Como importantes agentes no trabalho de redução dos impactos das mudanças climáticas no planeta, arquitetos e urbanistas estarão no centro dos debates da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém do Pará, de 10 a 21 de novembro de 2025.
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Segundo a arquiteta e urbanista Patrícia Sarquis Herden, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), esses profissionais são fundamentais na agenda climática, porque atuam em todas as escalas, da moradia à cidade.
“Eles têm a capacidade de propor soluções sustentáveis que vão desde edificações e espaços públicos até o mobiliário urbano, utilizando materiais recicláveis, alternativas energéticas e tecnologias de baixo impacto ambiental”, ela afirma.
O Parque Vitória Régia, em Bauru, SP, destaca a importância dos espaços verdes em meio às grandes cidades
Governo do Estado de São Paulo/Divulgação
Essa atuação permite transformar a realidade das comunidades e contribuir para cidades mais equilibradas e resilientes. “O fazer arquitetônico e urbanístico é, portanto, um instrumento concreto para enfrentar os desafios ambientais e promover qualidade de vida”, diz Patrícia.
Para a arquiteta e urbanista Camila Moreno de Camargo, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP), as estratégias de adaptação e mitigação dos eventos climáticos extremos nas cidades são o principal foco de debate e atuação dos profissionais da área.
“De um lado, porque temos o compromisso de diminuir as emissões de carbono, e isso significa planejamento urbano, moradias próximas ao trabalho, que diminuem deslocamentos, mudança dos modais de deslocamento da população, uso de materiais alternativos nas construções, diminuição do consumo de energia, entre outros”, fala.
Por outro lado, as cidades são extremamente afetadas pelos eventos climáticos, e é fundamental mitigar estes impactos. “A ocupação das cidades de maneira desordenada gerou áreas de pouca permeabilidade do solo, moradias precárias e outras condições que colocam um grande volume de pessoas em risco. É nosso papel desenhar soluções que possam protegê-las”, aponta Camila.
Agenda da COP 30: o que será destaque para arquitetos e urbanistas
Os temas prioritários incluem cidades, governança climática, inovação em sistemas e justiça social. “A programação do evento, definida em dias temáticos, está diretamente ligada a esses assuntos, todos relevantes para a atuação profissional”, coloca Patrícia.
Confira a seguir o que os profissionais da área devem ficar de olho:
10 e 11 de novembro: as discussões se concentram nas cidades, tema central para os profissionais de arquitetura e urbanismo. Ao longo de toda a programação, há pautas em que arquitetos podem atuar de forma integrada, desde o fortalecimento de comunidades até a criação de soluções espaciais sustentáveis.
12 e 13 de novembro: o foco será sobre governança, integridade, cultura, justiça social e ética global, questões que dialogam com a governança climática e com os desafios futuros das cidades.
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14 e 15 de novembro: a conferência discute a transformação de sistemas, com ênfase em energias renováveis e novos materiais. Esses temas se conectam à inovação e à busca por modelos sustentáveis de construção e urbanismo responsável.
17 e 18 de novembro: entram em pauta a gestão planetária e comunitária, a biodiversidade, os oceanos e a participação de povos indígenas, comunidades locais e pequenos e médios empreendedores. Essas discussões envolvem iniciativas que também integram o campo de atuação de arquitetos e urbanistas, principalmente ligadas aos povos originários e ao urbanismo social, voltado a minorias.
19 e 20 de novembro: o debate será sobre mulheres, gênero, pessoas negras, turismo e segurança alimentar que vão tratar da resistência da comunidade. “Inclusive temos uma Comissão de Políticas Afirmativas (CPA), que trata desse tema dentro do Conselho”, conta Patrícia.
Debates relevantes para arquitetos e urbanistas na COP30
Funcionando como uma pré-COP30, a Conferência Internacional CAU 2025, realizada em setembro, trouxe debates relevantes que devem continuar em alta no evento em Belém. Além das questões ambientais, temas como habitação, especialmente para pessoas afetadas por desastres, e urbanismo consciente, com foco em acessibilidade e planejamento inclusivo, estiveram no foco das discussões.
Na conferência do CAU, o conceito de cidade-esponja, apresentado na ocasião pelo arquiteto e urbanista chinês Kongjian Yu (falecido recentemente em um acidente aéreo no Pantanal), foi destacado como referência para soluções resilientes, assim como a arquitetura da paisagem, discutida em parceria com a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), enfatizando a relação com a natureza e o uso consciente do ambiente.
“Também tivemos a Semana da Habitação, com foco nas pessoas atingidas por desastres e que precisam ter uma habitação. Essas pautas devem continuar sendo debatidas na COP30, servindo como base para novos projetos e diretrizes na construção de cidades mais sustentáveis”, explica Patrícia.
Iniciado em 2016, o ambicioso projeto de restauração coordenado pelo arquiteto Kongjian Yu, criador das “cidades-esponja”, transformou cerca de 13 km do canal degradado do rio Meishe, na cidade de Haikou
Turenscape/Divulgação
O evento do CAU destacou, ainda, a emergência climática urbana, apontando a necessidade de integrar políticas de habitação, mobilidade e infraestrutura verde em uma agenda comum de transformação ecológica.
“Foram apontados pela Conferência como temas urgentes: adaptação das cidades a ocorrências extremas, ampliação de áreas verdes e soluções baseadas na natureza, fortalecimento da arquitetura social e de políticas afirmativas e valorização da diversidade territorial e cultural como estratégia de resiliência”, lembra Camila.
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Esses assuntos estarão novamente em pauta na COP30, com eventos programados na Green Zone (espaço aberto ao público). As atividades incluirão painéis e rodas de conversa com profissionais, gestores públicos e representantes da sociedade civil, visando apresentar boas práticas brasileiras e promover a cooperação técnica internacional em torno das cidades sustentáveis.
Na Blue Zone (espaço onde ocorrem as negociações oficiais), o CAU/BR estará no estande Cidades Resilientes, com uma programação diversa sobre o desafio do futuro das cidades. Trata-se do primeiro pavilhão brasileiro com curadoria técnica voltada especificamente para adaptação climática urbana, soluções baseadas na natureza (SbN) e planejamento territorial resiliente.
Decisões da COP30 que podem impactar arquitetos e urbanistas
Patrícia avalia que as definições acerca do futuro das cidades e da resiliência urbana são as que mais podem trazer mudanças no dia a dia dos profissionais do setor. “Isso inclui possíveis normatizações sobre ocupação do solo e planejamento urbano, que podem impactar a forma de projetar e organizar os espaços urbanos”, afirma.
Outro ponto relevante são os materiais de construção, com possíveis recomendações sobre aqueles que devem ser desencorajados ou não estimulados, como concreto e aço. “Esses tipos de materiais e as normativas associadas influenciam diretamente a prática dos arquitetos e urbanistas, permitindo adaptação de projetos e construções para cidades mais sustentáveis e resilientes”, diz Patrícia.
A renovação da orla de Santos, SP, trouxe um grande jardim aberto à população da cidade
Francisco Arrais/Prefeitura de Santos/Divulgação
As decisões tomadas na conferpodem influenciam, ainda, na formulação de políticas públicas, visto que o debate sobre adaptação e mitigação climática envolve diretamente o planejamento urbano, o ordenamento territorial, a habitação e a mobilidade.
“A COP30 deve orientar governos a adotar diretrizes integradas de desenvolvimento urbano sustentável, incorporando soluções baseadas na natureza, infraestrutura verde, gestão das águas e redução das desigualdades socioespaciais. É nesse contexto que arquitetos e urbanistas atuam como formuladores e assessores técnicos, traduzindo metas globais em políticas locais concretas”, detalha Camila.
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Já no campo das práticas profissionais, as decisões da conferência apontam para uma revisão das formas de projetar, construir e gerir o espaço. Isso inclui o uso de materiais de baixo carbono, eficiência energética nas edificações, desenho bioclimático, requalificação de áreas urbanas degradadas e valorização da cultura e da diversidade territorial.
“A arquitetura e o urbanismo são, portanto, instrumentos essenciais para colocar em prática os compromissos internacionais de neutralidade climática e justiça ambiental”, declara Patrícia.
Publicação e cartas à COP30
A publicação CAU na COP30 – Contribuições da Arquitetura e Urbanismo para uma Transformação Ecológica de Desenvolvimento, será entregue às autoridades durante o evento. Ela é resultado do projeto Amazônia Legal: CAU na COP30, da Comissão Especial de Política Urbana e Ambiental (CPUA-CAU/BR). O livro busca refletir sobre os esforços recentes da comissão no país para as questões climáticas e apresenta os projetos de cada região do Brasil.
