Como misturar peças vintage com mobiliário contemporâneo na decoração

Móveis e acessórios novos e antigos podem conviver em harmonia e equilíbrio, criando um lar cheio de personalidade e estilo; saiba como! Com o vintage em alta na decoração, uma das tendências de 2025, muitas pessoas têm buscado referências do estilo para compor os seus lares. Com isso, surgem dúvidas sobre como combinar os elementos mais novos e atuais, de ar mais contemporâneo, com as peças de outras épocas.
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Para ajudar nesta tarefa, buscamos as dicas de três especialistas: o arquiteto Daniel de Castro Cunha, do escritório DCC Arquitetura, e as arquitetas Melina Romano e Fernanda Gonçalves. Veja abaixo:
O que é uma peça vintage?
Uma peça vintage é um objeto – um móvel, acessório ou roupa – com pelo menos 20 anos e, no máximo, 100 anos de história, que carrega a estética e a alma de sua época. Segundo Daniel, mais do que a idade, o que define o vintage é a autenticidade da peça, seja no desenho, no material, seja na forma como foi produzida.
A total integração entre os espaços marca a ala social deste apartamento no Alto de Pinheiro. Mesa de jacarandá do acervo dos moradores. Cadeiras de Jorge Jabour Mauad, da Móveis Cantú. Pendente “1000 Karat Blau”, de Axel Schmid para a FAS. Sofá “Box”, de Jader Almeida. Poltronas “Renata”, de Sergio Rodrigues. Mesa de centro Blast, da Micasa. Tapete da Botteh. Iluminação técnica da Mingrone Iluminação. Projeto da arquiteta Melina Romano
Denílson Machado/Divulgação
“Ela não é apenas uma peça antiga, mas uma representante fiel de um tempo, com valor histórico, afetivo e muitas vezes até de colecionador. Gosto de dizer que o vintage tem essa capacidade rara de conectar passado e presente, trazendo memória, exclusividade e um toque atemporal aos espaços”, fala o arquiteto.
Onde encontrar boas peças vintage?
Daniel recomenda dois caminhos para quem quer garimpar peças vintage: o on-line e o off-line, que é aquele garimpo tradicional, de ir de lugar em lugar.
“No on-line, eu acompanho algumas páginas no Instagram e alguns leilões, onde sei que a procedência do mobiliário é confiável. Quando falamos de objetos menores, é possível se arriscar mais em leilões alternativos, porque dificilmente vale a pena fabricar cópias de peças que têm um valor de revenda baixo, então o risco é menor”, conta.
Essa decoração é marcada pela combinação de elementos vintage e contemporâneos. Poltronas “Diz” (à esq.) e “Paraty”, de Sergio Rodrigues. Projeto do escritório Studio FP02, dos arquitetos Pedro Nogueira e Fernando Pinto
Edgard Cesar/Divulgação
Já no mundo off-line, segundo o arquiteto, cinco cidades brasileiras concentram os principais antiquários do país: Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (SP).
“Estas cidades viveram períodos de forte crescimento justamente nas décadas em que essas peças foram criadas, e até hoje reúnem excelentes antiquários, galerias e galpões que vendem móveis em bom estado ou já restaurados. Muitos desses lugares fazem garimpos pelo Brasil todo, comprando acervos inteiros de casas em cidades menores”, explica.
Dividindo estar e sala de TV, a estante de acrílico desenhada pelo escritório abriga a coleção de toy art, com bonecos do artista Kaws adquiridos em viagens. No home theater, sofá azul com desenho do escritório e executado pela Vila Real Mobiliário divide espaço com banco “Mocho”, de Sergio Rodrigues, na Garimpo Vintage. Paredes revestidas de lâmina de pau-ferro, com execução da JW3 Marcenaria. Sobre o rack da TV, abajur de cerâmica dos anos 1970 e vaso orgânico, ambos da Cápsula Decor. Uma das paredes foi revestida de espelho bronze fornecido por Severino Vidros. Projeto do arquiteto Robert Robl
Marco Antonio/Divulgação
Ele também destaca as cidades do interior, especialmente no Centro-Sul do país, que cresceram ao redor das ferrovias. “Muitas guardam verdadeiros tesouros escondidos em galpões que antes serviam como armazéns. Ali, o garimpo é uma delícia – mistura história, paciência e aquele olhar atento que vai treinando com o tempo”, relata.
