Sempre tive curiosidade de conhecer o Jalapão, esse território pulsante quase no coração geográfico do Brasil. Já havia lido sobre o capim-dourado, mas nada supera a emoção de estar lá. Sentir a luz intensa, o calor seco, o silêncio das veredas e o cantar distante da água nos fervedouros.
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Convidei o fotógrafo e cineasta Augusto Pessoa para essa imersão sensorial, e nossa jornada começou ali, entre as chapadas douradas do Cerrado. Chegamos a Palmas e, logo de início, fomos acolhidos por Ilana Cardoso. Muito mais que guia, Ilana é liderança, ponte e inspiração.
O Jalapão tem um relevo marcado pelas chapadas e a vegetação típica do Cerrado
Augusto Pessoa/Divulgação
Precursora do turismo de base comunitária no Jalapão, ela promove vivências culturais autênticas com os povos nativos, fortalecendo a economia local e preservando tradições ancestrais no Quilombo Mumbuca.
A vegetação predominante da região é típica do Cerrado e, meio a ela, o capim-dourado se destaca pela cor chamativa
Augusto Pessoa/Divulgação
Sua experiência em projetos socioambientais, do Amazonas ao Xingu, somada à habilidade de conectar pessoas e comunidades, fez com que a nossa chegada fosse um abraço. Foi ela quem me apresentou às famílias artesãs e ao universo vivo do capim-dourado.
Hospedei-me no Quilombo de Mumbuca, na pousada da família de Ilana. Entre conversas na varanda e pratos típicos, fui conhecendo o território.
As chapadas do Jalapão preenchem a paisagem com tons terrosos
Augusto Pessoa/Divulgação
O Jalapão é um mosaico de fervedouros cristalinos, grutas, dunas douradas e veredas — corredores úmidos em meio ao Cerrado —, que explicam por que esse bioma é chamado de “caixa d’água do Brasil”, alimentando rios e guardando uma biodiversidade imensa.
Os fervedouros piscinas naturais cercada por vegetação e são muito comuns na região do Jalapão
Augusto Pessoa/Divulgação
Mas, o que mais brilhou para mim foi o “ouro vegetal”, o capim-dourado. Fui recebida por Noemi Ribeiro da Silva, carinhosamente chamada de Doutora, matriarca e guardiã das memórias do Mumbuca. Ela me contou, com afeto e riqueza de detalhes, que sua avó, Laurinda — parteira, tecedeira e fiadeira — enquanto acompanhava o marido para colher a palha das palmeiras buriti, avistou um capim com brilho incomum.
Na fotografia, Doutora (Noemi Ribeiro da Silva) ao lado de Juliana Pippi. A artesã carrega fios de capim-dourado e Juliana um chapéu feito do mesmo material
Augusto Pessoa/Divulgação
Surpresa pela delicadeza e pela cor dourada, colheu alguns feixes e, com olhar estético e afetuoso, teceu um chapéu para protegê-lo do sol. Assim, nasceu a primeira peça de capim-dourado, gesto simples que se transformou em legado.
A Doutora zela para que essa história e a técnica de trabalhar o capim passem de forma correta, de geração em geração, mantendo o respeito pelo tempo da planta e o manejo sustentável. Ela repete o que aprendeu da mãe, que herdou de Laurinda: “A gente não pode deixar de ensinar, porque viver o Mumbuca é viver com o Cerrado, viver com Deus. Temos que passar com alegria e humildade, como nossos antepassados fizeram”.
Os objetos e peças feitos de capim-dourado extrapolam os limites da região e são vistos em diferentes partes do país
Augusto Pessoa/Divulgação
Hoje, o artesanato em capim-dourado do Jalapão já ultrapassou os limites da região e pode ser encontrado em muitos lugares do Brasil. Desde biojoias, utensílios para casa, moda, até móveis e luminárias inteiramente revestidos desse brilho vegetal.
Existe uma preocupação da comunidade local em passar os ensinamentos e a prática do artesanato com o material entre gerações
Augusto Pessoa/Divulgação
Muitos criativos de diferentes áreas já passaram por lá, para trabalhar com a comunidade e com seus saberes, levando novas ideias e aprendendo com a tradição. Preservar essa herança é fundamental, mesmo quando se traz um olhar de fora, para que a essência e a alma do ofício continuem vivas.
Laudeci Ribeiro (à esquerda) está à frente da Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores Rurais de Mateiros e da Associação Quilombola local
Augusto Pessoa/Divulgação
Foi lá que comecei a desenvolver uma nova coleção, aprendendo com Laudeci Ribeiro, que, hoje, lidera mais de 80 mulheres, à frente da Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores Rurais de Mateiros e da Associação Quilombola local. Artesã desde criança, ela dedica sua vida à produção de peças em capim-dourado e à defesa do Cerrado, unindo tradição, preservação e geração de renda.
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Voltei com o coração em brasa de amor e entendimento. O capim-dourado é mais que matéria-prima: é memória, identidade e resistência. Um fio dourado que costura passado e presente, mantendo viva a história de um povo e inspirando novos projetos que valorizem o feito à mão, o verdadeiro patrimônio brasileiro.
