Arquitetura barroca: origem, características e obras icônicas no Brasil

O barroco é um estilo arquitetônico e artístico que surgiu na Itália entre o fim do século 16 e o começo do século 17. Centrado em Roma, ele vem como uma resposta ao movimento protestante que questionava os dogmas da Igreja Católica.
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“As manifestações artísticas e arquitetônicas do barroco estavam profundamente ligadas ao movimento da Contrarreforma Católica, em um período marcado por forte crise econômica, moral e cultural, e uma enorme instabilidade que envolvia o dualismo entre fé e razão”, comenta o arquiteto André Guilherme Dornelles Dangelo, professor de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Segundo o arquiteto Mateus Rosada, também professor de Arquitetura da UFMG, o estilo vai se alastrar lentamente pela Europa, desembarcando em Portugal décadas mais tarde. “No Brasil, ele chega pelas mãos dos portugueses, no século 17, mas se torna o estilo predominante só por volta de 1680, quase 100 anos após surgir na Itália”, diz.
O interior da monumental Basílica de São Pedro, no Vaticano, é um ícone do estilo barroco italiano
Wilfredor/Wikimedia Commons
Características da arquitetura barroca
No barroco, a arte e a arquitetura se entrelaçam com fé. O estilo foi predominante em Igrejas Católicas, sendo pouco comum em residências. “O barroco é muito ligado também aos grandes impérios. Esse estilo marca o poderio de reis e imperadores com uma ornamentação voluptuosa, trazendo a ideia de que o poder instituído deve ser glorificado”, coloca Mateus.
A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, em Salvador (BA), é um expressivo exemplar da tradição barroca no país
Paul R. Burley/Wikimedia Commons
Na arquitetura religiosa, as construções eram projetadas como “teatros do sagrado”. “A Igreja buscava reconquistar fiéis, e o barroco tornou-se uma ferramenta de comunicação espiritual: exuberante, teatral e repleta de simbolismo. Não se tratava apenas de construir edifícios, mas de criar cenários capazes de despertar emoções intensas, aproximando o homem do divino”, conta a arquiteta Mariana Meneghisso, do escritório Meneghisso & Pasquotto Arquitetura.
As igrejas eram projetadas com uma intenção que ia além da pura estética, buscando impressionar, envolver e despertar reverência e devoção nos fiéis. “Essa fusão transformou a arquitetura em narrativa, tornando cada espaço um convite ao transcendente”, fala Alexandre Pasquotto, também do escritório Meneghisso & Pasquotto Arquitetura.
Localizado em Tiradentes (MG), o Chafariz de São José é um monumento do estilo barraco brasileiro
Raquel Mendes Silva/Wikimedia Commons
“O barroco é um estilo dramático, escuro, tenso, com formas mais pesadas. São igrejas muito ornamentadas, carregadas e que não têm quase nenhum espaço vazio. A pintura de fundo das ornamentações, que geralmente são douradas, traz cores fortes e saturadas, como vermelho, vinho e azul-escuro e, às vezes, preto”, detalha Mateus.
“Linhas curvas, composições assimétricas e o jogo de luz e sombra criam ambientes que mais parecem obras de arte tridimensionais e de grande impacto sensorial”, acrescenta Mariana.
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As construções barrocas apresentam fachadas elaboradas, ornamentos esculpidos e interiores com pinturas em perspectiva que criam ilusões de profundidade. Claraboias, janelas altas e o contraste entre áreas iluminadas e sombreadas trazem dramaticidade. Materiais nobres, como mármore, ouro e madeiras, reforçam a sensação de grandiosidade.
“O barroco sugere movimento o tempo inteiro, nas esculturas, nas pinturas e até nos ornamentos que têm nas colunas torcidas e nos altares, que dão a impressão de se mexer”, fala Mateus.
Interior ricamente ornamentado em estilo barroco na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, em Salvador (BA)
Paul R. Burley/Wikimedia Commons
Mateus ainda destaca que é bastante comum confundir o barroco com o rococó, estilo nascido na França, mas que há diferenças significativas entre os dois. “O rococó é mais leve, claro e festivo, não tem o drama e a tensão do barroco. A ornamentação vai ter menos área dourada e mais marmorizados e tons de azul-claro e rosa, além de iluminação com janelas e aberturas maiores”, aponta.
O barroco no Brasil
Trazido pelos colonizadores portugueses, o barroco brasileiro durou do fim do século 17 até a primeira metade do século 18, e precisou se adaptar ao contexto nacional à época.
“O estilo europeu, monumental e repleto de recursos, precisou se adaptar às limitações materiais e ao contexto colonial. A madeira substituiu o mármore, a cal e a pedra-sabão se tornaram protagonistas, e os ornamentos se simplificaram”, afirma o arquiteto Alexandre.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Salvador (BA), tem fachada estilo barroco
Paul R. Burley/Wikimedia Commons
“A Itália era o centro cultural da época, então eles tinham mais artistas e arquitetos, e as edificações eram mais complexas, tinham fachadas curvas e revestidas de variadas pedras, elementos que eram mais difíceis de serem reproduzidos”, relata Mateus.
