10 novos hotéis com arquitetura e design inovadores pelo mundo

Sustentabilidade, arquitetura e design inovadores e conexão real com a comunidade e a paisagem formam o léxico destes dez novos hotéis em cinco continentes Em um mundo em que hospitalidade vai além de simples estadia, a arquitetura autoral, o design inteligente e a sensibilidade ao contexto assumem o protagonismo em hospedagens que se pretendem atuais. Os projetos que realmente se destacam são aqueles que incorporam, com autenticidade, o espírito de um lugar – seja ao revitalizar estruturas centenárias, seja ao erguer algo novo sob uma perspectiva contemporânea.
Nesta seleção, dez hotéis abertos nos últimos dois anos contam histórias por meio da forma, dos materiais e da relação com o entorno. Cada um responde ao contexto, à escala e ao tempo em que se insere, seja em centros urbanos, oceanos, áreas rurais, reservas naturais ou núcleos históricos, com vocabulário próprio e construção consciente. Há requalificações, criações inéditas e uma integração genuína com a paisagem, marcada pelo uso de matérias-primas locais e tecnologia limpa.
O que une os membros da lista é a convicção de que a experiência começa no projeto – e que um conceito bem definido organiza tudo o que vem depois. Da China à Arábia Saudita, da África do Sul à Alemanha, passando por Melides, São Paulo, Roma, Londres, Melbourne e Nova York, cada hotel aqui acolhe e surpreende.
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Orient Express La Minerva, Roma, Itália
O projeto do Orient Express La Minerva é do arquiteto franco-mexicano Hugo Toro, que preservou colunas romanas, estuques e afrescos originais, e introduziu materiais art déco em versão contemporânea
Alexandre Tabaste
Hotel inaugural da marca, o La Minerva (2025) ocupa um palazzo do séc. 17, na Piazza della Minerva, a poucos passos do Panteão. O projeto é do arquiteto franco-mexicano Hugo Toro, que preservou colunas romanas, estuques e afrescos originais, e introduziu materiais art déco em versão contemporânea: mármore, madeira escura, painéis esculpidos, seda e Murano. São 93 quartos e 36 suítes com pisos de madeira, paredes revestidas de seda, banheiros de travertino coral e pias esculpidas em formato de concha. A curadoria de arte inclui obras de italianos e estrangeiros, com pintura, escultura e desenho nos corredores, quartos e salões. O antigo átrio abriga o bar sob uma cúpula de vidro, e o restaurante Gigi Roma ocupa o terraço com vista aberta para o centro histórico. Jardins internos conectam volumes e criam respiros entre os salões. A fachada preservada e a relação direta com a praça reforçam a inserção urbana do edifício. Parte do novo capítulo da Orient Express, a hospedagem leva o legado dos seus trens à arquitetura da Cidade Eterna.
Shebara Resort, Ilha Sheybarah, Arábia Saudita
O Shebara Resort é assinado pelo Killa Design, autor do espetacular Museum of the Future, em Dubai, e aposta em engenharia modular de escala leve
Divulgação
Na costa do Mar Vermelho, o Shebara (2024) faz parte do Red Sea Global, megaplanejamento turístico e ambiental da Arábia Saudita para a região. O projeto é assinado pelo Killa Design, autor do espetacular Museum of the Future, em Dubai, e aposta em engenharia modular de escala leve. São 73 villas elípticas – 38 sobre a água, 35 na praia – com interiores do Studio Paolo Ferrari, permeados por travertino, madeira e uma elegância orgânica. Revestidas de aço inox polido, são conectadas por passarelas elevadas sobre recifes em regeneração. As estruturas foram pré-fabricadas, transportadas por mar e montadas com baixa interferência no solo. Tudo funciona off-grid: energia solar, dessalinização e reaproveitamento hídrico. As áreas comuns – spa, beach club, restaurantes e lounges – levam o traço cosmopolita do Rockwell Group. A estética é assumidamente futurista: cada villa espelha a paisagem como uma cápsula sobre o oceano, construída para operar com tecnologia solar em um dos climas mais extremos do planeta.
The StandardX, Melbourne, Austrália
A arquitetura do StandardX é do Woods Bagot: fachada de aço corten, marquise metálica, vãos largos e térreo recuado com acesso direto à rua
Divulgação
Unidade de estreia da StandardX (2024) – versão mais enxuta e criativa do The Standard –, o hotel se encaixa como uma luva em Fitzroy, bairro de galpões industriais, ateliês e espaços independentes, cultuado por sua cena artística e cultural. A arquitetura é do Woods Bagot: fachada de aço corten, marquise metálica, vãos largos e térreo recuado com acesso direto à rua. Os interiores, de Hecker Guthrie com direção criativa de Verena Haller, seguem paleta escura, concreto aparente, madeira, iluminação pontual e mobiliário fixo. São 125 quartos, restaurante tailandês moderninho, terraço com vista para a cidade, loja 24h, área de coworking e uma programação que conecta o hotel à comunidade e à cena locais. Urbano cool define bem.