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Quando uma peça é considerada contemporânea?
Segundo Melina, um móvel é considerado contemporâneo quando reflete os valores, as estéticas e os modos de vida do tempo presente, geralmente a partir do final do século 20 até os dias atuais. “Não se trata apenas de uma época cronológica, mas de uma atitude projetual atualizada, crítica e conectada com o agora”, diz a profissional.
No lugar de sofás, o ambiente tem um mix de poltronas vintage e contemporâneas, como a azul, modelo “D.153.1”, do designer italiano Gio Ponti para Molteni; a poltrona “Reversível”, do designer austro-argentino Martin Eisler (à direita, ao fundo); e a poltrona com pufe “MP81”, do brasileiro Percival Lafer (à frente), adquirida em antiquário. Tapete listrado feito sob encomenda pela by Kamy. Cortinas com tecido JRJ executadas pela Dauer Decor. Projeto do arquiteto Alexandre Dal Fabbro
Fran Parente/Divulgação
Os móveis que seguem as tendências atuais, costumam ser práticos, funcionais, versáteis e, muitas vezes, têm uma preocupação com sustentabilidade.
“O contemporâneo não precisa ser frio ou minimalista – ele mistura materiais, traz conforto e, principalmente, adapta-se ao dia a dia. É aquele móvel que faz sentido agora, que tem a ver com o nosso momento, com a nossa rotina, e que vai muito além de modismos passageiros”, destaca Daniel.
Como misturar o vintage e o contemporâneo na decoração?
Para criar um mix de vintage com contemporâneo que faça sentido não há uma “receita de bolo”, segundo Melina. “A mistura é livre e autoral de quem está criando o ambiente”, fala.
Encostado na abertura de vidro, sofá da Entreposto convive com peças vintage, como o baú usado por tropeiros no início do século 20 e o engradado madeira da Coca-Cola da década de 1970, compostos com mesa de apoio de Jader Almeida, na Dpot. Tapete listrado da Botteh. Projeto do arquiteto Daniel de Castro Cunha, do escritório DCC Arquitetura
Grutz Fotografia/Divulgação
A arquiteta costuma apostar em uma base neutra, para que o design seja protagonista. “Ora brinco com mais peças vintages, ora com mais peças contemporâneas. Para os iniciantes, vale começar com peças menores para entender melhor a composição, como uma poltrona ou uma mesinha”, ensina.
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O conjunto também deve ter proporção, por isso, é essencial testar os móveis e objetos no local. “Às vezes, as peças têm pesos e tamanhos diversos, e causam uma certa estranheza juntas”, avalia Melina.
Já Fernanda sugere primeiro entender as peças que serão destacadas no layout, baseadas em seu apelo histórico ou no valor sentimental que têm para os moradores antes de iniciar o projeto, para, só depois, pensar nos demais complementos.
Acima do sofá “Ado”, de Danilo Lopes e Paula Gontijo, na Dpot, está a tapeçaria vintage dos anos 1960, do acervo dos moradores. Mesa lateral “Morfa”, do designer Lucas Recchia, Firma Casa. Projeto do arquiteto Luciano Dalla Marta
Renato Navarro/Divulgação
“Para que o projeto tenha unidade, precisamos combinar todos os elementos, como a composição dos quadros, os tons de madeira, a cor da parede – que pode camuflar ou destacar os elementos”, conta. “Por fim, pense em quais móveis fazem sentido juntos, baseados na forma, nas linhas mais retas ou nas curvas, nos móveis mais minimalistas ou bem trabalhados”, continua.
Ela lembra que, mais do que juntar as peças por estilos e épocas, o correto é misturar segundo materiais e cores: complementares, para dar destaque, ou nos mesmos tons, para conferir unidade.
