Oficina Francisco Brennand inaugura loja em São Paulo e amplia presença no mercado nacional

Museu-ateliê do Recife chega a São Paulo com projeto de Mauricio Arruda e reforça vocação como embaixada da cerâmica autoral brasileira Com mais de cinco décadas de história, a Oficina Francisco Brennand dá um salto estratégico ao inaugurar sua primeira loja permanente em São Paulo. O ponto de venda, instalado no Shopping Iguatemi, leva ao principal mercado consumidor do país uma seleção cuidadosa de objetos de arte, mantendo viva a essência do ateliê-museu fundado por Francisco Brennand (1927–2019) no Recife. Mais do que uma expansão comercial, a loja é o desdobramento natural de um projeto cultural ambicioso — e agora financeiramente sustentável — que alia legado artístico, autoria coletiva e sofisticação contemporânea.
Desde 2019, com a transformação da Oficina em um instituto cultural sem fins lucrativos, a instituição passa por um processo de reestruturação abrangente. “A marca foi construída ao longo de 54 anos e tem um público cativo como consumidor e colecionador”, afirma Marcos Baptista, presidente da Oficina. “O ateliê no Recife sempre foi um destino cultural, mas Francisco Brennand desejava levar sua arte a cada vez mais pessoas. Esse novo modelo de varejo apenas reforça esse desejo.”
A entrada definitiva em São Paulo surgiu após uma série de testes bem-sucedidos, como participações em grandes feiras e eventos de decoração e na plataforma Nordestesse. O piloto mais significativo, contudo, foi uma pop-up exclusiva no Iguatemi, no final de 2024, que sinalizou ao time da Oficina que o público paulistano estava mais do que pronto para abraçar o legado de Brennand. “São Paulo representa hoje cerca de 35% do nosso faturamento com objetos de arte. Com a nova loja, projetamos que essa participação alcance 50% até o fim do ano”, antecipa Baptista.
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A loja tem projeto arquitetônico assinado por Mauricio Arruda e curadoria de Livia Debbane
Chico Morais/Divulgação
À frente do projeto arquitetônico do novo espaço, Mauricio Arruda concebeu um quiosque que traduz a simbologia da obra de Brennand com elegância e atualidade. “Toda a obra do artista fala de gênese, nascimento, vida e amor. Esse olhar foi o ponto de partida para o desenho do espaço, que tem a planta no formato de um ovo e, ao redor, uma escada que abriga as cerâmicas”, explica. Elementos como a madeira natural tingida de azul e a textura arenosa remetem à matéria-prima da cerâmica, enquanto um totem cerâmico e um monitor com documentários revelam a proposta educativa do projeto. “Mais do que um ponto de venda, a loja é uma oportunidade de experienciar esse legado e entender a importância da linguagem de Brennand para a cultura brasileira”, diz o arquiteto.
Já a curadoria dos objetos expostos ficou a cargo da designer Livia Debbane, que desde 2022 atua como consultora criativa da Oficina. Foi ela quem coordenou o processo de resgate das qualidades formais e cromáticas originais das peças. “Trouxemos de volta características que haviam se esmaecido com o tempo, como a diversidade da paleta e a queima mais ‘suja’ da cerâmica, que traz textura e profundidade ao desenho”, conta. A queima em alta temperatura, aliás, é uma das assinaturas técnicas mais singulares do artista pernambucano. Livia também liderou a reformulação do catálogo e introduziu novas linhas, como a coleção Branca.
A coleção Branca é um dos destaques do novo espaço em São Paulo
Chico Morais/Divulgação
O acervo apresentado na loja inclui travessas, fruteiras, centros de mesa, bandejas, jarras, vasos e o icônico Ovo — peças que transitam entre a funcionalidade, a força simbólica e o desejo do presente sofisticado. “Quisemos comunicar que os objetos podem ser um presente arrojadíssimo ou um mimo. Mais de 60% das nossas vendas têm o objetivo do presentear”, explica Livia. Essa versatilidade, somada à potência visual das cerâmicas, tem cativado o público local. “Desde nossa pop-up no Iguatemi, recebemos inúmeros depoimentos de surpresa e aprovação. Não há dificuldade em posicionar nossos produtos para um público exigente como o paulista”, afirma Baptista.
O acervo apresentado na loja inclui travessas, fruteiras, centros de mesa, bandejas, jarras, vasos e o icônico Ovo, uma das peças mais vendidas
Chico Morais/Divulgação
Mas talvez o maior trunfo esteja na forma como é traduzida a complexidade do processo criativo da Oficina para o contexto urbano. “A força dessas peças vem da linguagem reconhecível e celebrada de um artista, mas também do trabalho coletivo que as sustenta”, pontua Livia. A produção é assinada por mestres artesãos que conviveram com Brennand, como Helcir Roberto, responsável pelos traços da nova coleção, e Santana, alquimista das cores. “Cada objeto é diferente do outro por causa da contribuição de cada colaborador. Tem muita história e intenção”, ela completa.
Todo o lucro das vendas é integralmente revertido para as atividades culturais, educativas e de preservação do acervo da Oficina. E os resultados já se fazem sentir. “Em 2022, o faturamento com a venda dos objetos de arte era de R$ 1,6 milhão. Em 2024, chegou a R$ 4 milhões. Pela primeira vez, desde 2019, não precisaremos de aporte financeiro do Grupo Cornélio Brennand para fechar as contas”, revela Baptista. O plano é que, até o fim de 2025, essa receita cubra 60% do custeio do instituto. “A Oficina é um CNPJ com duas operações distintas — um museu e uma fábrica — que se retroalimentam. Uma não sobrevive sem a outra.”
Cidadela é o nome dado por Francisco Brennand ao conjunto arquitetônico e artístico composto por pátios, jardins, templos, galpões, galerias, praças e demais espaços transformados ao longo de 50 anos pelo artista e seus colaboradores
Chico Morais/Divulgação
Com um modelo bem-sucedido e uma operação artesanal cuidadosamente estruturada — são oito etapas de produção e três queimas que variam de 700 a 1.300°C —, a Oficina não descarta novos voos. “Há planos factíveis de expansão para o Rio, Brasília ou mesmo o exterior, mas sempre dentro da mesma estratégia: participação em eventos, pop-ups e testes controlados. Nossa capacidade de aumento de produção é limitada e precisa respeitar o tempo da arte”, pondera o presidente.
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