Tendência: as bolinhas e poás estão em toda parte, das passarelas à sala de estar (e além!)

Todo mundo está enlouquecido pelas bolinhas, em parte graças a marcas como Jacquemus e Moschino — grifes de luxo que deixaram de lado as associações retrô da estampa para revelar algo muito mais sofisticado e divertido. Bastaram alguns modelos desfilando silhuetas pontilhadas deslumbrantes para transformar esse motivo atemporal de curiosidade kitsch em um verdadeiro statement de alta moda. E o que funciona nas passarelas, inevitavelmente, acaba chegando às nossas casas.
Este quarto, assinado pelo Studio Leandro Neves, tem papel de parede em preto e branco (uma releitura moderna do poá tradicional)
Luiza Schreier
As bolinhas deixaram de ser exclusividade de lanchonetes retrô e surgem agora como uma força importante no design, capazes de unir charme lúdico e elegância. Após anos de domínio do minimalismo em nossos lares, há uma mudança perceptível em direção a uma expressão mais maximalista — com padrões mais ousados, texturas sobrepostas e cores que exigem atenção. As bolinhas se encaixam perfeitamente nesse ponto de equilíbrio, oferecendo uma forma de introduzir estampas sem sobrecarregar o ambiente. Diferentemente das florais ou geométricas, que podem parecer sazonais ou passageiras, os poás têm uma qualidade duradoura, ao mesmo tempo nostálgica e surpreendentemente moderna.
Na moda, as bolinhas também estão em alta
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Dos infinitos ambientes de Yayoi Kusama às interpretações da alta-costura, o simples ponto provou sua capacidade de transitar entre o lúdico e o profundo. O que torna as bolinhas especialmente atraentes no design de interiores é sua notável versatilidade. Elas podem evocar o glamour mod dos anos 1960 ou uma expressão artística contemporânea — tudo depende da escala, da cor e da forma de aplicação —, tornando-se assim um padrão ideal para os proprietários modernos que buscam unir alegria e sofisticação.
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Elevando o ponto do dia a dia
“As bolinhas são uma espécie de código secreto da alegria” — é uma forma inesperadamente direta de descrever um padrão muitas vezes considerado frívolo, mas a designer de interiores americana Mary Kathryn Wells construiu grande parte de sua carreira em torno dessa filosofia. Defensora discreta das bolinhas ao longo de sua trajetória, Wells entende como poucos a arte de fazer essa estampa funcionar em projetos sofisticados, sem cair em algo infantil.
Este hall de entrada, projetado por Mary Kathryn Wells, conta com bolinhas pintadas à mão pela artista Myles Maillie
MARY CRAVEN DAWKINS
“Elas são divertidas, gráficas e, no contexto certo, dão vida a um ambiente sem jamais se levarem muito a sério”, ela continua. “São lúdicas, mas podem ser usadas de maneiras que não parecem infantis, especialmente em espaços que reúnem elementos mais tradicionais ou sofisticados.”
Wells descobriu que a maior força desse padrão está em sua adaptabilidade. “Elas criam um ponto de tensão fantástico quando combinadas com elementos mais tradicionais ou refinados. Um papel de parede com bolinhas em um hall de entrada com móveis vintage ou marcenaria clássica imediatamente transmite uma sensação de frescor e acolhimento — nada rígido ou antiquado. Também aprecio o quanto esse padrão é versátil: bolinhas pintadas à mão e irregulares têm um caráter artesanal e emotivo, enquanto uma grade precisa e ordenada de pontos transmite um ar limpo e moderno.”
A filosofia de Wells se traduz em projetos que mais se assemelham a instalações artísticas do que à decoração de interiores tradicional. Em um hall de entrada, ela colaborou com o artista local Myles Maillie para criar um campo de bolinhas orgânicas pintadas à mão, usando nada mais sofisticado do que a extremidade circular de um pincel. “É um espaço que imediatamente estabelece um clima alegre assim que se entra e cria um cenário encantador para a vibrante coleção de arte da família.”
Essa abordagem demonstra como as bolinhas podem transcender suas associações comerciais quando tratadas como um meio artístico — e não apenas como um padrão decorativo —, transformando um espaço funcional em algo que revela a personalidade da casa desde o primeiro passo para dentro.
