Streamline moderne: o que é, características e exemplos do estilo arquitetônico

O streamline moderne surgiu na década de 1930 como uma vertente do art déco, movimento artístico, arquitetônico e de design dos anos 1920, marcado pelo luxo, geometria ornamentada e materiais nobres, como mármore, bronze e ébano.
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“Diferentemente da exuberância do art déco, o streamline moderne buscou formas mais fluidas, simplificadas e funcionais. É reconhecido por suas linhas horizontais alongadas, cantos arredondados, superfícies lisas e uma inspiração clara nas máquinas modernas, como aviões, trens e navios”, conta a arquiteta Juliana Fabrizzi.
O Marine Air Terminal, no aeroporto LaGuardia, em Nova York, traz o estilo streamline moderne
Eden, Janine and Jim/Wikimedia Commons
Segundo a arquiteta Sabrina Salles, ele é menos decorativo e mais funcional. “Mas o streamline moderne não rompeu totalmente. Herdou do art déco a simetria, a geometria como linguagem e o gosto por materiais modernos”, explica.
O estilo aparece nos Estados Unidos no período da Grande Depressão, marcado pelo colapso da Bolsa de Nova York, em 1929. “À época, existia uma buscava por inovação, otimismo e uma linguagem arquitetônica que refletisse progresso. Diferente do art déco luxuoso dos anos 1920, o streamline moderne surge como uma versão mais acessível e funcional”, fala Sabrina.
“A crise econômica global exigiu mudanças. O consumo de luxo perdeu espaço e a arquitetura precisou se adaptar a um tempo de racionalidade. Assim, o streamline moderne surge como uma estética que traduzia eficiência e modernidade, mas com custos menores”, destaca Juliana.
Com ar de navio, o Aquatic Park Bathhouse, em São Francisco, é um representante do streamline moderne
Flickr/San Francisco Maritime NHP/Creative Commons
O estilo foi fortemente inspirado pelo design industrial e pelos avanços tecnológicos da época: navios transatlânticos, trens, aviões e carros mais modernos. A ideia era transmitir dinamismo, eficiência e movimento.
“Em inglês, streamline significa agilizar, simplificar, tornar eficiente. A palavra, vinda do vocabulário da engenharia e do design industrial, se refere ao desenho aerodinâmico, mas seu sentido mais profundo é de otimizar e suavizar as formas. Moderne reforça o espírito de modernidade da época. Assim, o nome traduz exatamente essa busca por fluidez, simplicidade e eficiência”, aponta Juliana.
O hotel Normandie, em Porto Rico, foi erguido em 1942 no estilo streamline moderne
Eric Pancer/Wikimedia Commons
Na França, o streamline moderne ficou conhecido como estilo paquebot (transatlântico), influenciado pelo luxuoso navio SS Normandie (1932), que teve os seus interiores decorados pelo arquiteto francês Pierre Patout.
Entre os expoentes do estilo estão Norman Bel Geddes, visionário do design aerodinâmico, e Raymond Loewy, que trabalharam tanto com design industrial quanto com arquitetura. Além deles, Donald Deskey, William Lescaze e Gilbert Rohde contribuíram muito para difundir o conceito nos Estados Unidos.
Datado de 1938, o edifício Flagey, em Bruxelas, na Bélgica, é do estilo streamline moderne
Flickr/Fred Romero/Creative Commons
Para além da arquitetura, a ideia de “modernidade aerodinâmica” se espalhou para toda a cultura de consumo. O estilo podia ser visto no design industrial e gráfico da época: automóveis, trens, navios, aviões, eletrodomésticos e móveis lançados no período carregavam as suas características. “Ele ultrapassava os edifícios e chegava aos objetos do cotidiano”, fala Sabrina.
“Desta forma, o streamline moderne deixou a ideia de que a arquitetura e o design poderiam dialogar diretamente com a tecnologia e com a indústria. Ele abriu caminho para o design moderno do pós-guerra”, completa a arquiteta.
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De acordo com a arquiteta Rosa Dalledone, hoje o estilo passa por uma releitura com toques atuais. “Linhas aerodinâmicas, curvas, poucos detalhes, a iluminação como elemento decorativo. As linhas industriais se fundem com as linhas orgânicas, criando um luxo silencioso e discreto”, diz.
“Podemos vê-lo e edifícios, como os da Pininfarina [marca italiana de design de carros], ou na decoração. Mesmo móveis planejados já trazem tecnologia para produzir detalhes, curvas, mistura de materiais e transparência”, completa a profissional.
