Arquitetura renascentista: tudo o que você precisa saber sobre o clássico estilo europeu

Do engenhoso projeto de Brunelleschi para a cúpula que coroa a Catedral de Santa Maria del Fiore, ao vasto teto da Capela Sistina decorado com os impressionantes afrescos de Michelangelo, a arquitetura renascentista — e sua ligação inextricável com a arte renascentista — não é apenas profundamente romântica, mas também reflexo de um período de enorme inovação e genialidade arquitetônica. O Renascimento, movimento cultural europeu que se estendeu pelos séculos XV e XVI, foi fruto de um ressurgimento mais amplo do artesanato e de uma revolução criativa. Nesse período, artistas e estudiosos redescobriram os valores e a educação clássica e, com isso, muitas façanhas incríveis de design foram alcançadas nessa era de renascimento. Aqui, conheça a história da arquitetura renascentista, seus principais nomes e monumentos, além de seu impacto na arquitetura atual.
O que é a arquitetura renascentista?
A arquitetura renascentista é um estilo inspirado na harmonia e na racionalidade da arquitetura da Grécia e da Roma antigas. Caracterizada por fachadas simétricas, arcos arredondados, cúpulas imponentes e colunas clássicas (dóricas, jônicas e coríntias herdadas dos gregos), o estilo priorizava o equilíbrio e o humanismo em contraste com o drama vertical do estilo gótico que o precedeu. Os arquitetos renascentistas buscavam criar espaços que representassem ordem e idealizassem a beleza, frequentemente unindo arte, ciência e matemática em seus projetos.
História da arquitetura renascentista
A arquitetura renascentista surgiu no século XV em Florença, na Itália. “O Renascimento foi realmente um novo começo para a arquitetura — um retorno às ideias clássicas após o período gótico intenso”, explica Scott Francis, designer de interiores e corretor imobiliário da Serhant. O contraste com a arquitetura gótica era marcante, visto que esta se destacava pela verticalidade e ornamentação exuberante, como se observa na Catedral de Notre Dame, na França, com suas abóbadas nervuradas, arcos ogivais e arcobotantes.
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A arquitetura renascentista italiana foi impulsionada por novas ideias em ciência, matemática e arte. Enquanto Leonardo da Vinci aplicava o humanismo em suas pinturas, arquitetos como Filippo Brunelleschi, Leon Battista Alberti e Donato Bramante traduziam esses princípios em construções definidas por cúpulas, colunas, arcos arredondados e proporções centradas no ser humano. Esses arquitetos estudaram obras da Grécia e Roma antigas, como o Panteão romano, para orientar suas criações.
O movimento começou em Florença, mas rapidamente se espalhou pelo resto da Itália. Em Veneza, arquitetos como Jacopo Sansovino e Andrea Palladio combinaram os ideais renascentistas com o patrimônio bizantino e gótico da cidade, criando fachadas e espaços públicos ricamente ornamentados, como a Praça de São Marcos. A abordagem distinta do Renascimento em Veneza ajudou a difundir o estilo pelo norte da Europa. O movimento atingiu seu auge durante o Alto Renascimento, no início do século XVI, com obras monumentais, como a Basílica de São Pedro, em Roma. Já no final do mesmo século, o estilo evoluiu para o Maneirismo, uma rejeição do Alto Renascimento que se baseava na complexidade e na distorção em vez da racionalidade.
Como o Renascimento mudou a arquitetura?
La Rotonda, projetada por Andrea Palladio, está entre as obras mais famosas do arquiteto
Getty Images
A reintrodução, pelo Renascimento, dos princípios da arquitetura clássica antiga, como simetria e proporção, lançou as bases de praticamente todos os estilos ocidentais que se seguiram. O estilo inspirou a grandiosidade da arquitetura barroca — basta observar as colunatas simétricas da Praça de São Pedro, no Vaticano — e influenciou o Neoclassicismo, ainda visível na cúpula e na fachada em estilo de templo do Capitólio dos Estados Unidos.
Andrea Palladio, um dos arquitetos residenciais mais influentes da época, projetou vilas tão marcantes que deram início a um movimento próprio: as casas “palladianas”, que se popularizaram no século XVIII na Inglaterra e na América colonial. Até Monticello, a residência de Thomas Jefferson, foi inspirada nos projetos de Palladio. Mas, talvez, o maior legado do Renascimento seja outro: “Ele tornou a arquitetura novamente humana”, diz Francis. “Os edifícios passaram a ser lugares de encontro, e não apenas de sobrevivência. Essa noção de escala, luz e ordem é algo que os designers ainda perseguem, criando espaços que sejam inspiradores e, ao mesmo tempo, agradáveis de habitar.”