No Brasil, o estilo se revelou, principalmente, na ornamentação interna das igrejas. Apesar das adaptações, o espírito teatral do barroco se manteve no por aqui. O ouro abundante das minas gerais garantiu altares ricamente adornados em madeira talhada e folhada, mesmo em templos de menor tamanho.
A Igreja Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes (MG), é uma obra-prima que traduz a delicadeza do barroco mineiro
Rejane Sarmento/Wikimedia Commons
Com plantas em formato de cruz ou com curvas suaves, as construções traziam fachadas brancas com detalhes em pedra-sabão. “A influência da cultura local, das tradições indígenas e africanas também deixou marcas, criando um barroco brasileiro único, colorido e vibrante”, diz Mariana.
“Os interiores são verdadeiros refúgios artísticos, onde pintura, escultura e arquitetura se fundem, criando uma leitura única do estilo, onde considero que o talento dos artesãos explorou os materiais disponíveis com maestria”, relata Alexandre.
A Igreja São Francisco de Paula, em Ouro Preto (MG), tem volutas barrocas e uma imagem do padroeiro, cuja autoria é atribuída ao escultor Aleijadinho, expoente do barroco mineiro
Rodrigo.Argenton/Wikipedia Commons
De acordo com o professor André, o estilo foi trazido ao país, principalmente, pela Ordem Franciscana para o Brasil, a partir de 1670, particularmente em seu polo da região Nordeste, que passou por um importante período de reformulação estética da sua arquitetura e talha das suas igrejas após a expulsão dos holandeses.
Ele destaca, ainda, a figura dos artistas Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho) e Manuel da Costa Ataíde (o Mestre Ataíde) como os maiores protagonistas do que ficou conhecido como “barroco mineiro”.
O altar da igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Ouro Preto (MG), tem trabalho decorativo executado pelo Mestre Ataíde
Rodrigo Tetsuo Argenton/Wikimedia Commons
“A presença de artistas estrangeiros em Portugal trouxe para o barroco nacional toda uma monumentalidade da arte da Roma Barroca e nova perspectiva formal e plástica para a arquitetura religiosa, que teve seu maior desenvolvimento na célebre obra de Aleijadinho nas cidades de Minas”, pontua André.
Monumentos barrocos no Brasil e no mundo
O barroco no Brasil se expressou do forma mais marcante em Minas Gerais, em cidades como a antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, Diamantina, Mariana, Tiradentes, São João del-Rei e Congonhas, entre outras.
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Entre os exemplos de projetos, em Tirandentes estão a Igreja Matriz de Santo Antônio, com fachada atribuída a Aleijadinho, como uma obra-prima que traduz a delicadeza do barroco mineiro, além do Chafariz de São José, as capelas espalhadas pelas ladeiras e os detalhes artesanais em pedra-sabão.
Em Salvador (BA), a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco são construções que têm interiores e fachadas no estilo barroco.
Na Igreja de São Carlos Borromeu, em Viena, na Áustria, destacam-se os ornamentos dourados
Diego Delso/Wikimedia Commons
No cenário mundial, a Basílica de São Pedro, no Vaticano, é um dos maiores ícones do estilo barroco italiano. Seu interior guarda o grandioso Baldacchino (dossel de bronze) sobre o altar principal e a Cátedra de São Pedro (monumento católico), duas obras-primas projetadas pelo artista barroco Gian Lorenzo Bernini.
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“Outros destaques incluem o Palácio de Versalhes, na França, com seus jardins geométricos e interiores ornamentados, e a Igreja de São Carlos Borromeu, em Viena, na Áustria, com cúpulas monumentais”, fala o arquiteto Alexandre.
Releituras contemporâneas
Hoje, elementos barrocos ainda inspiram a arquitetura, como escadarias escultóricas, lustres de cristal, boiseries ou mármores dramáticos em espaços modernos.
“Molduras clássicas, espelhos dourados e tapeçarias podem contrastar com móveis de linhas simples, criando uma composição elegante e atemporal. O uso de cores profundas, como azul marinho ou verde musgo, combinado com metais envelhecidos, evoca a riqueza barroca, mas com leveza”, diz Mariana.
A riqueza de detalhes e ornamentos fazem do interior do Palácio de Versalhes um exemplo do barroco francês
Flickr/João Alves/Creative Commons
Em residências, o segredo para incorporar o barroco sem pesar está em aplicá-lo em pontos focais, como um lustre ornamentado em uma sala minimalista.
“O barroco é assimilado em peças de coleção, como elemento destoante, para criar um destaque. Pode ser uma escultura de Nossa Senhora da Conceição como as do século 18 ou estátuas de santinhos feitas por artesãos brasileiros”, comenta o professor Mateus.

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