A arquitetura neogótica surgiu na Inglaterra, a partir de 1845 até o início do século 19, em meio ao movimento romântico europeu. Segundo o arquiteto André Guilherme Dornelles Dangelo, professor de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), existia na Europa um ambiente de “cansaço” com a repetição do repertório da arquitetura clássica.
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“Havia também uma visão de mundo contrária aos ideais racionais do iluminismo e muito apegada ao subjetivismo, ao lírico e até de um exotismo, ligado em certas vertentes a culturas não-ocidentais”, diz o profissional.
O momento era marcado também pelas intensas transformações da Revolução Industrial. Por isso, havia um desejo de valorização da história e da memória, que levou a uma busca por referências medievais, como o estilo gótico, que durou dos séculos 12 ao 16 na Europa.
Em Londres, Inglaterra, o Palácio de Westminster é um dos exemplos mais notáveis da arquitetura neogótica do mundo
DaniKauf/Wikimedia Commons
“Em plena Revolução Industrial, com o capitalismo em sua fase liberal expandindo-se pelos quatro cantos do mundo e com as invenções e descobertas científicas que apontavam para o futuro, ganhou força o elogio ao passado medieval, destacando-se o neogótico”, diz o arquiteto Ademir Pereira dos Santos, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes.
“Em meio a tanta novidade tecnológica, havia um desejo de resgatar tradições e simbolismos do passado como forma de identidade cultural”, acrescenta a arquiteta e urbanista Andressa Munoz, professora e coordenadora de pós-graduação do Centro Universitário Internacional Uninter.
O neogótico na França aparece na Igreja de Notre Dame, datada de 1844 e agora reconstruída após incêndio
Ali Sabbagh/Wikimedia Commons
Da Inglaterra o estilo se espalhou para outros países, como França, Alemanha e Estados Unidos, como forma de afirmar uma tradição cristã ligada a valores como fé, moralidade e identidade nacional. “Ou seja, enquanto o gótico era uma linguagem inovadora e própria do seu tempo, o neogótico é uma releitura para transmitir tradição, solidez e valores espirituais”, denota Andressa.
O neogótico foi utilizado não só na construção de igrejas, mas também de edifícios públicos, cemitérios, universidades e até residências. “Na Inglaterra e nos Estados Unidos esse estilo está muito ligado aos campus universitários construídos durante o século 19”, aponta André.
Características da arquitetura neogótica
No campo subjetivo, o neogótico tinha como principal característica a exaltação da Idade Média como símbolo de espiritualidade, nacionalismo e identidade. “Essa arquitetura também buscava evocar sentimentos e celebrar um certo espírito melancólico, de uma beleza perdida em função da dureza da racionalidade do iluminismo”, declara André.
A Catedral de Colônia, na Alemanha, iniciada em 1248, só foi finalizada no século 19, já sob a influência neogótica
Raimond Spekking/Wikimedia Commons
“Obras de literatura como Notre Dame de Paris, de Victor Hugo, publicada em 1831, refletem bem esse sentimento nostálgico da época”, continua o professor.
Na parte arquitetônica, os edifícios se inspiravam na escala monumental da arquitetura gótica medieval. Elementos como torres, pináculos, arcos ogivais, vitrais coloridos, contrafortes e grande verticalidade são comuns neste período.
A Ilha Fiscal, no Rio de Janeiro, traz elementos da arquitetura neogótica, como os pináculos
Marinha do Brasil/Wikimedia Commons
“O neogótico também trouxe uma certa teatralidade, valorizando ornamentos detalhados e uma atmosfera de imponência, especialmente em igrejas, universidades e prédios públicos”, fala a docente.
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Ao mesmo tempo que a arquitetura neogótica procurava reviver esses elementos da arquitetura dos grandes monumentos da Idade Média, ela buscava incorporar as novas tecnologias da época. “Era comum o uso de ferro fundido, vidro e outros materiais de origem industrial ao lado da cantaria e dos processos de construção de pedra e tijolos mais tradicionais”, detalha André.
A Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, em Catas Altas (MG), foi a primeira no estilo neogótico no Brasil
Flickr/Adriano Ferreira/Creative Commons
Arquitetura neogótica no Brasil
No Brasil, entre 1860 e 1910, o ecletismo na arquitetura abarcou diversos estilos, sendo o neogótico mais um deles. “Ele teve grande hegemonia no campo da arquitetura religiosa, principalmente pela presença da imigração europeia no sul do Brasil”, diz André.
A Catedral de Petrópolis, no Rio de Janeiro, é um dos exemplos do neogótico no Brasil
Donatas Dabravolskas/Wikimedia Commons
No entanto, os poucos edifícios construídos neste estilo, ainda no século 19, carecem de alguns elementos fundamentais para a expressão plena desta linguagem, como a questão da escala e de uma condição da racionalidade estrutural como verdade arquitetônica.
Um dos exemplos mais emblemáticos do estilo neogótico no Brasil é a Catedral da Sé, em São Paulo, projeto iniciado em 1913, sob responsabilidade do arquiteto alemão Maximilian Emil Hehl, e finalizado em 1954. “A catedral é monumental, com elementos típicos do neogótico, como vitrais, arcos ogivais e pináculos”, aponta Andressa.
Interior da Catedral de Petrópolis, no Rio de Janeiro, que é marcada por uma arquitetura neogótica
Wilfredor/Wikimedia Commons
No Rio de Janeiro, destacam-se a Catedral de Petrópolis (1884–1925), na zona serrana; a Ilha Fiscal, de 1881, na Baía de Guanabara; e a Igreja da Imaculada Conceição do Sagrado Coração de Jesus, no bairro do Riachuelo.
Esta última, projetada por missionários salesianos no final do século 19 e concluída nas primeiras décadas do 20, apresenta vitrais, rosáceas e ornamentação que seguem de perto a tradição neogótica europeia.
A Igreja de São José, em Belo Horizonte, tem fachada e vitrais dialogam com o neogótico
Msicoli/Wikimedia Commons
No Rio Grande do Sul, “a Catedral Metropolitana Madre de Deus, também conhecida como Catedral de Porto Alegre, teve sua construção original no século 18, mas sua versão atual, erguida no início do século 20, incorporou influências neogóticas em diálogo com outros estilos, refletindo a pluralidade arquitetônica da época”, analisa Andressa.
A Catedral Metropolitana Madre de Deus, em Porto Alegre, incorporou influências neogóticas em diálogo com outros estilos
Zimbres/Wikimedia Commons
Em Minas Gerais, a Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, de 1883, parte do Santuário do Caraça, em Catas Altas, foi a primeira igreja do Brasil em estilo neogótico.
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“Há a Igreja de São José, em Belo Horizonte, construída entre 1902 e 1904, sob supervisão de padres jesuítas alemães. Sua fachada e vitrais dialogam diretamente com o vocabulário do neogótico, incorporado de forma elegante na paisagem urbana da capital mineira”, descreve Andressa.
A Igreja da Imaculada Conceição do Sagrado Coração de Jesus, no Rio, com traços neogóticos
Halley Pacheco de Oliveira/Wikimedia Commons
Construções neogóticas no mundo
Na Inglaterra, berço do movimento neogótico, destaca-se o Palácio de Westminster, reconstruído a partir de 1837, após um incêndio, e concluído em 1860.
Já na Alemanha, há o Castelo de Neuschwanstein, de 1869, e a imponente Catedral de Colônia, cuja construção havia iniciado em 1248 e só foi finalizada no século 19, já sob a influência neogótica.
