Em seus anos de autoexílio na França, onde viveu de 1965 a 1980 para fugir da ditadura militar no Brasil, o arquiteto Oscar Niemeyer projetou uma de suas primeiras obras depois que estabeleceu o seu escritório em solo europeu. A sede do Partido Comunista Francês (PCF), agora chamada de Espace Niemeyer, ocupa uma ampla esquina no 19º distrito de Paris, de frente para a Place du Colonel Fabien e ladeado pela avenida Mathurin Moreau e pela Boulevard de la Villette.
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Segundo o site do PCF, o projeto iniciou-se quando Niemeyer conheceu o arquiteto comunista francês Jean Nicolas, que o apresentou a Georges Gosnat, chefe da administração do Comitê Central do partido, em 1965.
Na sede do Partido Comunista Francês, a escadaria que dá acesso ao saguão de entrada fica sobre a estrutura branca flutuante ao fundo
Flickr/Guilhem Vellut/Creative Commons
“O projeto para uma nova sede remonta a muitos anos. Durante a sua vida, Maurice Thorez [político do partido] discutiu-o frequentemente comigo, e eu acrescentaria que ele desejava muito ver esta sede construída na Mathurin Moreau, um dos bastiões do movimento operário francês e internacional. A empreitada, contudo, parecia-nos árdua e dispendiosa, o que explica as hesitações que demonstramos muitas vezes durante muito tempo. Mas as coisas mudaram abruptamente quando Jean Nicolas me apresentou a Oscar Niemeyer. Com ele, tudo se tornou simples, ainda que não barato, embora o nosso amigo nos tenha oferecido a sua ajuda gratuitamente”, contou Georges Gosnat em artigo na revista La Nouvelle Critique, de 1971.
De acordo com o Instituto Niemeyer, o primeiro esboço foi feito em apenas três dias pelo brasileiro, que deu o projeto de presente ao PCF. “Nossas visões compartilhadas e nossa luta política foram muito mais importantes do que a arquitetura. E nos tornamos bons amigos”, conta Niemeyer em seu livro de memórias As Curvas do Tempo, de 1998.
A decisão de confiar a construção da nova sede do partido ao brasileiro foi tomada em junho de 1966, baseada nos ideais partidários da época. “O partido de Louis Aragon [escritor], Paul Éluard [poeta] e Picasso [pintor] enfatizava a capacidade dos artistas de transcender a ordem vigente em sua obra criativa, e reconheceu essa capacidade de emancipação na arquitetura de Oscar Niemeyer”, destaca o PCF.
O saguão de entrada da sede do Partido Comunista Francês, em Paris, tem piso irregular projetado por Oscar Niemeyer
Espace Niemeyer/Divulgação
A construção da primeira fase começou em 1968 e incluiu o edifício principal de seis andares, parte do saguão de entrada e do primeiro subsolo, e os dois estacionamentos subterrâneos. As obras foram interrompidas em 1971 por falta de verbas, sendo retomadas somente em 1978.
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Em 1980, quase 15 anos após iniciado o desenho do edifício, a obra foi finalmente concluída, com a construção do restante do subsolo, da cúpula e da praça de entrada.
Oscar Niemeyer projetou lounges ao redor das salas do subsolo da sede do Partido Comunista Francês, em Paris
Flickr/Guilhem Vellut/Creative Commons
Com 3 mil m² de área construída, a sede do PCF foi classificada, em sua totalidade, como Patrimônio Nacional da França em 26 de março de 2007.
Elementos arquitetônicos do Espace Niemeyer
De acordo com a arquiteta e historiadora Styliane Philippou, em sua obra Oscar Niemeyer: Curves of Irreverence, de 2008, o desenho foi guiado pelo desejo de evitar a ocupação excessiva do local, mantendo um equilíbrio entre a área construída e os espaços abertos. Para dar vida as suas ideias, Niemeyer propôs que o hall de entrada fosse posicionado no subsolo, liberando o térreo.
