Óleo de abacate: os benefícios do consumo e as suas propriedades

De benefícios cardiovasculares a cognitivos, o produto é extraído da polpa do fruto e é uma opção mais saudável se comparado aos demais óleos vegetais disponíveis O óleo de abacate é um produto natural com inúmeros benefícios à saúde e aos cuidados pessoais. Um dos sub-produtos do fruto é considerado um alimento funcional pela sua composição rica em gorduras monoinsaturadas, antioxidantes naturais e fitoquímicos bioativos.
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O óleo de abacate também pode ser chamado azeite. “A palavra óleo deriva de oliva, do latim, enquanto azeite e azeitona vêm da língua árabe. Em português, os dois são sinônimos para designar a gordura vegetal”, explica Carlos Alberto Pinto Gonçalves, engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).
Mais recentemente, as gorduras provenientes da semente, como soja, milho e palmiste, têm sido nomeadas como óleos e azeites para falar sobre a gordura proveniente da polpa, como oliva, dendê e abacate.
Extraído da polpa, o óleo de abacate pode ser encontrado em versões variadas: virgem — mais pura e nutritiva — ou refinada — mais neutra em sabor e indicada para altas temperaturas.
O óleo de abacate pode ser encontrado em versões variadas, virgem ou refinada. O consumo cru sem cozimento preserva melhor os aspectos nutricionais
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O produto pode ser encontrado em lojas de produtos naturais, alguns mercados e empórios. “O óleo é ainda pouco conhecido pela população, principalmente pelo seu preço elevado, mas, futuramente, pode ser uma alternativa, visto que o Brasil tem uma produção importante desse alimento”, indica Renata Sancho, engenheira de alimentos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e docente na Faculdade de Nutrição na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP).
Composição do óleo de abacate
Composto, majoritariamente, por gorduras monoinsaturadas, o óleo de abacate também tem uma parcela de lipídios do tipo poli-insaturados. “As monoinsaturadas, especialmente, o ácido oleico (ômega-9), representa cerca de 60% a 70% do total de gorduras, já as poli-insaturadas cerca de 10% a 12%”, explica Bruna Brito, nutricionista formada pela USP com pós-graduação em Fitoterapia.
Outras gorduras, chamadas cientificamente de lipídeos, como o ômega-6, pequenas quantidades de ômega-3 e gorduras saturadas, como o ácido palmítico, também estão presentes.
Esse sub-produto do abacate também conta com fitoquímicos de ação antioxidante e anti-inflamatória. Os fitoquímicos são substâncias bioativas, isto é, componentes químicos produzidos pelas plantas que têm efeitos benéficos na saúde humana e podem ser usados em produtos agrícolas e medicinais. O beta-sitosterol, os tocoferóis (vitamina E), o esqualeno e as avocatinas, como a avocatina B, são alguns dos nomes desses fitoquímicos encontrados nesse tipo de óleo.
O óleo de abacate oferece uma variedade de gorduras que tem uma boa absorção pelo organismo, assim como variados fitoquímicos aliados na manutenção do bem-estar humano
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Quais os benefícios do óleo de abacate?
Por conta da ampla e diversificada presença desses nutrientes, o óleo de abacate contribui para diferentes aspectos da saúde do corpo humano. Um desses é a cardiovascular. “Por ser rico em ácido oleico, o ômega 9, esse óleo ajuda a reduzir o colesterol LDL (ruim) e a aumentar o HDL (bom), contribuindo para a proteção contra doenças cardiovasculares”, comenta Bruna. Seus fitosteróis, como o beta-sitosterol, competem com o colesterol no intestino e reduzem sua absorção.
Esse alimento ainda colabora com a saúde cerebral e cognitiva. “A presença de gorduras boas e de vitamina E ajuda a proteger as células nervosas contra o estresse oxidativo, beneficiando a memória, o foco e a prevenção de declínio cognitivo”, afirma Renata.
Os benefícios do uso do óleo de abacate podem ser aproveitados devido a sua versatilidade e o seu sabor mais doce
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Outro benefício do óleo de abacate é a sua ação anti-inflamatória e antioxidante. “Os tocoferóis, carotenoides, esqualeno e polifenóis combatem os radicais livres e reduzem processos inflamatórios crônicos associados a doenças metabólicas e autoimunes”, explica Bruna.
A saúde ocular, da pele, dos cabelos e a própria absorção de nutrientes diversos também são proporcionadas com o consumo desse alimento. Os carotenoides têm ação protetora da retina e atuam na prevenção de doenças, como a degeneração macular relacionada a idade. Já a vitamina E associada ao esqualeno e aos ácidos graxos contribuem para hidratação, elasticidade e proteção da pele, além de estimular a nutrição capilar e da pele seca ou sensível.
Diferenciais para outros tipos de óleos
O óleo de abacate comparado a outros óleos, como canola, soja, girassol e milho, apresenta, em média, a mesma quantidade de gorduras e calorias. “O diferencial está no alto ponto de ebulição e estabilidade, possibilitando que o produto feito do abacate possa ser usado em altas temperaturas”, destaca Renata.
