A rosa é um símbolo clássico de amor, paixão e delicadeza. Porém, sua aparência frágil esconde espinhos. Conhecidos tecnicamente como acúleos, tratam-se de um mecanismo de defesa, não um defeito, e reforçam a ideia de que a beleza também precisa de proteção. Mas será que todas as rosas possuem essa característica? Especialistas explicam como isso funciona do ponto de vista botânico:
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“Todas as rosas do gênero Rosa da família Rosaceae, naturalmente, têm acúleos. São apêndices pontiagudos que se destacam com relativa facilidade. São barreiras físicas que impedem o consumo de ramos e flores por herbívoros, permitindo a formação de sementes e garantindo a perpetuação da espécie”, descreve Andreia Fonseca Silva, pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), curadora do Herbário PAMG/EPAMIG, bióloga e mestre em Botânica.
Origem dos acúleos nas rosas
Um estudo publicado na revista Science em agosto de 2024 identificou a família de genes Lonely Guy (LOG) como responsável pela formação dos acúleos em plantas, como as roseiras. Acredita-se que estruturas semelhantes aos acúleos existam há pelo menos 400 milhões de anos, surgindo inicialmente nos caules de samambaias e seus parentes mais antigos.
Os acúleos surgiram através de um processo genético, onde uma família de genes (LOG) controla essa característica de forma independente em várias linhagens de plantas, ao longo de milhões de anos
Public Domain Pictures/Lynn Greyling/Creative Commons
Esse gene controla a produção de citocinina, um hormônio vegetal, que desencadeia o crescimento e a proliferação celular necessários para formar o acúleo. “São defesas que surgiram para proteger as espécies contra animais herbívoros. Foi identificado um gene denominado LOG como o responsável pelo desenvolvimento dos acúleos em várias espécies, incluindo a rosa”, afirma José Ivan Marchiori, engenheiro florestal e especialista em rosas para jardim.
Andreia explica que, ao se alimentar de uma planta, um herbívoro age de forma seletiva, favorecendo a sobrevivência daquelas que apresentam essa resposta defensiva. “As plantas menos danificadas têm maior capacidade de produzir sementes em relação às muito danificadas, portanto, o gene é passado aos descendentes”, ela acrescenta.
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Evolução dos acúleos nas rosas e em outras espécies
O desenvolvimento dos acúleos em rosas e outras plantas é um exemplo de evolução convergente, em que características semelhantes surgem independentemente em diferentes linhagens para resolver problemas similares. “Pesquisas recentes identificaram que uma única família de genes LOG é responsável pelo aparecimento e desaparecimento dos acúleos ao longo da evolução”, relata José.
A evolução convergente é o fenômeno em que espécies não relacionadas desenvolvem características semelhantes de forma independente, em decorrência da adaptação a ambientes e pressões seletivas semelhantes
Salicina/Wikimedia commons
“Quando uma característica comum, como os acúleos, aparece independentemente em espécies de diferentes famílias, trata-se de ‘evolução convergente’, que ocorre quando as espécies se adaptam de forma semelhante ao ambiente. Por isso, vemos espécies de diferentes famílias com acúleos e ou espinhos que atuam na defesa contra a herbivoria”, argumenta Andreia.
Segundo a pesquisadora, além das rosas, diversas espécies de Cactaceae, Solanaceae, Rhamaceae, Fabaceae e Asteraceae, entre outras, possuem esse tipo de barreira física como mecanismo de defesa.
Diferenças entre acúleos e espinhos
Os acúleos e os espinhos são mecanismos de defesa das plantas que se diferenciam principalmente em relação à sua origem e estrutura. “Acúleos são apêndices pontiagudos que se destacam com relativa facilidade. Já os espinhos, possuem vascularização e estão profundamente inseridos na planta sendo mais resistentes à retirada”, esclarece Andreia.
