A tendência que você não esperava: azulejos de cozinha que continuam na sala

A cozinha da minha avó (provavelmente igual à da sua) era revestida de azulejos do chão ao teto. E, claro, era separada da sala de estar e da sala de jantar. No entanto, nas últimas décadas, os atos rupturistas da humanidade inverteram essa lógica: hoje vemos principalmente cozinhas sem azulejos, ou com o mínimo necessário para evitar que a umidade danifique as paredes, em ambientes integrados que também incluem sala e jantar.
Pois bem, neste contexto, surge uma tendência inesperada: fazer com que a linha de azulejos da cozinha continue na sala de estar. Já vimos isso em alguns dos projetos mais interessantes dos últimos meses, como o da Casa Cometa.
“Gosto de incorporar retículas quadradas em diferentes ambientes. A ordem que elas geram e essa lógica quase construtiva me atraem, e o revestimento cerâmico (alicatado) é uma ferramenta perfeita para isso”, comenta Emiliano Domínguez, do Bardo. O arquiteto, que na Casa Cometa transforma um antigo terraço em um refúgio moderno, acrescenta: “Tem um aspecto gráfico e funcional, traz textura e, neste caso, também ajuda a reforçar essa atmosfera entre o doméstico e o industrial que buscávamos para a vivenda, sem sobrecarregar o espaço”.
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O padrão de azulejos cor celeste começa na cozinha da Casa Cometa…
Germán Saiz
…e continua na sala de estar
Germán Saiz
Na Casa Cometa, um lar poético, leve e repleto de engenho estrutural com apenas 50 m², a decisão de prolongar o revestimento cerâmico foi principalmente estética. “Quis dar continuidade à geometria entre cozinha e sala para que o espaço fosse percebido como um todo e dialogasse melhor com a estrutura superior, que possui uma linguagem muito marcada, quase industrial”, explica, referindo-se à viga em tom celeste que define o perfil da casa.
“Exatamente nesse ponto, o alicatado, com sua textura fosca, encontra um espelho circular liso e refletivo que divide parcialmente o painel cerâmico. Esse contraste tão acentuado entre a superfície tátil e opaca e o brilho polido se revelou especialmente interessante”, continua Domínguez. Manter esse azul claro também permitiu ao profissional fazer com que o sofá se destacasse ainda mais e facilitasse o uso da prateleira superior para apoiar taças ou bebidas durante encontros com amigos, sem receio de manchas.
Já no caso de Rocco Bibbiani, do escritório Not a Studio, o apelo gráfico do azulejo também motivou seu uso além da cozinha. “Minha fascinação pelas pastilhas reside na repetição constante e na grade perfeita que criam. Essa estrutura geométrica é uma base ideal para introduzir jogos de cores e padrões, permitindo-me explorar novas dimensões no design”, afirma.
Curiosamente, os azulejos, embora comecem na cozinha, são pouco visíveis nesse projeto de Not a Studio
Germán Saiz
Onde ganham protagonismo é na área da sala
Germán Saiz
A casa assinada pelo escritório recentemente em Barcelona é um exemplo perfeito: ao estender os azulejos até a sala, criam um universo lúdico e gráfico com caráter próprio em um apartamento de obra nova, antes monótono.
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“Valorizo enormemente o contraste visual que os azulejos proporcionam. Em meus projetos, costumo incorporar muitos elementos sinuosos e arredondados, e a precisão linear das pastilhas gera uma tensão visual muito interessante que enriquece o espaço. É uma forma de adicionar dinamismo e, principalmente, equilíbrio”, aponta Bibbiani.
Há também quem os utilize para criar espaços memoráveis com poucos recursos. É o caso do estúdio OOIIO Arquitectura, especializado em projetos criativos, sustentáveis e com inovação no design. Eles empregam cerâmicas coloridas, espelhos e formas sinuosas sem restrições em um pequeno apartamento em Madri.