O Castelo de Neuschwanstein é um exemplo do neogótico alemão que serviu de inspiração para o castelo da Cinderela no parque temático Magic Kingdom, no Walt Disney World, em Orlando, EUA
Taxiarchos228/Wikimedia Commons
“Na França, destaca-se o trabalho do arquiteto Eugène Viollet-le-Duc, que restaurou catedrais e capelas, documentou e teorizou sobre o gótico, tornando-se um dos seus grandes divulgadores”, fala Ademir. A famosa Igreja de Notre Dame, datada de 1844 e agora reconstruída após incêndio em 2019, e a Basílica de Saint Clotilde (1846-1857), ambas em Paris, representam o estilo neogótico.
Na Espanha, um dos principais exemplos é a Basílica da Sagrada Família, em Barcelona, de Antoni Gaudí, iniciada em 1882 e ainda não concluída. “Embora Gaudí tenha transformado o projeto para além do neogótico, suas primeiras intenções e muitos elementos da obra dialogam diretamente com o estilo”, explica Andressa.
A Basílica da Sagrada Família, em Barcelona, guarda elementos do estilo neogótico do projeto inicial
Flickr/H. Raab/Creative Commons
Nos Estados Unidos, o estilo ganhou força em instituições religiosas e educacionais. “A Catedral de St. Patrick, em Nova York, iniciada em 1858 e concluída em 1878, é um dos maiores exemplos da transposição do neogótico para o contexto americano, simbolizando a presença católica na cidade”, fala a docente.
A Catedral de St. Patrick, em NY, é um dos exemplos americanos de arquitetura neogótica
Kjetil Ree/Wikimedia Commons
“Além dela, universidades como Yale, em Connecticut, e Princeton, em New Jersey, incorporaram elementos góticos e neogóticos em seus campus, reforçando o vínculo entre tradição, erudição e arquitetura”, complementa Andressa.
O neogótico estadunidense aparece em campus universitários como o de Princeton, em New Jersey
Zeete/Wikimedia Commons
Releitura moderna do neogótico
O neogótico reflete o espírito de uma época, mas a sua linguagem continua inspirando detalhes arquitetônicos em construções pelo mundo.
“Há projetos que fazem uma releitura crítica da força e da tradição estrutural do gótico, utilizando a materialidade contemporânea, tanto do concreto armado como da estrutura metálica. É o que podemos ver em algumas obras do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, como a Estação do Oriente, em Lisboa, de 1998”, exemplifica André.
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Os elementos característicos da arquitetura continuam sendo reinterpretados atualmente, por meio do chamado neo-historicismo ou por meio de linguagens híbridas, que misturam estilos e referências do passado com soluções modernas.
“Vemos isso em algumas igrejas construídas recentemente, que utilizam arcos ogivais, vitrais e verticalidade como forma de dar continuidade à tradição. Algumas universidades inglesas e estadunidenses também mantiveram essa identidade em novos edifícios de seus campi”, diz Andressa.
A Estação do Oriente, em Lisboa, obra do arquiteto Santiago Calatrava, faz uma releitura atual do estilo neogótico
Flickr/Leandro Neumann Ciuffo/Creative Commons
No campo residencial, André defende trazer o espírito neogótico mais como sentimento que como linguagem arquitetônica em si, usando, por exemplo, luz de vitrais em alguns espaços da casa. “Recriar elementos da linguagem historicista deste período é algo que requer muita sensibilidade para ele não cair em um falso histórico, despojado de qualquer valor arquitetônico”, alerta.
Já Andressa acredita que o segredo está na sutileza. É possível usar referências neogóticas em detalhes, reinterpretadas de forma mais leve. A combinação com materiais contemporâneos, como aço, vidro ou madeira clara, evita que o espaço fique pesado ou temático demais”, orienta.
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d
Uma boa opção é utilizar os elementos do estilo neogótico com cores e proporções atuais. “Assim, o projeto deixa de ser uma cópia literal e passa a ser uma inspiração adaptada à vida contemporânea”, aponta Andressa.
Ela sugere, por exemplo, o uso de arcos ogivais em esquadrias, portas ou nichos de estantes, trazendo a geometria característica do estilo sem sobrecarregar. Vitrais podem aparecer de maneira mais contemporânea, em divisórias coloridas, detalhes em portas ou painéis decorativos, muitas vezes reinterpretados com vidro fosco ou texturizado.
