O pau a pique foi uma das primeiras técnicas construtivas do Brasil colonial. Conhecida por esse nome no sul e sudeste do país, e como taipa de mão no norte e nordeste, ela tem como base o barro, e representou uma evolução em relação às casas de palha.
“É uma das formas de se construir mais instintivas e presentes em vários contextos geográficos, guardadas suas variações e nomenclaturas territoriais”, afirma o arquiteto Bruno Brizotti, especialista em projetos que utilizam a terra como material de construção.
Por aqui, o pau a pique ganhou contornos únicos, oriundos do saber-fazer dos diversos povos que compõem as origens do país. “A taipa de mão é uma técnica tradicional que mistura saberes dos indígenas que aqui habitavam antes da invasão portuguesa; saberes dos africanos; e também portugueses”, descreve a engenheira civil Bruna Muniz, do escritório Bio Ark Terra, especializado em projetos ecológicos.
No passado, as tramas de madeira do pau a pique eram amarradas com cipó, um saber herdado dos indígenas
Bio Ark Terra/Divulgação
Segundo o arquiteto Ricardo Paiva, do escritório homônimo, que trabalha exclusivamente com as técnicas de barro desde 2000, o pau a pique é comumente usado em paredes de fechamento. Ele é composto por uma base feita com tramas de madeiras locais, com estrutura similar a uma gaiola.
“Geralmente, utilizam-se paus roliços de madeiras locais, colocados perpendicularmente entre a estrutura principal da edificação”, explica Bruna.
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O fechamento da trama é feito com paus mais finos, ripas ou varas de taquara e bambu, posicionadas dos dois lados, e fixadas, hoje em dia, com pregos. Antigamente, utilizava-se o cipó para essa fixação, um saber herdado dos indígenas.
Depois da trama feita, os vazios são preenchidos com terra argilosa misturada com areia e silte (partícula de solo composta por fragmentos de rocha e minerais). “Existem proporções adequadas de areia, silte e argila para sua aplicação na taipa de mão: a quantidade de argila não pode ultrapassar os 60%”, diz a engenheira civil.
A terra ainda pode ser misturada a fibras vegetais, como fibras de trigo, pasto seco sem a presença de matéria orgânica ou fibra de sisal, entre outras, a depender do material disponível no local da obra.
No lugar do cipó, as tramas de madeira do pau a pique são presas hoje com pregos
Bio Ark Terra/Divulgação
“Como a terra é um material orgânico, não prejudicial à saúde em contato com a pele, como o cimento, pode-se utilizar as mãos e os pés para preparar a mistura de terra com água, nas devidas proporções para a técnica do pau a pique”, comenta Bruna.
Preenchida com barro, a estrutura precisa de um período de secagem para ganhar forma. “A imagem clássica do pau a pique, com a parede toda trincada, é uma etapa da construção. Como temos que molhar muito o barro para ele ficar pastoso e jogá-lo por cima da trama de madeira, ele precisa secar e, quando seca, contrai e gera trincas”, detalha o arquiteto.
A mistura de barro com água e outros materiais pode ser feita na própria obra, sem necessidade de equipamentos de proteção
Bio Ark Terra/Divulgação
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Durabilidade do pau a pique
Questionados sobre a durabilidade do pau a pique, os especialistas citam algumas construções de barro que seguem em pé. Entre elas, Ricardo destaca as ruínas de Chan Chan, no Peru, a maior cidade de adobe (tijolo de barro) do mundo, localizada próxima a Trujillo, no norte do país, com mais de 3 mil anos. “Às vezes o cliente pergunta: ‘qual a durabilidade disso?’. E eu falo de brincadeira: ‘Uns quatrocentos anos está bom para você?'”, conta Ricardo.
Já Bruna aponta a cidade de Ouro Preto, MG, com um grande acervo de edificações erguidas no período colonial utilizando a técnica do pau a pique. “Ou seja, mais de 300 anos e continua intacto. Portanto, é uma técnica que possui resistência e durabilidade, basta visitar as cidades históricas coloniais para se deparar com isso”, analisa.