Outra diferença é a concentração gorduras poli-insaturadas, que, em excesso, pode favorecer inflamações. “O óleo de abacate é rico em gorduras monoinsaturadas, mais estáveis e anti-inflamatórias”, complementa Bruna.
O azeite de abacate oferece vantagens por ser mais estável e capaz de ser submetido a altas temperaturas
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As propriedades benéficas são semelhantes às do azeite de oliva para a saúde a cardiovascular e pode ser uma melhor escolha quando comparado a outros óleos vegetais. “O teor de fitosteróis do abacate, por exemplo, é maior do que o do azeite de oliva e de outras origens vegetais”, explica a engenheira de alimentos. Essa diferença impacta, inclusive, nas possibilidades de armazenamento. “O azeite é mais sensível ao calor e à luz, enquanto o óleo de abacate é mais estável ao armazenamento”, afirma Bruna.
Outros óleos muito comuns no mercado também são o óleo de coco, de linhaça ou chia. O produto feito do coco é rico em gorduras saturadas, que têm perfil metabólico diferente e mais discutido em saúde cardiovascular, com menos consensos. O produto de linhaça e chia tem a desvantagem de ter uma matéria-prima mais instável ao calor e usados crus.
Extração e produção do óleo de abacate
O azeite ou óleo de abacate pode ser extraído por mecanismos de prensagem, centrifugação e com o uso de diferença de temperatura. O método de extração, geralmente, consiste em separar a polpa do abacate dos outros componentes, como a semente e a casca, seguido de um processo de prensagem a frio.
“Esse método mantém intactas as propriedades nutricionais ricas do óleo, para que você possa aproveitar ao máximo os seus benefícios”, indica Vanderli Marchiri, nutricionista e pesquisadora. Outro método é usar o calor, porém existe o risco de comprometer parte das propriedades nutricionais do azeite.
O processo de extração do óleo de abacate ainda é muito custoso e aumenta o preço do produto final
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O engenheiro Carlos Alberto é também produtor de azeite de abacate em uma empresa e pequena indústria familiar há 20 anos, chamada Flor do Abacate, que nasceu justamente da vontade e necessidade de reaproveitar os outros sub-produtos possíveis do fruto. O produtor conta que a empresa desenvolveu uma tecnologia própria para realizar essa extração – uma alternativa às opções mais custosas.
“Fazemos a despolpa e depois uma mistura de polpa com água. Essa mistura bate por algum tempo em tanques como forma de separar a gordura e, em seguida, o produto segue para uma centrífuga que separa por peso e permite a decantação”, explica Carlos.
Desse processo, o azeite é filtrado e engarrafado, totalmente natural, sem nenhum aditivo. Para o público, é comercializado em garrafas de 250 ml e, para restaurantes, indústria farmacêutica ou cosmética, comercializamos em galões.
Um dos desafios do azeite de abacate é a produção em escala industrial. “O abacate é um fruto muito perecível, climatérico, que estraga muito fácil. Isso também acontece no processamento industrial e influencia nos parâmetros de qualidade do azeite extraído, afetando acidez e índice de peróxido”, indica Carlos.
Outro aspecto é a quantidade variável de azeite que pode ser extraído da polpa. “A quantidade de óleo na polpa do abacate varia muito com o estágio fenológico do fruto. Geralmente, o abacate Hass chega a ter 25% de óleo na polpa quando colhido no ponto certo. Já quando colhido imaturo, o percentual reduz para de 5 a 10%”, afirma o engenheiro.
Como consumir o óleo do abacate
O azeite de abacate pode ser usado em diferentes receitas, tanto doces quanto salgadas
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O óleo do abacate tem uma aplicação diversificada na culinária. Esse azeite pode ser usado para refogar legumes, grelhar vegetais, finalizar sopas, temperar saladas, preparar molhos, maioneses caseiras e até em smoothies. Embora o óleo de abacate seja estável em altas temperaturas, o consumo cru é ainda mais benéfico quando o objetivo é aproveitar, ao máximo, seus compostos bioativos.
“O seu sabor suave combina bem com pratos salgados e doces, como bolos e panquecas funcionais”, indica Bruna. “Em uma aula de fitogastronomia, faço, junto aos alunos, um azeite de baunilha ou com canela que funciona como cobertura de bolos simples como pão-de-ló”, exemplifica Vanderli.
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Cuidado com o excesso!
O óleo de abacate é, geralmente, seguro para o consumo da maioria das pessoas, mas há algumas contraindicações e alguns cuidados que precisam ser considerados. O primeiro deles é com a quantidade. “Por ser um alimento altamente calórico, o produto deve ser consumido com moderação”, orienta Renata.
Casos mais específicos de indivíduos alérgicos ao fruto devem também evitar o consumo do azeite para prevenir reações alérgicas. Além disso, existe a possibilidade de interação com medicamentos anticoagulantes. “Por conter vitamina E, o óleo pode potencializar o efeito de anticoagulantes, aumentando o risco de sangramentos”, afirma Bruna.
Em casos raros, o consumo demasiado pode causar desconforto gastrointestinal, como náuseas ou diarreia.

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