Esse icônico prédio soviético já foi considerado o ‘edifício mais feio do mundo’

Em muitas cidades do Leste Europeu, a arquitetura soviética ainda se impõe na paisagem com formas monumentais e soluções técnicas ousadas. Em Chisinau, a capital da Moldávia, a torre Romanita é um desses monumentos remanescentes: um cilindro de concreto que resistiu ao tempo, às mudanças políticas e à falta de manutenção.
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Erguida entre 1978 e 1986, a torre residencial é um dos projetos mais emblemáticos da arquitetura soviética tardia na Moldávia. Concebido pelo arquiteto Oleg Vronski, o edifício foi pensado para atender à crescente demanda habitacional da cidade durante aquela década.
A torre Romanita marca o horizonte de Chisinau como um dos edifícios mais característicos do período socialista na Moldávia
Kramar/SOS Burtalism/Creative Commons
Com cerca de 77 metros de altura, dois subsolos técnicos e 22 pavimentos, o imóvel chegou a ser o mais alto de Chisinau e representou um avanço estrutural para a época. As 16 lajes residenciais foram construídas em cantilever, sistema em que a estrutura se projeta para fora sem apoios inferiores, sustentada apenas pelo núcleo central, uma solução rara nos anos 1970 e responsável pelo perfil esguio do prédio.
Em 2019, a construção foi nomeada por jornalistas franceses como “o prédio mais feio do mundo” em um documentário produzido pelo canal Arte TV.
Detalhe do Romanita com seus diferentes fechamentos de varanda, resultado de adaptações não reguladas feitas pelos moradores ao longo dos anos
Kramar/SOS Burtalism/Creative Commons
O projeto seguia as normas do planejamento soviético, que estabeleciam 6 m² por pessoa, levando à criação de unidades compactas e padronizadas. Cada célula habitacional previa dois pequenos quartos para duas pessoas, além de hall e banheiro. As cozinhas e áreas sociais eram compartilhadas em cada pavimento, organizadas em um corredor circular banhado por iluminação natural.
Trecho das áreas técnicas da Romanita, mostrando o envelhecimento dos materiais e o estado atual da construção na Moldávia
Kramar/SOS Burtalism/Creative Commons
Nos anos 1990, depois da dissolução da União Soviética (URSS), as unidades foram privatizadas. A estrutura superior da torre chegou a ser estudada para abrigar um café panorâmico em dois níveis, mas o projeto não avançou. Parte dos andares de base e alguns pavimentos técnicos permanecem sob administração municipal, mas muitos antigos espaços comerciais foram vandalizados ou estão abandonados.
A estrutura do Romanita, fotografada de baixo para cima, evidencia o desenho ondulado das lajes e as intervenções individuais nos apartamentos
Kramar/SOS Burtalism/Creative Commons
Originalmente, o Romanita faria parte de um conjunto maior, que incluiria refeitório e ginásio, além de áreas externas de circulação. As construções adjacentes nunca saíram do papel, e a torre funciona hoje isolada, sem a infraestrutura prevista.
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Apesar de estruturalmente estável, o prédio apresenta degradação acentuada. As dimensões reduzidas das unidades levaram muitos moradores a ampliar irregularmente seus apartamentos, anexando varandas improvisadas de tijolo, cimento ou madeira. Essas intervenções alteraram a fachada e comprometeram a segurança da construção, visto que acrescentam cargas não previstas.
A parte inferior do Romanita reúne antigos espaços de uso comum e áreas hoje desativadas, marcadas pelo desgaste do tempo
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A deterioração da fachada mostra a condição atual do edifício, cuja tipologia já não atende aos padrões contemporâneos. O prédio permanece como um marco visual de Chisinau e, embora continue cumprindo função residencial, evidencia os desafios de adaptar construções soviéticas à vida urbana atual.

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