Castelinho de Perus: casa antiga em São Paulo parece obra de Antoni Gaudí

No bairro Perus, na zona noroeste de São Paulo, SP, uma construção que data da primeira metade do século 20 chama a atenção de quem passa pela rua Fiorelli Peciccacco. Apelidado informalmente de “Castelinho de Perus”, na verdade, trata-se de uma casa comum, até hoje habitada por membros da mesma família.
João Rufino Fernandes Moreno e alguns dos mosaicos que ele construiu no Castelinho de Perus
Andrews Nunes/Arquivo Pessoal
Ainda pouco conhecida pelos entusiastas de arquitetura, a residência — uma das casas mais antigas do bairro — foi construída pelo espanhol João Rufino Fernandes Moreno. Natural da cidade de Pozoblanco, na província de Córdoba, ele e a família vieram ao Brasil fugindo da Guerra Civil Espanhola, que durou de 1936 a 1939.
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Estabelecido na capital paulista, o imigrante deu início à sua obra de arte em forma de casa. A fachada repleta de mosaicos de cacos de azulejo, que ele mesmo coletava e moldava, deu origem a uma construção única, que perdura no tempo graças a seus descendentes, comprometidos a manter a memória do local viva e preservar a sua arquitetura original.
O Castelinho de Perus, na capital paulista, é uma obra de arte única em formato de casa
Andrews Nunes/Arquivo Pessoal
Quem conta essa história é o seu bisneto, Andrews Nunes. “Meu bisavô adorava esse local. Ele sempre sentava na frente da casa e construía seus próprios azulejos. A residência tem azulejos de vários locais de Perus. Ele passava nos vizinhos e coletava os pedaços de cerâmicas para construir os murais. Passou a vida toda erguendo o local. Ele fazia diversos desenhos com as peças e também construiu os vasos presentes na casa”, relembra.
Os mosaicos coloridos de azulejos do Castelinho de Perus trazem os mais variados desenhos
Andrews Nunes/Arquivo Pessoal
A família de João Rufino Fernandes Moreno preservou os murais feitos pelo patriarca no século 20
Andrews Nunes/Arquivo Pessoal
João Rufino trabalhava na fábrica da Companhia Brasileira de Cimento Portland, localizada em Perus. “Ele era químico e testava o cimento. Também era músico, tocava saxofone e era chefe das Ordens dos Músicos de São Paulo”, fala.
O apelido “castelinho” justifica-se pelo formato incomum da construção, com partes que lembram um palácio, como os vasos e as torres no alto da edificação. O terreno em declive, com diversos terraços e passagens escalonadas, contribui para a aparência imponente da casa, que, para muitos, remete às obras do icônico arquiteto catalão Antoni Gaudí.
O Castelinho de Perus se destaca na paisagem do bairro Perus, na zona noroeste da capital paulista
Flickr/Gabriel Fernandes/Creative Commons
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“A casa foi projetada totalmente pelo meu bisavô. Ele idealizou tudo. Há quem diga que ele se inspirou no Gaudí, mas minha família diz que ele não teve contato com esse artista espanhol”, explica Andrews.
Apesar da fachada incomum, internamente, o castelinho é uma residência normal, com um único andar residencial e sem os famosos mosaicos de caquinhos. “A casa hoje é dividida em duas partes. Em uma vive a minha avó e, na outra, a minha tia-avó. A construção é assim somente por fora, onde se destacam os vasos em formato cônico e os próprios azulejos”, detalha.
João Rufino Fernandes Moreno passava nas casas dos vizinhos e coletava os pedaços de cerâmicas para construir seus murais
Andrews Nunes/Arquivo Pessoal
Os descendentes de João Rufino Fernandes Moreno ainda vivem na casa e mantêm a sua arquitetura original
Andrews Nunes/Arquivo Pessoal
Além da importância histórica no bairro da periferia da capital paulista, Andrews aponta a memória afetiva que cerca o local. “O castelinho tem grande importância no que se diz respeito à parte artística do meu bisavô. O problema é que muitos acabam pichando a casa. Mas, sempre que podemos, fazemos manutenções e tentamos manter a casa em ordem”, indica o jovem.
Hoje, o local é considerado um ponto turístico do Perus. As visitas não são permitidas, pois trata-se de uma propriedade particular. “Mas, por fora, as pessoas sempre passam, olham ou tiram fotos”, relata o bisneto. E também há os curiosos. “Alguns acham que na casa morava um rei ou uma princesa. Outros acreditam que ela é assombrada”, complementa.
O espanhol João Rufino Fernandes Moreno sentava em frente à casa e construía os seus próprios mosaicos
Andrews Nunes/Arquivo Pessoal
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Andrews conta que, por enquanto, não há interesse em entrar com um processo de tombamento do Castelinho de Perus pelo Patrimônio Histórico. “Na casa ainda vivem familiares e pessoas que dependem do local. Por isso, não foi tombado e não temos planos de fazer isso por hora. O trabalho do meu bisavô é muito respeitado e cuidamos da casa”, destaca.

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