Autoral, intensa e sem frescura: Henrique Fogaça avalia sua cozinha após 20 anos de Sal

“Vim porque te acompanho no Masterchef”. Passados 11 anos desde sua estreia como jurado do Masterchef Brasil, em 2014, o chef Henrique Fogaça ainda se alegra ao receber o público do programa no Sal Gastronomia. Em 2025, o restaurante completa 20 anos de história, com duas sedes em São Paulo, sempre lotadas.
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A primeira casa foi inaugurada em 2005, em Higienópolis, onde funcionou até 2023, quando migrou para o bairro Jardins. Em 2017, o Sal ganhou uma filial no Shopping Cidade Jardim, com ambiente e vista privilegiados. Ambas as unidades contam com cozinhas abertas, oferecendo ao público a oportunidade de acompanhar a equipe em ação.
Inaugurada em 2024, a sede do Sal Gastronomia no bairro Jardins, em São Paulo, comporta até 200 pessoas
Embrasa/Divulgação
Para celebrar a data, o chef desenvolveu um menu comemorativo resgatando pratos icônicos que fizeram história durante as duas décadas. O cardápio já está em vigor e permanecerá nas duas unidades por tempo indeterminado. Em entrevista exclusiva à Casa e Jardim, Henrique Fogaça avalia sua trajetória, o impacto do programa, e traça planos para o futuro!
Quando fundou o Sal, quais eram suas pretensões para os próximos 20 anos?
Quando fundei o Sal lá atrás, em 2005, minha pretensão era simples: fazer uma comida verdadeira, com identidade, e criar um espaço onde eu pudesse me expressar como chef. Nunca pensei exatamente em um plano de 20 anos, eu pensava no dia a dia, em cozinhar com paixão, em aprender e crescer. Mas claro, com o tempo, fui entendendo que o Sal poderia ser o ponto de partida de algo maior. E foi. Hoje, olhando pra trás, vejo que aquele sonho inicial se transformou em algo sólido, com duas unidades, uma trajetória marcante. Tudo isso nasceu daquele primeiro passo.
Quais foram os momentos mais marcantes desses últimos 20 anos?
A história do Sal é cheia de marcos que refletem a evolução natural do trabalho com muita dedicação e verdade. Começou em 2005, com a primeira unidade na Galeria Vermelho, em Higienópolis – um espaço pequeno com 16 lugares, mas que já trazia a essência da minha cozinha: autoral, intensa e sem frescura.
Aos poucos, o restaurante foi ganhando espaço e reconhecimento, o que nos permitiu expandir dentro do mesmo local e, mais tarde, abrir uma segunda casa no Shopping Cidade Jardim em 2017, com uma estrutura mais moderna e uma proposta mais refinada, mas ainda alinhada com nossa identidade.
A sede do Sal Gastronomia no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, também conta com cozinha aberta
Divulgação
Mais recentemente, em 2024, demos um passo importante com a mudança da sede para a Rua Bela Cintra, nos Jardins. A nova casa é um projeto robusto com mais de 200 lugares, dois andares, cozinha setorizada, bar, adega, tudo pensado para entregar uma experiência completa.
Em 2025, receber o reconhecimento do Guia Michelin, como restaurante recomendado por sua extrema qualidade, foi a coroação de uma trajetória construída com muito suor, técnica e amor à gastronomia. Pra mim, cada uma dessas etapas mostra não só o crescimento do Sal, mas também o meu amadurecimento como chef e empresário.
O Ragu de Javali com Nhoque de Mandioquinha Selado na Manteiga está entre os pratos favoritos do chef Henrique Fogaça
Divulgação
O que espera para os próximos 20 anos?
Eu vejo os próximos 20 anos com o mesmo espírito que me moveu lá no começo: continuar criando, aprendendo e provocando. O Sal é uma marca forte, com raízes, mas também com fôlego pra seguir se reinventando. A expansão está no radar sim, mas sempre com muito critério. Não quero abrir por abrir. Quero levar o conceito do Sal pra outros lugares do Brasil, talvez até fora, mas sem perder a essência que trouxe a gente até aqui.
Você diria que o Masterchef teve alguma influência no Sal e na sua gastronomia?
Com certeza teve e ainda tem. O MasterChef me deu projeção nacional e me apresentou pra um público muito mais amplo, que talvez nunca tivesse cruzado com a gastronomia do Sal. Muita gente passou a conhecer o restaurante por causa do programa, a curiosidade aumentou, o movimento cresceu.
Além disso, acho que o programa também me desafiou a evoluir. A convivência com outros chefs, os jurados convidados, os talentos que passam por ali… Tudo isso me inspira e me faz querer sempre melhorar. E o mais bonito é ver que, mesmo depois de tantos anos no ar, ainda chega cliente no restaurante que fala: “Vim porque te acompanho no MasterChef.” Isso mostra que o programa ajudou a popularizar a gastronomia de uma forma que vai além da TV, ela chega à mesa, ao prato, à experiência.
O Copa Lombo com Farofa de Pão e Quiabo integra o menu comemorativo de 20 anos do Sal Gastronomia
Embresa/Divulgação
Qual foi o critério de seleção para o menu comemorativo?
Para esse menu selecionei receitas que caíram no gosto do público e são parte da história do Sal. Dentre elas, o risoto de carne-seca com queijo coalho, a copa lombo com farofa de pão e quiabo, o carpaccio de bife ancho, além de duas sobremesas que já viraram ícones: o crème brûlée de milho verde e a torta quebrada de maçã com creme inglês.
Se pudesse escolher apenas um prato do Sal, qual seria?
Difícil escolher só um, mas vou ficar com dois que marcam muito minha trajetória. O primeiro é o Ragu de Javali com Nhoque de Mandioquinha Selado na Manteiga. É um prato que me desafiou muito na época em que criei, há mais de 15 anos. O javali é uma carne com pouca gordura, difícil de trabalhar, mas consegui chegar num equilíbrio de sabores e potência que representa bem a essência do Sal.
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O segundo é o Cupim na Manteiga de Garrafa com Mandioca Cozida e Farofa de Banana, que tem um valor afetivo forte. Me remete à infância, às raízes, à comida de verdade. É um prato que carrega memória, aconchego e brasilidade. Ambos mostram um pouco do que eu acredito na cozinha: técnica, alma e verdade no prato.
O Cupim na Manteiga de Garrafa com Mandioca Cozida e Farofa de Banana é um dos pratos com maior valor afetivo no menu do Sal Gastronomia
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