“Na sede do Partido Comunista Francês mostrei como é importante manter exteriormente um jogo harmonioso de volumes e espaços livres, o que explica ter localizado o grande hall da classe operária em subsolo”, relata Niemeyer em As Curvas do Tempo.
O auditório da sede do Partido Comunista Francês, em Paris, tem teto revestido de lâminas de alumínio
Guilhem Vellut/Wikimedia Commons
O projeto final engloba um edifício curvo de seis andares apoiado sobre cinco pares de colunas, com uma série de espaços públicos subterrâneos — hall de entrada, áreas de exposição, lounge, salas de conferência e um auditório. Este último, de teto abobadado, mantém parte de sua cúpula branca de concreto acima do solo, se sobressaindo no conjunto.
“No projeto do Partido Comunista Francês, não me faltou, pelo menos, intuição e poder de decisão. E isso explica a fachada em curvas e o hall semi-enterrado, diferente, deixando o terreno livre para o jogo de volumes e espaços livres que constituem a própria arquitetura. Tivesse prevalecido dúvida em aceitar solução tão inusual, os que hoje visitam o prédio não teria a surpresa do grande hall que tanto o caracteriza, com seu espaços e formas inesperadas, e o piso a descer suavemente até a cúpula que dele surge para o exterior, participando do espetáculo arquitetural imaginado”, analisa Niemeyer em artigo escrito em 2013.
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A fachada de aço inoxidável é envolta por uma cortina de vidro assinada pelo designer francês Jean Prouvé. Para acessar o saguão principal no subsolo, os visitantes descem por uma pequena escadaria coberta por uma estrutura branca flutuante. O jardim e o pátio frontal, com leves inclinações, enfatizam o encontro entre a área externa e o prédio.
“Para dar aos que chegam a impressão de mais amplitude, projetei a escada externa bem estreita, o que permitirá, pelo contraste, o efeito desejado. E procurei manter em todo o prédio a mesma liberdade plástica e a curva livre e lógica que o concreto armado sugere. É o que vocês encontrarão, com unidade, nas curvas da fachada, no corredor sinuoso, nas formas variadas, quase barrocas, do hall e da cobertura que atendem razões de circulação, utilização e visibilidade”, descreve o arquiteto no artigo.
Área de exposições na sede do Partido Comunista Francês, em Paris, que tem projeto de Oscar Niemeyer
Flickr/Guilhem Vellut/Creative Commons
Na parte interna do subterrâneo, o piso irregular é coberto por carpetes verdes. As paredes de concreto moldado in loco trazem curvas e texturas à composição, que conta ainda com paredes espelhadas reflexivas.
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“O hall de entrada deve ser percebido como um passeio arquitetônico. As curvas de concreto (paredes) e outros elementos de concreto (escada, torre técnica, etc.) criam espaços distintos, visíveis apenas ao se deslocar pelo hall. Esses espaços separados não são isolados e permanecem abertos uns aos outros. A continuidade do hall é fluida. O perímetro e a iluminação direcionada evocam a atmosfera de uma clareira na mata (uma trilha)”, detalha o site do PCF.
Dentro do auditório, a cúpula de 11 metros de altura é revestida por milhares de lâminas de alumínio anodizado, que ajudam no isolamento acústico e na difusão da iluminação. O elemento se repete no teto das salas de conferência do subsolo.
O terraço escultural da sede do Partido Comunista Francês oferece vistas panorâmicas de Paris, capital francesa
Flickr/Guilhem Vellut/Creative Commons
Além da parte arquitetônica, Niemeyer assinou alguns dos mobiliários, como os assentos do auditório. A icônica cadeira Alta, desenhada pelo arquiteto, foi usada para criar espaços de encontro no subsolo.