Few & Far Luvhondo, Soutpansberg, África do Sul
O projeto do Few & Far Luvhondo é de Nicholas Plewman, com interiores do Coletivo Ohkre, e inclui o primeiro teleférico solar do mundo, com 8 km de extensão, que conecta os núcleos do terreno
Jemma Wild
Suspenso sobre as montanhas da Cordilheira de Soutpansberg, numa encosta de uma reserva reconhecida pela Unesco, o lodge (2025) reúne seis cabanas elevadas com estrutura metálica leve e fechamento de madeira tratada. O projeto é de Nicholas Plewman, com interiores do Coletivo Ohkre, e inclui o primeiro teleférico solar do mundo, com 8 km de extensão, que conecta os núcleos do terreno. As suítes têm planta livre, ventilação cruzada, vista para o vale e mobiliário artesanal de pedra, madeira e tecidos naturais. Passarelas elevadas ligam as áreas comuns: restaurante, wine room, lounges, deque e uma fazenda produtiva. A operação usa energia solar e reúsa a água. Situada em zona de safári, a hospedagem oferece trilhas, observação de fauna e conexão com comunidades – arquitetura e paisagem em equilíbrio com o entorno.
Chiemgauhof Lakeside Retreat, Baviera, Alemanha
O Chiemgauhof (2025) reabre com projeto de Matteo Thun, após décadas funcionando como pousada familiar, fundada em 1952
Elias Hassos
Às margens do Lago Chiemsee, em Übersee, entre Munique e Salzburgo, o Chiemgauhof (2025) reabre com projeto de Matteo Thun, após décadas funcionando como pousada familiar, fundada em 1952. Arquiteto ítalo-austríaco conhecido por sua abordagem sustentável, Thun parte da estrutura original e adota a lógica dos celeiros alpinos: madeira, vidro, pedra, aberturas generosas e terraços de lariço voltados para a água. São 28 suítes com sauna privativa, lareira, banheira japonesa, marcenaria regional e cerâmicas de Fraueninsel. O restaurante, comandado por Edip Sigl, valoriza ingredientes locais com técnica contemporânea. À beira do lago, a Boathouse funciona como pavilhão para bem-estar e eventos. A nova arquitetura reposiciona o hotel no território – o Chiemsee, conhecido como Mar da Baviera, molda há séculos o ritmo de vida aos pés dos Alpes.
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Pulso Hotel, São Paulo, Brasil
Assinado pelo Studio Arthur Casas, hotel tem 52 quartos e cinco suítes com varanda, pisos claros, móveis sob medida e peças de ícones como Jorge Zalszupin e Percival Lafer.
Fran Parente
Primeiro hotel desenhado pelo Studio Arthur Casas, o Pulso (2024) ocupa uma rua discreta em Pinheiros, entre a Faria Lima e o Jardim Paulistano. A fachada envidraçada com brises metálicos articulados antecipa o uso de madeira, pedra e vidro no projeto. São 52 quartos e cinco suítes com varanda, pisos claros, móveis sob medida e peças de ícones como Jorge Zalszupin e Percival Lafer. Os interiores mantêm o mesmo vocabulário, com paleta neutra e curadoria de arte assinada por Guilherme Wisnik – incluindo o painel Mácula, de Nuno Ramos. Spa L’Occitane, piscina coberta e academia completam o conjunto. O térreo conecta lobby, jardim e restaurante com aberturas diretas para a rua, ampliando o passeio e ancorando a hospedagem no cotidiano do bairro.
Mandarin Oriental Qianmen, Pequim, China
O projeto do Mandarin Oriental Qianmen, assinado pelo Cheng Chung Design, envolveu a recuperação de 61 estruturas do séc.15.
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No centro histórico da capital chinesa, entre a Cidade Proibida e a Praça Tiananmen, o Mandarin Oriental Qianmen (2024) ocupa siheyuans – casas tradicionais em torno de pátios murados – restauradas dentro da malha dos hutongs, becos que estruturam o traçado ancestral da cidade. O projeto, assinado pelo Cheng Chung Design, envolveu a recuperação de 61 estruturas do séc.15. Telhados, vigas de madeira, colunas e muros de tijolo foram desmontados, catalogados e reinstalados, com mais de 90% dos elementos originais preservados. São 42 suítes com jardins internos. Interiores de madeira escura, pedra lavada e peças sob medida mantêm a escala original. Restaurante e spa ocupam volumes independentes nos cenários que se dissolvem no entorno: o hóspede atravessa portões antigos, circula pelas vielas e compartilha, ainda que temporariamente, o cotidiano e a realidade física e histórica de Pequim. Isso, sim, é luxo.
