Inaugurado em 1999, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) transformou a Praia de Iracema, em Fortaleza, em um polo multicultural. Concebido como um “edifício-cidade”, o conceito arquitetônico se destaca pelo traçado geométrico e pelas amplas áreas livres de circulação. O projeto é assinado pelos arquitetos cearenses Fausto Nilo e Delberg Ponce de León.
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Complexo cultural da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, o CDMAC é gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar. Atualmente, o centro ocupa uma área de 14,5 mil m ² e abriga equipamentos culturais como o Museu da Cultura Cearense, o Museu de Arte Contemporânea do Ceará, o Planetário Rubens de Azevedo, o Teatro Dragão do Mar e o Cinema do Dragão.
O nascimento do Centro Dragão do Mar
Após um concurso público realizado pelo governo estadual, do qual participaram outros quatro escritórios cearenses, Fausto e Delberg foram selecionados como os responsáveis pelo projeto em 1994. O objetivo era criar um espaço que integrasse diferentes pavilhões, conectando-os por praças e percursos que incentivassem a apropriação pública.
A ponte metálica integra o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura com o bairro e também conecta os diferentes espaços sediados no polo cultural
Centro Dragão do Mar/Ana Raquel S./Divulgação
“Descobrimos que, se uníssemos essas áreas por meio de novas construções conectadas por uma ponte metálica, criaríamos um edifício de caráter urbano, capaz de atrair o público e se consolidar como um centro convergente de interesse cultural”, relembra Fausto.
A região ocupada pelo centro corresponde à área portuária de Fortaleza, a qual foi alvo de uma ação de requalificação e revitalização urbana pelo poder público. O espaço, marcado por construções e antigos armazéns de valor histórico, exigiu atenção especial ao patrimônio durante o desenvolvimento da proposta. A iniciativa da administração municipal buscou recuperar e transformar esse trecho da capital cearense, conciliando preservação e renovação urbana.
O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura ocupa a região da zona portuária da capital cearense e busca conectar o entorno com o edifício
Centro Dragão do Mar/Ana Raquel S./Divulgação
“O complexo foi concebido como um objeto arquitetônico autônomo, quase uma fortaleza cultural. A barreira física da avenida e o fechamento visual parcial criam uma desconexão com o calçadão, um desafio de integração que permanece até hoje”, comenta Diego Fernandes Zaranza, arquiteto e urbanista, conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU/CE).
E por que Dragão do Mar?
Para nomear esse espaço, a proposta foi homenagear o jangadeiro Francisco José do Nascimento, líder popular que, em 1881, recusou-se a transportar escravizados para os navios negreiros no Porto de Fortaleza. A sua história fez com que ficasse conhecido como Dragão do Mar e marcou a luta abolicionista no Ceará, o primeiro estado brasileiro a libertar os escravizados, em 1884.
O nome do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura é uma homenagem ao Francisco José do Nascimento, um importante jangadeiro e líder abolicionista cearense
Centro Dragão do Mar/Ana Raquel S./Divulgação
“A ideia foi homenagear essa memória de coragem, liberdade e resistência, legado que se mantém vivo também pelo território e comunidade Poço da Draga, vizinha ao centro cultural”, salienta Camila Rodrigues, superintendente do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Um projeto aberto à cidade
Do ponto de vista arquitetônico, o projeto destaca-se pela sua linguagem contemporânea. “A construção aposta em volumes geométricos puros, passeios cobertos e a utilização de materiais como o concreto aparente”, afirma Diego.
A passarela do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura é um dos exemplos da construção que utiliza as formas geométricas como princípio. O vermelho forte também chama atenção por quem passa pelo centro
Centro Dragão do Mar/Ana Raquel S./Divulgação
Ao mesmo tempo, o edifício traz o diálogo com os elementos culturais cearenses, sobretudo das construções sertanejas do interior do estado. “As generosas áreas de convivência evocam as antigas varandas das casas de fazenda nordestinas”, afirma Camila.
