabine do trem Venice Simplon-Orient Express, operado na Europa pela rede Belmond: a iniciativa aposta no revival do glamour art déco para encantar os viajantes
Divulgação
Afinal, como defini-lo? “Trata-se de um estilo de design que surgiu na Europa após a Primeira Guerra Mundial e floresceu internacionalmente entre as duas guerras. O art déco se inspira em vários movimentos artísticos de vanguarda, incluindo o cubismo, a secessão de Viena, a Bauhaus e o construtivismo. É frequentemente caracterizado por formas geométricas ousadas e simplificadas, cores ricas e ornamentação estilizada”, explica o arquiteto Steve Knight, presidente da Sociedade Art Déco de Washington e secretário da Coalizão Internacional de Sociedades Art Déco (Icads). Ele ressalta que, curiosamente, o próprio termo art déco só surgiu na década de 1960, quando o historiador de arte britânico Bevis Hillier batizou o estilo retroativamente, em alusão à exposição de artes decorativas de 1925.
A escultura de Lee Lawrie, na entrada do Rockefeller Center (1939), em Nova York, remete à figura da sabedoria
Lee Lawrie/Adobe Stock
“O art déco não constituiu um movimento organizado, com conteúdo ideológico próprio e sólido, ao contrário do modernismo, por exemplo, que tinha forte consistência social e cultural”, pondera o arquiteto José Eduardo de Assis Lefèvre, professor de história da arquitetura da FAU-USP. “Em síntese, o art déco foi uma busca de modernização, mas aplicada superficialmente, mais voltada à ornamentação”, diz.
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Da Europa para o mundo
O Théâtre des Champs-Elysées (1913), em Paris, tem fachada de linhas retas considerada feia à época, por romper com o que era praticado até então
Bridgeman Images/Fotoarena
Apesar de 1925 marcar simbolicamente o centenário do art déco, o exemplar mais antigo dessa estética é da década anterior: o Théâtre des Champs-Elysées, concluído em 1913, foi o primeiro teatro parisiense todo erguido em concreto armado, com linhas retas e estética que rompia com as curvas típicas do estilo art nouveau praticado à época. O projeto, assinado por Henry van de Velde, irmãos Perret, Antoine Bourdelle e Maurice Denis é preservado até hoje como uma joia arquitetônica.
Na vizinha Bélgica, o arquiteto Victor Horta, famoso por obras art nouveau, começou a repensar suas criações a partir de 1922, quando iniciou em Bruxelas a construção do Palais des Beaux-Arts, seguindo novos padrões. Finalizado em 1929, é considerado o primeiro prédio art déco do país, e atualmente funciona como espaço cultural.
Eastern Columbia Building (1930), em Los Angeles, revestido de cerâmica turquesa com toques de dourado
Adobe Stock
Em 1925, ao longo de cinco meses, a mostra de Paris reuniu expositores de mais de 20 nações. Era uma época de competição econômica entre elas, o que contribuiu para a visão elitista associada ao art déco. Os Estados Unidos não participaram como expositores do evento, mas designers e comerciantes americanos o visitaram e levaram de volta um olhar renovado ao seu país, que até então não tinha exemplos de art déco, segundo Steve Knight. “A adoção entusiasmada do novo estilo levou a construções icônicas como os edifícios Barclay-Vesey, o Chrysler e o Chanin, em Nova York”, diz o arquiteto. Com grandes corporações e famílias prósperas financiando as obras, exemplares art déco se espalharam da costa leste à oeste do país. “Utilizavam-se materiais luxuosos como mármore, bronze, níquel-prata e aço inoxidável. À medida que o estilo evoluiu na década de 1930, o design foi simplificado, expressando movimento, velocidade e eficiência. Isso aconteceu, em certa medida, por necessidade, com a quebra da bolsa de valores em 1929 e a subsequente depressão que atingiu grande parte do globo”, afirma. O distrito histórico de art déco em Miami, na Flórida, com seus predinhos estilizados em tons pastel, é um famoso exemplo dessa vertente mais contida, porém não menos interessante.
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Em Miami, o distrito histórico de art déco tem prédios baixos estilizados em tons pastel, numa vertente mais contida do estilo, como o Colony Hotel
Fotoarena
O estilo não encontrou barreiras geográficas e se espalhou com celeridade. “Levado pelos ventos do comércio e do capitalismo, o art déco rapidamente se popularizou em todo o mundo. Novos meios de comunicação, mídia e transporte ajudaram a transmitir a estética a um público amplo”, resume o site do museu britânico Victoria Albert, que abriga a maior coleção de artes decorativas do mundo. De fato, não precisa procurar muito: art déco pode ser encontrado nos quatro cantos do planeta. Napier, cidade na Nova Zelândia sacudida por um terremoto em 1931, foi reconstruída em estilo art déco. No Japão, a família imperial chegou a ter, em 1933, um palácio art déco (hoje aberto ao público como Museu Metropolitano de Arte Teien de Tóquio). Em Mumbai, na Índia, um conjunto de edifícios art déco é Patrimônio Mundial da Unesco. O mesmo reconhecimento foi concedido a Asmara, capital da Eritreia, devido a sua notável coleção de construções art déco. No Marrocos, cidades como Casablanca e Marrakech têm forte presença art déco, que se fundiu ao estilo local. Isso só para citar alguns poucos exemplos.
