Por dentro do apartamento-museu de Charles Cosac; vídeo

Fazer livro? É um vício horrível. Uma vez editado o primeiro, você vai morrer fazendo isso”, ri Charles Cosac na mesa de trabalho de seu apartamento paulistano. Sua obsessão pelo universo editorial tem história longa e renomada. A estreia como editor se deu com uma publicação sobre a obra do amigo e artista Siron Franco – e um dos vários nomes que compõem sua coleção de arte. Da empreitada resultou a fundação, com o cunhado, da Cosac Naify, editora que publicou, a partir de 1997, mais de 1,6 mil volumes até encerrar os negócios em 2015. Os quase 20 anos da empresa foram marcados pelo zelo com o objeto-livro, desde o desenvolvimento de projetos gráficos até a escolha dos papéis importados e acabamentos de luxo.
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Se o padrão de excelência mudou o paradigma do mercado editorial brasileiro, foi esse mesmo fator que levou a Cosac Naify ao fim. A conta não fechava e era tempo de iniciar novos capítulos. De lá para cá, muitas páginas foram escritas: Charles atuou como diretor da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, mudou-se para Brasília para dirigir o Museu Nacional da República e, em seguida, para a capital fluminense, onde assumiu a direção cultural do Museu de Arte do Rio.
Natural da Cidade Maravilhosa, o retorno às origens não se sustentou: “Cheguei a reformar o apartamento onde nasci, de frente para o Pão de Açúcar. Achei que seria minha última parada. Mas, quando a obra terminou, percebi que não queria mais morar lá, e sim voltar para São Paulo”, admite. “Apesar de sempre ter sonhado viver em capitais lindas como Roma, Praga ou Paris, vim parar nesta cidade que não é bonita, mas que eu amo de paixão.”
Passei a amar a solidão. Hoje, fico semanas sem sair de casa
Charles Cosac posa no sofá ON, design Oscar Niemeyer, na Arquivovivo
Ruy Teixeira
Na sala de jantar, escultura de Barrão, tela de Bruce McLean, na Bernard Jacobson Gallery, e, no piso, escultura de Tunga, na galeria Millan
Ruy Teixeira
Outro ângulo do mesmo ambiente mostra cadeiras portuguesas do séc. 19, no Itamar Musse Antiquário, pendente vintage, na Jair Lustres Antigos, e tela de Karin Lambrecht, na galeria Nara Roesler Passei a amar a solidão. Hoje, fico semanas sem sair de casa Charles Cosac
Ruy Teixeira
Na área de circulação (da esq. para a dir.), figuram escultura em forma de sapatos, de Alexandre Herchcovitch, na Galeria Thomas Cohn, tela de Berna Reale, na galeria Nara Roesler, duas reproduções de Nosso Senhor dos Passos, no Itamar Musse Antiquário, escultura de Nelson Felix, na galeria Millan, pendente vintage da Dominici, imagem portuguesa de Mater Dolorosa, no Itamar Musse Antiquário, e díptico de Nelson Felix, na galeria Millan – na sala ao fundo, veem-se mais uma obra de Nelson Felix (ao centro), na galeria Millan, e imagem de Jesus Cristo, no antiquário Marcelo de Medeiros
Ruy Teixeira
No living do pavimento superior, escultura pendente de Emanoel Araujo, na Paulo Darzé Galeria, obra de Tunga (no piso), presente do artista, escultura de Bruce McLean (sobre a mesa) e fotografias de Alair Gomes, na Casa Triângulo
Ruy Teixeira
Tela de Daniel Senise, arrematada na Christie’s
Ruy Teixeira
Tela de Luiz Zerbini, no leilão Bolsa de Arte, e duas instalações de Tunga, na galeria Millan (à esq.) e na Galeria Marilia Razuk e Steiner (ao centro)
Ruy Teixeira
A sala de leitura recebeu escultura de Amelia Toledo (em primeiro plano), na Galeria Marcelo Guarnieri, mesa de centro Noguchi, de Isamu Noguchi, na Arquivovivo, com escultura de Franz Weissmann, e tela barroca veneziana herdada dos avós
Ruy Teixeira
A sala de jantar conta com mesa que pertenceu ao artista Farnese de Andrade, pendente do séc. 19 no estilo Maria Thereza e tela de Vik Muniz, na galeria Nara Roesler
Ruy Teixeira
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O movimento de retorno foi duplo: não apenas um regresso geográfico, mas também um resgate de seu encanto pelo mundo do papel impresso. Em 2023, anunciou a abertura da Cosac Edições, que procura “formar um novo catálogo em literatura, artes, história, cinema, teatro, fotografia, ensaio, crítica e outras categorias”. Como a editora funciona majoritariamente no modelo home office, a residência de Charles deveria responder a demandas específicas e comportar a rica bagagem cultural do anfitrião.
O dúplex de 1,1 mil m² em Higienópolis conta com dois amplos livings (um em cada andar), envoltos por cortinas rubras, e quatro quartos, closet, bar, sala de jantar, cozinha, varanda e um terraço com piscina no piso superior. Além de, é claro, três bibliotecas que abrigam milhares de títulos – principal companhia do inquilino, afora a coleção de arte que estabelece diálogos inusitados entre estátuas barrocas e peças contemporâneas de nomes consagrados como Tunga, José Resende e Luiz Zerbini.
Vim parar nesta cidade que não é bonita, mas que eu amo de paixão
Charles posa entre livros da Cosac Naify, na companhia da escultura de cão
Ruy Teixeira
Detalhe do corredor decorado com a escultura de Jesus Cristo, no Itamar Musse Antiquário, tela de Ivan Serpa (à esq.), na Gustavo Rebello Arte, e fotografias de Arthur Omar
Ruy Teixeira
O living do andar de baixo é permeado por obras de arte, como a escultura de Gérard Quenum (sobre o aparador, à esq.), imagens de Santa Luzia, São Miguel, Nosso Senhor dos Passos e São João Evangelista, todas no Itamar Musse Antiquário, e escultura de José Resende (ao centro), na Galeria Camargo Vilaça – no mobiliário, destaque para poltrona e sofás ON, design Oscar Niemeyer, na Arquivovivo, sob pendente Taraxacum, design Achille Castiglioni para a Flos
Ruy Teixeira
“No início, eu sentia falta de estar rodeado por pessoas no dia a dia do escritório. Depois, me habituei, e, por fim, passei a amar a solidão. Hoje, fico semanas sozinho, sem sair de casa”, confessa Charles. O imóvel repleto de acabamentos de mármore, herança de um antigo proprietário, é alugado, mas a intenção do morador é comprá-lo num futuro breve – tanto que já começou a pintar algumas paredes de vermelho, sua cor predileta, com a permissão do atual dono. Da cobertura no 15º andar do edifício dos anos 1970, Charles Cosac esquece estar em um apartamento: “Me sinto em casa, mas estou em cima de um prédio”.
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