Como a influência da arquitetura renascentista aparece hoje
“Qualquer edifício que trabalhe simetria, proporção ou uma grande cúpula deve algo ao Renascimento”, afirma Francis. “Janelas palladianas, pórticos elegantes, linhas retas, tudo isso surge tanto em casarões históricos quanto em releituras contemporâneas.” Em outras palavras, o Renascimento ainda exerce forte influência na arquitetura atual. De bancos modernos, salões cívicos e prédios comerciais com colunas coríntias para transmitir imponência, até residências privadas que adotam janelas em arcos e fachadas simétricas para criar acolhimento, elementos renascentistas continuam sendo retomados constantemente. “Algumas das casas mais notáveis e admiradas da Costa Leste dos EUA são projetadas no estilo neoclássico grego, e são muito cobiçadas”, acrescenta Francis. “É uma linguagem atemporal.”
Principais características da arquitetura renascentista
O Tempietto de San Pietro in Montorio é um túmulo projetado por Donato Bramante
Getty Images
Segundo Michele Iapicco, diretora do Iapicco Design Studio, “o Renascimento trouxe de volta o foco da arquitetura para as pessoas. O design passou a considerar a escala e o conforto humanos, não apenas a altura ou a grandiosidade.” Muitos elementos clássicos, como colunas, cúpulas e pilastras, reapareceram. “Os arquitetos também priorizavam a luz natural e a sensação de amplitude”, completa Iapicco. Assim, se você procura edifícios renascentistas, busque por estas características clássicas:
Elementos externos
Colunas e pilastras clássicas;
Cúpulas e lanternas centrais;
Pedra rústica;
Janelas e portas arqueadas;
Loggias e outras galerias externas cobertas;
Simetria e proporções matemáticas.
Elementos internos
Plantas baixas simétricas;
Tetos abobados e artesoados;
Paredes e tetos com afrescos;
Grandes janelas em arco;
Pisos de mármore ou pedras coloridas;
Trabalhos elaborados em estuque.
Exemplos famosos de arquitetura renascentista
Basílica de São Pedro (Cidade do Vaticano)
Basílica de São Pedro
BÙI VĂN HỒNG PHÚC/Pixabay
Iniciada em 1506 e concluída em 1626, a Basílica de São Pedro, na cidade do Vaticano, foi projetada e aperfeiçoada por mestres renascentistas, incluindo Donato Bramante, Michelangelo, Rafael e Gian Lorenzo Bernini. Sua grandiosa cúpula, concebida por Michelangelo, tornou-se um símbolo do horizonte de Roma e inspirou inúmeras igrejas pelo mundo. A basílica combina simetria clássica com escala monumental — sua vasta nave, colunas imponentes e capelas ornamentadas são imperdíveis. Construída sobre o túmulo homônimo de São Pedro, a basílica representa o coração espiritual da Igreja Católica.
Catedral de Florença, ou Duomo (Florença, Itália)
Catedral de Florença
David Mitchell/Pixabay
O Duomo de Florença (palavra italiana para catedral) é um marco do Renascimento. A construção começou em 1296, em estilo gótico, mas a cúpula revolucionária de Filippo Brunelleschi, finalizada 140 anos depois, em 1436, transformou o edifício em ícone da nova era. Utilizando um design inovador de concha dupla e um padrão de tijolos em espinha de peixe, Brunelleschi resolveu um centenário desafio de engenharia sem usar andaimes. A impressionante fachada de mármore verde, rosa e branco da catedral, a enorme cúpula (a maior cúpula de tijolos já construída) e o elegante campanário são características marcantes. O Duomo demonstra verdadeiramente o domínio da época em proporção, perspectiva e engenhosidade técnica.
Palazzo Medici (Florença, Itália)
Palazzo Medici
Getty Images
Projetado por Michelozzo para Cosimo de’ Medici, da família Médici, o palácio foi concluído em 1484 e é considerado protótipo das residências renascentistas. Michelozzo, discípulo de Filippo Brunelleschi, inspirou-se claramente nos projetos de seu mentor, como no uso da pietra serena — um arenito cinza amplamente utilizado na arquitetura renascentista —, nos arcos arredondados e nas proporções geométricas semelhantes às da obra de Brunelleschi. A base de pedra rústica do palácio, as elegantes janelas em arco e as cornijas refinadas criam a imponente fachada, semelhante a uma fortaleza. No interior, há um pátio aberto, onde ficava a estátua de bronze de Davi, de Donatello. O Palazzo Medici tornou-se um protótipo para residências renascentistas em toda a Europa, marcando um ponto de virada no design arquitetônico secular.