Neste projeto de Mary Kathryn Wells, o poá na parede serve de pano de fundo para telas cheias de significado
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Em outro projeto, Wells utilizou um papel de parede da colaboração entre Chasing Paper e New Hat, mas a sofisticação veio inteiramente da forma como o ambiente foi composto. Ela pendurou aquarelas ampliadas pintadas pelos filhos pequenos da família diretamente sobre o papel de parede pontilhado, criando um espaço em que o padrão gráfico e a arte profundamente pessoal coexistem em perfeita harmonia.
“Combinamos lindamente com guarnições em um tom de vermelho alaranjado vibrante”, observa Wells — mas é a sobreposição das obras da família sobre o padrão comercial que faz as bolinhas parecerem, ao mesmo tempo, profissionais e íntimas. Aqui, as bolinhas funcionam como base para outros elementos de design, em vez de competir com eles, criando camadas de significado dentro de um mesmo espaço.
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Sofisticação inesperada
“Quando pensamos em bolinhas, geralmente associamos àquelas vibrações lúdicas e retrô, mas elas também podem trazer um nível de modernidade madura a um ambiente”, afirma Chloe Vince, consultora sênior de decoração da House of Hackney. “É comum vermos o uso de listras nos interiores, mas o uso de bolinhas é algo mais inesperado.” Essa ideia capta exatamente o motivo pelo qual esse padrão parece especialmente novo neste momento, como exemplificado no papel de parede PHANTASIA Taupe da marca.
Criado pela dupla de design de Los Angeles Pierce & Ward, este papel de parede incorpora discretas bolinhas
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Criado em colaboração com a dupla de design de Los Angeles Pierce & Ward, o papel de parede incorpora discretas bolinhas em um universo fantástico de criaturas míticas, nuvens, flores e cogumelos. É uma abordagem sofisticada que utiliza as bolinhas não como protagonistas, mas como elementos estruturais dentro de uma narrativa mais ampla. “As listras contidas dentro da própria listra proporcionam a pausa visual perfeita e criam estrutura em uma composição tonal”, explica Vince, destacando como as bolinhas podem funcionar como parte da arquitetura, e não apenas como decoração.
Quando o padrão resolve problemas
“Este hall de entrada de apartamento é espaçoso, mas possui elementos estruturais e mecânicos que invadem o ambiente, e eu queria desviar o olhar deles”, conta o designer de interiores americano Charles Krewson, descrevendo um desafio clássico do design: como fazer a arquitetura imperfeita de construções reais desaparecer por meio de truques visuais inteligentes.
O poá também pode ser utilizado como um elementos gráfico para disfarçar imperfeições
celine hallas
Sua solução foi um ousado mural de bolinhas que transforma um espaço problemático em uma experiência memorável. “Gosto de padrões gráficos marcantes tanto para criar um ponto focal quanto para tornar os ambientes mais memoráveis. O mural de bolinhas funciona perfeitamente como cenário para móveis e obras de arte.”
A abordagem de Krewson demonstra o poder do padrão como ferramenta para resolver problemas, usando escala e contraste para redirecionar a atenção para onde ela é mais necessária. “Gráficos ousados são parte integrante da sobreposição necessária para que um interior não pareça preso a uma estética retrô”, explica ele, enfatizando como as bolinhas podem modernizar, em vez de datar, um ambiente. O resultado comprova seu ponto: “O que gosto é que o padrão adiciona modernidade a um apartamento tradicional dos anos 1920. Ele traz um toque de fantasia à arquitetura clássica e faz os móveis parecerem renovados.”
Bolinhas: (outro) momento de retorno
“O uso das bolinhas foi esquecido nos últimos anos, mas agora está voltando por causa da natureza cíclica do design de interiores e da moda”, explica o designer de interiores londrino George Jessel. “O poá é um padrão clássico que apareceu ao longo da história, desde a Idade Média até os anos 1920, e teve seu retorno mais famoso na moda dos anos 1960.”
