10 objetos icônicos do design criados por arquitetos famosos

A mentalidade de uma pessoa arquiteta envolve noções de escala, proporção, lógica estrutural, visão espacial e pensamento sistêmico. Quando aplicada ao design, essa abordagem resulta em objetos que unem forma, função e inovação — é por isso que muitos arquitetos, ao longo da história, se aventuraram no desenho de cadeiras, luminárias e mesas, criando peças que se tornaram verdadeiros ícones.
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“Embora o olhar do arquiteto esteja direcionado sobretudo à escala do edifício e do urbanismo, é o design que assegura o processo criativo orientado ao usuário, com foco em aspectos técnicos fundamentais, como materiais, ergonomia e processos produtivos”, comenta Nara Martins, professora de design na Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Essa centralidade do design confere ao mobiliário não apenas inovação formal, mas também eficiência funcional, conforto e viabilidade de produção.”
A poltrona Mole é um dos itens mais simbólicos da carreira do arquiteto e designer brasileiro Sergio Rodrigues. Projeto da arquiteta Vitória Vasconcelos
Fabio Jr. Severo/Divulgação
Ela ainda destaca que, apesar dessa colaboração enriquecer o resultado, é fundamental respeitar os limites de cada profissão: “O design de mobiliário exige processo de pesquisa e de desenvolvimento, aprofundamento técnico que vai além da concepção espacial, envolvendo conhecimentos ergonômicos, tecnológicos e industriais”, acrescenta.
A relação entre arquitetura e design ao longo dos anos
Ao longo dos anos, muitos móveis projetados por arquitetos destacam-se por formas geométricas puras e ausência de ornamentos desnecessários, focando na essência do objeto.
A escolha dos materiais varia conforme a tecnologia disponível e a filosofia do profissional: aço e vidro simbolizavam o modernismo da Bauhaus, enquanto a madeira trazia calor e aconchego. Já no período pós-Segunda Guerra Mundial, os plásticos e espumas sintéticas predominavam.
O arquiteto e designer estadunidense Marcel Breuer sentado na cadeira Wassily, criada por ele entre 1925 e 1926
Flickr/moonoa/Creative Commons
“No período de criação do Movimento Moderno, era comum que arquitetos desenhassem móveis e luminárias para os espaços projetados, pois o mercado ainda não os disponibilizava. Os padrões estéticos da época eram ligados aos historicismos”, fala Rafael Manzo, professor de Arquitetura na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Entre as décadas de 1930 e 1950, arquitetos priorizavam a integração entre arte, técnica e funcionalidade. Nessa época, não havia formação específica em design, e fundadores de escolas como a Bauhaus eram arquitetos, marceneiros e artistas plásticos.
No Brasil, os primeiros cursos profissionalizantes surgiram na década de 1960, com foco em materiais, processos produtivos, inovação e ergonomia. A separação formal entre arquitetura e design ocorreu entre os anos 1970 e 1980.
A poltrona com peseira de Charles e Ray Eames, da Herman Miller, é um dos mobiliários mais icônicos do design mundial. Projeto comandado pela arquiteta Ana Terra Capobianco
Maura Mello/Divulgação
“Mesmo com a hegemonia do Modernismo após a Segunda Guerra Mundial, arquitetos continuaram a atuar tanto na escala do edifício quanto na do objeto até a década de 1980, quando as especificidades de cada área começaram a ser ressaltadas. Sempre houve profissionais especializados em uma ou outra escala, atuando de forma distinta”, acrescenta Rafael.
Para Bibiana Wittmann Lanzarin, designer de interiores e especialista em arquitetura e cenografia, o objeto nunca é pensado de forma isolada. “A arquitetura empresta ao design de objetos sua sensibilidade espacial e rigor estrutural. Em troca, o design de mobiliário funciona como um campo de experimentação mais ágil para novos materiais e tecnologias de fabricação, que podem inspirar soluções em escala arquitetônica. Essa prática integrada permite criar ambientes onde o edifício e o mobiliário falam a mesma língua, resultando em projetos mais coesos e completos.”
Na varanda, a poltrona Butterfly, dos dos arquitetos Antoni Bonet, Juan Kurchan e Jorge Ferrari-Hardo, aprimorada com couro do mestre artesão brasileiro Espedito Seleiro. Projeto do Studio mk27
Fernando Guerra/Divulgação
A seguir, apresentamos 10 objetos reconhecidos mundialmente que foram idealizados por arquitetos, ilustrando como a união entre arquitetura e design resultou em peças icônicas.
1. Banqueta Bombo
A banqueta Bombo, de Stefano Giovannoni para a Magis, proporciona acento confortável e estética moderna
Magis/Divulgação
Desenhada pelo arquiteto e designer italiano Stefano Giovannoni para a Magis, em 1999, a banqueta apresenta design simples e orgânico, um apoio de pé minimalista central e estrutura regulável.
