O projeto, que combina a sabedoria ancestral da agricultura com a tecnologia de robôs e impressoras 3D, começou há 3 anos, durante doutorado de Ofer Asaf, junto aos professores Aaron Sprecher, Arnon Bentur e Tamir Klein. “Ficamos fascinados com como comunidades antigas em ambientes áridos construíam estruturas com materiais locais que modificavam o microclima ao redor de uma árvore, possibilitando o cultivo de pomares sob condições difíceis” afirma Ofer.
Inspirados nessas estruturas históricas, feitas com terra, rochas e técnicas vernaculares, que não exigiam maquinaria ou recursos intensivos, os pesquisadores recriaram a lógica climática com tecnologia avançada.
As peças, chamadas de TreeSoil, envolvem as mudas e funcionam como cápsulas protetoras, regulando temperatura, luz e evaporação
Edo Asoulin/Divulgação
“Com simulação, design computacional e fabricação robótica, agora podemos criar formas que respondam às condições climáticas locais e às necessidades de uma planta jovem, preservando ainda os valores de localidade, a simplicidade dos materiais e a integração da paisagem” diz o pesquisador.
As peças, chamadas de TreeSoil, envolvem as mudas e funcionam como cápsulas protetoras, regulando a temperatura, a luz e a evaporação. O formato, totalmente parametrizável, permite adaptar a geometria às necessidades de cada ecossistema. Além da performance física, a composição também desempenha um papel central. A estrutura é feita de solo local com aditivos naturais e gradualmente retorna ao solo.
Sobrevivência de diferentes espécies
Projeto une sabedoria ancestral da agricultura à tecnologia da impressora 3D
Edo Asoulin/Divulgação
O projeto TreeSoil atua sobre três fatores críticos para a sobrevivência de árvores jovens: a umidade, a temperatura e a circulação de ar.
“A geometria influencia o sombreamento, a ventilação e as perdas por evaporação. Nossas medições indicam que o ambiente interno é mais estável do que as condições expostas, o que muitas vezes é benéfico para plantas jovens. Agora estamos estudando como esses efeitos microclimáticos podem se traduzir em benefícios fisiológicos”, afirma o pesquisador.
Ainda não há dados consolidados sobre as taxas de sobrevivência, mas isso já está previsto na próxima etapa do estudo. Os próximos passos focam em avançar para testes de campo de longo prazo com mudas, a fim de avaliar o desempenho em diferentes estações e condições ambientais”, explica Ofer.
A equipe de pesquisadores trabalha para criar um sistema flexível, que permite ajustes de dimensões e aberturas, respeitando as particularidades de cada espécie e clima.
Brasil e a inovação para preservar plantas jovens
Por enquanto, não há nenhuma iniciativa semelhante no Brasil. Segundo o cientista e especialista na área de mudanças climáticas e seus impactos na agricultura, Eduardo Delgado Assad, o país se concentra em outras estratégias de proteção de mudas no campo, como a nucleação e o controle de espécies competidoras.
Projeto cria um microambiente mais estável e úmido para mudas, ampliando suas chances de sobreviver em áreas de solo degradado e sob ondas de calor
Edo Asoulin/Divulgação
Eduardo reconhece que estruturas protetoras podem auxiliar na fase inicial das mudas, reduzindo danos causados pelo sol, pelo vento e até por predadores naturais. Ainda assim, ele pondera que esse tipo de tecnologia não atenderia, por enquanto, à escala necessária para restaurar os principais biomas brasileiros.
Apesar das limitações, o especialista acredita que a ideia pode ter potencial em cenários específicos, especialmente em regiões áridas ou semiáridas. “As tecnologias israelenses costumam ser promissoras na região semi-árida, e podem contribuir para o reflorestamento. Para entender o impacto seria necessário estimar o custo de produção e a transferência de tecnologia”, explica.
Enquanto isso, outras tecnologias ampliam a eficiência da restauração florestal, com o uso de inteligência artificial (IA) e drones para monitoramento, simulação e até dispersão de sementes em larga escala.