The Fifth Avenue Hotel, Nova York, Estados Unidos
Os interiores do Fifth Avenue são do designer sueco Martin Brudnizki, nome por trás de hits como o Annabel’s e The Twenty Two – o último, conhecido por unir exuberância visual e contexto local
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Na esquina da 5a Avenida com a Rua 28, o Fifth Avenue (2024) ocupa um edifício Beaux-Arts de 1907 assinado por McKim, Mead & White, construído originalmente como sede de um banco, e restaurado pela Perkins Eastman com adição de uma torre contemporânea. Os interiores são do designer sueco Martin Brudnizki, nome por trás de hits como o Annabel’s e The Twenty Two – o último, conhecido por unir exuberância visual e contexto local. Ele propõe suítes e áreas comuns de cores saturadas como verde-jade, azul-laca e bordô, combinando molduras ornamentadas, lustres de Murano, seda, veludo e mármore. O mobiliário alterna peças vintage e criações do estúdio, como sofás curvos e cabeceiras estampadas. Os papéis de parede ilustram flora e fauna míticas e revestem quartos, banheiros, corredores e elevadores. No térreo, o Café Carmellini ocupa o antigo salão principal do banco, com pé-direito monumental; e o cofre virou sala de jantar. O projeto resgata o glamour da Gilded Age com teatralidade e design atual – puro maximalismo cenográfico com sotaque boêmio-artsy.
The Emory, Londres, Reino Unido
O The Emory possui 60 suítes-studios em oito andares, cada dois assinados por um designer estrelado: André Fu, Patricia Urquiola, Alexandra Champalimaud, Pierre-Yves Rochon e cobertura do Rigby & Rigby.
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Último edifício assinado pelo britânico Richard Rogers (1933-2021), vencedor do Pritzker e autor do Centre Pompidou e do Edifício Lloyd’s, entre outros, The Emory (2024) é o primeiro hotel all-suite de Londres. A torre de vidro e aço, com estrutura em “velas”, marca de Rogers, foi projetada com Ivan Harbour, do RSHP. Sua estrutura modular e fachada vertical com entrada inconspícua fica em Belgravia. São 60 suítes-studios em oito andares, cada dois assinados por um designer estrelado: André Fu, Patricia Urquiola, Alexandra Champalimaud, Pierre-Yves Rochon e cobertura do Rigby & Rigby. Os ambientes seguem planta limpa, materiais densos – madeira, pedra, couro, laca – e paleta neutra ultra- contemporânea. Rémi Tessier assina os espaços comuns: restaurante ABC Kitchens (de Jean-Georges Vongerichten), bar no terraço e galeria com obras da série The Secret Garden Paintings, de Damien Hirst. O spa Surrenne ocupa quatro subsolos com piscina de 22 m e som subaquático, e marcas como Studio Tracy Anderson, FaceGym e Stella McCartney Beauty. O hotel, do Grupo Maybourne, tem ainda um barco exclusivo no Tâmisa para um passeio “hypado”. Alguém escutou London calling?
Hotel Vermelho, Melides, Portugal
A arquitetura do Hotel Vermelho é de Madalena Caiado; e os interiores maximalistas, de Christian Louboutin com Carolina Irving
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O designer francês Christian Louboutin escolheu Melides, vila alentejana entre a Comporta e o mar em que passa férias há anos – e onde artistas e fashionistas vão para não serem vistos –, para abrir seu primeiro hotel boutique. O nome vem do solado vermelho, assinatura dos calçados de sua marca desde 1992. A arquitetura é de Madalena Caiado; e os interiores maximalistas, do próprio Louboutin com Carolina Irving. São 13 quartos com piso de terracota, tecidos bordados, painéis pintados, móveis entalhados e azulejos da Fábrica Sant’Anna, combinados com cerâmicas de Azeitão – tudo feito à mão. A decoração inclui talhas sevilhanas e obras da coleção pessoal do designer, com ilustrações de Konstantin Kakanias. Cada ambiente tem paleta intensa: azul-petróleo, verde-esmeralda, coral e dourado estão entre os matizes que colorem os cenários. O restaurante Xtian serve pratos locais em louças de Teresa Pavão; o bar mistura mármore indiano, prata de Sevilha e um lustre de vidro soprado do Klove Studio; e o jardim de Louis Benech, que restaurou Versalhes e desenhou para Lagerfeld e Pierre Bergé, cerca a piscina com buganvílias e lavanda. Feito por quem sabe onde pisa e se hospeda, o Hotel Vermelho (2023) virou moda – pudera!
*Matéria originalmente publicada no Yearbook 2025 da Casa Vogue (CV473), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual e para assinantes no app Globo Mais
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