A estrutura e como os espaços de refeição públicos e domésticos são projetados podem impactar a qualidade da alimentação Uma alimentação saudável vai além dos alimentos colocados no prato. O ambiente em que as refeições interferem na qualidade da alimentação, e um espaço com escolhas arquitetônicas bem pensadas pode transformar a relação do indivíduo com a comida.
“A arquitetura é capaz de transformar a refeição em um momento mais consciente, afetivo e prazeroso, e isso se dá através de escolhas sutis, mas intencionais”, afirma Carolina Danylczuk, arquiteta do escritório UNIC Arquitetura.
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Ainda que, tradicionalmente, a arquitetura e a nutrição sejam áreas que atuam de formas separadas, há intersecções importantes entre os dois campos. “Pensar em espaços que favoreçam a alimentação saudável é fundamental para a promoção da saúde integral”, destaca Saulo Gonçalves, nutricionista clínico.
A falta de um ambiente adequado destinado ao preparo e consumo das refeições pode prejudicar a alimentação. “Sem um local para cozinhar adequado, o indivíduo tem, por exemplo, uma maior possibilidade de optar por alimentos prontos ou fast foods”, afirma Alisson Machado, professor na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
As cores, o som e os materiais podem trazer conforto
A disposição dos móveis, a iluminação, a ventilação e até as cores presentes no espaço em que se realiza as refeições podem moldar o comportamento alimentar. É importante considerar tanto o ambiente dedicado ao preparo dessas comidas, quanto os de consumo.
O espaço de preparo das refeições também deve ser considerado quando se busca uma alimentação saudável
Pexels/August de Richelieu/Creative Commons
Os tons têm um papel emocional e fisiológico. “Cores como amarelo e vermelho estimulam o apetite, embora não tenha relação com a qualidade, necessariamente”, indica Alisson.
Porém, isso não significa que a decoração e arquitetura desses ambientes precisam seguir regras extremamente fixas. É possível combinar a estética com a funcionalidade desse espaço sem comprometer a qualidade das refeições.
“Em restaurantes mais urbanos, por exemplo, podemos usar contrastes e cores profundas para reforçar a personalidade. Já em uma sala de refeições residencial, a prioridade costuma ser o bem-estar, o que pede leveza e tons que favoreçam a permanência sem cansaço visual”, salienta Carolina.
Outro aspecto importante é a presença de ruídos. Ambientes barulhentos podem gerar estresse e impactar negativamente a digestão e o prazer alimentar, portanto, a acústica deve favorecer o silêncio ou sons suaves nesses espaços.
Quanto a disposição, é interessante que os alimentos estejam visíveis. “Deixar frutas visíveis, em fruteiras, ou leguminosas organizadas em potes transparentes, estimula o consumo desses alimentos. O contrário ocorre com guloseimas escondidas, que podem favorecer um consumo de forma impulsiva”, comenta Saulo.
A iluminação é essencial
A iluminação é sempre um ponto-chave. Esse elemento define o clima do espaço e, nos ambientes de alimentação, isso é ainda mais evidente. “Opte pela luz natural sempre que possível e, quando não, uma iluminação quente e bem distribuída, que valorize a comida, os rostos e o tempo de permanência”, orienta Lisa.
Enquanto a iluminação da cozinha deve ser mais potente, a da copa pode priorizar o conforto e aconchego e se beneficiar de luzes amarelas ou pendentes, por exemplo
Unsplash/Beazy/CreativeCommons
O cuidado com a luz no ambiente vale não só para as residências, mas também para projetos e espaços comerciais. “Em cafés e restaurantes, a iluminação se torna parte da identidade do lugar. Ela comunica o que se espera daquele espaço, se é rápido, contemplativo, afetuoso ou funcional”, complementa Carolina.
Arquitetura doméstica e a cultura alimentar
Nos ambientes domésticos, o modo como o espaço da cozinha e das salas de jantar, por exemplo, são organizadas, também interfere nas práticas alimentares. “Cozinhas integradas, abertas para a sala, estimulam a socialização e o preparo coletivo das refeições, fortalecendo vínculos familiares e comunitários”, indica Saulo.