As referências também estão mais na materialidade e na espacialidade. As cores terrosas e o concreto remetem à aridez do solo, enquanto as praças ensolaradas, que demandam sombras, se assemelham aos reminiscentes de espaços públicos do interior. “O próprio desenho das coberturas metálicas dos espaços de transição pode ser lido como uma alusão às velas de jangadas”, sugere Diego.
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A história e a articulação entre o passado e o presente também buscou ser materializada no projeto arquitetônico. Parte dos armazéns presentes na zona portuária foi preservada e adaptada para novos usos.
Outro aspecto significativo da construção é o baixo consumo energético. “Apesar da sua área imensa, a demanda por ar-condicionado, por exemplo, é bastante reduzida”, pontua Fausto. Isso se deve a amplitude dos ambientes, o que favorece a ventilação e iluminação natural.
Legado do Centro Dragão do Mar
Após 26 anos do início da sua história, o centro tornou-se importante polo de cultura e arte na cidade. A sua construção permanece preservada, com alterações restritas à programação interna e à integração com a Biblioteca Pública Estadual do Ceará (BECE).
“Seu modelo de centro cultural multifuncional é referência nacional, reunindo museus, teatros, cinemas e espaços de convivência. O Centro Dragão do Mar representa um símbolo da renovação urbana e da potência criativa cearense”, destaca Camila.
A visão aérea permite ver a vasta área ocupada pelo Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, Ceará
Governo Federal Brasileiro/Wikimedia Commons
A conexão com os demais espaços da cidade e a concretização da ideia do edifício-cidade, no entanto, ainda se estabelece como um desafio no presente, sobretudo com a Comunidade do Poço da Draga. “O equipamento cultural de grande porte ainda não conseguiu criar permeabilidades e interfaces efetivas com o tecido social e urbano consolidado, resultando em uma justaposição ao invés de uma simbiose”, pontua Diego.
A comunidade é uma das ocupações populacionais mais antigas de Fortaleza e permanece há mais de 100 anos nesse território, o qual tem sofrido valorização crescente devido a sua importância para a cultura, o lazer, o turismo e a economia da capital cearense.
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Complexo cultural da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, o CDMAC é gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar. Atualmente, o centro ocupa uma área de 14,5 mil m ² e abriga equipamentos culturais como o Museu da Cultura Cearense, o Museu de Arte Contemporânea do Ceará, o Planetário Rubens de Azevedo, o Teatro Dragão do Mar e o Cinema do Dragão.
O nascimento do Centro Dragão do Mar
Após um concurso público realizado pelo governo estadual, do qual participaram outros quatro escritórios cearenses, Fausto e Delberg foram selecionados como os responsáveis pelo projeto em 1994. O objetivo era criar um espaço que integrasse diferentes pavilhões, conectando-os por praças e percursos que incentivassem a apropriação pública.
A ponte metálica integra o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura com o bairro e também conecta os diferentes espaços sediados no polo cultural
Centro Dragão do Mar/Ana Raquel S./Divulgação
“Descobrimos que, se uníssemos essas áreas por meio de novas construções conectadas por uma ponte metálica, criaríamos um edifício de caráter urbano, capaz de atrair o público e se consolidar como um centro convergente de interesse cultural”, relembra Fausto.
A região ocupada pelo centro corresponde à área portuária de Fortaleza, a qual foi alvo de uma ação de requalificação e revitalização urbana pelo poder público. O espaço, marcado por construções e antigos armazéns de valor histórico, exigiu atenção especial ao patrimônio durante o desenvolvimento da proposta. A iniciativa da administração municipal buscou recuperar e transformar esse trecho da capital cearense, conciliando preservação e renovação urbana.
