Hoje transformada no museu Casa da Imagem, a residência apelidada de Casa n°1 de São Paulo, na região central da cidade, tem uma longa história, que começa no século 17.
“A casa tal como está remonta de 1880. Foi erguida após a demolição de um antigo sobrado, que aparece em uma pintura panorâmica da São Paulo colonial, de 1821, de autoria do artista francês Arnaud Julien Pallière. Porém, um dos registros mais antigos sobre ela é de 1689”, conta o educador Wellington Cunegundes, do Museu da Cidade de São Paulo, que administra o espaço.
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Com mais de 1 mil m², a residência na antiga rua do Carmo, hoje rua Roberto Simonsen, tem importância histórica fundamental para São Paulo. O edifício documenta a transformação da cidade desde o período colonial até as grandes mudanças do século 19.
“Ela representa múltiplas camadas temporais da evolução urbana. Sua relevância se estabelece, primeiramente, como testemunho do período bandeirante, com registros que remontam a 1689”, diz o educador. “Além disso, é um marco da especulação imobiliária do século 19, simbolizando o momento em que casas coloniais foram demolidas para dar lugar a construções modernas.”
A Casa nº 1 fica na antiga rua do Carmo, hoje rua Roberto Simonsen, e tem grande importância histórica para São Paulo
Acervo Digital da Unesp/Divulgação
Segundo Wellington, a denominação como Casa n°1 aconteceu por conta da implementação de um novo sistema de numeração urbana, entre 1885 e 1886, quando o casarão tornou-se a primeira edificação numerada da antiga rua do Carmo.
“Isso lhe confere um status simbólico único. Sua localização estratégica, próxima ao Beco do Pinto e às margens do Rio Tamanduateí, em área central histórica da cidade, reforça sua importância como documento arquitetônico das transformações urbanas paulistanas”, ele ressalta.
Mudanças arquitetônicas da Casa n°1
Durante o período colonial, até 1880, a construção original era um sobrado de dois andares (térreo e subsolo) construído em taipa de pilão.
“Era caracterizado pela caiação, amplo telhado cerâmico de três águas e um amplo quintal em declive cercado por muramento também de taipa de pilão, incluindo um pequeno abrigo na área do quintal”, detalha Wellington.
A residência é o atual museu Casa da Imagem, localizado ao lado do Beco do Pinto e do Solar da Marquesa de Santos, em São Paulo
Acervo Digital da Unesp/Divulgação
Em 1809, registros indicam que tinha “um laço e um andar”, sugerindo ser uma casa térrea de um andar. Em 1880, a proprietária Carolina Amália da Silva Rangel demoliu completamente o velho casarão de taipa para construir o sobrado de alvenaria de três andares, preservado até hoje.
“A nova construção seguiu o estilo arquitetônico eclético, com elementos construtivos ao gosto europeu evidentes na fachada, incluindo características de chalés do final do século 19, como a presença de lambrequins (adornos contínuos em madeira na beira do telhado)”, indica o educador.
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Além disso, o edifício apresenta características típicas do período. “É sem recuos em relação à testada e às divisas laterais, com entrada principal voltada para a rua, além de materiais de luxo importados, como os ladrilhos do hall de entrada, de estilo europeu e similares aos utilizados na Casa Brasil-França, no Rio de Janeiro, de 1832”, completa Welligton.
Usos variados da Casa n°1
Durante o período colonial e imperial, o imóvel serviu como residência de importantes figuras, como o sertanista Francisco Dias, o bandeirante Gaspar de Godoy Moreira, o tenente-coronel Manoel José Gomes e o padre Antônio Maria de Moura.
Em 1855, transformou-se no Atheneu Paulistano, instituição educacional gerida pelo padre Júlio Mariano Galvão de Moura, funcionando até a morte de seu último diretor. Entre 1857 e 1858, virou uma casa de banhos cujo principal destaque era a vista para a várzea do rio Tamanduateí.
Os ladrilhos originais do hall de entrada, de estilo europeu, foram preservados e são uma das curiosidades mais interessantes da Casa nº1
Acervo Digital da Unesp/Divulgação
Depois, tornou-se o Hotel do Hilário, que anunciava servir “peixes de Santos e oferecer tainhas frescas, assadas, recheadas, camarões frescos, ostras em lata, além de comidas usuais”, segundo Welligton, e também foi sede do renomeado Hotel Boa Vista.