Arquitetos renascentistas notáveis
A Biblioteca Laurenciana em Florença, projetada por Michelangelo
Getty Images
Filippo Brunelleschi
“Brunelleschi é frequentemente considerado o pai da arquitetura renascentista”, diz Iapicco. Originalmente formado em ourivesaria e escultor, Filippo Brunelleschi (1377-1446) revolucionou as construções renascentistas com seu uso inovador da perspectiva linear e de elementos clássicos derivados da arquitetura grega e romana antigas, que ele estudou e reviveu.
Sua realização mais famosa é a imponente cúpula da catedral de Florença, uma maravilha da engenharia que utilizava uma estrutura de concha dupla e um padrão de tijolos em espinha de peixe. “Brunelleschi provou que um retorno aos métodos antigos poderia resolver desafios complexos de engenharia”, acrescenta Iapicco, “o que deu a Andrea Palladio a confiança necessária para incorporar a ordem e a proporção clássicas tanto em grandes edifícios públicos quanto em elegantes residências particulares”. Brunelleschi também projetou o Hospital dos Inocentes e a Capela Pazzi, estabelecendo novos padrões de simetria e proporção que definiram o espírito arquitetônico renascentista.
Leon Battista Alberti
Leon Battista Alberti (1404–1472) foi um arquiteto, humanista e teórico italiano que ajudou a moldar a base intelectual da arquitetura renascentista. Um verdadeiro “homem renascentista”, ele escreveu De re aedificatoria, o primeiro tratado de arquitetura impresso da época, que enfatizava a harmonia, as proporções matemáticas e a arquitetura clássica. Alberti projetou edifícios influentes como a fachada de Santa Maria Novella e o Palazzo Rucellai, em Florença. Seu trabalho promovia a ideia de que a arquitetura era uma arte nobre, enraizada na razão e na beleza, influenciando profundamente arquitetos em toda a Itália e além.
Michelangelo
Michelangelo (1475-1564) não foi apenas um mestre pintor e escultor, ele também foi um arquiteto talentoso com contribuições revolucionárias durante o Renascimento. Embora mais conhecido por seus afrescos de tirar o fôlego no teto da Capela Sistina, ele deixou uma marca enorme na arquitetura renascentista ao assumir o cargo de arquiteto-chefe da Basílica de São Pedro em 1546, redesenhando sua icônica cúpula. Ele abordou a arquitetura com a sensibilidade de um escultor, o que é fácil de perceber em seu projeto da impressionante Biblioteca Laurenciana em Florença, com sua escadaria proeminente que praticamente transborda como pedra líquida.
Donato Bramante
Originalmente formado em pintura, Donato Bramante (1444-1514) imprimiu aos seus projetos um forte senso de perspectiva e classicismo monumental. Seu Tempietto em San Pietro in Montorio, Roma, é considerado um exemplo perfeito da mais alta harmonia e proporção do Alto Renascimento, evocando antigos templos romanos, como o Panteão. O projeto mais ambicioso de Bramante foi o plano original para a nova Basílica de São Pedro na Cidade do Vaticano, com seu projeto de cúpula centralizada. Sua visão ousada também lançou as bases para arquitetos posteriores, como Michelangelo.
Andrea Palladio
Radicado na região do Vêneto, na Itália, Andrea Palladio (1508-1580) foi um arquiteto italiano altamente influente, conhecido por suas elegantes vilas, como a Villa Rotunda, e seus palácios urbanos em Vicenza. Seu tratado, Os Quatro Livros da Arquitetura, escrito em 1570, tornou-se um texto fundamental para arquitetos de toda a Europa e América. O movimento “Palladiano”, inspirado por sua obra, adotou a simplicidade clássica e o equilíbrio no design, influenciando a arquitetura neoclássica e georgiana em todo o mundo. “Ele foi um verdadeiro mestre em fazer o clássico parecer moderno, e ainda hoje nos inspiramos em seu manual”, diz Francis.
*Matéria originalmente publicada na Architectural Digest Estados Unidos
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