Quais utensílios não podem faltar na cozinha de um chef? Experts no assunto respondem

Quais utensílios não podem faltar na cozinha de um chef? Experts no assunto respondem
BEL COELHO
A chef Bel Coelho
Deco Cury
A chef dos restaurantes Cuia e Clandestina considera a faca Chef Pro 8”, da marca alemã Zwilling – nascida em 1731, uma das grifes mais cultuadas por profissionais de cozinha –, muito mais que um utensílio. É, antes, uma extensão da sua filosofia culinária. Formada no Culinary Institute of America, em Nova York, e com passagens por cozinhas premiadas como El Celler de Can Roca, em Girona, na Espanha, Bel encontrou nesse artigo não apenas funcionalidade, mas apelo estético. “O que mais me chama a atenção é a beleza. Ela tem um design muito lindo”, afirma. Para a chef, que valoriza ingredientes nativos e agroecológicos em sua cozinha cosmopolita, a faca representa transformação. “Esse instrumento é o mais importante depois do fogo, ele faz muita magia acontecer. Pode mudar a textura e o cozimento, e muita coisa no processo dos alimentos por conta do tamanho, formato, precisão… O corte é tudo!” Seu ritual de cuidado – afiar e armazenar sempre com protetor – reflete o respeito pela ferramenta que considera essencial.
RODRIGO FREIRE
O chef Rodrigo Freire
Deco Cury
A panela de ferro do chef do Preto Cozinha carrega em si toda a ancestralidade de sua culinária afro-baiana. Autodidata que trocou a advocacia pelos fogões, Rodrigo encontrou nesse item tradicional a ponte perfeita entre memória afetiva e técnica contemporânea. “Tenho essas panelas há alguns anos e uso algumas delas quase todos os dias. Muitas das receitas do Preto nasceram ou foram testadas nelas, são minhas grandes companheiras”, conta o profissional soteropolitano, que mistura componentes africanos, portugueses e indígenas em sua cozinha autoral. “Esse é um modelo nacional com excelente custo-benefício. Como a maioria das panelas artesanais, precisa de uma cura inicial, que, se bem-feita, deixa o utensílio muito parecido com aquelas panelas de ferro esmaltadas caríssimas. É importante também secar bem e besuntar em óleo vegetal na hora de guardar. Isso evita que ela oxide e mantém a cura por mais tempo”, aconselha.
JANAÍNA TORRES
A chef Janaína Torres
Deco Cury
O fogão a lenha simboliza a reconexão de Janaína com suas raízes em pleno centro de São Paulo. Eleita Melhor chef Mulher do Mundo em 2024, pela premiação 50 Best, a proprietária do Bar da Dona Onça encontrou nesse equipamento uma ponte entre sua infância urbana e as memórias rurais. “Quando era pequena, passava férias no sítio de uma tia em Itapevi [SP], onde havia um fogão a lenha aceso o dia inteiro”, lembra. Hoje, em seu apartamento, o equipamento representa mais do que nostalgia: é a forma que ela encontrou de reatar laços com a cozinha da roça. “Sou muito ligada à natureza e aos seus elementos. O fogão a lenha me aproxima do fogo e me traz uma relação diferente com o tempo, mais profunda e presente.” Para a chef, dominar o fogo com lenha é pura alquimia e permite alcançar texturas surpreendentes e sabores absolutamente únicos. “É uma espécie de magia, resultado de uma tecnologia ao mesmo tempo primitiva e extremamente sofisticada.”
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TELMA SHIMIZU
A chef Telma Shimizu
Deco Cury
Primeira mulher brasileira a receber o título de embaixadora da culinária Japonesa do governo do Japão, a chef do Aizomê herdou um de seus suribachi (pilão de cerâmica) do mestre Toshio Tanahashi, especialista em cozinha de monges budistas. “Foi com ele que tive os primeiros vislumbres da profundidade filosófica do ato de cozinhar. Ele passava horas moendo sementes de gergelim para preparar gomadofu, tofu à base de gergelim. Além da demanda física, o tempo dedicado era um exercício de meditação e devoção à prática zen”, lembra. Neta de japoneses nascida em São Paulo, Telma encontrou no utensílio a essência da funcionalidade da cultura de seus antepassados. “Seu design traduz a filosofia japonesa da eficiência e da atenção aos detalhes, além de ser simplesmente belo.” Usado diariamente para triturar gergelim e temperos, o objeto representa mais que técnica: é meditação. “Mesmo no ambiente frenético da cozinha podemos ter um momento de contemplação ao manuseá-lo”, explica a chef, que, com o suribachi, garante conseguir maior controle sobre a textura que deseja nos alimentos.
IRINA CORDEIRO
A chef Irina Cordeiro
Deco Cury
A cuscuzeira de barro de Irina carrega em si a herança de uma chef que transformou saudade em negócio. Feita em Tabatinga, numa comunidade de mulheres potiguares indígenas que trabalham o barro e a tapioca, a peça artesanal é a conexão perfeita entre suas raízes nordestinas e a trajetória paulistana. “Essa cuscuzeira me acompanha desde o primeiro dia em que pisei em São Paulo. É um item muito importante de um nordestino retirante. E essa daqui eu guardo com muito carinho e afeto”, diz a idealizadora dos restaurantes Cuscuz da Irina e Irina Restaurante, nascida no Rio Grande do Norte. A peça funciona como uma vaporeira, que prepara cuscuz e vegetais em apenas cinco minutos, e, mais do que o uso prático, representa um símbolo cultural e de memória afetiva que a chef traduz em cada prato de sua cozinha. Não à toa, ela gosta de repetir os dizeres fixados em uma placa no seu restaurante: “Cuscuz é melhor que muita gente”.
TÁSSIA MAGALHÃES
A chef Tássia Magalhães
Deco Cury
O chinois da che fdo Nelita representa sua obsessão pela perfeição técnica e profundidade de sabores. À frente do restaurante que ocupa o 26º lugar no Latin America’s 50 Best, com cozinha 100% feminina, Tássia encontrou nesse utensílio de filtragem a ferramenta essencial para sua filosofia culinária. Nascida em Guaratinguetá, SP, e formada pelo Senac campos do Jordão, ela desenvolveu uma paixão particular por caldos, bases e a construção de gostos densos. “Caldos e molhos me fascinam. Quando você consegue aprofundar o sabor e, ao mesmo tempo, ter complexidade, cor e uma filtragem bem elaborada, é possível atingir um nível esplêndido de um broth [caldo – usado como base para molhos, sopas e outros pratos]”, explica. Segundo a chef, que em cinco anos foi de estagiária a proprietária, o chinois é fundamental para atingir a excelência. “É um item muito importante na finalização. Seu uso é quase um ritual de respeito à técnica: exige paciência, precisão e cuidado com cada detalhe da filtragem.”
Vídeo: Rafael Belém. Assistente de fotografia: Beatriz Eritheia. Beleza: Ju Brotto
*Matéria originalmente publicada na edição de agosto/2025 da Casa Vogue (CV 475), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual e para assinantes no app Globo Mais.
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