Projetada em 1969 por Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco Júnior, a residência é uma joia rara da arquitetura moderna paulista — e segue desafiando o tempo com estrutura, leveza e rigor No alto do Jardim Guedala, em São Paulo, a Residência João Marino guarda um silêncio que não é o da inércia, mas o de uma presença arquitetônica consciente do tempo que carrega. Projetada em 1969 por Sylvio Sawaya e Edmilson Tinoco Júnior, a casa é um raro exemplar que permanece íntegro da produção brutalista paulista, inscrita com precisão no momento em que a arquitetura moderna no Brasil atingia sua maturidade formal e construtiva.
A casa ocupa o lote com notável sobriedade. Estruturalmente resolvida com apenas seis apoios, repousa parcialmente suspensa, criando um gesto de leveza que se acentua no volume da sala de estar, flutuando sobre a piscina. Essa suspensão não é efeito, mas consequência direta do partido adotado — uma solução engenhosa que organiza os espaços de forma coesa e funcional, enquanto produz uma espacialidade generosa e inesperada.
O concreto aparente da estrutura contrasta com os delicados caixilhos verticais dispostos entre pilares. As vedações, em blocos de concreto também deixados à mostra, reforçam a vocação brutalista da obra, que não busca ornamento, mas expressividade na crueza dos materiais. Essa escolha revela a filiação da residência à linhagem da chamada Escola Paulista, movimento forjada no concreto bruto e no pensamento crítico que projetou São Paulo no mapa arquitetônico global ao unir precisão estrutural e diálogo profundo com o território.
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A planta, com cerca de 600 metros quadrados, é clara e bem distribuída. Dois dormitórios principais, escritório, sala de jantar, cozinha, lavanderia, hall, lavabo e um quarto de serviço com banheiro compõem o programa original. No centro, a sala de estar — ampla, envidraçada, aberta ao jardim — articula os espaços com naturalidade e articula o interior da casa à paisagem. O desenho é firme, mas nunca rígido. Há uma fluidez que nasce da arquitetura e não de seus complementos.
A fachada da Residência João Marino: concreto e ponto de cor
Ruy Teixeira
Estruturalmente resolvida com apenas seis apoios, repousa parcialmente suspensa, criando um gesto de leveza que se acentua no volume da sala de estar, flutuando sobre a piscina
Ruy Teixeira
Mesmo em seus aspectos mais técnicos, a residência carrega uma rara poesia. Os volumes são equilibrados, o ritmo das aberturas é preciso, e a materialidade revela-se como linguagem. Nada é decorativo; tudo é proposição. Trata-se de uma arquitetura que pensa a cidade, o clima e o modo de habitar sem concessões. A vocação experimental da obra está ali, embutida na estrutura, nas proporções, no modo como o concreto organiza o espaço e imprime tempo às superfícies.
Na Residência João Marino, os volumes são equilibrados, o ritmo das aberturas é preciso, e a materialidade revela-se como linguagem
Ruy Teixeira
Em 2018, quase cinquenta anos após sua construção, a casa foi oficialmente tombada como patrimônio histórico. A medida reconhece não apenas o valor estético da obra, mas sua relevância como testemunho de um ciclo formativo da arquitetura paulista — um momento em que se buscava, com rigor e invenção, uma linguagem própria, à altura do contexto urbano e cultural do país.
No centro, a sala de estar — ampla, envidraçada, aberta ao jardim — articula os espaços com naturalidade e articula o interior da casa à paisagem
Ruy Teixeira
A restauração que se seguiu ao tombamento foi conduzida com o cuidado que a casa exigia. Preservaram-se materiais, texturas e vazios. Onde foi necessário intervir, fez-se com discrição e respeito absoluto ao projeto original. “A casa estava fechada havia mais de dez anos, e os materiais estavam muito deteriorados”, conta Debora Lima, arquiteta responsável pela restauração e antiga moradora. “Mas minha prioridade sempre foi respeitar o projeto. Precisei tomar decisões difíceis para adaptar o imóvel a um novo uso, sem comprometer sua integridade.”