No interior da torre, o brasileiro posicionou escritórios separados por divisórias desmontáveis. Hoje, o PCF não ocupa mais todos os andares do edifício principal, e o sexto pavimento, que abrigava um restaurante, foi convertido em mais uma área de trabalho. No topo do edifício, um amplo terraço escultural oferece vistas panorâmicas de toda Paris.
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Segundo o site do PCF, o projeto iniciou-se quando Niemeyer conheceu o arquiteto comunista francês Jean Nicolas, que o apresentou a Georges Gosnat, chefe da administração do Comitê Central do partido, em 1965.
Na sede do Partido Comunista Francês, a escadaria que dá acesso ao saguão de entrada fica sobre a estrutura branca flutuante ao fundo
Flickr/Guilhem Vellut/Creative Commons
“O projeto para uma nova sede remonta a muitos anos. Durante a sua vida, Maurice Thorez [político do partido] discutiu-o frequentemente comigo, e eu acrescentaria que ele desejava muito ver esta sede construída na Mathurin Moreau, um dos bastiões do movimento operário francês e internacional. A empreitada, contudo, parecia-nos árdua e dispendiosa, o que explica as hesitações que demonstramos muitas vezes durante muito tempo. Mas as coisas mudaram abruptamente quando Jean Nicolas me apresentou a Oscar Niemeyer. Com ele, tudo se tornou simples, ainda que não barato, embora o nosso amigo nos tenha oferecido a sua ajuda gratuitamente”, contou Georges Gosnat em artigo na revista La Nouvelle Critique, de 1971.
De acordo com o Instituto Niemeyer, o primeiro esboço foi feito em apenas três dias pelo brasileiro, que deu o projeto de presente ao PCF. “Nossas visões compartilhadas e nossa luta política foram muito mais importantes do que a arquitetura. E nos tornamos bons amigos”, conta Niemeyer em seu livro de memórias As Curvas do Tempo, de 1998.
A decisão de confiar a construção da nova sede do partido ao brasileiro foi tomada em junho de 1966, baseada nos ideais partidários da época. “O partido de Louis Aragon [escritor], Paul Éluard [poeta] e Picasso [pintor] enfatizava a capacidade dos artistas de transcender a ordem vigente em sua obra criativa, e reconheceu essa capacidade de emancipação na arquitetura de Oscar Niemeyer”, destaca o PCF.
O saguão de entrada da sede do Partido Comunista Francês, em Paris, tem piso irregular projetado por Oscar Niemeyer
Espace Niemeyer/Divulgação
A construção da primeira fase começou em 1968 e incluiu o edifício principal de seis andares, parte do saguão de entrada e do primeiro subsolo, e os dois estacionamentos subterrâneos. As obras foram interrompidas em 1971 por falta de verbas, sendo retomadas somente em 1978.
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Em 1980, quase 15 anos após iniciado o desenho do edifício, a obra foi finalmente concluída, com a construção do restante do subsolo, da cúpula e da praça de entrada.
Oscar Niemeyer projetou lounges ao redor das salas do subsolo da sede do Partido Comunista Francês, em Paris
Flickr/Guilhem Vellut/Creative Commons
Com 3 mil m² de área construída, a sede do PCF foi classificada, em sua totalidade, como Patrimônio Nacional da França em 26 de março de 2007.
Elementos arquitetônicos do Espace Niemeyer
De acordo com a arquiteta e historiadora Styliane Philippou, em sua obra Oscar Niemeyer: Curves of Irreverence, de 2008, o desenho foi guiado pelo desejo de evitar a ocupação excessiva do local, mantendo um equilíbrio entre a área construída e os espaços abertos. Para dar vida as suas ideias, Niemeyer propôs que o hall de entrada fosse posicionado no subsolo, liberando o térreo.
“Na sede do Partido Comunista Francês mostrei como é importante manter exteriormente um jogo harmonioso de volumes e espaços livres, o que explica ter localizado o grande hall da classe operária em subsolo”, relata Niemeyer em As Curvas do Tempo.