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Função dos acúleos nas rosas
Os acúleos das rosas desempenham, principalmente, duas funções: proteger a planta de herbívoros e auxiliar na fixação, permitindo que a planta se sustente em outras estruturas para seu crescimento
Salicina/Wikimedia commons
Além de proteger a planta contra herbívoros, os acúleos também ajudam na fixação das rosas em diferentes superfícies. “Entre as principais funções dos acúleos da rosa estão proteger contra animais herbívoros, auxiliar na competição com outras espécies de plantas e também fornecer sustentação, especialmente nas rosas trepadeiras”, conta José.
“Os acúleos são estruturas de defesa da planta, formando barreiras físicas, dificultando que sejam apanhadas e/ou consumidas. Como a flor é órgão da planta onde estão as estruturas reprodutivas (gineceu e androceu), a planta investe nas defesas, visando que seus frutos sejam formados e sua descendência em sementes, seja garantida”, ressalta Andreia.
A cor e o tamanho das rosas influenciam na presença de acúleos?
A quantidade de acúleos é uma característica inerente de cada variedade de roseira, independente de sua cor, tamanho ou tipo
Pixabay/Creative Commons
Sob uma perspectiva científica e genética, essas características não influenciam diretamente na presença ou ausência de acúleos. A cor da rosa é determinada por pigmentos como as antocianinas, enquanto a presença de acúleos é uma característica da estrutura do caule da planta.
Isso indica que elas não estão conectadas, mas sim influenciadas por fatores genéticos. “A supressão do gene responsável pela expressão do acúleo, pode ser feita mecanicamente por manipulação gênica”, elucida Andreia.
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Rosas que não têm acúleos
A rosa ‘Zephirine Drouhin’ é famosa justamente por ser uma das poucas roseiras genuinamente desprovidas de acúleos, da base à flor, tornando-a ideal para áreas de passagem
Salicina/Wikimedia commons
Existem rosas sem acúleos devido a variações genéticas, que levam à ausência ou à redução dessa característica. Essa ausência pode ser alcançada por meio de cruzamentos seletivos ou pode ocorrer de forma espontânea em algumas espécies e híbridos. “Existem algumas variedades híbridas quase sem acúleos , como ‘Lovely Red’ e ‘True Love'”, aponta José.
Outras variedades de rosas sem ou com poucos acúleos são ‘Zephirine Drouhin’, ‘Hadangel’, ‘Veilchenblau’, ‘Cinderella’, ‘Rainha das Violetas’, ‘Ausorts’, ‘Prata de Lei’, ‘Azul Magenta’, ‘Banksiae Aiton’, ‘Kathleen Harrop’ e ‘Marie Pavié’.
A rosa ‘Veilchenblau’ possui poucos acúleos e é frequentemente descrita como “quase sem espinhos”, o que a torna uma boa escolha para jardins onde se deseja uma roseira trepadeira segura ao manuseio
Salicina/Wikimedia commons
Segundo a pesquisadora, há outras espécies de plantas de diferentes famílias botânicas, também denominadas popularmente rosas, que não têm acúleos ou espinhos. “Como exemplo temos as peônias da família Peoniaceae. As peônias são originárias da China e não têm espinhos nem acúleos”, ela comenta.
Nessas circunstâncias, algumas considerações precisam ser feitas. “Em rosas cultivadas para jardins, há uma desvantagem na ausência de acúleos, pois elas perdem em termos de defesa e competição”, constata José. Por outro lado, há a vantagem para o jardineiro/agricultor por facilitar o manejo.
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Cultivo de uma roseira sem acúleos
O cultivo de rosas sem acúleos não difere muito do de roseiras comuns, pois as necessidades de iluminação, água, solo e adubação são as mesmas. É fundamental garantir sol pleno, solo bem drenado e úmido, adubação regular e poda de limpeza para incentivar a floração e a renovação da planta.
As rosas de corte sem acúleos são ideais para buquês e arranjos, pois o manuseio é mais seguro e prático, sem o risco de se espetar durante a montagem
Freepik/Creative Commons
“Geralmente o cultivo de plantas com intenção de venda como flor de corte é protegido de herbívoros. Portanto, o cultivo de variedades sem espinhos é vantajoso para quem as produz, facilitando o manuseio e os tratos culturais”, conclui a pesquisadora da EPAMIG.