Para ela, a força da obra reside tanto na clareza do gesto arquitetônico quanto no processo coletivo de sua elaboração. “Acho que essa casa foi, acima de tudo, um exercício de experimentação entre arquitetos que testavam caminhos possíveis dentro do brutalismo paulista”, observa. A combinação entre solidez e abertura ao presente permitiu à residência, originalmente pensada para abrigar arte, entrar em um novo ciclo — sem renunciar à sua essência.
O ladrilho hidráulico original faz um colorido contraponto ao concreto
Ruy Teixeira
Em 2025, o imóvel passou a sediar a Casa da Arquitetura Moderna Paulista (CAMP), instituição dedicada à preservação e difusão do modernismo paulista. A escolha não foi fortuita: mais do que um exemplar brutalista, o imóvel sempre foi um lugar de encontro entre arquitetura, arte e pensamento. Com acervos já recebidos de nomes como Francisco Segnini Jr. e croquis inéditos de Oswaldo Corrêa Gonçalves, a CAMP inaugura um novo capítulo na história do edifício — reafirmando a vocação cultural de uma casa que, desde sua origem, soube articular espaço e permanência.
Rafael D’Andrea e Debora Lima, fundadores da Casa da Arquitetura Moderna Paulista
Ruy Teixeira
Em vez de se transformar em museu, a casa mantém-se viva: acolhe exposições, encontros e experiências que renovam sua função pública. “Com o avanço agressivo da especulação imobiliária, casas como essas estão sendo demolidas rapidamente em São Paulo. Uma das principais missões da CAMP é preservá-las por meio da visibilidade e da ocupação com programação cultural”, afirma Rafael D’Andrea, fotógrafo e fundador da instituição, ao lado de Debora Lima, à Casa Vogue.
A intrigante força brutalista da Residência João Marino, em São Paulo, resiste ao tempo
Ruy Teixeira
Não se trata apenas de preservar um ícone, mas de reconhecer, em sua permanência, uma forma de pensamento. E, ao reativá-la como espaço cultural, reafirma-se tudo aquilo que a casa sempre foi: lugar de invenção, espaço de ideias, obra em movimento.
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A casa ocupa o lote com notável sobriedade. Estruturalmente resolvida com apenas seis apoios, repousa parcialmente suspensa, criando um gesto de leveza que se acentua no volume da sala de estar, flutuando sobre a piscina. Essa suspensão não é efeito, mas consequência direta do partido adotado — uma solução engenhosa que organiza os espaços de forma coesa e funcional, enquanto produz uma espacialidade generosa e inesperada.
O concreto aparente da estrutura contrasta com os delicados caixilhos verticais dispostos entre pilares. As vedações, em blocos de concreto também deixados à mostra, reforçam a vocação brutalista da obra, que não busca ornamento, mas expressividade na crueza dos materiais. Essa escolha revela a filiação da residência à linhagem da chamada Escola Paulista, movimento forjada no concreto bruto e no pensamento crítico que projetou São Paulo no mapa arquitetônico global ao unir precisão estrutural e diálogo profundo com o território.
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A planta, com cerca de 600 metros quadrados, é clara e bem distribuída. Dois dormitórios principais, escritório, sala de jantar, cozinha, lavanderia, hall, lavabo e um quarto de serviço com banheiro compõem o programa original. No centro, a sala de estar — ampla, envidraçada, aberta ao jardim — articula os espaços com naturalidade e articula o interior da casa à paisagem. O desenho é firme, mas nunca rígido. Há uma fluidez que nasce da arquitetura e não de seus complementos.
