Martini: o que faz do drinque um clássico absoluto da coquetelaria

Símbolo de elegância, o Dry Martini atravessa gerações e revela, em cada gole, por que continua sendo o drinque mais enigmático da coquetelaria clássica Poucos coquetéis resistem ao tempo com tanta autoridade quanto o Dry Martini. Símbolo de elegância, precisão e sobriedade, ele é presença obrigatória em qualquer carta que se proponha a celebrar a coquetelaria clássica. Ao mesmo tempo em que carrega uma simplicidade aparente — baseada essencialmente em gin e vermute — o drinque se revela complexo nos detalhes, abrindo margem para interpretações que variam conforme o paladar e a mão do bartender.
“É um drinque icônico que se diferencia pelo estilo, sabor, identidade e visual”, afirma Rafael Welbert, mixologista do Grupo Vila Anália e Vila Medí. Para ele, o Dry Martini não se sustenta apenas pela receita enxuta, mas por sua construção histórica e imagética. A taça em V com uma azeitona no fundo tornou-se um símbolo universal da coquetelaria refinada, reconhecível mesmo fora do universo etílico. “Sempre foi considerado o rei dos coquetéis”, reforça.
Mas o reinado do Martini não foi conquistado da noite para o dia. Sua linhagem remonta ao Martinez, um coquetel com vermute doce que deu origem ao chamado Fifty-Fifty Martini, feito com partes iguais de gin e vermute seco, até alcançar a secura característica do Dry Martini e suas versões subsequentes, como o Dirty Martini, aromatizado com salmoura de azeitona, ou o Gibson, que traz uma cebola em conserva no lugar da azeitona.
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Essa evolução demonstra o quanto o drinque, apesar de sua rigidez aparente, comporta nuances e escolhas pessoais. “Cada pessoa tem sua proporção favorita de Martini. Pode ir desde o Fifty-Fifty até uma versão praticamente pura de gin, com apenas gotas de vermute”, explica Welbert. Também é comum que bartenders perfumem a taça com vermute em vez de adicioná-lo diretamente ao líquido, mantendo o foco no gin e na temperatura de serviço.
A versatilidade é, inclusive, uma das razões pelas quais o Dry Martini se mantém relevante ao longo das décadas. Segundo Alex Sepulchro, head bartender do Astor e SubAstor, o drinque reúne três qualidades essenciais: personalidade, charme e equilíbrio. “É um clássico queridinho justamente por ser simples e, ao mesmo tempo, cheio de caráter”, afirma. A elegância está na contenção: dois ingredientes, nenhum ornamento desnecessário, apenas técnica e atenção aos detalhes.
SubZero Martini, drinque servido no SubAstor, em São Paulo
Bruno Geraldi
Esses detalhes, por sua vez, fazem toda a diferença. A escolha do gin — que pode variar de acordo com o perfil aromático desejado —, o tipo e a quantidade de vermute, o método de resfriamento da bebida, o tipo de gelo e até o tempo de diluição são fatores que interferem diretamente no resultado final. É esse grau de precisão que eleva o Dry Martini à categoria de desafio técnico, mesmo para os mais experientes.
Walter Bolinha, bartender do Baretto, destaca outro aspecto relevante para a popularização do coquetel: sua presença constante na cultura pop. “O Dry Martini virou sucesso no mundo todo não só pelo sabor, mas pelo apelo midiático”, observa. James Bond, por exemplo, imortalizou o drinque ao pedir que fosse “batido, não mexido”, enquanto figuras históricas como a rainha Elizabeth II ajudaram a consolidar seu status de bebida nobre e refinada.
Walter Bolinha, bartender do Baretto
Zé Carlos Barretta
Para além das telas e das coroas, há também o apelo emocional e afetivo que o Martini carrega. A mixologista Chula Barmaid, do Leila Restaurante, defende que “no simples está a magia que perdura no tempo”. Segundo ela, por ter poucos ingredientes, o Martini exige ainda mais sensibilidade e técnica de quem o executa. “É o clássico que impõe o maior desafio, porque não permite erros”, diz. Temperatura, proporção e textura são pontos-chave para o equilíbrio perfeito.
Chula também aponta o caráter quase existencial do drinque: “Ele tem elegância, tem romance e tem companhia em noites de solidão em qualquer bar do mundo numa noite de inverno”. Essa dimensão emocional revela o porquê de o Martini resistir não apenas ao tempo, mas às mudanças de comportamento, modas e preferências. O drinque pode ser adaptado, mas jamais substituído em sua essência.
Dry Martini do Leila Restaurante
Divulgação
No fim, o que torna o Dry Martini um clássico absoluto é justamente essa soma de atributos: uma história rica, uma fórmula que permite variações sem perder a identidade, e uma estética que dialoga com o desejo de sofisticação. Em um universo onde novos coquetéis surgem todos os dias, o Martini permanece insubstituível — firme, gelado, silenciosamente expressivo. Um drinque que diz muito, mesmo quando servido sem palavras.
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