Para o engenheiro florestal, a tendência é o desenvolvimento de híbridos de rosas com menos acúleos, por ser um atributo muito valorizado na floricultura e na decoração.
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“Todas as rosas do gênero Rosa da família Rosaceae, naturalmente, têm acúleos. São apêndices pontiagudos que se destacam com relativa facilidade. São barreiras físicas que impedem o consumo de ramos e flores por herbívoros, permitindo a formação de sementes e garantindo a perpetuação da espécie”, descreve Andreia Fonseca Silva, pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), curadora do Herbário PAMG/EPAMIG, bióloga e mestre em Botânica.
Origem dos acúleos nas rosas
Um estudo publicado na revista Science em agosto de 2024 identificou a família de genes Lonely Guy (LOG) como responsável pela formação dos acúleos em plantas, como as roseiras. Acredita-se que estruturas semelhantes aos acúleos existam há pelo menos 400 milhões de anos, surgindo inicialmente nos caules de samambaias e seus parentes mais antigos.
Os acúleos surgiram através de um processo genético, onde uma família de genes (LOG) controla essa característica de forma independente em várias linhagens de plantas, ao longo de milhões de anos
Public Domain Pictures/Lynn Greyling/Creative Commons
Esse gene controla a produção de citocinina, um hormônio vegetal, que desencadeia o crescimento e a proliferação celular necessários para formar o acúleo. “São defesas que surgiram para proteger as espécies contra animais herbívoros. Foi identificado um gene denominado LOG como o responsável pelo desenvolvimento dos acúleos em várias espécies, incluindo a rosa”, afirma José Ivan Marchiori, engenheiro florestal e especialista em rosas para jardim.
Andreia explica que, ao se alimentar de uma planta, um herbívoro age de forma seletiva, favorecendo a sobrevivência daquelas que apresentam essa resposta defensiva. “As plantas menos danificadas têm maior capacidade de produzir sementes em relação às muito danificadas, portanto, o gene é passado aos descendentes”, ela acrescenta.
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Evolução dos acúleos nas rosas e em outras espécies
O desenvolvimento dos acúleos em rosas e outras plantas é um exemplo de evolução convergente, em que características semelhantes surgem independentemente em diferentes linhagens para resolver problemas similares. “Pesquisas recentes identificaram que uma única família de genes LOG é responsável pelo aparecimento e desaparecimento dos acúleos ao longo da evolução”, relata José.
A evolução convergente é o fenômeno em que espécies não relacionadas desenvolvem características semelhantes de forma independente, em decorrência da adaptação a ambientes e pressões seletivas semelhantes
Salicina/Wikimedia commons
“Quando uma característica comum, como os acúleos, aparece independentemente em espécies de diferentes famílias, trata-se de ‘evolução convergente’, que ocorre quando as espécies se adaptam de forma semelhante ao ambiente. Por isso, vemos espécies de diferentes famílias com acúleos e ou espinhos que atuam na defesa contra a herbivoria”, argumenta Andreia.
Segundo a pesquisadora, além das rosas, diversas espécies de Cactaceae, Solanaceae, Rhamaceae, Fabaceae e Asteraceae, entre outras, possuem esse tipo de barreira física como mecanismo de defesa.
Diferenças entre acúleos e espinhos
Os acúleos e os espinhos são mecanismos de defesa das plantas que se diferenciam principalmente em relação à sua origem e estrutura. “Acúleos são apêndices pontiagudos que se destacam com relativa facilidade. Já os espinhos, possuem vascularização e estão profundamente inseridos na planta sendo mais resistentes à retirada”, esclarece Andreia.
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Função dos acúleos nas rosas
Os acúleos das rosas desempenham, principalmente, duas funções: proteger a planta de herbívoros e auxiliar na fixação, permitindo que a planta se sustente em outras estruturas para seu crescimento
Salicina/Wikimedia commons
Além de proteger a planta contra herbívoros, os acúleos também ajudam na fixação das rosas em diferentes superfícies. “Entre as principais funções dos acúleos da rosa estão proteger contra animais herbívoros, auxiliar na competição com outras espécies de plantas e também fornecer sustentação, especialmente nas rosas trepadeiras”, conta José.