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“Havia também uma visão de mundo contrária aos ideais racionais do iluminismo e muito apegada ao subjetivismo, ao lírico e até de um exotismo, ligado em certas vertentes a culturas não-ocidentais”, diz o profissional.
O momento era marcado também pelas intensas transformações da Revolução Industrial. Por isso, havia um desejo de valorização da história e da memória, que levou a uma busca por referências medievais, como o estilo gótico, que durou dos séculos 12 ao 16 na Europa.
Em Londres, Inglaterra, o Palácio de Westminster é um dos exemplos mais notáveis da arquitetura neogótica do mundo
DaniKauf/Wikimedia Commons
“Em plena Revolução Industrial, com o capitalismo em sua fase liberal expandindo-se pelos quatro cantos do mundo e com as invenções e descobertas científicas que apontavam para o futuro, ganhou força o elogio ao passado medieval, destacando-se o neogótico”, diz o arquiteto Ademir Pereira dos Santos, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes.
“Em meio a tanta novidade tecnológica, havia um desejo de resgatar tradições e simbolismos do passado como forma de identidade cultural”, acrescenta a arquiteta e urbanista Andressa Munoz, professora e coordenadora de pós-graduação do Centro Universitário Internacional Uninter.
O neogótico na França aparece na Igreja de Notre Dame, datada de 1844 e agora reconstruída após incêndio
Ali Sabbagh/Wikimedia Commons
Da Inglaterra o estilo se espalhou para outros países, como França, Alemanha e Estados Unidos, como forma de afirmar uma tradição cristã ligada a valores como fé, moralidade e identidade nacional. “Ou seja, enquanto o gótico era uma linguagem inovadora e própria do seu tempo, o neogótico é uma releitura para transmitir tradição, solidez e valores espirituais”, denota Andressa.
O neogótico foi utilizado não só na construção de igrejas, mas também de edifícios públicos, cemitérios, universidades e até residências. “Na Inglaterra e nos Estados Unidos esse estilo está muito ligado aos campus universitários construídos durante o século 19”, aponta André.
Características da arquitetura neogótica
No campo subjetivo, o neogótico tinha como principal característica a exaltação da Idade Média como símbolo de espiritualidade, nacionalismo e identidade. “Essa arquitetura também buscava evocar sentimentos e celebrar um certo espírito melancólico, de uma beleza perdida em função da dureza da racionalidade do iluminismo”, declara André.
A Catedral de Colônia, na Alemanha, iniciada em 1248, só foi finalizada no século 19, já sob a influência neogótica
Raimond Spekking/Wikimedia Commons
“Obras de literatura como Notre Dame de Paris, de Victor Hugo, publicada em 1831, refletem bem esse sentimento nostálgico da época”, continua o professor.
Na parte arquitetônica, os edifícios se inspiravam na escala monumental da arquitetura gótica medieval. Elementos como torres, pináculos, arcos ogivais, vitrais coloridos, contrafortes e grande verticalidade são comuns neste período.
A Ilha Fiscal, no Rio de Janeiro, traz elementos da arquitetura neogótica, como os pináculos
Marinha do Brasil/Wikimedia Commons
“O neogótico também trouxe uma certa teatralidade, valorizando ornamentos detalhados e uma atmosfera de imponência, especialmente em igrejas, universidades e prédios públicos”, fala a docente.
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Ao mesmo tempo que a arquitetura neogótica procurava reviver esses elementos da arquitetura dos grandes monumentos da Idade Média, ela buscava incorporar as novas tecnologias da época. “Era comum o uso de ferro fundido, vidro e outros materiais de origem industrial ao lado da cantaria e dos processos de construção de pedra e tijolos mais tradicionais”, detalha André.
A Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, em Catas Altas (MG), foi a primeira no estilo neogótico no Brasil
Flickr/Adriano Ferreira/Creative Commons
Arquitetura neogótica no Brasil
No Brasil, entre 1860 e 1910, o ecletismo na arquitetura abarcou diversos estilos, sendo o neogótico mais um deles. “Ele teve grande hegemonia no campo da arquitetura religiosa, principalmente pela presença da imigração europeia no sul do Brasil”, diz André.
A Catedral de Petrópolis, no Rio de Janeiro, é um dos exemplos do neogótico no Brasil
Donatas Dabravolskas/Wikimedia Commons
No entanto, os poucos edifícios construídos neste estilo, ainda no século 19, carecem de alguns elementos fundamentais para a expressão plena desta linguagem, como a questão da escala e de uma condição da racionalidade estrutural como verdade arquitetônica.
Um dos exemplos mais emblemáticos do estilo neogótico no Brasil é a Catedral da Sé, em São Paulo, projeto iniciado em 1913, sob responsabilidade do arquiteto alemão Maximilian Emil Hehl, e finalizado em 1954. “A catedral é monumental, com elementos típicos do neogótico, como vitrais, arcos ogivais e pináculos”, aponta Andressa.
Interior da Catedral de Petrópolis, no Rio de Janeiro, que é marcada por uma arquitetura neogótica
Wilfredor/Wikimedia Commons
No Rio de Janeiro, destacam-se a Catedral de Petrópolis (1884–1925), na zona serrana; a Ilha Fiscal, de 1881, na Baía de Guanabara; e a Igreja da Imaculada Conceição do Sagrado Coração de Jesus, no bairro do Riachuelo.
Esta última, projetada por missionários salesianos no final do século 19 e concluída nas primeiras décadas do 20, apresenta vitrais, rosáceas e ornamentação que seguem de perto a tradição neogótica europeia.
A Igreja de São José, em Belo Horizonte, tem fachada e vitrais dialogam com o neogótico
Msicoli/Wikimedia Commons
No Rio Grande do Sul, “a Catedral Metropolitana Madre de Deus, também conhecida como Catedral de Porto Alegre, teve sua construção original no século 18, mas sua versão atual, erguida no início do século 20, incorporou influências neogóticas em diálogo com outros estilos, refletindo a pluralidade arquitetônica da época”, analisa Andressa.
A Catedral Metropolitana Madre de Deus, em Porto Alegre, incorporou influências neogóticas em diálogo com outros estilos
Zimbres/Wikimedia Commons
Em Minas Gerais, a Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, de 1883, parte do Santuário do Caraça, em Catas Altas, foi a primeira igreja do Brasil em estilo neogótico.
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“Há a Igreja de São José, em Belo Horizonte, construída entre 1902 e 1904, sob supervisão de padres jesuítas alemães. Sua fachada e vitrais dialogam diretamente com o vocabulário do neogótico, incorporado de forma elegante na paisagem urbana da capital mineira”, descreve Andressa.
A Igreja da Imaculada Conceição do Sagrado Coração de Jesus, no Rio, com traços neogóticos
Halley Pacheco de Oliveira/Wikimedia Commons
Construções neogóticas no mundo
Na Inglaterra, berço do movimento neogótico, destaca-se o Palácio de Westminster, reconstruído a partir de 1837, após um incêndio, e concluído em 1860.
Já na Alemanha, há o Castelo de Neuschwanstein, de 1869, e a imponente Catedral de Colônia, cuja construção havia iniciado em 1248 e só foi finalizada no século 19, já sob a influência neogótica.
O Castelo de Neuschwanstein é um exemplo do neogótico alemão que serviu de inspiração para o castelo da Cinderela no parque temático Magic Kingdom, no Walt Disney World, em Orlando, EUA
Taxiarchos228/Wikimedia Commons
“Na França, destaca-se o trabalho do arquiteto Eugène Viollet-le-Duc, que restaurou catedrais e capelas, documentou e teorizou sobre o gótico, tornando-se um dos seus grandes divulgadores”, fala Ademir. A famosa Igreja de Notre Dame, datada de 1844 e agora reconstruída após incêndio em 2019, e a Basílica de Saint Clotilde (1846-1857), ambas em Paris, representam o estilo neogótico.