No período republicano, a partir de 1890, passou a abrigar atividades administrativas, como a Estação Central de Urbanos e a Sociedade de Imigração, sendo posteriormente comprada pelo governo do estado, em 1894.
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Até 2011, quando se tornou a Casa da Imagem, parte do Museu da Cidade de São Paulo, foi sede de diversos órgãos estaduais, como instituições culturais, gabinetes da polícia e o Gabinete Médico Legal (atual IML).
Este último foi o responsável pela fama do casarão de “mal-assombrado”. “Isso tem a ver com o imaginário popular que é muito comum a edificações históricas e com o gosto que as pessoas têm por histórias de assombração”, avalia o educador.
Restauração da Casa n°1
O último restauro do edifício foi realizado entre 2008 e 2011, com projeto do escritório Marcos Carrilho, e focou na adaptação do espaço para sua nova função como Casa da Imagem. Uma renovação anterior, feita em 1976 por técnicos do Departamento do Patrimônio Histórico, foi mais abrangente em termos de investigação histórica.
“Este projeto incluiu a decapagem de sucessivas camadas de pintura e a prospecção da alvenaria e forros, que possibilitaram o levantamento de informações sobre as diversas remodelações do edifício, correspondentes às diferentes ocupações, e a descoberta de pinturas decorativas que foram recuperadas”, aponta Wellington.
A entrada da Casa da Imagem, que abriga cerca de 710 mil imagens da cidade de São Paulo
Fulviusbsas/Wikimedia Commons
A Casa n°1 de São Paulo é uma das 13 edificações históricas que exemplificam a evolução das técnicas construtivas da cidade e, por isso, encontra-se em processo de tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP), iniciado em 1992.
Transformação em museu
Atualmente, a Casa da Imagem funciona como uma instituição especializada na memória fotográfica de São Paulo, com 710 mil imagens da capital paulista, além de uma base de dados de gerenciamento e de recuperação de informações do acervo iconográfico da cidade.
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“Os visitantes podem apreciar não apenas as exposições fotográficas que retratam a evolução da cidade, mas também os elementos arquitetônicos preservados, como os ladrilhos históricos do hall de entrada, as pinturas decorativas recuperadas durante o restauro e a própria arquitetura eclética do final do século 19”, fala Wellington.
A visitação ao edifício e às exposições que acontecem na programação é gratuita e aberta de terça-feira a domingo, das 9h às 17h.
“A casa tal como está remonta de 1880. Foi erguida após a demolição de um antigo sobrado, que aparece em uma pintura panorâmica da São Paulo colonial, de 1821, de autoria do artista francês Arnaud Julien Pallière. Porém, um dos registros mais antigos sobre ela é de 1689”, conta o educador Wellington Cunegundes, do Museu da Cidade de São Paulo, que administra o espaço.
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Com mais de 1 mil m², a residência na antiga rua do Carmo, hoje rua Roberto Simonsen, tem importância histórica fundamental para São Paulo. O edifício documenta a transformação da cidade desde o período colonial até as grandes mudanças do século 19.
“Ela representa múltiplas camadas temporais da evolução urbana. Sua relevância se estabelece, primeiramente, como testemunho do período bandeirante, com registros que remontam a 1689”, diz o educador. “Além disso, é um marco da especulação imobiliária do século 19, simbolizando o momento em que casas coloniais foram demolidas para dar lugar a construções modernas.”
A Casa nº 1 fica na antiga rua do Carmo, hoje rua Roberto Simonsen, e tem grande importância histórica para São Paulo
Acervo Digital da Unesp/Divulgação
Segundo Wellington, a denominação como Casa n°1 aconteceu por conta da implementação de um novo sistema de numeração urbana, entre 1885 e 1886, quando o casarão tornou-se a primeira edificação numerada da antiga rua do Carmo.
“Isso lhe confere um status simbólico único. Sua localização estratégica, próxima ao Beco do Pinto e às margens do Rio Tamanduateí, em área central histórica da cidade, reforça sua importância como documento arquitetônico das transformações urbanas paulistanas”, ele ressalta.
Mudanças arquitetônicas da Casa n°1
Durante o período colonial, até 1880, a construção original era um sobrado de dois andares (térreo e subsolo) construído em taipa de pilão.
“Era caracterizado pela caiação, amplo telhado cerâmico de três águas e um amplo quintal em declive cercado por muramento também de taipa de pilão, incluindo um pequeno abrigo na área do quintal”, detalha Wellington.