O auditório da sede do Partido Comunista Francês, em Paris, tem teto revestido de lâminas de alumínio
Guilhem Vellut/Wikimedia Commons
O projeto final engloba um edifício curvo de seis andares apoiado sobre cinco pares de colunas, com uma série de espaços públicos subterrâneos — hall de entrada, áreas de exposição, lounge, salas de conferência e um auditório. Este último, de teto abobadado, mantém parte de sua cúpula branca de concreto acima do solo, se sobressaindo no conjunto.
“No projeto do Partido Comunista Francês, não me faltou, pelo menos, intuição e poder de decisão. E isso explica a fachada em curvas e o hall semi-enterrado, diferente, deixando o terreno livre para o jogo de volumes e espaços livres que constituem a própria arquitetura. Tivesse prevalecido dúvida em aceitar solução tão inusual, os que hoje visitam o prédio não teria a surpresa do grande hall que tanto o caracteriza, com seu espaços e formas inesperadas, e o piso a descer suavemente até a cúpula que dele surge para o exterior, participando do espetáculo arquitetural imaginado”, analisa Niemeyer em artigo escrito em 2013.
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A fachada de aço inoxidável é envolta por uma cortina de vidro assinada pelo designer francês Jean Prouvé. Para acessar o saguão principal no subsolo, os visitantes descem por uma pequena escadaria coberta por uma estrutura branca flutuante. O jardim e o pátio frontal, com leves inclinações, enfatizam o encontro entre a área externa e o prédio.
“Para dar aos que chegam a impressão de mais amplitude, projetei a escada externa bem estreita, o que permitirá, pelo contraste, o efeito desejado. E procurei manter em todo o prédio a mesma liberdade plástica e a curva livre e lógica que o concreto armado sugere. É o que vocês encontrarão, com unidade, nas curvas da fachada, no corredor sinuoso, nas formas variadas, quase barrocas, do hall e da cobertura que atendem razões de circulação, utilização e visibilidade”, descreve o arquiteto no artigo.
Área de exposições na sede do Partido Comunista Francês, em Paris, que tem projeto de Oscar Niemeyer
Flickr/Guilhem Vellut/Creative Commons
Na parte interna do subterrâneo, o piso irregular é coberto por carpetes verdes. As paredes de concreto moldado in loco trazem curvas e texturas à composição, que conta ainda com paredes espelhadas reflexivas.
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“O hall de entrada deve ser percebido como um passeio arquitetônico. As curvas de concreto (paredes) e outros elementos de concreto (escada, torre técnica, etc.) criam espaços distintos, visíveis apenas ao se deslocar pelo hall. Esses espaços separados não são isolados e permanecem abertos uns aos outros. A continuidade do hall é fluida. O perímetro e a iluminação direcionada evocam a atmosfera de uma clareira na mata (uma trilha)”, detalha o site do PCF.
Dentro do auditório, a cúpula de 11 metros de altura é revestida por milhares de lâminas de alumínio anodizado, que ajudam no isolamento acústico e na difusão da iluminação. O elemento se repete no teto das salas de conferência do subsolo.
O terraço escultural da sede do Partido Comunista Francês oferece vistas panorâmicas de Paris, capital francesa
Flickr/Guilhem Vellut/Creative Commons
Além da parte arquitetônica, Niemeyer assinou alguns dos mobiliários, como os assentos do auditório. A icônica cadeira Alta, desenhada pelo arquiteto, foi usada para criar espaços de encontro no subsolo.
No interior da torre, o brasileiro posicionou escritórios separados por divisórias desmontáveis. Hoje, o PCF não ocupa mais todos os andares do edifício principal, e o sexto pavimento, que abrigava um restaurante, foi convertido em mais uma área de trabalho. No topo do edifício, um amplo terraço escultural oferece vistas panorâmicas de toda Paris.