Em projetos atuais, a engenheira indica a contratação de mão de obra qualificada, como mestres de construção tradicionais, e também de assessoria técnica de profissionais da engenharia e arquitetura com especialidade no pau a pique, para garantir uma boa durabilidade da edificação.
Feita de pau a pique, a casa na Serra da Mantiqueira, SP, não tem cimento em nenhuma parte da estrutura
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
“A durabilidade vai depender da qualidade dos materiais utilizados na estrutura da trama e no tipo de terra adotado, pois existe uma proporção adequada entre a argila, a areia e o silte para o preparo da mistura com que preenchemos a trama”, avalia.
Outro ponto importante é a proteção contra a umidade constante vinda do solo. “É necessário um bom beiral bom para proteger as paredes, e também tirá-las do chão com alicerces mais altos, usando pedras, por exemplo. Uma chuva lateral não causa tanto problema, mas o empoçamento de água no pé de uma parede de pau a pique pode desmontá-la”, comenta Ricardo.
O pau a pique tem a vantagem de demandar apenas materiais de origem local, como terra e madeira
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
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Ele indica o reboco feito de cal, areia e terra, seguido de uma pintura com cal. “Nunca use látex, para não bloquear essa característica de troca de umidade com o ambiente. O cal é hidrófago [repele água] e fungicida”, diz o arquiteto.
Vantagens do pau a pique
Uma das grandes vantagens das paredes de pau a pique é o conforto térmico. Ao contrário do concreto, essas paredes “respiram”, segundo Ricardo, pois trocam constantemente umidade com o ar.
“O bom isolamento térmico oferece um conforto ambiental muito grande. A casa está sempre com o mesmo grau de umidade na parte interna. No calor, ela fica fresquinha, no frio, quentinha”, explica.
As paredes e o reboco da casa em São Bento de Sapucaí, SP, foram feitas de pau a pique
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
Para manter a respirabilidade, ao selar as trincas do barro após a secagem, evite o uso do concreto. “Eu uso cal, areia e terra para rebocar, nunca cimento”, relata Ricardo.
O pau a pique também proporciona ambientes com excelente conforto acústico. “As pessoas sempre esquecem de mencionar, mas a técnica não causa reverberação ou eco dentro de casa, é fantástico”, diz.
O térreo da casa em São José dos Campos, SP, tem uma parede de 10 m de comprimento de taipa de pilão, estrutural, e o segundo pavimento é basicamente de pau a pique
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
Segundo Bruno, como se trata de uma técnica de vedação, ou seja, ela não faz parte da estrutura de uma edificação, o pau a pique pode ser usado em diversos tipos de construções, desde residências a escolas e hospitais.
“As antigas casas de fazenda aqui do Brasil, por exemplo, costumavam ter a parte de baixo feita de taipa de pilão ou de adobe [técnicas mais estruturais], e o segundo andar sempre de pau a pique, por ser uma técnica mais leve”, relembra Ricardo.
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Vale destacar que o volume e a densidade dos materiais colocados em obra podem representar um sobrecarga considerável e limitar o seu uso em determinados projetos. “Desaconselho também para as vedações de apartamentos em arranha-céus, devido ao peso do material e à complexidade dos canteiros de obras”, frisa.
Apelo sustentável
O pau a pique — assim como outras técnicas tradicionais com o uso de barro — possui um forte apelo sustentável por empregar apenas materiais de origem local, como a própria terra, a madeira e as fibras vegetais.
As paredes de pau a pique ganharam um tom rosado na parte interna da casa em São José dos Campos, SP
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
“Sabe-se que a produção de cimento acarreta grande poluição para o meio ambiente, portanto, voltar às origens dos povos tradicionais e adotar técnicas de construção com terra diminui o uso do cimento e, consequentemente, colabora para a preservação do nosso habitat”, diz a engenheira.
“Além da terra ser um material inofensivo ao meio ambiente, é reutilizável e possui uma grande vantagem com relação ao conforto térmico e acústico. As paredes de taipa de mão respiram, tendo essa facilidade de troca de ar. Isso faz com que haja um equilíbrio de temperatura dentro da edificação, levando a uma economia de energia elétrica”, complementa Bruna.
Em um cenário que demanda por soluções simples, acessíveis e com baixo impacto ambiental, o pau a pique é uma técnica construtiva que merece atenção.
