Por que tantos brasileiros estão se mudando para Santa Catarina?

Praias, paisagens exuberantes, qualidade de vida e oportunidade são palavras que definem bem a realidade encontrada em Santa Catarina. Não é à toa que, segundo o Censo de 2022 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado tenha recebido o maior número de migrantes do país entre 2017 e 2022: foram mais de 500 mil pessoas, totalizando um saldo migratório positivo de aproximadamente 354 mil habitantes — enquanto São Paulo, pela primeira vez, apresentou um saldo negativo de aproximadamente 89 mil pessoas.
Fonte: Censo Demográfico 2022, IBGE
Thais Araujo Figueiredo/Arte Casa Vogue
O professor Lauro Mattei, do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSC, explica que esse movimento migratório acontece desde a década de 90, mas por motivos distintos. “Santa Catarina viveu, desde os anos 1990, o processo conhecido como litoralização, quando populações do interior migraram em massa para as regiões costeiras, especialmente entre Florianópolis e Itajaí”, explica. Esse movimento continuou, ainda que em menor escala, nos anos 2000, como mostram os censos de 2010 e 2022.
Fonte: Censo Demográfico 2022, IBGE
Thais Araujo Figueiredo/Arte Casa Vogue
Hoje, o estado vivencia um novo ciclo migratório, iniciado nos anos 2000 e intensificado na última década, atraindo um número crescente de moradores de outros estados. Ainda segundo o Censo de 2022, quase 25% da população catarinense nasceu fora do estado. Em Florianópolis, esse índice chega a 39% — a capital, inclusive, foi a cidade que mais recebeu migrantes, com mais de 84 mil novos habitantes, seguida por Joinville, Palhoça, Itajaí e Blumenau.
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Samuel Steiner, professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, alerta que esse crescimento não é homogêneo. “Quase 80% desse aumento se concentra na faixa litorânea entre Florianópolis e Joinville, enquanto muitos municípios de pequeno porte perdem população. Esse crescimento está relacionado ao circuito turístico-imobiliário e à intensificação do setor de serviços, principalmente de comércio e serviços urbanos”, comenta.
O superintendente estadual do IBGE em Santa Catarina, Roberto Kern Gomes, acrescenta outros dados relevantes. Historicamente, os migrantes vinham principalmente de estados vizinhos — Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Entre 2017 e 2022, esses continuam no topo, somando cerca de 293 mil habitantes, mas surgem novidades: o Pará, que antes não figurava entre os dez principais emissores, já aparece em quarto lugar, com mais de 44 mil pessoas, enquanto a Bahia ocupa a quinta posição, com mais de 20 mil imigrantes. “São regiões bastante distantes, o que chama atenção”, completa.
O que atrai tantas pessoas?
A natureza exuberante de Florianópolis, Santa Catarina, foi a grande inspiração desta residência de 1 mil m², assinada pelo escritório Tetro Arquitetura, de Carlos Maia, Débora Mendes e Igor Macedo.
Joana França
De acordo com os especialistas, a combinação de bons indicadores sociais e um mercado de trabalho dinâmico é o principal atrativo para quem decide viver em Santa Catarina. Dados do Censo de 2022 do IBGE reforçam essa percepção:
O estado tem o menor índice de desocupação (pessoas que estão desempregadas, mas dispostas a trabalhar) do país (2,2%);
A taxa de informalidade é a mais baixa do Brasil (24,7%, ante 37,8% no nível nacional);
87,4% dos empregados no setor privado têm carteira assinada, o maior índice do país;
A taxa de desalento (pessoas que gostariam de trabalhar, mas desistiram de procurar emprego por acreditar que não conseguiriam) é a menor do Brasil (0,3%, contra 2,5% na média nacional);
A desigualdade social, medida pelo índice de Gini, é a menor do país (0,452);
A média salarial é elevada: R$ 4.077, a quarta maior do Brasil.
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Além disso, quando se analisa Florianópolis e sua região metropolitana — formada por São José, Palhoça e Biguaçu — o cenário é de forte crescimento e complexidade. A chamada área conurbada reúne mais de 1 milhão de habitantes, atraindo cada vez mais pessoas por suas oportunidades. “O crescimento se explica por dois eixos: o boom turístico e cultural, com eventos nacionais e internacionais, e a consolidação da capital como polo tecnológico, abrigando grandes empresas e startups”, revela o professor Lauro Mattei.
Como o mercado imobiliário está reagindo?
Os projetos do ARK.7 Arquitetos priorizam a relação do edifício com a cidade, como no prédio residencial Jurerê ON, localizado na região privilegiada da Praia de Jurerê, em Florianópolis
Divulgação/ARK.7 Arquitetos
Santa Catarina ocupa quatro das cinco posições no ranking das cidades com o metro quadrado mais caro do Brasil, segundo o Índice FipeZAP de setembro de 2025:
Balneário Camboriú (R$ 14.784/m²);
Itapema (R$ 14.681/m²);
Vitória, capital do Espírito Santo (R$ 14.122/m²)
Itajaí (R$ 12.691/m²);
Florianópolis (R$ 12.477/m²)
O estado vive um boom imobiliário, principalmente no litoral, refletindo concentração de capital e investimento. “O crescimento populacional eleva os preços e reduz a disponibilidade de imóveis, sobretudo em áreas valorizadas e próximas a centros de serviços ou espaços verdes”, avalia Coriolano Lacerda, gerente de Pesquisa e Inteligência de Mercado do Grupo OLX. “A procura por apartamentos em bairros bem estruturados aumentou durante a pandemia, refletindo na elevação dos valores médios de venda e aluguel”, continua.
O edifício Hyde é outro projeto do ARK.7 Arquitetos, localizado em Joinville (SC)
Divulgação/ARK.7 Arquitetos
Porém, segundo Giovani Bonetti, sócio do ARK.7 Arquitetos, com diversos projetos residenciais e comerciais em Florianópolis e outras cidades catarinenses, esse desenvolvimento imobiliário apresenta diferentes perfis regionais. “No litoral central — Balneário Camboriú, Itapema e Porto Belo — predomina a construção de segunda e terceira moradia de alto padrão, com valores médios de metro quadrado muito elevados. Em cidades maiores como Florianópolis, Blumenau e até na região oeste, o perfil do consumidor é diferente, focado mais na primeira moradia, com padrão de consumo médio e alto”, revela.
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Para o arquiteto, a qualidade de vida é o principal motor que impulsiona a compra de um imóvel. Os clientes buscam, sobretudo, uma boa arquitetura, que apresente um projeto funcional e áreas comuns bem planejadas, e conectividade com a cidade. “Além disso, valorizam infraestrutura urbana próxima, como escolas, serviços de saúde, comércio e acesso ao mar. A localização em áreas nobres e com infraestrutura adequada é um fator decisivo”, complementa.
O estado está preparado para receber tanta gente?
O avanço imobiliário, porém, não significa que houve um crescimento semelhante na oferta de moradia acessível. “Apesar do aumento de lançamentos, muitos imóveis permanecem desocupados ou são usados como residências secundárias. A valorização imobiliária e o aumento do aluguel tornam o acesso à moradia inviável para grande parte da população”, explica Samuel Steiner.
Fonte: Censo Demográfico 2022, IBGE
Thais Araujo Figueiredo/Arte Casa Vogue
A chegada de novos moradores e o aumento no preço dos imóveis e aluguéis contribui para a geração de uma crise habitacional: segundo dados deste ano do FACISC – Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina, o estado sofre com um déficit de 190 mil moradias. “Esse contraste evidencia o lado oculto do boom catarinense: o crescimento acelerado e desordenado gerou déficit de habitação acessível. A expansão demográfica, embora sinal de prosperidade econômica e diversidade social, também trouxe novos desafios urbanos e sociais para o estado e sua capital”, comenta Lauro Mattei.
Fonte: Censo Demográfico 2022, IBGE
Thais Araujo Figueiredo/Arte Casa Vogue
O Censo de 2022 também mostra que a Grande Florianópolis vivencia um aumento da população residente em favelas e comunidades urbanas, totalizando 61.854 pessoas. “Esse aumento pode estar ligado à chegada de migrantes e ao aumento dos preços dos imóveis, mas o IBGE não estabelece relação causal direta”, pontua o superintendente do instituto, Roberto Kern Gomes.
Além das questões de moradia, o crescimento populacional traz novos desafios para a infraestrutura e o urbanismo em Santa Catarina e em sua capital, como:
Urbanização informal: ocupação de morros, margens de rios e áreas de preservação ambiental;
Degradação ambiental e riscos climáticos: erosão, deslizamentos, enchentes e impactos associados às mudanças climáticas;
Expansão de favelas e comunidades vulneráveis: populações de baixa renda, excluídas do mercado formal, ocupam áreas precárias;
Pressão sobre infraestrutura: redes de água, esgoto, drenagem e transporte público enfrentam limitações.
Fontes:
Lauro Mattei, professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Samuel Steiner, professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Roberto Kern Gomes, superintendente estadual do IBGE em Santa Catarina
Coriolano Lacerda, gerente de Pesquisa e Inteligência de Mercado do Grupo OLX
Giovani Bonetti, sócio do ARK.7 Arquitetos
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