Edifícios como este, como assinatura da marca Pininfarina, trazem o streamline para a atualidade
Cyrela/Divulgação
Características do streamline moderne
Linhas horizontais bem marcadas, transmitindo movimento.
Volumes arredondados e cantos curvos.
Fachadas lisas, com poucos ornamentos.
Janelas em fita ou cantos envidraçados.
Uso de vidro em grandes panos ou em blocos translúcidos, que criam uma estética futurista.
Elementos que lembram navios ou aviões, como corrimãos metálicos, “chaminés” e janelas redondas (olho-de-boi), de inspiração náutica.
Varandas e guarda-corpos lembrando conveses de navio.
Paleta clara, muitas vezes branca ou em tons pastel, e superfícies brilhantes.
Com arquitetura streamline moderne, a estação de metrô East Finchley, em Londres, é de 1937
Sunil060902/Wikimedia Commons
Já entre os materiais se destacam vidro, aço, alumínio, concreto armado e, às vezes, revestimentos cerâmicos. “A ideia era trabalhar com materiais industriais que transmitissem modernidade”, fala Sabrina.
O Cincinnati Union Terminal, no bairro de Queensgate, EUA, é uma estação ferroviária icônica no estilo streamline moderne
Warren LeMay/Wikimedia Commons
De acordo com Juliana, muitos destes materiais eram tecnológicos para a época. O concreto armado, por exemplo, permitia a criação de fachadas contínuas e arredondadas. Os metais polidos ou foscos, aplicados em guarda-corpos, esquadrias e acabamentos, possuíam desenhos geométricos, evidenciando a estética industrial.
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“Era comum o uso de resinas sintéticas e laminados industriais de alta resistência, novidades da época, que permitiam superfícies mais higiênicas, práticas e acessíveis, aplicadas tanto em interiores quanto no design de móveis e eletrodomésticos”, conta a arquiteta.
Streamline moderne no Brasil e no mundo
Embora em menor escala, o Brasil tem representantes do streamline moderne. “O edifício do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), no Rio de Janeiro, e algumas estações ferroviárias e prédios residenciais dos anos 1930 e 1940 apresentam traços deste estilo”, diz Sabrina.
Neste último caso, eles se concentram mais em cidades como Rio de Janeiro, nos bairros de Copacabana e Ipanema, e em Santos, no litoral paulista.
O edifício do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), no Rio de Janeiro, possui traços do estilo streamline moderne
Donatas Dabravolskas/Wikimedia Commons
Juliana cita outros exemplos na cidade de São Paulo, como o edifício Esther, marco modernista com traços streamline moderne; o edifício Guarani; e o estádio do Pacaembu.
Erguido em 1936 em São Paulo, o edifício Guarani tem elementos do streamline moderne
Gabriel Fernandes/Wikimedia Commons
Já no mundo, os mais famosos se concentram, principalmente, nos Estados Unidos. Exemplos: o Marine Air Terminal do Aeroporto LaGuardia, em Nova York; o Cincinnati Union Terminal, estação ferroviária na cidade do estado de Ohio; o Aquatic Park Bathhouse, em São Francisco, com seu icônico formato de barco; e as antigas estações de ônibus da Greyhound, erguidas na década de 1930.
O estádio do Pacaembu, na capital paulista, tem arquitetura inspirada no streamline moderne
Rodrigo Soldon/Creative Commons
Em outros países estão o hotel Normandie, em Porto Rico; o edifício Flagey, em Bruxelas, na Bélgica; e a estação de metrô East Finchley, em Londres, Inglaterra.
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A Casa de Serralves, na cidade do Porto, em Portugal, também é um exemplo marcante. Construída entre 1931 e 1944, ela une a sobriedade geométrica do art déco com volumes horizontais e detalhes do streamline moderne.
A Casa de Serralves, em Portugal, une a sobriedade geométrica do art déco com volumes horizontais e detalhes streamline moderne
Juliana Fabrizzi/Arquivo Pessoal
“Quando estive lá, me impressionou profundamente a forte identidade das formas geométricas puras em harmonia com a fluidez da arquitetura e a integração com os jardins. É como estar diante de um momento de transição entre duas épocas. A limpeza estética valoriza cada linha e cada detalhe, resultando em uma elegância inesquecível”, revela Juliana.

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