Com raízes que atravessavam fronteiras, Affonso construiu uma obra livre de nacionalismos. Como explica o historiador de arte Roberto Conduru, doutor pela UFRJ, sua arquitetura refletia antes um espírito cosmopolita do que identitário.
“Cosmopolitismo. Nada nacionalista, seja europeu ou brasileiro. Ele foi um racionalista que procurou experimentar em arquitetura equacionando, de modo equilibrado, funcionalidade, técnica e plasticidade contemporâneas, dos menores edifícios às grandes intervenções urbanas”, define Roberto.
O arquiteto Affonso Reidy foi responsável pelo projeto urbanístico e arquitetônico geral do aterro do Flamengo
Reprodução/WikiCommons
Ainda estudante, Affonso teve sua primeira experiência profissional como estagiário do urbanista francês Donat-Alfred Agache (1875–1934) na elaboração do Plano Diretor do Rio de Janeiro, experiência que aproximou o arquiteto da visão integrada de cidade e urbanismo. Em 1930, após a tentativa de reorientação moderna promovida por Lúcio Costa (1902–1998) no ensino da escola, ele ingressou como professor na cadeira de Composição de Arquitetura.
No ano seguinte, em 1931, venceu o concurso para a construção do Albergue da Boa Vontade, ao lado de Gerson Pompeu Pinheiro (1910–1978), seu primeiro projeto executado e a uma das obras que marcam o modernismo do Rio de Janeiro.
Criado para acolher trabalhadores em situação de vulnerabilidade, o projeto equilibra função social e beleza construtiva, revelando a marca que guiaria toda a carreira de Affonso Eduardo Reidy: uma arquitetura voltada às pessoas, capaz de unir o modernismo à vida cotidiana.
O Conjunto Habitacional da Gávea é conhecido popularmente como Minhocão da Gávea
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“O sentido público da arquitetura está presente na obra dele de modo geral, mas a urbanidade, ou seja, a civilidade e o respeito pela coletividade, sobressai ainda mais nos edifícios oficiais e nos projetos urbanos”, afirma Roberto.
Serviço público e arquitetura como espaço de transformação
Em 1932, Affonso ingressou no serviço público, quando passou a atuar como arquiteto da Diretoria de Arquitetura da Prefeitura do Distrito Federal, à época, no Rio de Janeiro. Foi nesse cargo que desenvolveu algumas de suas obras mais famosas, como o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, o famoso Pedregulho, um modelo de habitação popular que unia urbanismo e qualidade de vida.
O Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, conhecido popularmente como Pedregulho, é um marco da habitação popular moderna
Ead/PUCV
A obra de Affonso Eduardo Reidy é administrada desde 1980 pela Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro (CEHAB). Adriana Mesquita, assessora da instituição, afirma que o modelo criado pelo arquiteto se tornou pioneiro na habitação e inspirou outros projetos da CEHAB.
“O Pedregulho é um modelo pioneiro de habitação. A influência do projeto foi marcada pela humanização dos espaços coletivos, a integração com serviços públicos e a valorização da convivência comunitária e tornaram-se diretrizes importantes nas políticas e projetos habitacionais da Cehab”, diz Adriana.
Além disso, a Companhia reconhece que o Pedregulho como um “marco na arquitetura como instrumento de transformação social e urbana” e que “influenciou gerações de projetos e profissionais”.
Em 1953, Affonso deu vida ao MAM, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, marco do modernismo brasileiro. A construção fica suspensa entre o Aterro do Flamengo e o mar, dialogando com o horizonte e a paisagem carioca. O projeto foi realizado em parceria com a engenheira Carmen Portinho, então diretora do museu, e com o paisagista Roberto Burle Marx, responsável pelos jardins que envolvem o edifício.
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) é uma das principais obras conhecidas de Affonso Eduardo Reidy
Felipe Azevedo – Museu de Arte Moderna