Brasil: capítulo à parte
O Cristo Redentor (1931), no Rio de Janeiro, é um dos monumentos art déco mais famosos do mundo
Irina Brester/Adobe Stock
Muitos não sabem, mas o Brasil é lar de importantes manifestações art déco, que começaram a aportar aqui após a exposição de Paris. “No Rio de Janeiro, uma das primeiras obras afinadas ao art déco é o monumento ao Cristo Redentor [1931], com projeto de Heitor da Silva Costa, Paul Landowsky e Lelio Landucci”, diz o professor Lefèvre. Com 30 metros de altura, o Cristo, considerado pela Unesco uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, foi erguido em concreto armado e tem a superfície coberta por milhares de pequenos triângulos de pedra-sabão. A capital fluminense é permeada por uma série de outras construções art déco, conforme Lefèvre exemplifica: o Edifício Natal (1927), onde funcionou o extinto Cine Pathé, do arquiteto Ricardo Wriedt; o Edifício OK, de 1928 (atualmente Edifício Ribeiro Moreira), projetado por Gusmão, Dourado Baldassini, e o Edifício A Noite (1929), de Joseph Gire e Elisiário da Cunha Bahiana, só para citar alguns.
Edifício Altino Arantes (1947), atual Farol Santander, no centro de São Paulo, projetado por Plínio Botelho do Amaral
Wsfurlan/Getty Images
São Paulo não fica para trás. “Arquitetos modernos, em diversos projetos dos anos 1930, adotaram uma linguagem arquitetônica afinada ao art déco, como Oswaldo Bratke, que projetou o Viaduto Boa Vista. E Mário Whately, autor do projeto do Instituto Biológico [1930]”, diz o professor da FAU-USP. O centro histórico exibe o Edifício Banco de São Paulo, de Álvaro Arruda Botelho, concluído em 1935. “Talvez seja o prédio art déco mais primoroso de São Paulo”, opina. Um pouco mais recentes, o Estádio do Pacaembu (1940) e o Jockey Club (1941) são também imponentes integrantes da lista art déco da capital paulista.
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Vale lembrar de cidades como Goiânia, fundada em 1933 com um plano urbanístico idealizado sob influência do estilo. E Santa Maria, RS, onde há um vasto acervo de construções que seguem a estética. Ambos os municípios estão em clima de comemoração este ano, com agenda cultural dedicada ao tema.
Acima, desenhos do suíço John Graz, precursor do art déco no Brasil – alguns de seus móveis são reeditados e produzidos pela Dpot até hoje
Instituto John Graz
Já quando se adentra o campo de décor e design de mobiliário, o primeiro nome que surge é o do artista suíço John Graz, que se mudou para o Brasil em 1920. “Ele foi considerado o introdutor do art déco no país e trabalhou com bastante intensidade na arquitetura de interiores. Os projetos eram criados com guache, em tamanho A2 ou A3”, afirma Claudia Taddei, diretora do Instituto John Graz. “Ele pôs em prática no Brasil a experiência do design total: projetava móveis, tapeçarias, luminárias e interiores em conjunto, algo inédito até então. O mobiliário criado por Graz combina formas geométricas simples, elegância e funcionalidade, com inspiração tanto no art déco europeu quanto em elementos brasileiros, como cores e formas tropicais”, resume Baba Vacaro, diretora de criação da Dpot, que há 20 anos produz reedições das peças do designer.
Lobby revitalizado do antigo Cine Roxy (1938), hoje Roxy Dinner Show, em Copacabana – o local está na lista de bens imateriais do Rio de Janeiro
Tomas Rangel
Não é possível falar sobre art déco no âmbito nacional sem citar o nome do arquiteto Jayme Fonseca Rodrigues, que além de autor de obras arquitetônicas com características do estilo, como a casa da Rua Ceará (1935), em São Paulo, e o Edifício Sobre as Ondas (1951), no Guarujá, SP, atuou também como designer. “No mobiliário, sua obra revela uma elegância contida, marcada pela precisão geométrica, pela simetria e pelo uso apurado de materiais nobres”, diz Lissa Carmona, CEO e curadora da Etel, marca responsável por reedições de móveis de Fonseca Rodrigues. “Peças mais icônicas, como a Papeleira JFR e a Penteadeira JFR, traduzem perfeitamente essa linguagem: formas refinadas, proporções harmônicas e artesanato de altíssimo nível, que permanece relevante ainda hoje. Na Etel, temos orgulho de reeditar essas criações. Ao trazê-las de volta ao circuito contemporâneo, não apenas preservamos a memória de um autor fundamental para o design brasileiro como reafirmamos o valor atemporal do art déco”, finaliza. Como não celebrar essa história?
*Matéria originalmente publicada no Yearbook 2025 da Casa Vogue (CV473), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual e para assinantes no app Globo Mais
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