Eduardo Longo: o arquiteto das inovadoras “casas-bola” paulistanas

Eduardo Longo é um dos grandes nomes da arquitetura brasileira. Ele ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, em 1961. Era o momento de formação da chamada Escola Paulista, corrente arquitetônica que se caracterizava pela ênfase nas técnicas construtivas, na valorização da estrutura e na adoção do concreto armado aparente.
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Enquanto estudante, Eduardo segue em direção oposta a este movimento e busca pela experimentação e liberdade expressiva em seus desenhos. Isso fica bastante evidente em seu primeiro projeto tirado do papel, em 1964, quando ainda estava na faculdade: a casa de praia Mar Casado, encomendada por seus tios, no Guarujá (SP).
A casa do Mar Casado foi o primeiro projeto de Eduardo Longo a sair do papel
Eduardo Longo/Divulgação
Criticado por professores e colegas universitários por ser cheias de ângulos, não ter paredes paralelas e uma cobertura inclinada — algo bem distante das formas retas do brutalismo paulista —, a casa foi elogiada pelo crítico de arte Pietro Maria Bardi, em 1967.
“O desprendimento e brilho arquitetural, o traço entre escultura e arquitetura, ajardinamento e paisagem, tudo contribui para a felicidade da ideia e a audácia do empreendimento. A casa é uma das realidades certas da arquitetura brasileira”, escreveu Pietro.
Primeira fase da carreira
O projeto Mar Casado marca o início da primeira fase da produção do arquiteto, que vai de 1964 até o início da década de 1970, e abrange diversas residências particulares em São Paulo, Rio de Janeiro e Guarujá. A principal característica destas construções é o afastamento dos cânones da Escola Paulista, com telhados e paredes multifacetados, triangulações, poucas janelas ou aberturas zenitais.
Neste momento da carreira, Eduardo utiliza a construção dos imóveis como laboratório experimental, explorando as plantas irregulares, com casas em forma de leque, em Y, piramidais e até algumas tentativas de construções racionalistas, com layouts mais retangulares — possivelmente por conta das críticas que recebeu.
“A obra de Eduardo Longo aparece totalmente desvinculada da produção arquitetônica brasileira e até mesmo de grupos que pudessem caracterizar uma arquitetura paulista. Liberto de qualquer imposição teórica, talvez, antes de tudo um intuitivo, soube, com maestria, criar espaços inesperados usando somente planos de cobertura que se interceptam em arestas inclinadas, decorrentes da frequente falta de paralelismo entre os paramentos verticais, estando posta de lado qualquer hipótese de regularidade e simetria”, diz um trecho do livro Arquitetura Moderna Paulistana, escrito por Alberto Xavier, Carlos Lemos e Eduardo Corona.
A casa-escritório no Itaim Bibi, em São Paulo, que depois receberia a Casa Bola em sua cobertura
Eduardo Longo/Divulgação
Um dos últimos projetos desta primeira fase é sua casa-escritório, de 1970, construída em um terreno com acesso para as ruas Amauri e Peruíbe, no bairro do Itaim Bibi, na capital paulista. O espaço de 10 x 20 m foi dividido em diagonal, dando origem a duas construções idênticas e espelhadas: a casa e o escritório, com acessos independentes, cada uma por uma das ruas.
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Por lá, Eduardo se aventurou em uma série de experimentos, deixando a vegetação penetrar nos interiores, mudando as cores da fachada, criando murais internos, demolindo paredes e simplificando os seus hábitos de consumo. Com menos pertences, concentrou o seu lar em um mezanino de apenas 42 m². Em uma da intervenções, o arquiteto abriu o térreo da construção para passagem pública de pedestres entre as duas ruas.
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Esse processo de desconstrução interior e exterior durou cerca de dois anos. Em 1972, Eduardo decide recusar novos projetos, aceitando apenas reformas residenciais, pois “não queria ocupar terrenos vazios com novas construções”. Assim, inicia-se uma nova etapa na carreira do arquiteto.
A Casa Bola
A segunda fase da obra de Eduardo é marcada por experimentações em busca de uma arquitetura mais leve e pré-fabricada, o que deu origem às suas famosas construções esféricas na cidade de São Paulo.
A Casa Bola foi erguida sobre a casa-escritório de Eduardo Longo na capital paulista
Instagram/@longoeu/Reprodução
Um dos projetos mais icônicos do arquiteto ainda sobrevive em meio aos arranha-céus do bairro Itaim Bibi. Trata-se da Casa Bola, de 1979, considerada um ícone da arquitetura contemporânea. A construção esférica de 8 m de diâmetro, posicionada sobre a laje de cobertura de sua casa-escritório, foi soldada sobre as vigas existentes, originando uma fundação suspensa.
A estrutura da Casa Bola é composta por tubos metálicos distribuídos em diferentes posições, um sistema construtivo inovador desenvolvido com o amigo construtor de barcos Charles Holmquist. A vedação externa foi feita em argamassa armada, assim como todas as paredes e o mobiliário fixo, como pia e bancadas da cozinha, caixa d’água, camas, prateleiras, sofás, luminárias e vasos sanitários.
O pé-direito baixo da Casa Bola dá a sensação de se estar dentro de um barco
Instagram/@longoeu/Reprodução
Um camada de argamassa de revestimento interno possibilitou que todo os cantos do edifício, entre pisos, paredes e tetos, fossem arredondados. O arquiteto optou por pintar tudo de branco. Tempos depois, uma casca de alumínio foi acrescentada na parte externa da casa, dando-lhe uma aparência futurista.
O interior da Casa Bola tem cantos, paredes e móveis arredondados
Instagram/@longoeu/Reprodução
O imóvel, com três suítes, sala de estar, lavabo, cozinha e lavanderia, levou cinco anos de pesquisas e foi construído para ser o novo lar do arquiteto à época.
O piso que está localizado na metade da esfera abriga o salão principal. Ao contrário dos demais ambientes, que tem pés-direitos baixos, este espaço apresenta 4 m de altura e se eleva até uma claraboia no topo da estrutura.
A Casa Bola 2
Em 1981, Eduardo constrói a Casa Bola 2, desta vez no bairro do Morumbi. A estrutura, pintada de vermelho, se ergue sobre uma única coluna em um terreno bastante inclinado, fazendo com que se destaque na paisagem.
A Casa Bola 2 fica no Morumbi, em São Paulo, e foi encomendada pelos pais de Eduardo Longo
Instagram/@longoeu/Reprodução
Encomendada pelos pais do arquiteto, a residência tem cozinha, escritório e sala de jantar ao nível da rua; duas suítes no pavimento superior; e uma grande sala de estar que ocupa todo o piso inferior.
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A circulação interna é feita por uma rampa, que permite visualizar os três níveis e a paisagem externa. Um bloco anexo abriga a garagem e as áreas de serviço.
O projeto Sobrebola, de 2007, visava a construção de uma segunda esfera sobre a primeira Casa Bola, em São Paulo
Eduardo Longo/Divulgação
Depois das duas experiências bem-sucedidas, o arquiteto apostou nas “casas-bola” como um modelo passível de ser replicado em larga escala pelo mundo. Com isso, desenvolveu uma série de outros projetos a partir da solução esférica, mas eles ficaram somente no papel.
Entre eles estão as Bolas Voadoras, de 1980, um conjunto habitacional e hotel feito da interligação de dezenas de bolas, e a Sobrebola, de 2007, que visava a construção de uma segunda esfera sobre a primeira Casa Bola.

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