O conforto e bem-estar devem guiar a organização desses ambientes. “É necessário garantir um local confortável para que os alimentos possam ser deglutidos de maneira adequada. Para as crianças pequenas, ter uma cadeira adequada em altura também é indispensável”, salienta Alisson.
A própria ausência de uma mesa de refeições pode interferir na forma como os moradores se relacionam com a alimentação. Uma pesquisa divulgada pela American Heart Association (AHA) indica que realizar refeições coletivas é uma ferramenta que ajuda a gerenciar o estresse, com benefícios diversos à saúde.
Fazer refeições em conjuntos apresenta benefícios comprovados à saúde e ao bem-estar dos moradores
Freepik/Creative Commons
Outro aspecto cada vez mais latente, que tem interferido nesse momento das refeições, é a exposição às telas. “Seja de smartphones, seja de televisão, a distração causada pelos aparelhos faz com que as pessoas percam a atenção ao alimento, o que pode interferir na quantidade e na velocidade da ingestão”, comenta Saulo.
A presença de telas também pode afetar a comensalidade, isto é, o ato de comer com demais pessoas, já que essa ação social fica em segundo plano. Por isso, é essencial que os ambientes de refeição, pelo menos, em casa, evitem incluir esses dispositivos.
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Democratizar o acesso ao conforto e à permanência
A arquitetura dos espaços da casa e da cidade são importantes quando se pensa em alimentação saudável. Na foto, a Horta da Cidade, na capital paulista, já produziu mais de 1 tonelada de alimentos
Marcelo Pereira/SECOM/Divulgação
A influência do espaço não se limita ao ambiente doméstico. O urbanismo também têm uma atuação crucial na promoção da alimentação saudável. A presença de feiras livres e hortas urbanas, praças e parques com áreas de piquenique ou cozinhas comunitárias, por exemplo, podem facilitar o acesso à alimentação saudável e aos espaços de socialização e educação alimentar para a população.
“A arquitetura tem um papel social e pensar em espaços de alimentação mais saudáveis também passa por democratizar o acesso ao conforto e à permanência”, finaliza a arquiteta Carolina.
“A arquitetura é capaz de transformar a refeição em um momento mais consciente, afetivo e prazeroso, e isso se dá através de escolhas sutis, mas intencionais”, afirma Carolina Danylczuk, arquiteta do escritório UNIC Arquitetura.
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Ainda que, tradicionalmente, a arquitetura e a nutrição sejam áreas que atuam de formas separadas, há intersecções importantes entre os dois campos. “Pensar em espaços que favoreçam a alimentação saudável é fundamental para a promoção da saúde integral”, destaca Saulo Gonçalves, nutricionista clínico.
A falta de um ambiente adequado destinado ao preparo e consumo das refeições pode prejudicar a alimentação. “Sem um local para cozinhar adequado, o indivíduo tem, por exemplo, uma maior possibilidade de optar por alimentos prontos ou fast foods”, afirma Alisson Machado, professor na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
As cores, o som e os materiais podem trazer conforto
A disposição dos móveis, a iluminação, a ventilação e até as cores presentes no espaço em que se realiza as refeições podem moldar o comportamento alimentar. É importante considerar tanto o ambiente dedicado ao preparo dessas comidas, quanto os de consumo.
O espaço de preparo das refeições também deve ser considerado quando se busca uma alimentação saudável
Pexels/August de Richelieu/Creative Commons
Os tons têm um papel emocional e fisiológico. “Cores como amarelo e vermelho estimulam o apetite, embora não tenha relação com a qualidade, necessariamente”, indica Alisson.
Porém, isso não significa que a decoração e arquitetura desses ambientes precisam seguir regras extremamente fixas. É possível combinar a estética com a funcionalidade desse espaço sem comprometer a qualidade das refeições.
“Em restaurantes mais urbanos, por exemplo, podemos usar contrastes e cores profundas para reforçar a personalidade. Já em uma sala de refeições residencial, a prioridade costuma ser o bem-estar, o que pede leveza e tons que favoreçam a permanência sem cansaço visual”, salienta Carolina.
