Casas abandonadas em Portugal ganham vida em ensaio de fotógrafo brasileiro

Durante uma viagem a Vizela, no norte de Portugal, o fotógrafo paulista Vitor Guilherme — especialista em fotografia de interiores — iniciou um projeto autoral sobre casas abandonadas. O ensaio O tempo da natureza nasceu da observação do grande número de construções antigas e inabitadas na região. A partir das imagens, ele propôs uma reflexão sobre o passado e a relação entre arquitetura e vegetação.
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Ao observar as construções abandonadas sendo tomadas pelas plantas, Vitor refletiu: “Eu vi uma referência para futuros projetos. Minha ideia foi inspirar arquitetos e designers a usar a biofilia”, conta.
O termo biofilia, popularizado pelo biólogo estadunidense Edward O. Wilson, refere-se à ligação natural do ser humano com a vida e a natureza. No ensaio fotográfico, isso se manifesta na maneira como os campos em torno dos imóveis voltaram a ocupar a paisagem, após anos sem interferência humana.
Neste imóvel abandonado é possível observar um moinho que atendeu a região em outros tempos
Vitor Guilherme/Divulgação
Na arquitetura antiga, Vitor notou elementos recorrentes: paredes robustas, janelas grandes, madeira, ladrilhos hidráulicos, vidros canelados e pé-direito alto. Outro destaque foram os detalhes, como as iniciais das famílias gravadas em metal, indicadores de residências nobres.
Apesar tomadas pela vegetação, algumas casas preservam determinados elementos arquitetônicos originais, como portas e janelas
Vitor Guilherme/Divulgação
Ao investigar os motivos do abandono, o fotógrafo encontrou respostas em desentendimentos familiares e na própria dinâmica da região, que permaneceu estagnada, levando os moradores a se mudarem para cidades maiores.
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Vizela é uma vila pacata com cerca de quatro mil habitantes. Com um estilo de vida tranquilo, a população trabalha com carpintaria, marcenaria e agricultura. “Todo mundo se conhece, os vizinhos se cumprimentam na rua”, comenta Vitor.
Elementos nobres nas construções agora abandonadas indicam que elas já pertenceram a famílias influentes e abastadas
Vitor Guilherme/Divulgação
Para ele, a natureza tomando conta das construções é consequência do abandono, não uma adaptação prévia a um ambiente natural, visto que os locais eram civilizados e estruturados.
Por isso, a ideia do ensaio é propor uma releitura da natureza em projetos de interiores, conectando conceitos contemporâneos como sustentabilidade, retrofit, reconstrução e reaproveitamento.
Azulejos e revestimentos preservados pelo tempo ajudam a estimar a época das casas
Vitor Guilherme/Divulgação
“Além da vegetação, conseguimos ver partes do interior das casas, com marcas da época. Há muitas influências do passado que podemos incorporar ao presente”, afirma o profissional que, com a fotografia, busca mostrar a memória das casas, revelando como revestimentos antigos e outros elementos podem contar novas histórias.

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