O item amplamente usado hoje na decoração pela sua praticidade tem primeira aparição há séculos e era um elemento sofisticado, restrito às classes abastadas Os papéis de parede são um recurso muito comum no universo da decoração e se destacam pela versatilidade e praticidade. Embora seja muito usado atualmente, a sua história começa há, pelo menos, 2 mil anos, na China.
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As incorporações desse recurso também foram variadas, conforme o contexto e as possibilidades de acesso a materiais de cada local e cultura. Os papéis de parede também já foram uma ameaça à saúde humana, principalmente durante o período conhecido como Era Vitoriana.
Os papéis de parede já foram proibidos devido a presença de substâncias tóxicas em sua composição. Design original para o papel de parede Trellis de William Morris, de 1862
William Morris via Gillian Naylor/Wikimedia Commons
“A história do papel de parede é uma rica tapeçaria de arte, tecnologia e até química. Entender seus altos e baixos nos convida a repensar como a estética se cruza com a saúde e a inovação”, afirma Sílvia Aline Rodrigues de Rodrigues, arquiteta e historiadora, especialista em patrimônio cultural, design e mobiliário. Conheça abaixo a história desse elemento decorativo e o porquê já foi proibido em alguns lugares!
Origem e símbolos do papel de parede
Papel de parede chinês mostrando um cortejo fúnebre do período Qianlong, aproximadamente 1780
Deutsches Tapetenmuseum via Dr. Meierhofer/Wikimedia Commons
O papel de parede surgiu ainda na China Antiga, por volta do século 2 a.C., logo após a invenção do papel por Cai Lun. “Inicialmente, era mais usado para decorar as paredes com cenas da natureza, caligrafias e pinturas, servindo como uma forma de arte e expressão”, explica Simoní Silveira, instrutora de curso técnico em Design de Interiores do Senac-PR, arquiteta e urbanista, especialista em neuroarquitetura e desenvolvimento humano.
Nesse período, eram feitos com folhas de papel de arroz pintadas à mão para decorar as paredes. Com o tempo, através da rota da seda, essa ideia chegou até a Europa, e no século 16 ganhou força em países como França e Inglaterra. Os papéis de parede eram alternativas mais acessíveis do que as tapeçarias ou pinturas luxuosas da época.
“Apesar disso, ainda era algo destinado às classes abastadas da época e usados em uma perspectiva simbólica e ostentatória, marcador de uma posição social”, destaca Simoní. Os papéis imitavam tecidos nobres, como damasco, veludo ou couro, sendo usados em paredes ou painéis principais e centrais dos ambientes.
Os papéis de parede europeus buscavam referências no que já era produzido na China e em outros países do Oriente, com a incorporação de materiais, como bambu
Cooper Hewitt, Museu de Design Smithsonian/Wikimedia Commons
O barateamento veio apenas com a produção em larga escala, que ganhou força no século 18, com os avanços tecnológicos trazidos pela Revolução Industrial. Diante desses novos meios de produção, os papéis passaram a ser mais finos e impressos em blocos de madeira com tintas à base de pigmentos minerais.
Ao longo do tempo, surgiram variações com revestimentos em vinil, papel dúplex, TNT e até materiais laváveis e autoadesivos, como se vê atualmente.
Proibição e ameaça à saúde
No século 19, durante a chamada Era Vitoriana, o papel de parede havia se tornado uma constância, principalmente na decoração de ambientes ocupados e frequentados pelas classes mais altas. Nesse momento, o pigmento verde-esmeralda, também chamado “verde de Scheele” era bastante aplicado.
Porém, o que se descobriu depois é que esse pigmento era de alto risco para a saúde. “O pigmento tinha uma composição à base de arsênio e amianto, compostos químicos, que, apesar de garantirem uma cor intensa e duradoura, eram altamente tóxicos”, conta Silvia. Em ambientes úmidos, o composto liberava vapores tóxicos, o que causava problemas respiratórios e até mortes.
O verde esmeralda, ou verde-paris, era um pigmento muito popular no século 19 por sua cor chamativa e aplicação barata em produtos têxteis
Pxhere/Reprodução
“O uso gerou uma verdadeira crise de saúde pública na Europa e levou ao banimento de certas fórmulas, com, inclusive, investigações e proibições pontuais em algumas cidades”, complementa Simoní. “Na Inglaterra vitoriana, os perigos do papel de parede verde se tornaram tão conhecidos que, em 1879, o jornal The Times publicou a manchete ‘Morte pelas paredes'”, complementa Silvia.