O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura ocupa a região da zona portuária da capital cearense e busca conectar o entorno com o edifício
Centro Dragão do Mar/Ana Raquel S./Divulgação
“O complexo foi concebido como um objeto arquitetônico autônomo, quase uma fortaleza cultural. A barreira física da avenida e o fechamento visual parcial criam uma desconexão com o calçadão, um desafio de integração que permanece até hoje”, comenta Diego Fernandes Zaranza, arquiteto e urbanista, conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU/CE).
E por que Dragão do Mar?
Para nomear esse espaço, a proposta foi homenagear o jangadeiro Francisco José do Nascimento, líder popular que, em 1881, recusou-se a transportar escravizados para os navios negreiros no Porto de Fortaleza. A sua história fez com que ficasse conhecido como Dragão do Mar e marcou a luta abolicionista no Ceará, o primeiro estado brasileiro a libertar os escravizados, em 1884.
O nome do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura é uma homenagem ao Francisco José do Nascimento, um importante jangadeiro e líder abolicionista cearense
Centro Dragão do Mar/Ana Raquel S./Divulgação
“A ideia foi homenagear essa memória de coragem, liberdade e resistência, legado que se mantém vivo também pelo território e comunidade Poço da Draga, vizinha ao centro cultural”, salienta Camila Rodrigues, superintendente do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Um projeto aberto à cidade
Do ponto de vista arquitetônico, o projeto destaca-se pela sua linguagem contemporânea. “A construção aposta em volumes geométricos puros, passeios cobertos e a utilização de materiais como o concreto aparente”, afirma Diego.
A passarela do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura é um dos exemplos da construção que utiliza as formas geométricas como princípio. O vermelho forte também chama atenção por quem passa pelo centro
Centro Dragão do Mar/Ana Raquel S./Divulgação
Ao mesmo tempo, o edifício traz o diálogo com os elementos culturais cearenses, sobretudo das construções sertanejas do interior do estado. “As generosas áreas de convivência evocam as antigas varandas das casas de fazenda nordestinas”, afirma Camila.
As referências também estão mais na materialidade e na espacialidade. As cores terrosas e o concreto remetem à aridez do solo, enquanto as praças ensolaradas, que demandam sombras, se assemelham aos reminiscentes de espaços públicos do interior. “O próprio desenho das coberturas metálicas dos espaços de transição pode ser lido como uma alusão às velas de jangadas”, sugere Diego.
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A história e a articulação entre o passado e o presente também buscou ser materializada no projeto arquitetônico. Parte dos armazéns presentes na zona portuária foi preservada e adaptada para novos usos.
Outro aspecto significativo da construção é o baixo consumo energético. “Apesar da sua área imensa, a demanda por ar-condicionado, por exemplo, é bastante reduzida”, pontua Fausto. Isso se deve a amplitude dos ambientes, o que favorece a ventilação e iluminação natural.
Legado do Centro Dragão do Mar
Após 26 anos do início da sua história, o centro tornou-se importante polo de cultura e arte na cidade. A sua construção permanece preservada, com alterações restritas à programação interna e à integração com a Biblioteca Pública Estadual do Ceará (BECE).
“Seu modelo de centro cultural multifuncional é referência nacional, reunindo museus, teatros, cinemas e espaços de convivência. O Centro Dragão do Mar representa um símbolo da renovação urbana e da potência criativa cearense”, destaca Camila.
A visão aérea permite ver a vasta área ocupada pelo Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, Ceará
Governo Federal Brasileiro/Wikimedia Commons
A conexão com os demais espaços da cidade e a concretização da ideia do edifício-cidade, no entanto, ainda se estabelece como um desafio no presente, sobretudo com a Comunidade do Poço da Draga. “O equipamento cultural de grande porte ainda não conseguiu criar permeabilidades e interfaces efetivas com o tecido social e urbano consolidado, resultando em uma justaposição ao invés de uma simbiose”, pontua Diego.
A comunidade é uma das ocupações populacionais mais antigas de Fortaleza e permanece há mais de 100 anos nesse território, o qual tem sofrido valorização crescente devido a sua importância para a cultura, o lazer, o turismo e a economia da capital cearense.