A fachada da Residência João Marino: concreto e ponto de cor
Ruy Teixeira
Estruturalmente resolvida com apenas seis apoios, repousa parcialmente suspensa, criando um gesto de leveza que se acentua no volume da sala de estar, flutuando sobre a piscina
Ruy Teixeira
Mesmo em seus aspectos mais técnicos, a residência carrega uma rara poesia. Os volumes são equilibrados, o ritmo das aberturas é preciso, e a materialidade revela-se como linguagem. Nada é decorativo; tudo é proposição. Trata-se de uma arquitetura que pensa a cidade, o clima e o modo de habitar sem concessões. A vocação experimental da obra está ali, embutida na estrutura, nas proporções, no modo como o concreto organiza o espaço e imprime tempo às superfícies.
Na Residência João Marino, os volumes são equilibrados, o ritmo das aberturas é preciso, e a materialidade revela-se como linguagem
Ruy Teixeira
Em 2018, quase cinquenta anos após sua construção, a casa foi oficialmente tombada como patrimônio histórico. A medida reconhece não apenas o valor estético da obra, mas sua relevância como testemunho de um ciclo formativo da arquitetura paulista — um momento em que se buscava, com rigor e invenção, uma linguagem própria, à altura do contexto urbano e cultural do país.
No centro, a sala de estar — ampla, envidraçada, aberta ao jardim — articula os espaços com naturalidade e articula o interior da casa à paisagem
Ruy Teixeira
A restauração que se seguiu ao tombamento foi conduzida com o cuidado que a casa exigia. Preservaram-se materiais, texturas e vazios. Onde foi necessário intervir, fez-se com discrição e respeito absoluto ao projeto original. “A casa estava fechada havia mais de dez anos, e os materiais estavam muito deteriorados”, conta Debora Lima, arquiteta responsável pela restauração e antiga moradora. “Mas minha prioridade sempre foi respeitar o projeto. Precisei tomar decisões difíceis para adaptar o imóvel a um novo uso, sem comprometer sua integridade.”
Para ela, a força da obra reside tanto na clareza do gesto arquitetônico quanto no processo coletivo de sua elaboração. “Acho que essa casa foi, acima de tudo, um exercício de experimentação entre arquitetos que testavam caminhos possíveis dentro do brutalismo paulista”, observa. A combinação entre solidez e abertura ao presente permitiu à residência, originalmente pensada para abrigar arte, entrar em um novo ciclo — sem renunciar à sua essência.
O ladrilho hidráulico original faz um colorido contraponto ao concreto
Ruy Teixeira
Em 2025, o imóvel passou a sediar a Casa da Arquitetura Moderna Paulista (CAMP), instituição dedicada à preservação e difusão do modernismo paulista. A escolha não foi fortuita: mais do que um exemplar brutalista, o imóvel sempre foi um lugar de encontro entre arquitetura, arte e pensamento. Com acervos já recebidos de nomes como Francisco Segnini Jr. e croquis inéditos de Oswaldo Corrêa Gonçalves, a CAMP inaugura um novo capítulo na história do edifício — reafirmando a vocação cultural de uma casa que, desde sua origem, soube articular espaço e permanência.
Rafael D’Andrea e Debora Lima, fundadores da Casa da Arquitetura Moderna Paulista
Ruy Teixeira
Em vez de se transformar em museu, a casa mantém-se viva: acolhe exposições, encontros e experiências que renovam sua função pública. “Com o avanço agressivo da especulação imobiliária, casas como essas estão sendo demolidas rapidamente em São Paulo. Uma das principais missões da CAMP é preservá-las por meio da visibilidade e da ocupação com programação cultural”, afirma Rafael D’Andrea, fotógrafo e fundador da instituição, ao lado de Debora Lima, à Casa Vogue.
A intrigante força brutalista da Residência João Marino, em São Paulo, resiste ao tempo
Ruy Teixeira
Não se trata apenas de preservar um ícone, mas de reconhecer, em sua permanência, uma forma de pensamento. E, ao reativá-la como espaço cultural, reafirma-se tudo aquilo que a casa sempre foi: lugar de invenção, espaço de ideias, obra em movimento.
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