Na Espanha, um dos principais exemplos é a Basílica da Sagrada Família, em Barcelona, de Antoni Gaudí, iniciada em 1882 e ainda não concluída. “Embora Gaudí tenha transformado o projeto para além do neogótico, suas primeiras intenções e muitos elementos da obra dialogam diretamente com o estilo”, explica Andressa.
A Basílica da Sagrada Família, em Barcelona, guarda elementos do estilo neogótico do projeto inicial
Flickr/H. Raab/Creative Commons
Nos Estados Unidos, o estilo ganhou força em instituições religiosas e educacionais. “A Catedral de St. Patrick, em Nova York, iniciada em 1858 e concluída em 1878, é um dos maiores exemplos da transposição do neogótico para o contexto americano, simbolizando a presença católica na cidade”, fala a docente.
A Catedral de St. Patrick, em NY, é um dos exemplos americanos de arquitetura neogótica
Kjetil Ree/Wikimedia Commons
“Além dela, universidades como Yale, em Connecticut, e Princeton, em New Jersey, incorporaram elementos góticos e neogóticos em seus campus, reforçando o vínculo entre tradição, erudição e arquitetura”, complementa Andressa.
O neogótico estadunidense aparece em campus universitários como o de Princeton, em New Jersey
Zeete/Wikimedia Commons
Releitura moderna do neogótico
O neogótico reflete o espírito de uma época, mas a sua linguagem continua inspirando detalhes arquitetônicos em construções pelo mundo.
“Há projetos que fazem uma releitura crítica da força e da tradição estrutural do gótico, utilizando a materialidade contemporânea, tanto do concreto armado como da estrutura metálica. É o que podemos ver em algumas obras do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, como a Estação do Oriente, em Lisboa, de 1998”, exemplifica André.
Leia mais
Os elementos característicos da arquitetura continuam sendo reinterpretados atualmente, por meio do chamado neo-historicismo ou por meio de linguagens híbridas, que misturam estilos e referências do passado com soluções modernas.
“Vemos isso em algumas igrejas construídas recentemente, que utilizam arcos ogivais, vitrais e verticalidade como forma de dar continuidade à tradição. Algumas universidades inglesas e estadunidenses também mantiveram essa identidade em novos edifícios de seus campi”, diz Andressa.
A Estação do Oriente, em Lisboa, obra do arquiteto Santiago Calatrava, faz uma releitura atual do estilo neogótico
Flickr/Leandro Neumann Ciuffo/Creative Commons
No campo residencial, André defende trazer o espírito neogótico mais como sentimento que como linguagem arquitetônica em si, usando, por exemplo, luz de vitrais em alguns espaços da casa. “Recriar elementos da linguagem historicista deste período é algo que requer muita sensibilidade para ele não cair em um falso histórico, despojado de qualquer valor arquitetônico”, alerta.
Já Andressa acredita que o segredo está na sutileza. É possível usar referências neogóticas em detalhes, reinterpretadas de forma mais leve. A combinação com materiais contemporâneos, como aço, vidro ou madeira clara, evita que o espaço fique pesado ou temático demais”, orienta.
Leia mais
d
Uma boa opção é utilizar os elementos do estilo neogótico com cores e proporções atuais. “Assim, o projeto deixa de ser uma cópia literal e passa a ser uma inspiração adaptada à vida contemporânea”, aponta Andressa.
Ela sugere, por exemplo, o uso de arcos ogivais em esquadrias, portas ou nichos de estantes, trazendo a geometria característica do estilo sem sobrecarregar. Vitrais podem aparecer de maneira mais contemporânea, em divisórias coloridas, detalhes em portas ou painéis decorativos, muitas vezes reinterpretados com vidro fosco ou texturizado.