Casa Olga Baeta: como uma reforma deu vida ao projeto original de Vilanova Artigas

A casa Olga Baeta, localizada no bairro do Butantã, em São Paulo, é uma das poucas obras residenciais projetadas pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas. Datada de 1956, a residência de 201 m² rompe com a sobriedade da Escola Paulista, movimento arquitetônico predominante à época, ao trazer cores vibrantes, como azul, vermelho e amarelo, para paredes, pilares e janelas, em uma paleta de tons inspirada no neoplasticismo do pintor holandês Piet Mondrian.
Leia mais
“Olga Baeta não existiu. Eram Olga Bohomoletz e Sebastião Baeta. Foi para eles que Vilanova Artigas projetou, na década de 1950, a casa. Ela nunca adotou o sobrenome dele. Mas aquela casa acabou por consagrar-se assim: Olga Baeta”, conta Angelo Bucci, arquiteto à frente do escritório spbr arquitetos, que renovou a residência em 1996.
Angelo foi o responsável por materializar as ideias de Vilanova Artigas quatro décadas após o imóvel ficar pronto. Segundo o arquiteto, por falta de recursos, uma escora prevista no projeto original não foi feita no passado, mas pôde ser colocada na posição imaginada durante a reforma dos anos 1990.
A casa Olga Baeta, no Butantã, em São Paulo, é uma das poucas obras residenciais do arquiteto Vilanova Artigas
Nelson Kon/Divulgação
A estrutura original da casa Olga Baeta contemplava três pórticos sucessivos. Os dois pórticos da fachada — frente e fundo — contavam com a altura estrutural das duas paredes de concreto (empenas) para realizar o balanço assimétrico de 4,5 m.
No pórtico central, Artigas suprimiu as empenas de concreto. “Mas, sendo assim, como ele realiza o balanço no pórtico central sem que as empenas estejam ali? Então, ele lança mão de um elemento inusitado para aquele pequeno conjunto: a escora em concreto armado”, diz Angelo.
A escora de aço se destaca no centro da casa Olga Baeta, como projetado originalmente por Vilanova Artigas
Nelson Kon/Divulgação
No entanto, durante as obras, os construtores negligenciam os planos originais do arquiteto e colocaram pilares ocultos em meio às alvenarias, suprimindo um trecho da viga que travava os pilares do pórtico central. “A falta deste pequeno trecho, cerca de 1m, de viga, condenou ao colapso a escora originalmente concretada”, explica Angelo.
Naquela época, os recursos e o cronograma de obra não permitiram refazer a construção. “Em nova demonstração de liberdade, Artigas não teve qualquer dificuldade: botou um pilar provisório do lado de fora da casa, apoiando a laje de cobertura num ponto muito próximo onde deveria estar a parte superior da escora, e terminou a obra”, fala o arquiteto da spbr.
A casa Olga Baeta, projetada por Vilanova Artigas, foi renovada na década de 1990
Nelson Kon/Divulgação
Quando foi convidado para fazer a renovação da casa, Angelo recorreu aos desenhos guardados na Fundação Vilanova Artigas. “O engenheiro que nos acompanhava era Ibsen Puleo Uvo e, a cada surpresa, ele recalculava a estrutura e criava condições para funcionar como pensada originalmente. Assim, ele refez o trecho de viga que faltava e lançou o desafio: ‘se quiser refazer a escora, ela agora funcionará perfeitamente’”, relembra.
Com isso, a escora do pórtico central foi posicionada como no projeto original, mas, desta vez, feita em aço por facilidade de execução. “É memória viva de Vilanova Artigas na casa Olga Baeta”, aponta o profissional.
A reforma de 1996 na casa Olga Baeta conseguiu realizar o projeto como Vilanova Artigas tinha idealizado
Nelson Kon/Divulgação
Originalidade mantida intacta
De acordo com Angelo, na reforma, a casa foi preservada em sua essência. As áreas das salas e dos quartos foram mantidas como projetadas por Artigas, assim como os seus materiais, cores e acabamentos.
Além dos pórticos visíveis, toda a residência remete aos cânones da Escola Paulista, com grandes aberturas e integração total com o jardim.
Leia mais
As alterações mais significativas aconteceram na cozinha, nos banheiros e na área de serviço, que ganharam instalações mais modernas. Todas as paredes novas foram feitas de argamassa armada com acabamento em concreto aparente para se distinguirem da construção original, evitando que os dois momentos do imóvel fossem confundidos.
A casa Olga Baeta, em São Paulo, à época de sua construção, na década de 1950
Acervo Fundação Vilanova Artigas/Divulgação
Para Angelo, a casa Olga Baeta materializa aspectos pessoais da vida de Artigas com a sua formação técnica como engenheiro-arquiteto na Universidade de São Paulo (Poli-USP).
“As suas empenas de concreto estampam a memória das casas de madeira da infância vivida no Paraná. Ao contrário, o esquema estrutural de três pórticos sucessivos demonstram o apego do arquiteto ao rigor da sua formação na escola politécnica. Vilanova Artigas concilia lembranças e formação, a memória é uma razão, ou motivo, a capacidade técnica é recurso”, avalia o profissional.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima