Favela dos Sonhos, em SP, tem casas feitas com tubos de pasta de dente reciclados

O desejo de unir sustentabilidade e moradia acessível deu origem a um projeto que implementou casas feitas com tubos de pasta de dente na Favela dos Sonhos, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. O local ganhou 19 residências sustentáveis, em uma iniciativa de revitalização viabilizada pelo projeto Favela 3D, desenvolvido pela ONG Gerando Falcões, cujo objetivo é melhorar as condições de habitação nas favelas do país.
Leia mais
O material para a construção é produzido por meio de técnicas de compactação e fixação, transformando tubos de plástico que iriam para o lixo em componentes estruturais.
“É uma solução 100% brasileira, criada para enfrentar nossa realidade de desigualdade habitacional e excesso de resíduos”, conta Caio Luizetto, co-fundador da iniciativa Favila Casas Sustentáveis, que desenvolveu a tecnologia.
Uma casa de tubos de pasta de dente custa 70% menos que uma construção de alvenaria convencional
Caio Luizetto/Divulgação
“Buscamos uma alternativa ambientalmente responsável, de baixo custo e adequada ao território, e o modelo de tubos reciclados surgiu como solução viável. Atende à necessidade de oferecer moradia transitória digna, utilizando material sustentável e alinhado ao nosso propósito de transformação social com inovação”, afirma Valter Gomes, gerente do Favela 3D.
Leia mais
Com custo 70% menor que uma construção de alvenaria, a residência de tubos de pasta de dente sai na frente no quesito agilidade — o que é essencial para famílias que enfrentam condições de habitação degradantes.
“Uma casa de 27 m², como as da Favela dos Sonhos, pode ser instalada em 24 horas, desde que o terreno esteja preparado e a equipe treinada. A velocidade é possível graças à pré-fabricação dos módulos”, fala Caio.
Como funciona a construção com tubos de pasta de dente reciclados?
Para montar os imóveis, os tubos passam pelo processo tradicional de reciclagem de plásticos: separação, limpeza, trituração e, depois, moldagem em blocos ou placas. “A diferença está no tratamento específico para garantir que o material resultante tenha propriedades adequadas à construção civil, como resistência e impermeabilidade”, explica Caio.
O trabalho é feito com parceiros do setor de reciclagem e empresas especializadas, que processam os tubos antes da fabricação dos módulos. “Priorizamos tubos de pasta de dente convencionais, mas também testamos embalagens de cremes cosméticos e produtos similares. O foco é utilizar materiais que ofereçam resistência e viabilidade técnica”, ele acrescenta.
As casas de tubos de pasta de dente reciclados é uma solução 100% brasileira e patenteada
Caio Luizetto/Divulgação
A construção acontece por um sistema modular: os tubos reciclados viram componentes pré-fabricados encaixados em estruturas leves — um sistema patenteado. “Isso permite montagem rápida, desmontagem e adaptação a diferentes terrenos, ideal para habitações transitórias”, comenta Caio.
Para um modelo de 27 m², são usadas cerca de uma tonelada de resíduos, o equivalente a aproximadamente 10 mil tubos — esse número varia conforme a espessura das paredes e o design escolhido.
“Optamos por instalações aparentes e modulares, que facilitam manutenção e adaptações. A elétrica usa conduítes externos, e a hidráulica emprega tubos sobrepostos, tudo pensado para que o morador possa fazer ajustes simples sem necessidade de quebrar paredes”, detalha Caio.
Casa de tubos de pasta de dente reciclados de 27 m² na Favela dos Sonhos, na Grande São Paulo
Flavia Taverna/Divulgação
Ainda segundo Caio, o material tem excelente desempenho em termos de isolamento térmico e acústico. “Em testes, as residências se mostraram estáveis frente a intempéries, com temperatura interna agradável, mesmo em climas extremos”, ele afirma.
Leia mais
Para Valter, o principal diferencial está na sustentabilidade. “Esse material é ecologicamente correto, não causa impactos negativos ao meio ambiente e promove melhoria significativa para o território e para as famílias.”
Solução transitória
Os imóveis de tubos de pasta de dente tiveram impacto significativo na Favela dos Sonhos. “Muitas famílias viviam em barracos de madeira em condições extremamente precárias, em situação de alta vulnerabilidade. Ter uma moradia sustentável e digna representa um avanço. Por isso, a recepção foi extremamente positiva”, destaca Valter.
A moradora Alessandra Batista foi uma das contempladas. “Saindo de um barraco, a sensação é de paz no coração. É maravilhoso sentir essa tranquilidade que a nova casa trouxe. Ela é forte e está resistindo bem ao tempo. Até agora, tem cumprido seu papel de oferecer segurança e proteção para nossa família”, ela diz.
A casa de tubos de pasta de dente de Alessandra Batista, moradora da Favela dos Sonhos, na Grande São Paulo
Flavia Taverna/Divulgação
Com impermeabilização e manutenção básica, as moradias sustentáveis têm vida útil de 10 a 15 anos. “Por ter um custo relativamente baixo, ela permite atender, a curto e médio prazos, uma parcela significativa da população em situação de vulnerabilidade habitacional”, aponta Valter.
De acordo com ele, a proposta é oferecer essa primeira estrutura para que a família tenha condições de se estabilizar, melhorar seus indicadores sociais e, a partir disso, avançar para uma habitação permanente. “É importante destacar que se trata de uma moradia provisória. Não é uma solução definitiva”, frisa.
Alessandra Batista vivia em um barraco de madeira e agora tem uma casa de tubos de pasta de dente na Favela dos Sonhos, em São Paulo
Flavia Taverna/Divulgação
Para Caio, o modelo é escalável como solução transitória, e também não deve ser pensado como permanente. “Funciona para tirar famílias da extrema vulnerabilidade enquanto aguardam moradias definitivas. O grande desafio é garantir que a casa de tubos seja uma ponte, não um destino. Por isso, defendemos políticas públicas que integrem essa tecnologia a programas de habitação social”, finaliza.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima