Crise climática e colapso ambiental são temas de nova exposição do MASP

O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), em São Paulo, recebe a partir de 10 de outubro a exposição Clarissa Tossin: ponto sem retorno, que reúne mais de 40 obras das últimas duas décadas da artista brasileira. Mais do que retratar a crise climática, ela incorpora em seus trabalhos resíduos, objetos e materiais que se tornam testemunhos do colapso ambiental.
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A mostra é a sua primeira exposição individual no Brasil e a pioneira de uma artista viva a ocupar a galeria do primeiro andar do edifício projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi. “Essa galeria era tradicionalmente dedicada a artistas históricos, de pintura e escultura, por ter um controle de climatização mais rigoroso, mas com o advento do edifício novo, agora temos mais espaços desse tipo no museu”, explica Guilherme Giufrida, curador assistente do MASP.
Concebida como uma grande instalação imersiva, a concepção dedicou olhar à arquitetura da sala. A aposta foi explorar a tridimensionalidade do espaço, aspecto presente nas obras da Clarissa, que utilizam diferentes formatos e escalas, fazendo com que a exposição ganhasse também caráter instalativo.
Obras de uma vida de pesquisa
Natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Clarissa Tossin combina escultura, instalação, tapeçaria, vídeo e performance, unindo crítica geopolítica, ficção especulativa e práticas artesanais.
A exposição, que vem sendo construída ao longo de cerca de um ano e meio, reúne itens dos últimos 18 anos de produção e pesquisa da artista. “No ano da temática das Histórias da Ecologia, a proposta foi trazer o desenvolvimento de uma artista que está dialogando com essas questões da catástrofe climática e da emergência climática”, pontua Guilherme.
Becoming Mineral (Devir mineral), utiliza porcelana queimada e é uma obra de 2021 da artista
Cortesia de Luisa Strina/Brica Wilcox/Divulgação
Os estudos da gaúcha cruzam mapas coloniais, imagens de satélite e objetos do cotidiano para discutir a exploração territorial nas Américas e as atuais ambições de colonização espacial, além do impacto do consumo. No MASP, a mostra reúne cerca de 40 obras, sendo 13 inéditas e comissionadas.
Um dos fios condutores é a peça Volume Morto (2025). Criada especialmente para o museu paulistano, Clarissa utilizou terra de bairros afetados por enchentes no Rio Grande do Sul — Cidade Baixa, Sarandi e Eldorado do Sul — para recriar nas paredes as marcas de lama deixadas pela água, remetendo também às tragédias de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), em Minas Gerias.
“A sensação é a de que o museu alagou e montamos a mostra com aquilo que sobrou para expor. É como se o público estivesse visitando um museu pós-apocalíptico, em uma dimensão bastante imersiva”, destaca o curador.
Future Geography: The Five Galaxies of Stephan’s Quintet (Geografia futura: as cinco galáxias do quinteto de Stephan) é uma obra de 2022
Cortesia Commonwealth and Council, Los Angeles/Brica Wilcox/Divulgação
A partir dessa, os demais trabalhos foram posicionados no espaço. A série Geografia Futura, por exemplo, tem como suporte caixas e envelopes da Amazon. “Há diversos impactos socioeconômicos e ambientais por onde a empresa passa, mas tem suposta ideia de neutralidade, como se a caixa fosse algo genérico, mas, na verdade, é uma grande proliferação de dejeto, excesso e consumo”, afirma Guilherme.
Um dos trabalhos importantes nesse sentido é Morte por onda de calor (Acer pseudoplatanus, Floresta de Mulhouse). A obra consiste em uma grande árvore de silicone, em escala 1:1, feita a partir de uma árvore real, destruída em desastre climático na França.
Outra seção significativa são obras partes de uma pesquisa mais recente da artista, que refletem sobre o corpo feminino e a aproximação com o universo vegetal. Mortalha para Vênus é uma dessas e utiliza maquiagem para realizar a impressão de imagens do corpo.
Mortalha para Vênus, de 2025, é de autoria da Clarissa Tossin e utiliza base de maquiagem sobre tela na sua composição
Cedida por MASP/Brica Wilcox/Divulgação
“Clarissa, uma artista brasileira que reside no exterior há 20 anos, desenvolveu uma pesquisa rica com muitas conexões com a arte nacional contemporânea, mas sob abordagem singular, entrelaçando aspectos formais da arte com a temática ambiental”, diz Guilherme.
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A mostra Clarissa Tossin: ponto sem retorno é curada por Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente do MASP. A exposição integra a programação Histórias da Ecologia, que em 2025 já apresentou mostras de Claude Monet, Frans Krajcberg, Abel Rodríguez, Hulda Guzmán, Minerva Cuevas e das Mulheres Atingidas por Barragens.
Exposição – Clarissa Tossin: ponto sem retorno
Data: de 10 de outubro de 2025 a 1 de fevereiro de 2026
Horário: quintas-feiras, das 10h às 20h; segundas-feiras (fechado); nos demais dias, das 10h às 18h
Endereço: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) – Avenida Paulista, 1578 – São Paulo, SP
Ingressos: R$ 75 (inteira); R$ 37 (meia-entrada); gratuito para Amigo MASP, crianças com idade igual ou inferior a 10 anos, e pessoas com deficiência e um acompanhante. Às terças-feiras, a entrada é gratuita. Às sextas-feiras, das 18h até 22h, a entrada também é gratuita
Mais informações: site oficial do MASP

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