Baobá: conheça o poderoso fruto africano considerado superalimento natural

Originário da África subsaariana, o baobá africano (Adansonia digitata) é conhecido como a “árvore da vida” por sua longevidade e múltiplos usos. A espécie fornece alimento, água e sombra, e seu fruto, rico em fibras, vitamina C e polifenóis, ganhou destaque internacional como superalimento no universo da saúde.
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Espécies e características do baobá
O baobá pertence ao gênero Adansonia, que reúne nove espécies espalhadas pelo mundo. Um dos mais conhecidos é o baobá africano, mas existem espécies endêmicas de Madagascar, como A. grandidieri, A. rubrostipa e A. za, além do baobá australiano (A. gregorii).
Exemplar de baobá africano em Botsuana no parque nacional Makgadikgadi Pans
Diego Delso/Wikimedia Commons
Todas compartilham a capacidade de armazenar água nos troncos, flores grandes e perfumadas, frutos nutritivos e longevidade. O baobá cresce principalmente na África subsaariana e em Madagascar, mas também aparece em regiões da Índia e da Austrália.
Madasgascar tem uma espécie endêmica de baobá, que está em risco de extinção atualmente. A árvore é caracterizada por ser extremamente alta
Bernard Gagnon/Wikimedia Commons
Benefícios nutricionais do baobá
Os principais diferenciais do baobá estão no alto teor de fibras e polifenóis, compostos antioxidantes que ajudam a proteger o organismo. “O consumo da fruta pode reduzir a velocidade da digestão do amido, evitando os picos de açúcar no sangue após as refeições, o que é interessante tanto para quem busca energia mais estável, quanto para pessoas em risco de diabete”, afirma Shelly Coe, nutricionista e professora associada da Oxford Brookes University, no Reino Unido.
Além do impacto na glicemia, o baobá contribui para a sensação de saciedade, favorecendo o controle do peso. Suas fibras auxiliam a saúde intestinal, e a fruta também é rica em vitamina C, cálcio, potássio e magnésio.
Folhas e sementes podem ser consumidas, e o fruto é usado em sucos, mingaus e geleias. “A fruta tem um sabor levemente cítrico e versátil, que funciona bem em preparações frias, molhos e finalizações de pratos”, ressalta Laila Santos, do restaurante Manden Baobá, em São Paulo. Porém, o cuidado com a temperatura é essencial para preservar o valor nutricional, e, sobretudo, a vitamina C.
Os pedaços de polpa seca e madura do fruto do baobá são mostrados em comparação com os três elementos que o compõem: uma polpa comestível, branca, opaca e pulverulenta, separada de fibras rosadas e sementes marrons de baobá. A polpa do fruto se dissolve facilmente em água, liberando-se das fibras e sementes
TK Naliaka/Wikimedia Commons
Embora a polpa do fruto seja a parte mais consumida, em algumas culturas se comem as sementes. Na África Ocidental, a árvore é especialmente apreciada por suas folhas comestíveis, o que faz do baobá tanto uma árvore de folhas alimentícias quanto uma frutífera.
“Em outras regiões da África, foi muito valorizado por sua fibra de casca, que o tornou uma importante planta fibrosa. Além disso, é apreciado pelo mel produzido pelas abelhas que frequentemente fazem colmeias em seus troncos ocos”, conta John Rashford, professor emérito de antropologia no College of Charleston, nos Estados Unidos.
Superfood em alta
O termo superfood, ou superalimento, se refere a alimentos que se destacam por serem ricos em nutrientes essenciais e compostos bioativos, como vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes. Esses ingredientes, como o fruto do baobá, podem trazer benefícios à saúde, mas não devem ser entendidos como “cura milagrosa”.
Desde que a União Europeia autorizou a venda do fruto em 2008, o baobá se tornou uma tendência como superalimento. “É o reconhecimento do baobá como uma importante árvore frutífera na África que levou a um crescente interesse em seu valor nutricional”, destaca o professor John.
Três exemplares, um deles partido ao meio, de frutos maduros típicos da árvore baobá ‘Adansonia digitata’
TK Naliaka/Wikimedia Commons
Essa realidade também pode ser percebida pelos números: o mercado global de derivados do baobá movimenta hoje cerca de US$ 9 bilhões e deve chegar a US$ 12,1 bilhões até 2030, crescendo a uma taxa anual composta (CAGR) de 5%, conforme estimativas da Research and Markets.
No continente africano, Madagascar e Zimbábue lideram a produção e a exportação, enfrentando desafios como colheita manual, falta de processamento adequado e sazonalidade intensa. “As políticas públicas podem contribuir para equilibrar a preservação cultural e ambiental com a comercialização do fruto ao enfatizar a importância de ampliar o cultivo sob controle local, garantindo benefícios diretos para as comunidades”, indica John.
Como incluir o baobá na alimentação
O pó do baobá pode ser adicionado a sucos, vitaminas, bolos, pães ou até salpicado sobre frutas e iogurte. “Embora o baobá tenha mostrado benefícios, ele deve ser incluído como parte de uma dieta equilibrada. Uma forma prática é adicionar o pó a smoothies, para aumentar o teor de fibras e antioxidantes”, recomenda Shelly.
Ainda há muito a descobrir sobre o fruto. “Mais ensaios clínicos de alta qualidade são necessários para entender os benefícios do baobá em diferentes grupos populacionais”, reforça a pesquisadora.
Significado cultural do baobá
Além de seu valor nutricional, o baobá carrega profundo significado cultural. Para comunidades africanas, é considerado uma árvore sagrada, símbolo de ancestralidade e espiritualidade.
“Na cosmopercepção de muitos desses povos, o baobá significa a conexão entre o natural e o divino”, explica André Lúcio Bento, professor de educação básica, especialista em História e Cultura Afro-brasileira e Africana, e criador do projeto Baobá Brasil.
À esquerda, a flor do baobá que é efêmera e dura em torno de um dia. Na imagem da direita, exemplar de baobá em Brasília, na época da seca, em que a planta perde suas folhas
Cedidas por André Lúcio Bueno/Arquivo Pessoal
“Embora o uso do baobá seja amplamente reconhecido na África, ele desempenha um papel significativo em comunidades afrodescendentes, preservando tradições e histórias culturais através das gerações”, salienta John.
No Brasil, o baobá também assume esse papel simbólico. “Ter baobás em território brasileiro significa termos marcas da diáspora africana entre nós”, destaca André.
O baobá no Brasil
No país, segundo dados da Embrapa, o baobá da espécie Adansonia digitata L. tem, atualmente, exemplares registrados nos estados do Amazonas, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
“Os baobás chegaram ao país nos navios escravagistas, na forma de sementes. Embora sejam árvores de tamanho colossal, quando adultas, as sementes são pequenas, mais ou menos do tamanho de grão de feijão”, informa o criador do projeto Baobá Brasil.
Baobá na Praça da República, em Recife, PE, que se destaca por ter uma grande quantidade de exemplares da planta no país
Paulo Camelo/Wikimedia Commons
Quanto ao seu uso na alimentação, no Brasil, o fruto ainda é um nicho pequeno do mercado, mais presente em lojas de produtos naturais e misturas de superfoods. Alguns estabelecimentos e restaurantes também começaram a introduzir o baobá como ingrediente dos pratos.
No Manden Baobá, na capital paulista, por exemplo, o fruto do baobá, chamado de Mucua em Angola, é incorporado em sucos, sobremesas e drinques. “Mais do que um ingrediente, o baobá nos conecta à ancestralidade africana. Cada prato que preparamos carrega história, sabores e memórias que queremos compartilhar com nossos clientes”, explica Laila, empreendedora e griô — mestre da tradição oral africana — do restaurante.
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Inaugurado em 2023, no bairro da Vila Mariana, o estabelecimento se propõe a contar histórias por meio da culinária, destacando o respeito às culturas dos povos africanos e suas influências na formação afro-brasileira. Amílcar Tchinguelessy, autor angolano do livro Como Aprender para Empreender é sócio de Laila e, juntos, administram o restaurante.
Para a griô, consumir o baobá vai além do valor nutricional. “É cuidar do corpo enquanto também se conecta a uma tradição milenar africana de respeito à natureza e à saúde”, ela finaliza.

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