O papel e os materiais orgânicos usados na sua fabricação eram altamente inflamáveis. Assim, além do risco da toxicidade, o uso desses papéis também podiam aumentar o risco de incêndio, especialmente em uma época na qual as casas eram iluminadas por velas e lareiras.
Diante deste contexto, surgiram alguns boatos que se disseminaram com rapidez devido ao desconhecimento na época sobre as razões pelas quais os papéis poderiam trazer riscos. “Alguns relatos sugerem que até Napoleão Bonaparte pode ter sofrido os efeitos do arsênio, já que o papel de parede em seu quarto, no exílio em Santa Helena, continha esse pigmento”, pontua Silvia.
Jornais e panfletos começaram a divulgar o risco da toxicidade dos papéis de parede a base de arsênio e a indústria começou a propor novas alternativas que começavam a surgir
Wellcome Collection/Wikimedia Commons
Outro exemplo foi os romances da poetisa inglesa Mary Elizabeth Braddon, que escreveu, em um deles, sobre uma jovem que adoece misteriosamente em um quarto recém-decorado. Era uma referência direta ao temor popular da época.
Novas composições e usos
Diante desse cenário, a indústria foi obrigada a rever as composições e formas de fabricar os papéis de parede. Hoje, os papéis de parede seguem regulamentações que garantem segurança, sendo livres de metais pesados e compostos tóxicos. “A tecnologia evoluiu tanto que, hoje, o papel de parede é um revestimento seguro e até sustentável, com versões ecológicas disponíveis”, destaca Simoní.
A modernização desses processos não anula a necessidade de adotar alguns cuidados no uso do elemento nos ambientes.
Papéis de parede atuais passam por protocolos rigorosos de verificação e podem ser usados com segurança
Freepik/Creative Commons
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O principal é não aplicar em paredes com umidade ou infiltração, o que pode danificar o papel e até gerar mofo. “É importante escolher o tipo de papel adequado para cada espaço e suas demandas, além de ter o acompanhamento de um profissional especializado para garantir um bom acabamento, durabilidade e segurança”, finaliza Silvia.
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As incorporações desse recurso também foram variadas, conforme o contexto e as possibilidades de acesso a materiais de cada local e cultura. Os papéis de parede também já foram uma ameaça à saúde humana, principalmente durante o período conhecido como Era Vitoriana.
Os papéis de parede já foram proibidos devido a presença de substâncias tóxicas em sua composição. Design original para o papel de parede Trellis de William Morris, de 1862
William Morris via Gillian Naylor/Wikimedia Commons
“A história do papel de parede é uma rica tapeçaria de arte, tecnologia e até química. Entender seus altos e baixos nos convida a repensar como a estética se cruza com a saúde e a inovação”, afirma Sílvia Aline Rodrigues de Rodrigues, arquiteta e historiadora, especialista em patrimônio cultural, design e mobiliário. Conheça abaixo a história desse elemento decorativo e o porquê já foi proibido em alguns lugares!
Origem e símbolos do papel de parede
Papel de parede chinês mostrando um cortejo fúnebre do período Qianlong, aproximadamente 1780
Deutsches Tapetenmuseum via Dr. Meierhofer/Wikimedia Commons
O papel de parede surgiu ainda na China Antiga, por volta do século 2 a.C., logo após a invenção do papel por Cai Lun. “Inicialmente, era mais usado para decorar as paredes com cenas da natureza, caligrafias e pinturas, servindo como uma forma de arte e expressão”, explica Simoní Silveira, instrutora de curso técnico em Design de Interiores do Senac-PR, arquiteta e urbanista, especialista em neuroarquitetura e desenvolvimento humano.
Nesse período, eram feitos com folhas de papel de arroz pintadas à mão para decorar as paredes. Com o tempo, através da rota da seda, essa ideia chegou até a Europa, e no século 16 ganhou força em países como França e Inglaterra. Os papéis de parede eram alternativas mais acessíveis do que as tapeçarias ou pinturas luxuosas da época.