A seguir, assista ao primeiro episódio da série “Mãos Brasileiras”:
MÃOS BRASILEIRAS | Juliana Pippi mergulha na arte do capim-dourado, o “ouro do Jalapão”
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Convidei o fotógrafo e cineasta Augusto Pessoa para essa imersão sensorial, e nossa jornada começou ali, entre as chapadas douradas do Cerrado. Chegamos a Palmas e, logo de início, fomos acolhidos por Ilana Cardoso. Muito mais que guia, Ilana é liderança, ponte e inspiração.
O Jalapão tem um relevo marcado pelas chapadas e a vegetação típica do Cerrado
Augusto Pessoa/Divulgação
Precursora do turismo de base comunitária no Jalapão, ela promove vivências culturais autênticas com os povos nativos, fortalecendo a economia local e preservando tradições ancestrais no Quilombo Mumbuca.
A vegetação predominante da região é típica do Cerrado e, meio a ela, o capim-dourado se destaca pela cor chamativa
Augusto Pessoa/Divulgação
Sua experiência em projetos socioambientais, do Amazonas ao Xingu, somada à habilidade de conectar pessoas e comunidades, fez com que a nossa chegada fosse um abraço. Foi ela quem me apresentou às famílias artesãs e ao universo vivo do capim-dourado.
Hospedei-me no Quilombo de Mumbuca, na pousada da família de Ilana. Entre conversas na varanda e pratos típicos, fui conhecendo o território.
As chapadas do Jalapão preenchem a paisagem com tons terrosos
Augusto Pessoa/Divulgação
O Jalapão é um mosaico de fervedouros cristalinos, grutas, dunas douradas e veredas — corredores úmidos em meio ao Cerrado —, que explicam por que esse bioma é chamado de “caixa d’água do Brasil”, alimentando rios e guardando uma biodiversidade imensa.
Os fervedouros piscinas naturais cercada por vegetação e são muito comuns na região do Jalapão
Augusto Pessoa/Divulgação
Mas, o que mais brilhou para mim foi o “ouro vegetal”, o capim-dourado. Fui recebida por Noemi Ribeiro da Silva, carinhosamente chamada de Doutora, matriarca e guardiã das memórias do Mumbuca. Ela me contou, com afeto e riqueza de detalhes, que sua avó, Laurinda — parteira, tecedeira e fiadeira — enquanto acompanhava o marido para colher a palha das palmeiras buriti, avistou um capim com brilho incomum.
Na fotografia, Doutora (Noemi Ribeiro da Silva) ao lado de Juliana Pippi. A artesã carrega fios de capim-dourado e Juliana um chapéu feito do mesmo material
Augusto Pessoa/Divulgação
Surpresa pela delicadeza e pela cor dourada, colheu alguns feixes e, com olhar estético e afetuoso, teceu um chapéu para protegê-lo do sol. Assim, nasceu a primeira peça de capim-dourado, gesto simples que se transformou em legado.
A Doutora zela para que essa história e a técnica de trabalhar o capim passem de forma correta, de geração em geração, mantendo o respeito pelo tempo da planta e o manejo sustentável. Ela repete o que aprendeu da mãe, que herdou de Laurinda: “A gente não pode deixar de ensinar, porque viver o Mumbuca é viver com o Cerrado, viver com Deus. Temos que passar com alegria e humildade, como nossos antepassados fizeram”.
Os objetos e peças feitos de capim-dourado extrapolam os limites da região e são vistos em diferentes partes do país
Augusto Pessoa/Divulgação
Hoje, o artesanato em capim-dourado do Jalapão já ultrapassou os limites da região e pode ser encontrado em muitos lugares do Brasil. Desde biojoias, utensílios para casa, moda, até móveis e luminárias inteiramente revestidos desse brilho vegetal.
Existe uma preocupação da comunidade local em passar os ensinamentos e a prática do artesanato com o material entre gerações
Augusto Pessoa/Divulgação
Muitos criativos de diferentes áreas já passaram por lá, para trabalhar com a comunidade e com seus saberes, levando novas ideias e aprendendo com a tradição. Preservar essa herança é fundamental, mesmo quando se traz um olhar de fora, para que a essência e a alma do ofício continuem vivas.
Laudeci Ribeiro (à esquerda) está à frente da Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores Rurais de Mateiros e da Associação Quilombola local
Augusto Pessoa/Divulgação
Foi lá que comecei a desenvolver uma nova coleção, aprendendo com Laudeci Ribeiro, que, hoje, lidera mais de 80 mulheres, à frente da Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores Rurais de Mateiros e da Associação Quilombola local. Artesã desde criança, ela dedica sua vida à produção de peças em capim-dourado e à defesa do Cerrado, unindo tradição, preservação e geração de renda.
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Voltei com o coração em brasa de amor e entendimento. O capim-dourado é mais que matéria-prima: é memória, identidade e resistência. Um fio dourado que costura passado e presente, mantendo viva a história de um povo e inspirando novos projetos que valorizem o feito à mão, o verdadeiro patrimônio brasileiro.
A seguir, assista ao primeiro episódio da série “Mãos Brasileiras”:
MÃOS BRASILEIRAS | Juliana Pippi mergulha na arte do capim-dourado, o “ouro do Jalapão”