“Os acúleos são estruturas de defesa da planta, formando barreiras físicas, dificultando que sejam apanhadas e/ou consumidas. Como a flor é órgão da planta onde estão as estruturas reprodutivas (gineceu e androceu), a planta investe nas defesas, visando que seus frutos sejam formados e sua descendência em sementes, seja garantida”, ressalta Andreia.
A cor e o tamanho das rosas influenciam na presença de acúleos?
A quantidade de acúleos é uma característica inerente de cada variedade de roseira, independente de sua cor, tamanho ou tipo
Pixabay/Creative Commons
Sob uma perspectiva científica e genética, essas características não influenciam diretamente na presença ou ausência de acúleos. A cor da rosa é determinada por pigmentos como as antocianinas, enquanto a presença de acúleos é uma característica da estrutura do caule da planta.
Isso indica que elas não estão conectadas, mas sim influenciadas por fatores genéticos. “A supressão do gene responsável pela expressão do acúleo, pode ser feita mecanicamente por manipulação gênica”, elucida Andreia.
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Rosas que não têm acúleos
A rosa ‘Zephirine Drouhin’ é famosa justamente por ser uma das poucas roseiras genuinamente desprovidas de acúleos, da base à flor, tornando-a ideal para áreas de passagem
Salicina/Wikimedia commons
Existem rosas sem acúleos devido a variações genéticas, que levam à ausência ou à redução dessa característica. Essa ausência pode ser alcançada por meio de cruzamentos seletivos ou pode ocorrer de forma espontânea em algumas espécies e híbridos. “Existem algumas variedades híbridas quase sem acúleos , como ‘Lovely Red’ e ‘True Love'”, aponta José.
Outras variedades de rosas sem ou com poucos acúleos são ‘Zephirine Drouhin’, ‘Hadangel’, ‘Veilchenblau’, ‘Cinderella’, ‘Rainha das Violetas’, ‘Ausorts’, ‘Prata de Lei’, ‘Azul Magenta’, ‘Banksiae Aiton’, ‘Kathleen Harrop’ e ‘Marie Pavié’.
A rosa ‘Veilchenblau’ possui poucos acúleos e é frequentemente descrita como “quase sem espinhos”, o que a torna uma boa escolha para jardins onde se deseja uma roseira trepadeira segura ao manuseio
Salicina/Wikimedia commons
Segundo a pesquisadora, há outras espécies de plantas de diferentes famílias botânicas, também denominadas popularmente rosas, que não têm acúleos ou espinhos. “Como exemplo temos as peônias da família Peoniaceae. As peônias são originárias da China e não têm espinhos nem acúleos”, ela comenta.
Nessas circunstâncias, algumas considerações precisam ser feitas. “Em rosas cultivadas para jardins, há uma desvantagem na ausência de acúleos, pois elas perdem em termos de defesa e competição”, constata José. Por outro lado, há a vantagem para o jardineiro/agricultor por facilitar o manejo.
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Cultivo de uma roseira sem acúleos
O cultivo de rosas sem acúleos não difere muito do de roseiras comuns, pois as necessidades de iluminação, água, solo e adubação são as mesmas. É fundamental garantir sol pleno, solo bem drenado e úmido, adubação regular e poda de limpeza para incentivar a floração e a renovação da planta.
As rosas de corte sem acúleos são ideais para buquês e arranjos, pois o manuseio é mais seguro e prático, sem o risco de se espetar durante a montagem
Freepik/Creative Commons
“Geralmente o cultivo de plantas com intenção de venda como flor de corte é protegido de herbívoros. Portanto, o cultivo de variedades sem espinhos é vantajoso para quem as produz, facilitando o manuseio e os tratos culturais”, conclui a pesquisadora da EPAMIG.
Para o engenheiro florestal, a tendência é o desenvolvimento de híbridos de rosas com menos acúleos, por ser um atributo muito valorizado na floricultura e na decoração.