2. Cadeira Barcelona
A Cadeira Barcelona, do arquiteto Ludwig Mies Van der Rohe, foi nomeada por conta de seu primeiro uso e por ter ganhado popularidade na cidade
moDecor Móveis Pvt Ltda./Wikimedia Commons
A cadeira foi projetada pelo arquiteto alemão Mies Van der Rohe (1886-1969) com colaboração da designer alemã Lilly Reich (1885-1947) para o Pavilhão Alemão da Exposição Internacional de Barcelona de 1929, com o intuito de acomodar a realeza da Espanha. O item é frequentemente utilizado em cenários de poder corporativo e luxo, como no filme 007 – Casino Royale.
3. Cadeira Panton
Com forma de “s”, a cadeira Panton, do arquiteto e designer Verner Panton, revolucionou a história do design mundial
Unsplash/ulises varela/Creative Commons
Obra de 1967 do designer e arquiteto dinamarquês Verner Panton (1926-1998), ela foi o primeiro assento de plástico feito de uma única peça e totalmente unificada em seu material e formato, sendo um marco do design contemporâneo e ícone do Pop Art.
4. Cadeira Wassily
Também conhecida como modelo B3, a cadeira Wassily, do arquiteto e designer Marcel Breuer, é símbolo de estilo e inovação
Flickr/Carl Graph/Creative Commons
Criada pelo arquiteto e designer estadunidense Marcel Breuer (1902-1981), a cadeira Wassily foi inspirada no guidão da bicicleta Adler e recebeu reconhecimento devido ao uso de aço tubular sem soldas. O nome da peça faz homenagem ao colega de Breuer na Bauhaus, o pintor russo Wassily Kandinsky (1866-1944).
5. Chaise LC4
A Chaise LC4, do arquiteto e designer franco-suíço Le Corbusier em colaboração com Charlotte Perriand e e Pierre Jeanneret. Projeto do escritório EFC Arquitetura
Carolina Mossini/Divulgação
A Chaise LC4 é fruto da colaboração entre Le Corbusier (1887-1965), Charlotte Perriand (1903-1999) e Pierre Jeanneret (1896-1967). A peça foi desenvolvida em 1928, mas foi apresentada ao mundo apenas no ano seguinte durante o Salão de Outono de Paris, França, na mostra denominada Equipment for the Home.
6. Poltrona Butterfly
A poltrona Butterfly, dos arquitetos Antoni Bonet, Juan Kurchan e Jorge Ferrari-Hardoy, foi uma das primeiras a propor um assento suspenso encaixado em quatro pontos. Projeto do Ateliê Concreto
Luiza Schreier/Divulgação | Produção: Jefferson Stunner/Divulgação
A Cadeira Butterfly foi projetada em 1938 em Buenos Aires, Argentina, pelos arquitetos Antoni Bonet (1913-1989), Juan Kurchan (1913-1972) e Jorge Ferrari-Hardoy (1914-1977), alunos de Le Corbusier e criadores do Grupo Austral. Originalmente, o nome da peça fazia referência ao nome dos fundadores, com a sigla BKF. Eles receberam inspiração do modelo La Tripolina, do engenheiro inglês Joseph Beverly Fenby (1841-1903).
7. Poltrona Charles Eames
A poltrona Charles Eames foi disposta no quarto para funcionar como um cantinho de leitura. Projeto do escritório Paiva e Passarini Arquitetura
Xavier Neto/Divulgação
Clássico do design, a poltrona foi desenvolvida pelo arquiteto Charles Eames (1907-1978), em parceria com sua mulher, a artista e designer Ray Eames (1912-1988), em 1956, combinando beleza e conforto.
8. Poltrona Egg
A Poltrona Egg atravessou gerações e é visto como objeto de desejo pelos amantes do design
Unsplash/Jejo Jose/Creative Commons
Criada pelo arquiteto e designer dinamarquês Arne Jacobsen (1902-1971) em 1958, a poltrona Egg foi desenhada especialmente para o SAS Royal Hotel, em Copenhague. Foi concebida para ser uma peça de destaque que combinasse conforto, funcionalidade e estética. O móvel quebrou as convenções ao apresentar um formato curvo, cujo nome faz referência a um ovo semiaberto.
9. Poltrona Jangada
A poltrona Jangada, de Jean Gillon, mistura couro e redes de cordas artesanais. Projeto do escritório Escala Arquitetura
Luiza Schreier/Divulgação
Considerada um marco para o design modernista brasileiro em virtude da fusão de materiais naturais, estética e conforto, a poltrona Jangada foi criada pelo arquiteto e designer Jean Gillon (1919-2007) em 1968. A singularidade da peça é expressa por meio da trama de rede de pesca na parte superior, cuja inspiração veio das velas do mar da Bahia.
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10. Poltrona Mole
A poltrona “Mole”, de Sergio Rodrigues, foi adquirida no Hangar 43 e apresenta estilo despojado. Projeto assinado pela arquiteta Thaisa Bohrer
Favaro Jr./Divulgação
A concepção da Poltrona Mole iniciou em 1957, quando o fotógrafo Otto Stupakoff (1935-2009) pediu um sofá “esparramado” para o arquiteto e designer brasileiro Sergio Rodrigues (1927-2014). A versão conquistou fama internacional ao ganhar o 4º Concurso Internacional de Móvel em Cantù, na Itália, em 1961. Atualmente, ela integra o acervo permanente do Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, e do Museum of Modern Arts (MoMA), em Nova York (EUA).

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