Outro aspecto importante é a presença de ruídos. Ambientes barulhentos podem gerar estresse e impactar negativamente a digestão e o prazer alimentar, portanto, a acústica deve favorecer o silêncio ou sons suaves nesses espaços.
Quanto a disposição, é interessante que os alimentos estejam visíveis. “Deixar frutas visíveis, em fruteiras, ou leguminosas organizadas em potes transparentes, estimula o consumo desses alimentos. O contrário ocorre com guloseimas escondidas, que podem favorecer um consumo de forma impulsiva”, comenta Saulo.
A iluminação é essencial
A iluminação é sempre um ponto-chave. Esse elemento define o clima do espaço e, nos ambientes de alimentação, isso é ainda mais evidente. “Opte pela luz natural sempre que possível e, quando não, uma iluminação quente e bem distribuída, que valorize a comida, os rostos e o tempo de permanência”, orienta Lisa.
Enquanto a iluminação da cozinha deve ser mais potente, a da copa pode priorizar o conforto e aconchego e se beneficiar de luzes amarelas ou pendentes, por exemplo
Unsplash/Beazy/CreativeCommons
O cuidado com a luz no ambiente vale não só para as residências, mas também para projetos e espaços comerciais. “Em cafés e restaurantes, a iluminação se torna parte da identidade do lugar. Ela comunica o que se espera daquele espaço, se é rápido, contemplativo, afetuoso ou funcional”, complementa Carolina.
Arquitetura doméstica e a cultura alimentar
Nos ambientes domésticos, o modo como o espaço da cozinha e das salas de jantar, por exemplo, são organizadas, também interfere nas práticas alimentares. “Cozinhas integradas, abertas para a sala, estimulam a socialização e o preparo coletivo das refeições, fortalecendo vínculos familiares e comunitários”, indica Saulo.
O conforto e bem-estar devem guiar a organização desses ambientes. “É necessário garantir um local confortável para que os alimentos possam ser deglutidos de maneira adequada. Para as crianças pequenas, ter uma cadeira adequada em altura também é indispensável”, salienta Alisson.
A própria ausência de uma mesa de refeições pode interferir na forma como os moradores se relacionam com a alimentação. Uma pesquisa divulgada pela American Heart Association (AHA) indica que realizar refeições coletivas é uma ferramenta que ajuda a gerenciar o estresse, com benefícios diversos à saúde.
Fazer refeições em conjuntos apresenta benefícios comprovados à saúde e ao bem-estar dos moradores
Freepik/Creative Commons
Outro aspecto cada vez mais latente, que tem interferido nesse momento das refeições, é a exposição às telas. “Seja de smartphones, seja de televisão, a distração causada pelos aparelhos faz com que as pessoas percam a atenção ao alimento, o que pode interferir na quantidade e na velocidade da ingestão”, comenta Saulo.
A presença de telas também pode afetar a comensalidade, isto é, o ato de comer com demais pessoas, já que essa ação social fica em segundo plano. Por isso, é essencial que os ambientes de refeição, pelo menos, em casa, evitem incluir esses dispositivos.
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Democratizar o acesso ao conforto e à permanência
A arquitetura dos espaços da casa e da cidade são importantes quando se pensa em alimentação saudável. Na foto, a Horta da Cidade, na capital paulista, já produziu mais de 1 tonelada de alimentos
Marcelo Pereira/SECOM/Divulgação
A influência do espaço não se limita ao ambiente doméstico. O urbanismo também têm uma atuação crucial na promoção da alimentação saudável. A presença de feiras livres e hortas urbanas, praças e parques com áreas de piquenique ou cozinhas comunitárias, por exemplo, podem facilitar o acesso à alimentação saudável e aos espaços de socialização e educação alimentar para a população.
“A arquitetura tem um papel social e pensar em espaços de alimentação mais saudáveis também passa por democratizar o acesso ao conforto e à permanência”, finaliza a arquiteta Carolina.