Os azulejos rosados da Casa Tur se estendem da cozinha até a sala de jantar e, finalmente, a sala de estar
Javier de Paz Garcia
“A cerâmica é um material esplêndido e profundamente enraizado na cultura espanhola desde a tradição árabe, e até antes. Ao selecionar peças evocadoras e posicioná-las em locais inesperados, transformamos um ambiente em algo único e diferente”, explicam do escritório.
E não se trata necessariamente de azulejos artesanais: para não extrapolar um orçamento muito modesto, optaram por peças facilmente encontráveis em qualquer loja de materiais de construção. “O padrão industrializado é mais econômico porque pode ser repetido infinitamente e produzido por máquinas, não por pessoas. No entanto, utilizando materiais de fácil acesso em qualquer depósito de obra, alinhados a produtos que as construtoras usam em soluções massivas e com preços similares, podemos encontrar elementos capazes de transformar um espaço de maneira original e única”, defendem. O resultado, se feito com talento, é um projeto tão singular quanto a Casa Tur.
No apartamento da OOIIO Arquitectura, a cerâmica cobre tudo, mas há outros projetos em que ela é aplicada apenas para revestir um elemento e transformá-lo em protagonista. Foi o caso do arquiteto Ismael Medina Manzano num apartamento de 80 m² em San Sebastian que passou do modelo clássico dos anos 60 para uma casa de férias flexível, vanguardista e pensada para várias gerações.
O elemento central desse apartamento é um muro curvo recoberto de cerâmica vidrada interrompido por um portal de arenito de San Sebastián — a pedra mais utilizada na região
Hiperfocal
Isso evidencia sua parede curva memorável de azulejos verdes esmaltados feitos à mão. “É o elemento principal e não apenas cumpre a função de dividir ambientes, mas também agrega soluções de armazenamento. Ao seu redor, dispõem-se despensas, armários, prateleiras e banheiros, tornando-o um componente estético e, ao mesmo tempo, convergente socialmente e reflexivo no projeto”, explica Medina Manzano. Esse espaço conecta-se diretamente à cozinha com espelhos, o que enfatiza o uso de superfícies refletivas em harmonia com as grades de azulejos — algo presente em todos esses projetos.
Outra opção, igualmente impactante, foi a escolhida por Francisco Ortega Ruiz (FORarquitectura) em sua casa na região de Málaga: ele encomendou um mural de azulejos personalizado que evoca os pátios andaluzes da infância, tornando-se o foco principal da sala. Para as demais áreas úmidas da casa, no entanto, utilizou uma baldosa quadrada branca muito semelhante à usada nos dois primeiros projetos, revestindo do chão ao teto (como nos projetos citados antes). O resultado estético combina homenagem, vanguarda e pura praticidade.
O arquiteto Francisco Ortega reinventa um apartamento funcional dos anos 70 usando como fio condutor suas memórias de um pátio andaluz, a luz infinita de Málaga e a tradição cerâmica do sul
Juanca Lagares
“A Andaluzia é uma região rica em uma tradição cerâmica que, infelizmente, está em vias de desaparecer. Mas, neste projeto, ela é revivida com a aplicação de revestimentos cerâmicos que revestem todas as paredes dos espaços que abrigam os banheiros”, diz Ortega
Juanca Lagares
“Além da estética, os azulejos oferecem vantagens práticas inegáveis: são duráveis, fáceis de limpar e versáteis”, acrescenta Bibbiani. “Se o orçamento não fosse um fator limitador, não hesitaria em revestir a casa inteira; adoro a ideia de transformar completamente um espaço com sua presença!”
A tendência que você não esperava vem na forma de azulejos de cozinha que continuam na sala de estar
Germán Saiz
Na opinião do decorador, é precisamente essa versatilidade dos elementos que está atraindo cada vez mais profissionais, “que os exploram de formas inovadoras, consolidando-os rapidamente como uma tendência-chave”. Assim, criam ambientes tão singulares quanto os que vimos, o que potencializa sua viralização nas redes e acelera exponencialmente o surgimento dessas novas correntes de design.
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