A residência é o atual museu Casa da Imagem, localizado ao lado do Beco do Pinto e do Solar da Marquesa de Santos, em São Paulo
Acervo Digital da Unesp/Divulgação
Em 1809, registros indicam que tinha “um laço e um andar”, sugerindo ser uma casa térrea de um andar. Em 1880, a proprietária Carolina Amália da Silva Rangel demoliu completamente o velho casarão de taipa para construir o sobrado de alvenaria de três andares, preservado até hoje.
“A nova construção seguiu o estilo arquitetônico eclético, com elementos construtivos ao gosto europeu evidentes na fachada, incluindo características de chalés do final do século 19, como a presença de lambrequins (adornos contínuos em madeira na beira do telhado)”, indica o educador.
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Além disso, o edifício apresenta características típicas do período. “É sem recuos em relação à testada e às divisas laterais, com entrada principal voltada para a rua, além de materiais de luxo importados, como os ladrilhos do hall de entrada, de estilo europeu e similares aos utilizados na Casa Brasil-França, no Rio de Janeiro, de 1832”, completa Welligton.
Usos variados da Casa n°1
Durante o período colonial e imperial, o imóvel serviu como residência de importantes figuras, como o sertanista Francisco Dias, o bandeirante Gaspar de Godoy Moreira, o tenente-coronel Manoel José Gomes e o padre Antônio Maria de Moura.
Em 1855, transformou-se no Atheneu Paulistano, instituição educacional gerida pelo padre Júlio Mariano Galvão de Moura, funcionando até a morte de seu último diretor. Entre 1857 e 1858, virou uma casa de banhos cujo principal destaque era a vista para a várzea do rio Tamanduateí.
Os ladrilhos originais do hall de entrada, de estilo europeu, foram preservados e são uma das curiosidades mais interessantes da Casa nº1
Acervo Digital da Unesp/Divulgação
Depois, tornou-se o Hotel do Hilário, que anunciava servir “peixes de Santos e oferecer tainhas frescas, assadas, recheadas, camarões frescos, ostras em lata, além de comidas usuais”, segundo Welligton, e também foi sede do renomeado Hotel Boa Vista.
No período republicano, a partir de 1890, passou a abrigar atividades administrativas, como a Estação Central de Urbanos e a Sociedade de Imigração, sendo posteriormente comprada pelo governo do estado, em 1894.
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Até 2011, quando se tornou a Casa da Imagem, parte do Museu da Cidade de São Paulo, foi sede de diversos órgãos estaduais, como instituições culturais, gabinetes da polícia e o Gabinete Médico Legal (atual IML).
Este último foi o responsável pela fama do casarão de “mal-assombrado”. “Isso tem a ver com o imaginário popular que é muito comum a edificações históricas e com o gosto que as pessoas têm por histórias de assombração”, avalia o educador.
Restauração da Casa n°1
O último restauro do edifício foi realizado entre 2008 e 2011, com projeto do escritório Marcos Carrilho, e focou na adaptação do espaço para sua nova função como Casa da Imagem. Uma renovação anterior, feita em 1976 por técnicos do Departamento do Patrimônio Histórico, foi mais abrangente em termos de investigação histórica.
“Este projeto incluiu a decapagem de sucessivas camadas de pintura e a prospecção da alvenaria e forros, que possibilitaram o levantamento de informações sobre as diversas remodelações do edifício, correspondentes às diferentes ocupações, e a descoberta de pinturas decorativas que foram recuperadas”, aponta Wellington.
A entrada da Casa da Imagem, que abriga cerca de 710 mil imagens da cidade de São Paulo
Fulviusbsas/Wikimedia Commons
A Casa n°1 de São Paulo é uma das 13 edificações históricas que exemplificam a evolução das técnicas construtivas da cidade e, por isso, encontra-se em processo de tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP), iniciado em 1992.
Transformação em museu
Atualmente, a Casa da Imagem funciona como uma instituição especializada na memória fotográfica de São Paulo, com 710 mil imagens da capital paulista, além de uma base de dados de gerenciamento e de recuperação de informações do acervo iconográfico da cidade.
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“Os visitantes podem apreciar não apenas as exposições fotográficas que retratam a evolução da cidade, mas também os elementos arquitetônicos preservados, como os ladrilhos históricos do hall de entrada, as pinturas decorativas recuperadas durante o restauro e a própria arquitetura eclética do final do século 19”, fala Wellington.
A visitação ao edifício e às exposições que acontecem na programação é gratuita e aberta de terça-feira a domingo, das 9h às 17h.