“Usar a taipa de mão significa uso de materiais provindos do terreno ou de um local próximo, portanto, pouquíssimo gasto com combustível. O processamento de materiais através da indústria é baixo ou nulo, então, zero dejetos industriais. Outro ponto importante em contextos sociais como o brasileiro é a valorização da mão de obra, pois o trabalho passa a ser mais artesanal”, analisa o arquiteto.
Em termos de custos, o maior investimento é na mão de obra. “A terra ou você tira do próprio local, ou compra um caminhão inteiro por R$ 300. Madeira também do próprio local ou dali de perto. O que temos visto é que essas construções acabam ficando mais ou menos o mesmo preço de uma construção convencional, mas com a grande vantagem de ser uma construção muito mais saudável”, comenta.
A casa de pau a pique foi erguida no município de Monteiro Lobato, na Serra da Mantiqueira, SP
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
Técnica estigmatizada
O pau a pique ficou bastante estigmatizado pela associação com a Doença de Chagas, causada pelo protozoárioTrypanosoma cruzi, transmitido pelo mosquito barbeiro. Mas os especialistas reforçam que isso não passa de um grande equívoco, perpetuado por décadas.
No passado, muitos não tinham condições de rebocar as suas casas e acabavam deixando as trincas do barro expostas. “E aí vinha o barbeiro [vetor do protozoário] e se instalava ali. Então, o pau a pique ficou muito estigmatizado por conta disso. Sendo associado a ‘coisa de pobre’, a doenças, o que está bem longe da verdade”, argumenta Ricardo.
Olhando da rua, a casa de pau a pique em condomínio em São José dos Campos, SP, parece igual às demais de alvenaria
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
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Nas construções atuais, esse problema é incomum, visto que, depois que a parede é preenchida com terra, ela recebe camadas de reboco grosso e fino para fechar as trincas. Nas áreas externas, ainda são impermeabilizadas para maior resistência à água da chuva. “Com todos esses cuidados, é impossível entrar qualquer tipo de inseto dentro das paredes. Tudo depende de como foi executada a obra”, afirma a engenheira.
“É uma das formas de se construir mais instintivas e presentes em vários contextos geográficos, guardadas suas variações e nomenclaturas territoriais”, afirma o arquiteto Bruno Brizotti, especialista em projetos que utilizam a terra como material de construção.
Por aqui, o pau a pique ganhou contornos únicos, oriundos do saber-fazer dos diversos povos que compõem as origens do país. “A taipa de mão é uma técnica tradicional que mistura saberes dos indígenas que aqui habitavam antes da invasão portuguesa; saberes dos africanos; e também portugueses”, descreve a engenheira civil Bruna Muniz, do escritório Bio Ark Terra, especializado em projetos ecológicos.
No passado, as tramas de madeira do pau a pique eram amarradas com cipó, um saber herdado dos indígenas
Bio Ark Terra/Divulgação
Segundo o arquiteto Ricardo Paiva, do escritório homônimo, que trabalha exclusivamente com as técnicas de barro desde 2000, o pau a pique é comumente usado em paredes de fechamento. Ele é composto por uma base feita com tramas de madeiras locais, com estrutura similar a uma gaiola.
“Geralmente, utilizam-se paus roliços de madeiras locais, colocados perpendicularmente entre a estrutura principal da edificação”, explica Bruna.
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O fechamento da trama é feito com paus mais finos, ripas ou varas de taquara e bambu, posicionadas dos dois lados, e fixadas, hoje em dia, com pregos. Antigamente, utilizava-se o cipó para essa fixação, um saber herdado dos indígenas.
Depois da trama feita, os vazios são preenchidos com terra argilosa misturada com areia e silte (partícula de solo composta por fragmentos de rocha e minerais). “Existem proporções adequadas de areia, silte e argila para sua aplicação na taipa de mão: a quantidade de argila não pode ultrapassar os 60%”, diz a engenheira civil.
A terra ainda pode ser misturada a fibras vegetais, como fibras de trigo, pasto seco sem a presença de matéria orgânica ou fibra de sisal, entre outras, a depender do material disponível no local da obra.