“Apesar disso, ainda era algo destinado às classes abastadas da época e usados em uma perspectiva simbólica e ostentatória, marcador de uma posição social”, destaca Simoní. Os papéis imitavam tecidos nobres, como damasco, veludo ou couro, sendo usados em paredes ou painéis principais e centrais dos ambientes.
Os papéis de parede europeus buscavam referências no que já era produzido na China e em outros países do Oriente, com a incorporação de materiais, como bambu
Cooper Hewitt, Museu de Design Smithsonian/Wikimedia Commons
O barateamento veio apenas com a produção em larga escala, que ganhou força no século 18, com os avanços tecnológicos trazidos pela Revolução Industrial. Diante desses novos meios de produção, os papéis passaram a ser mais finos e impressos em blocos de madeira com tintas à base de pigmentos minerais.
Ao longo do tempo, surgiram variações com revestimentos em vinil, papel dúplex, TNT e até materiais laváveis e autoadesivos, como se vê atualmente.
Proibição e ameaça à saúde
No século 19, durante a chamada Era Vitoriana, o papel de parede havia se tornado uma constância, principalmente na decoração de ambientes ocupados e frequentados pelas classes mais altas. Nesse momento, o pigmento verde-esmeralda, também chamado “verde de Scheele” era bastante aplicado.
Porém, o que se descobriu depois é que esse pigmento era de alto risco para a saúde. “O pigmento tinha uma composição à base de arsênio e amianto, compostos químicos, que, apesar de garantirem uma cor intensa e duradoura, eram altamente tóxicos”, conta Silvia. Em ambientes úmidos, o composto liberava vapores tóxicos, o que causava problemas respiratórios e até mortes.
O verde esmeralda, ou verde-paris, era um pigmento muito popular no século 19 por sua cor chamativa e aplicação barata em produtos têxteis
Pxhere/Reprodução
“O uso gerou uma verdadeira crise de saúde pública na Europa e levou ao banimento de certas fórmulas, com, inclusive, investigações e proibições pontuais em algumas cidades”, complementa Simoní. “Na Inglaterra vitoriana, os perigos do papel de parede verde se tornaram tão conhecidos que, em 1879, o jornal The Times publicou a manchete ‘Morte pelas paredes'”, complementa Silvia.
O papel e os materiais orgânicos usados na sua fabricação eram altamente inflamáveis. Assim, além do risco da toxicidade, o uso desses papéis também podiam aumentar o risco de incêndio, especialmente em uma época na qual as casas eram iluminadas por velas e lareiras.
Diante deste contexto, surgiram alguns boatos que se disseminaram com rapidez devido ao desconhecimento na época sobre as razões pelas quais os papéis poderiam trazer riscos. “Alguns relatos sugerem que até Napoleão Bonaparte pode ter sofrido os efeitos do arsênio, já que o papel de parede em seu quarto, no exílio em Santa Helena, continha esse pigmento”, pontua Silvia.
Jornais e panfletos começaram a divulgar o risco da toxicidade dos papéis de parede a base de arsênio e a indústria começou a propor novas alternativas que começavam a surgir
Wellcome Collection/Wikimedia Commons
Outro exemplo foi os romances da poetisa inglesa Mary Elizabeth Braddon, que escreveu, em um deles, sobre uma jovem que adoece misteriosamente em um quarto recém-decorado. Era uma referência direta ao temor popular da época.
Novas composições e usos
Diante desse cenário, a indústria foi obrigada a rever as composições e formas de fabricar os papéis de parede. Hoje, os papéis de parede seguem regulamentações que garantem segurança, sendo livres de metais pesados e compostos tóxicos. “A tecnologia evoluiu tanto que, hoje, o papel de parede é um revestimento seguro e até sustentável, com versões ecológicas disponíveis”, destaca Simoní.
A modernização desses processos não anula a necessidade de adotar alguns cuidados no uso do elemento nos ambientes.
Papéis de parede atuais passam por protocolos rigorosos de verificação e podem ser usados com segurança
Freepik/Creative Commons
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O principal é não aplicar em paredes com umidade ou infiltração, o que pode danificar o papel e até gerar mofo. “É importante escolher o tipo de papel adequado para cada espaço e suas demandas, além de ter o acompanhamento de um profissional especializado para garantir um bom acabamento, durabilidade e segurança”, finaliza Silvia.