No living do piso inferior, destaca-se a escada de serralheria projetada pelo escritório e executada pela construtora Bergamo Engenharia. O sofá de madeira é da Etel, de onde também vem a mesa de centro. O sofá cinza é do acervo da moradora, assim como a mesa lateral “Saarinen”, o cesto colorido de fibra natural, o tapete e as almofadas. O banco de madeira de dois lugares, uma longarina de auditório, é uma peça de Sergio Rodrigues. Quadro acima do sofá do artista Nuno Ramos. A estante em nichos sob a janela em peroba-do-campo é existente do apartamento. Projeto do escritório Escala Arquitetura, das arquitetas Carolina Escada e Patricia Landau
Juliano Colodeti/MCA Estúdio/Divulgação
Daniel acredita que uma boa dose de bom senso e feeling é essencial para mesclar o novo com o antigo. “Não dá para sair juntando tudo. É preciso cautela e equilíbrio para que o ambiente não acabe com cara de antiquário ou de ‘família vende tudo’”, pontua.
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Também é preciso que as peças façam sentido para o estilo de vida do morador. “O excesso faz com que tudo perca a força. O segredo está em escolher pontualmente o que tem significado para o projeto e deixar essas peças brilharem no espaço”, argumenta.
Políptico de acrílica em tela de Marina Dubal. Sofá de Jader Almeida, da marca Sollos. Tapete de lã da Lider Interiores. Mesa de centro da marca Neobox. Poltronas de couro garimpadas na Pé Palito Vintage. Projeto do escritório Marina Dubal Arquitetura
Estúdio NY18/Divulgação
O arquiteto sugere, ainda, ter pelo menos uma peça de jacarandá para marcar o estilo vintage na decoração, que pode ser um pequeno bowl para aperitivos, um objeto decorativo discreto ou, ainda, móveis de maior porte, como poltronas, cadeiras e aparadores.
“Essa madeira sempre traz charme e sofisticação. Uma curiosidade interessante é que o jacarandá, além dos designers brasileiros, como Sergio Rodrigues e Jorge Zalszupin, também aparece em criações de pequenos artesãos da época que, embora não sejam conhecidos, têm peças muito bem feitas”, comenta.
O layout da área social foi pensando para criar um grande ambiente de conversa. Poltrona “Alta”, de Oscar Niemeyer. Mesa de centro “Pétala”, de Jorge Zalszupin. Sofá curvo da Grande Estilo Estofaria. Projeto do arquiteto Lucas Bastos, à frente do Estúdio Banga
Fabio Jr Severo/Divulgação
Independente do caminho escolhido, a certeza é de que, quando bem executados, os projetos que partem desta mistura de épocas criam lares reais, que contam histórias e são cheios de estilo. “Normalmente, ficam longe daquela sensação de showroom e conferem personalidade aos espaços”, aponta Melina.
“O resultado de uma decoração que mistura objetos de diferentes épocas, sem dúvida, é uma casa única, cheia de alma e com muitas histórias para contar. Cada canto tem um detalhe que faz a diferença”, afirma Daniel.
Antes segregada, a planta do apartamento foi aberta para atender as necessidades do casal de moradores, que adora receber e cozinhar entre amigos e familiares. O ambiente combina arquitetura brutalista e peças contemporâneas e modernistas, como a poltrona de balanço “Pelicano”, de Michel Arnoult. Projeto do Studio Ark, do arquiteto Bruno Pessoa
Júlia Tótoli/Divulgação
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Como os acessórios ajudam a compor o cenário?
Os acessórios vêm para dar o “toque final” ao projeto, humanizando os espaços e imprimindo um ar intencional à decoração. Eles devem ser adicionados por último, após entender o que falta nos ambientes, segundo os profissionais. “Podem ser destacados, por exemplo, objetos vintage com mobiliários contemporâneos ou itens contemporâneos com mobiliário vintage”, indica Fernanda.
Para Daniel, eles são a “cereja do bolo”, o que dá vida ao projeto. “Você pode ter um projeto arquitetônico incrível, mas, se errar nos objetos, o resultado pode desandar. Por isso, antes de propor qualquer novo acessório, fazemos questão de conhecer o acervo que o morador já tem em casa, porque muitos desses itens têm significado e história”, indica.

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