Esqueletização de folhas: tudo sobre a técnica artesanal, com passo a passo

A natureza nos encanta com seus processos fascinantes, e a esqueletização de folhas é um exemplo disso. Trata-se de um método que evidencia a estrutura mais rendada da folha, destacando suas nervuras e criando um efeito visual delicado e quase transparente.
“É uma técnica artesanal que consiste em remover delicadamente a parte mais macia da folha, a polpa, preservando apenas sua estrutura principal: as nervuras. O resultado lembra o esqueleto da planta, revelando sua beleza natural em detalhes finos e delicados”, explica Lainy Tavares, arteterapeuta em estética rústica.
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Folhas adequadas para a esqueletização
Segundo Nadia Burkowski, especialista em arte floral com flores desidratadas, as folhas mais indicadas são aquelas que combinam três fatores: estrutura firme, nervuras evidentes e uma certa resistência ao manuseio.
Folhas de estruturas mais grossas e resistentes, especialmente aquelas com nervuras salientes, são mais adequadas para o processo devido à sua facilidade de manuseio, resultando em esqueletos mais nítidos e duradouros
Unsplash/Maite Tiscar/Creative Commons
“Em geral, folhas de plantas perenes com textura mais espessa são ótimas candidatas. Muitas espécies se comportam muito bem nesse processo, como a folha de magnólia, ligustro, ameixeira, mangueira, guajiru, cacau e filodendros”, conta.
O ideal é selecionar folhas maduras, sem furos, manchas ou sinais de deterioração. “A colheita no momento certo, nem muito verde, nem muito seca, faz toda a diferença. Quanto mais ‘viva’ a folha estiver, maior a chance de preservar sua estrutura com beleza e resistência”, ela complementa.
O processo de esqueletização
Durante a esqueletização da folha, a clorofila, responsável pela coloração verde, é removida, deixando visível o desenho das nervuras
Pexels/Gustavo Cruz/Creative Commons
A esqueletização de folhas pode ser realizada tanto por métodos químicos, como o uso de soda cáustica, quanto por processos naturais. E cada folha pode responder de um jeito diferente.
“A soda cáustica (hidróxido de sódio) reage com a celulose da folha, amolecendo e soltando suas fibras internas. Com o calor da água, essa mistura vai ‘desmanchando’ a polpa vegetal, facilitando sua remoção. Ao final, o que permanece é a estrutura firme da folha, rica em texturas e formas”, explica Layni.
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O processo envolve a remoção controlada dos tecidos mais macios da folha e da clorofila. “Para isso, usamos soluções químicas como percloratos e sodas, tempo de descanso e imersão, e manipulação manual de esfregaço bastante cuidadosa. A técnica exige sensibilidade, paciência e conhecimento sobre as características botânicas das folhas”, acrescenta Nadia.
O procedimento pode levar, em média, de 1 a 2 horas, considerando o tempo de cozimento, escovação e secagem. No entanto, esse tempo pode variar conforme o tipo da folha e a temperatura ambiente. A secagem completa pode demorar um pouco mais. O processo deve ser feito sob a supervisão de um profissional, devido aos perigos associados ao manuseio da substância.
Método natural
Embora seja mais demorado, é possível realizar a esqueletização de folhas de forma natural. “O processo evita o uso de substâncias tóxicas, preservando o meio ambiente, protegendo a saúde de quem manipula. Além disso, mantém a beleza natural da folha, promovendo um artesanato mais consciente”, defende Irene Sarranheira, a especialista em artesanato vintage décor com materiais recicláveis. A profissional ensina o passo a passo:
Materiais
Folhas firmes e inteiras (não use folhas secas demais, pois ficam quebradiças);
Água;
Escova de dentes ou pincel de cerdas macias.
Como realizar a técnica
Ferva as folhas por cerca de 1 hora, ou deixe de molho em água morna por alguns meses trocando a água dia sim, dia não.
Quando as folhas estiverem bem amolecidas, coloque sobre uma superfície plana.
Com a escova de cerdas macias vá retirando delicadamente a polpa até sobrar só a nervura (o “esqueleto”).
Deixe secar naturalmente em local arejado e plano.
O tempo necessário para transformar as folhas em esqueletos utilizando métodos naturais (fervura ou imersão) varia dependendo do tipo de folha utilizada e da técnica empregada. “As folhas têm resistências diferentes e cada uma vai ter o seu próprio tempo para romper totalmente a seiva. O processo de imersão pode levar até dois meses, por isso é necessária muita paciência”, ela justifica.
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Opções para colorir folhas esqueletizadas
Corantes naturais extraídos de vegetais e especiarias, como a cúrcuma, podem ser usados para conferir cores vibrantes às folhas esqueletizadas
Pixabay/Steve Buissinne/Creative Commons
Segundo as profissionais, existem diversas formas criativas de tingir ou pintar as folhas esqueletizadas. Confira:
Anilina para madeira diluída em água morna com álcool;
Corantes têxteis ou naturais, como cúrcuma, beterraba, espinafre, hibisco e casca de cebola;
Tinta aquarelável ou metálica, aplicada com pincel seco;
Spray com acabamento fosco ou perolado;
Tinta de giz ou chalk paint, que proporciona um efeito suave e rústico;
Chá preto ou café;
Tingimento com aquarela diluída ou tinta natural artesanal.
Lainy adverte quanto à utilização de anilina comestível para colorir as folhas esqueletizadas, pois a cor pode desbotar e as folhas podem apresentar manchas indesejadas. Nadia sugere também realizar testagens e diluições adequadas para não fragilizar a estrutura da folha.
Como armazenar a folha depois do processo
As folhas esqueletizadas são frequentemente conservadas por seu valor decorativo e artístico. “Após o processo, as folhas devem ser desidratadas, armazenadas com cuidado até o momento do uso e devem receber um tratamento de proteção por meio de vernizes, para proteger a delicadeza e evitar que se quebrem com o tempo”, orienta Nadia. Já a arteterapeuta indica usar papel manteiga dentro de pastas ou envelopes rígidos e mantê-las em local seco, longe da luz solar direta.
Aplicações decorativas e artesanais
Há muitas maneiras encantadoras de usar essas folhas no artesanato e decoração. “Podem ser aplicadas na criação de buquês de noiva, grinaldas, quadros e cúpulas botânicos, guirlandas, velas artesanais, papelaria personalizada, decoração de parede, vitrines, luminárias e até em peças de moda e joalheria natural”, comenta Nadia.
A aparência delicada da folha esqueletizada a torna uma opção interessante para quem busca elementos decorativos diferenciados
Pixabay/AdelinaZw/Creative Commons
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Cartões artesanais e convites, embalagens criativas e tags personalizadas, colagens artísticas, sabonetes, aromatizadores artesanais, composições com flores secas e resina, diários de memórias e scrapbooks, ilustrações naturais, marcadores de páginas, arranjos e decorações para festas e eventos são outras sugestões de uso.
Desafios que podem ser encontrados no processo
A arteterapeuta antecipa algumas dificuldades que podem surgir ao tentar obter as folhas com a estrutura desejada. Desta forma, é possível prevenir e potencializar os resultados:
Folhas se desfazendo: geralmente resultado de cozimento excessivo ou escolha inadequada da espécie.
Escovação agressiva: pode romper a estrutura delicada. O ideal é escovar com calma e leveza.
Manchas: surgem quando a polpa não é removida por completo ou há excesso de umidade na secagem.
Odor forte: é natural no uso da soda cáustica, mas pode ser suavizado com vinagre, que também ajuda na neutralização.
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Cuidados essenciais
Para obter um resultado satisfatório e seguro, mantendo a delicadeza da folha, é preciso ter cuidado em cada etapa do processo. Veja algumas dicas extras das profissionais:
Escolha folhas saudáveis, firmes e limpas;
Teste diferentes folhas e registre os resultados para entender quais espécies funcionam melhor;
Realize o processo em um ambiente bem ventilado, de preferência ao ar livre, e longe do alcance de crianças;
Respeite o tempo de imersão das folhas;
Use luvas de látex sem furos, máscara e óculos de proteção ao manusear a soda;
Utilize pinças ou espátulas para manusear folhas quentes com segurança e manter sua estrutura intacta;
Evite esfregar com força as camadas celulares;
Aplique proteção extra de vernizes para preservar a folha;
Guarde a folha esqueletizada longe da umidade para a sua conservação.
“A manipulação exige conhecimento, delicadeza e paciência. O universo da esqueletização é vasto e encantador. Quem se dedica a essa arte com atenção e afeto, descobre muito mais do que técnica, descobre um novo olhar para a natureza e para si mesma”, conclui a especialista em arte floral.

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