No lugar do cipó, as tramas de madeira do pau a pique são presas hoje com pregos
Bio Ark Terra/Divulgação
“Como a terra é um material orgânico, não prejudicial à saúde em contato com a pele, como o cimento, pode-se utilizar as mãos e os pés para preparar a mistura de terra com água, nas devidas proporções para a técnica do pau a pique”, comenta Bruna.
Preenchida com barro, a estrutura precisa de um período de secagem para ganhar forma. “A imagem clássica do pau a pique, com a parede toda trincada, é uma etapa da construção. Como temos que molhar muito o barro para ele ficar pastoso e jogá-lo por cima da trama de madeira, ele precisa secar e, quando seca, contrai e gera trincas”, detalha o arquiteto.
A mistura de barro com água e outros materiais pode ser feita na própria obra, sem necessidade de equipamentos de proteção
Bio Ark Terra/Divulgação
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Durabilidade do pau a pique
Questionados sobre a durabilidade do pau a pique, os especialistas citam algumas construções de barro que seguem em pé. Entre elas, Ricardo destaca as ruínas de Chan Chan, no Peru, a maior cidade de adobe (tijolo de barro) do mundo, localizada próxima a Trujillo, no norte do país, com mais de 3 mil anos. “Às vezes o cliente pergunta: ‘qual a durabilidade disso?’. E eu falo de brincadeira: ‘Uns quatrocentos anos está bom para você?'”, conta Ricardo.
Já Bruna aponta a cidade de Ouro Preto, MG, com um grande acervo de edificações erguidas no período colonial utilizando a técnica do pau a pique. “Ou seja, mais de 300 anos e continua intacto. Portanto, é uma técnica que possui resistência e durabilidade, basta visitar as cidades históricas coloniais para se deparar com isso”, analisa.
Em projetos atuais, a engenheira indica a contratação de mão de obra qualificada, como mestres de construção tradicionais, e também de assessoria técnica de profissionais da engenharia e arquitetura com especialidade no pau a pique, para garantir uma boa durabilidade da edificação.
Feita de pau a pique, a casa na Serra da Mantiqueira, SP, não tem cimento em nenhuma parte da estrutura
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
“A durabilidade vai depender da qualidade dos materiais utilizados na estrutura da trama e no tipo de terra adotado, pois existe uma proporção adequada entre a argila, a areia e o silte para o preparo da mistura com que preenchemos a trama”, avalia.
Outro ponto importante é a proteção contra a umidade constante vinda do solo. “É necessário um bom beiral bom para proteger as paredes, e também tirá-las do chão com alicerces mais altos, usando pedras, por exemplo. Uma chuva lateral não causa tanto problema, mas o empoçamento de água no pé de uma parede de pau a pique pode desmontá-la”, comenta Ricardo.
O pau a pique tem a vantagem de demandar apenas materiais de origem local, como terra e madeira
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
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Ele indica o reboco feito de cal, areia e terra, seguido de uma pintura com cal. “Nunca use látex, para não bloquear essa característica de troca de umidade com o ambiente. O cal é hidrófago [repele água] e fungicida”, diz o arquiteto.
Vantagens do pau a pique
Uma das grandes vantagens das paredes de pau a pique é o conforto térmico. Ao contrário do concreto, essas paredes “respiram”, segundo Ricardo, pois trocam constantemente umidade com o ar.
“O bom isolamento térmico oferece um conforto ambiental muito grande. A casa está sempre com o mesmo grau de umidade na parte interna. No calor, ela fica fresquinha, no frio, quentinha”, explica.
As paredes e o reboco da casa em São Bento de Sapucaí, SP, foram feitas de pau a pique
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
Para manter a respirabilidade, ao selar as trincas do barro após a secagem, evite o uso do concreto. “Eu uso cal, areia e terra para rebocar, nunca cimento”, relata Ricardo.
O pau a pique também proporciona ambientes com excelente conforto acústico. “As pessoas sempre esquecem de mencionar, mas a técnica não causa reverberação ou eco dentro de casa, é fantástico”, diz.
