Tricô e outros “hobbies das avós” ajudam o cérebro a envelhecer bem

O tricô está sendo redescoberto pela Geração Z em busca de refúgio do excesso de telas, ao lado de oficinas de bordado e encontros de costura, especialmente entre jovens estadunidenses. Mais do que um movimento de nostalgia, o retorno desses hobbies manuais associados às avós, tem uma razão poderosa: ajudam o cérebro a envelhecer melhor.
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Dados da plataforma Eventbrite revelam um crescimento de três dígitos nessas atividades nas principais cidades dos EUA. Isso porque, com 73% dessa geração relatando exaustão digital, essas experiências táteis e presenciais oferecem as conexões autênticas cada vez mais desejadas.
Dados da plataforma Eventbrite revelam um crescimento de três dígitos em atividades manuais, como tricô e confeitaria, nas principais cidades dos EUA, constatando que 73% da Geração Z relata exaustão digital
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Estudos recentes mostram que atividades lentas e táteis, como tricotar, esculpir ou costurar, estimulam áreas cerebrais ligadas à memória, à atenção e à coordenação motora. O simples ato de usar as mãos para criar algo pode reduzir o estresse, melhorar o humor e até ajudar a proteger o cérebro contra o declínio cognitivo.
A explicação está no fato de que o tricô combina coordenação motora fina, planejamento criativo e movimento bilateral rítmico — elementos que ativam diferentes sistemas cerebrais ao mesmo tempo.
Estudos recentes mostram que atividades lentas e táteis, como tricotar, estimulam áreas cerebrais ligadas à memória, à atenção e à coordenação motora
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Essa estimulação bilateral — o uso alternado das duas mãos — é semelhante à técnica usada em terapias de regulação emocional, como o EMDR, que ajuda a reduzir os níveis de cortisol, aumentar a serotonina e a dopamina, e melhorar o equilíbrio emocional.
O tricô também ativa o sistema de dopamina de forma gradual e constante — um tipo de recompensa que melhora o foco e estabiliza o humor, ao contrário dos picos rápidos provocados pelas redes sociais.
Um estudo publicado em 2024 na Frontiers in Behavioral Neuroscience confirma: esforços criativos ativam a rede de recompensa do cérebro, ligada ao prazer e à motivação. Segundo pesquisadores, não é bom ter dopamina demais nem de menos; o equilíbrio químico é o que mantém o cérebro funcionando de maneira estável e satisfatória.
O trabalho com cerâmica também está envolvido com tipos de tarefas que ativam a função executiva do cérebro, que fortalecem conexões neurais e ajudam a manter a flexibilidade mental com o passar do tempo
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Além de relaxar, atividades como tricô, cerâmica ou entalhe exigem planejamento, sequência e resolução de problemas — tarefas que ativam a chamada função executiva do cérebro. Essas práticas envolvem o cérebro inteiro, fortalecendo conexões neurais e ajudando a manter a flexibilidade mental com o passar do tempo.
Mas há um detalhe importante: os maiores benefícios vêm do aprendizado, não da repetição. Ou seja, se você nunca tricotou, tricotar é perfeito, mas se já domina a técnica, o ideal é buscar novos desafios — o cérebro precisa enfrentar algo que ainda não sabe fazer. O ciclo de aprender, praticar e dominar uma habilidade é o que mantém a plasticidade cerebral ativa.
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Esse tipo de estímulo é essencial para o envelhecimento saudável, dizem os médicos. O declínio cognitivo começa décadas antes de aparecerem os sinais externos, por isso praticar hobbies mentalmente desafiadores ajuda a fortalecer as conexões neurais e a manter o cérebro resiliente.
Os benefícios das atividade manuais se estendem aos âmbitos emocionais e sociais, já que as oficinas reduzem o isolamento, estimulam conversas e ampliam o sentimento de pertencimento, o que contribui para o bem-estar emocional
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Mais do que exercícios mentais, essas atividades também trazem benefícios emocionais e sociais. Rodas de tricô, aulas de cerâmica e oficinas de artesanato e costura reduzem o isolamento, estimulam conversas e ampliam o sentimento de pertencimento — fatores fundamentais para o bem-estar emocional.
Pesquisas publicadas na BMC Public Health reforçam que hobbies manuais e repetitivos aumentam o bem-estar psicológico, enquanto estudos com pacientes de Parkinson apontam melhorias na memória e na destreza após intervenções artísticas. Os resultados mostram que nunca é tarde para começar — nem é preciso muito mais do que duas agulhas e um novelo de lã para exercitar o cérebro e acalmar a mente.

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