Para utilizar o poá, saiba que o tamanho, padrão e cores das bolinhas influenciam a composição
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“Nos últimos anos, os interiores viram um enorme aumento no uso de listras em tecidos, mas acredito que as coisas estão mudando agora, e as bolinhas são um caminho natural a seguir”, observa ele, posicionando a tendência atual menos como novidade e mais como uma progressão lógica nas preferências de padrões.
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Acertar na aplicação exige compreender a relação entre escala e ambiente. “Ao incorporar bolinhas em interiores, tamanho e proporção são fundamentais”, explica Victoria Robinson, especialista em estilo e tendências da empresa britânica de persianas Hillarys. “Bolinhas maiores podem criar um impacto ousado em ambientes minimalistas, enquanto bolinhas menores adicionam textura sutil e interesse.”
Robinson defende abordagens sofisticadas para o uso de cores: “Combinar bolinhas com tons neutros ou paletas monocromáticas garante que elas permaneçam como ponto central sem entrar em conflito com outros elementos do design. Além disso, sobrepor bolinhas de diferentes tamanhos e cores pode criar um visual lúdico e, ao mesmo tempo, coeso.”
Além das paredes, as bolinhas também podem ser usadas em móveis, tecidos e outras peças decorativas
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Sua análise revela como as aplicações contemporâneas evoluíram: “Os interiores com bolinhas de hoje são caracterizados por uma elegância refinada. Observa-se uma mudança em direção a paletas de cores suaves e sofisticadas, como pastéis delicados e tons terrosos, que conferem um toque contemporâneo a esse padrão atemporal.”
“Há algo nas bolinhas que transmite diversão, charme nostálgico, uma referência a Kusama”, diz Chloe Willis, da Sibyl Colefax & John Fowler. Defendendo o que poderia ser chamado de abordagem ‘anti-perfeita’ para as bolinhas, a irregularidade se torna uma virtude, e não uma falha. “Prefiro quando as bolinhas têm uma leve oscilação, uma forma mais orgânica, pontos maiores ou menores, em vez dos círculos perfeitos que normalmente associamos a roupas infantis.” Essa abordagem sugere que as aplicações mais sofisticadas de bolinhas abraçam o toque humano, afastando-se da repetição perfeita das máquinas e aproximando-se de algo mais orgânico e emocionalmente envolvente.
Reinventando as bolinhas
Tal é o efeito do poá que sua evolução vai muito além das aplicações tradicionais em papel de parede. “As bolinhas nunca desapareceram de fato; na verdade, elas evoluíram, adquirindo novas texturas, profundidades e meios de expressão”, explica Rosa Bonetti, do estúdio londrino Seen Studios, que representa a ponta mais experimental dessa transformação, onde os pontos se tornam experiências espaciais em vez de mera decoração de superfície.
“Onde os padrões antes eram perfeitamente posicionados e simétricos, agora são exagerados e irregulares. Onde as cores antes eram simples e contrastantes, agora variam em combinações mais inesperadas, materiais e sobreposições tonais”, explica Bonetti. Seu estúdio levou as bolinhas a territórios totalmente novos, usando painéis de metal perfurados para criar efeitos dimensionais ou fundos gráficos ousados para grandes ativações de marcas.
O banheiro do evento Zalando x NIKE em Berlim foi adornado com espelhos côncavos para criar efeitos de bolinha
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Para um evento Zalando x NIKE em Berlim, eles usaram espelhos côncavos para criar efeitos de bolinhas em um corredor de banheiro que poderia ter sido muito comum. É essa intencionalidade que orienta a abordagem: “É importante para nós que o uso das bolinhas pareça proposital. Sua presença deve ir além de papéis de parede ou estofados e se tornar parte da própria linguagem espacial.”
Bonetti acredita que esse pensamento multidimensional explica o entusiasmo atual dos consumidores: “Os clientes estão respondendo às bolinhas agora porque elas trazem uma energia ousada e lúdica a qualquer projeto. Não há nada de errado com a vibe retrô tradicional dos anos 1950, mas há algo refrescante em ver o padrão reinventado — expandido além da nostalgia para algo mais dinâmico, inesperado e versátil para os interiores de hoje.”
*Matéria originalmente publicada na Architectural Digest Oriente Médio
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