O térreo da casa em São José dos Campos, SP, tem uma parede de 10 m de comprimento de taipa de pilão, estrutural, e o segundo pavimento é basicamente de pau a pique
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
Segundo Bruno, como se trata de uma técnica de vedação, ou seja, ela não faz parte da estrutura de uma edificação, o pau a pique pode ser usado em diversos tipos de construções, desde residências a escolas e hospitais.
“As antigas casas de fazenda aqui do Brasil, por exemplo, costumavam ter a parte de baixo feita de taipa de pilão ou de adobe [técnicas mais estruturais], e o segundo andar sempre de pau a pique, por ser uma técnica mais leve”, relembra Ricardo.
Leia mais
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Vale destacar que o volume e a densidade dos materiais colocados em obra podem representar um sobrecarga considerável e limitar o seu uso em determinados projetos. “Desaconselho também para as vedações de apartamentos em arranha-céus, devido ao peso do material e à complexidade dos canteiros de obras”, frisa.
Apelo sustentável
O pau a pique — assim como outras técnicas tradicionais com o uso de barro — possui um forte apelo sustentável por empregar apenas materiais de origem local, como a própria terra, a madeira e as fibras vegetais.
As paredes de pau a pique ganharam um tom rosado na parte interna da casa em São José dos Campos, SP
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
“Sabe-se que a produção de cimento acarreta grande poluição para o meio ambiente, portanto, voltar às origens dos povos tradicionais e adotar técnicas de construção com terra diminui o uso do cimento e, consequentemente, colabora para a preservação do nosso habitat”, diz a engenheira.
“Além da terra ser um material inofensivo ao meio ambiente, é reutilizável e possui uma grande vantagem com relação ao conforto térmico e acústico. As paredes de taipa de mão respiram, tendo essa facilidade de troca de ar. Isso faz com que haja um equilíbrio de temperatura dentro da edificação, levando a uma economia de energia elétrica”, complementa Bruna.
Em um cenário que demanda por soluções simples, acessíveis e com baixo impacto ambiental, o pau a pique é uma técnica construtiva que merece atenção.
“Usar a taipa de mão significa uso de materiais provindos do terreno ou de um local próximo, portanto, pouquíssimo gasto com combustível. O processamento de materiais através da indústria é baixo ou nulo, então, zero dejetos industriais. Outro ponto importante em contextos sociais como o brasileiro é a valorização da mão de obra, pois o trabalho passa a ser mais artesanal”, analisa o arquiteto.
Em termos de custos, o maior investimento é na mão de obra. “A terra ou você tira do próprio local, ou compra um caminhão inteiro por R$ 300. Madeira também do próprio local ou dali de perto. O que temos visto é que essas construções acabam ficando mais ou menos o mesmo preço de uma construção convencional, mas com a grande vantagem de ser uma construção muito mais saudável”, comenta.
A casa de pau a pique foi erguida no município de Monteiro Lobato, na Serra da Mantiqueira, SP
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
Técnica estigmatizada
O pau a pique ficou bastante estigmatizado pela associação com a Doença de Chagas, causada pelo protozoárioTrypanosoma cruzi, transmitido pelo mosquito barbeiro. Mas os especialistas reforçam que isso não passa de um grande equívoco, perpetuado por décadas.
No passado, muitos não tinham condições de rebocar as suas casas e acabavam deixando as trincas do barro expostas. “E aí vinha o barbeiro [vetor do protozoário] e se instalava ali. Então, o pau a pique ficou muito estigmatizado por conta disso. Sendo associado a ‘coisa de pobre’, a doenças, o que está bem longe da verdade”, argumenta Ricardo.
Olhando da rua, a casa de pau a pique em condomínio em São José dos Campos, SP, parece igual às demais de alvenaria
Ricardo Paiva Arquitetura/Divulgação
Leia mais
Adicionar Link
Nas construções atuais, esse problema é incomum, visto que, depois que a parede é preenchida com terra, ela recebe camadas de reboco grosso e fino para fechar as trincas. Nas áreas externas, ainda são impermeabilizadas para maior resistência à água da chuva. “Com todos esses cuidados, é impossível entrar qualquer tipo de inseto dentro das paredes. Tudo depende de como foi executada a obra”, afirma a engenheira.


