Na cartografia particular do designer Lucas Jimeno Dualde, latitudes e longitudes se encontram para definir coordenadas, mas também edificações, estilos, jeitos de viver. É na junção das influências de sua Espanha natal com o Brasil, país onde está radicado há mais de dez anos, e na união do movimento moderno à maneira de Lina Bo Bardi e José Zanine Caldas com o legado do mexicano Luis Barragán que a singularidade de seu trabalho multidimensional se localiza.
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No canto do living, sofá e mesa de centro desenhados por Lucas Jimeno Dualde e, sobre a última, escultura do artista Nino, na Galeria Estação, tudo sobre tapete mineiro – nas esquadrias avistam-se os troncos de biriba
Ruy Teixeira
Na sala de jantar, pendentes feitos com potes cerâmicos pintados por Jejo Cornelsen pairam sobre a mesa desenhada por Lucas Jimeno Dualde e executada pela Marcenaria Itaipava – sobre a bancada, escultura de Zé Bezerra
Ruy Teixeira
No projeto desta casa de campo em Itaipava, Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, ainda outras convergências espaçotemporais se manifestam. As linhas do destino uniram os dois principais artífices do refúgio de inverno: o primeiro com sua demanda por reformar uma antiga construção rural, o segundo com uma proposta rica em referências de quintas portuguesas e edificações árabes. “Percebi que ele apreciava mobiliário com bom desenho e achei que daria para alcançarmos um resultado refinado e despretensioso, o que me interessava”, diz o designer sobre o morador. “Por outro lado, ele acreditou que eu daria conta de converter aquele imóvel de quase 80 anos, usado como cocheira, numa agradável casa de lazer.”
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A tela de Antônio Poteiro e as três esculturas de Nino, todas na Galeria Estação, despontam no detalhe do living
Ruy Teixeira
A parte nova precisa se relacionar com a antiga em termos de proporção, materiais… Nunca ser uma imitação
Ex-voto, na Galeria Estação, exibido no living
Ruy Teixeira
d
Lucas se refere ao desafio de reformar a única edificação remanescente da antiga fazenda São João de Icaraí, que começava a ser transformada em condomínio, num refúgio para a família carioca. Outra confluência se revelou na intenção de preservar ao máximo o que existia ali, mantendo viva a típica linguagem arquitetônica rural. Foi assim que o pavilhão destinado a alimentos tornou-se o trecho contendo a churrasqueira, a parte onde ficavam os cavalos passou a abrigar as salas e cozinhas, assim como o eixo destinado às quatro suítes surgiu do redesenho das antigas cocheiras – agora com uma piscina no meio e vista para as montanhas. “Esse ponto central, uma espécie de pátio interno com água e circulação, remete aos monastérios e à arquitetura mourisca”, situa o designer.
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Dormitório com assoalho de peroba
Ruy Teixeira
Quase um muxarabi, as esquadrias com tronquinhos sugerem os ramos e galhos das árvores
O spa foi revestido com pastilhas da Keramika
Ruy Teixeira
Em nome da harmonia, a profusão de telhados ganhou versão simplificada no bloco dos dormitórios. “O projeto trouxe da arquitetura tradicional portuguesa o jogo de aberturas contidas nos quartos, generosas nos espaços de convivência”, explica Lucas, para em seguida revelar uma inusitada contribuição do proprietário com a proposta: “Ele produziu os caixilhos de aço inox, minimalistas, em sua própria fábrica”. Para o piso, elegeram-se o assoalho de madeira e um tijolo cimentício de tom rosado, garantia de delicadeza e resistência. Uma tonalidade crua de argila, com textura mais rústica por fora e suave por dentro, cobriu as paredes. Exceto no corredor, tingido de azul, num gesto de ousadia inspirado no mestre da cor Luis Barragán, para quem a paleta pode e deve ser ousada nas áreas externas e de transição.
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Os móveis da Madeter Marcenaria acompanham a cadeira de José Zanine Caldas, na Artemobilia Galeria, em um dos quartos
Ruy Teixeira
Na hora de definir o décor, a expertise de Lucas adquirida no núcleo de mobiliário, novos materiais e interiores do escritório de Isay Weinfeld contou a favor. Com seu traquejo, persuadiu o dono da casa a fazer escolhas elegantes e singelas. Peças como as mesas de centro e de jantar, o sofá e os armários da cozinha foram concebidas pelo catalão e executadas por uma marcenaria local. “Não projetei com o requinte necessário a uma morada urbana, mas com o traço simples cabível aqui”, explica o autor. Completam a cena móveis esculpidos de toras de árvores caídas, cadeiras de fibras naturais e objetos e obras de arte popular e naïf (sintonizando, talvez, a pesquisa de Lina Bo Bardi sobre o tema).
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No pavilhão dos quartos, caixilhos da Mude sustentam a porta e a janela do tipo estábulo – os paralelepípedos da construção original aparecem contornando a casa e nos caminhos do jardim
Ruy Teixeira
A composição, sui generis, deu certo. Agradou a todos e o resultado, coeso, não deixou fios soltos. Tanto que, ao concluir a narrativa, o designer faz questão de mencionar outro importante alinhamento de forças no processo criativo, seu próprio time: Augusto Kenji e Pablo Resende fizeram parte da equipe e Juliana Scalizi se encarregou do projeto executivo, todos parceiros na iniciativa que reuniu tantos meridianos e paralelos.
*Matéria originalmente publicada na edição de julho/2025 da Casa Vogue (CV 474), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual, e para assinantes no app Globo Mais.
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Ruy Teixeira
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Ruy Teixeira
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Ruy Teixeira
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Ruy Teixeira
A composição, sui generis, deu certo. Agradou a todos e o resultado, coeso, não deixou fios soltos. Tanto que, ao concluir a narrativa, o designer faz questão de mencionar outro importante alinhamento de forças no processo criativo, seu próprio time: Augusto Kenji e Pablo Resende fizeram parte da equipe e Juliana Scalizi se encarregou do projeto executivo, todos parceiros na iniciativa que reuniu tantos meridianos e paralelos.
*Matéria originalmente publicada na edição de julho/2025 da Casa Vogue (CV 474), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual, e para assinantes no app Globo Mais.
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