“A iniciativa reforça o compromisso dos arquitetos e urbanistas no enfrentamento das mudanças climáticas e na necessidade de planejar e construir cidades mais justas e resilientes, capazes de reagir aos danos climáticos observados”, comenta Patrícia.
Capa da publicação do CAU/BR que será entregue às autoridades durante a COP30
CAU-BR/Divulgação
A publicação traz artigos de mais de 40 autores indicados pelos conselhos estaduais e do DF com ideias e sugestões para uma atuação profissional consciente em relação às mudanças climáticas. “A iniciativa contribui para o debate sobre a cidade do futuro, indicando caminhos para reduzir os impactos ambientais da construção e promovendo a articulação de todo o conjunto autárquico em apoio às ações dos arquitetos”, afirma a presidente do CAU/BR.
Além disso, o CAU/SP enviou para a organização da COP30 a Carta da Terra e da Cidade, com importantes reflexões sobre justiça climática e o papel dos profissionais de arquitetura e urbanismo nesse sentido.
Já o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) enviou a Carta de São Luís, que reúne o pensamento sobre uma agenda urbana mundial que possa promover justiça social e preservação ambiental diante do atual cenário de emergência climática, debatidos no Seminário Internacional IAB – Construindo uma Agenda Urbana Mundial para a COP30, realizado em junho em São Luís, MA.
O papel de arquitetos e urbanistas frente às mudanças climáticas
De acordo com Camila, a COP30 vem para provocar os profissionais da área a colocar em prática uma agenda de ação, acompanhada de uma reflexão a respeito do que já podem ser implementado para reduzir a emissão de carbono e mitigar o impacto dos eventos extremos.
“Isso pode ser efetivado desde pequenas ações, como a ampliação do uso da luz natural nas habitações para diminuir o consumo de energia, até a grandes transformações, como planos de mobilidade urbana que tenham como foco a redução dos deslocamentos e a priorização do transporte coletivo”, analisa a arquiteta.
O Centro Cultural Matarazzo, em Presidente Prudente, SP, é um exemplo de como uma construção antiga pode ganhar um novo uso de forma sustentável
Prefeitura de Presidente Prudente/Divulgação
Temas como transição energética justa, mobilidade sustentável, planejamento urbano resiliente, infraestrutura verde, habitação digna e uso racional de recursos naturais têm relação direta com a prática profissional de arquitetos e urbanistas.
“A arquitetura e o urbanismo são essenciais na tradução desses compromissos em ações concretas — desde o planejamento territorial e desenho urbano, que orientam cidades menos desiguais e mais adaptáveis, até soluções construtivas de baixo carbono, que reduzem emissões e ampliam a eficiência energética”, pontua Camila.
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Na análise da arquiteta, cada decisão global sobre clima se desdobra, inevitavelmente, no espaço construído.
“As diversas frentes que compõem a formação do arquiteto urbanista fazem com que ele tenha uma visão privilegiada da ocupação e uso dos territórios. Seja nas construções, seja na paisagem, seja na mobilidade, seja na acessibilidade, seja no patrimônio. É essa capacidade de olhar macro que permite apresentar soluções para o planejamento territorial, sempre aliando qualidade de vida e sustentabilidade”, explica.
Arquitetos e urbanistas elaboraram laudos pós-desastre para avaliar a segurança das edificações após enchentes em Porto Alegre, RS, em 2024
Gilvan Rocha/Agência Brasil
Para Patrícia, os arquitetos e urbanistas têm, ainda, papel fundamental no enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas nas questões relacionadas a ações de proteção e defesa civil nas cidades.
Na prevenção, atuam no mapeamento de risco e identificação de áreas vulneráveis. Na ação de mitigação de risco, desenvolvem projetos para regiões de encostas ou sujeitas a inundações, com o objetivo de reduzir incidentes. Na ocorrência de desastres, trabalham em projetos voltados à adaptação urbana. Um exemplo recente foi o das enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024.
“Houve a atuação de arquitetos e urbanistas por meio da Assistência Técnica de Interesse Público (ATIP) do CAU/BR, elaborando laudos pós-desastre, que avaliam a segurança das edificações para saber se a estrutura está ou não abalada. Essa atuação foi fundamental para saber se as pessoas podiam ou não voltar para suas casas”, detalha.
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A última etapa desse ciclo é a de reconstrução, onde os profissionais projetam a recuperação e requalificação das áreas afetadas, contribuindo para o fortalecimento das políticas de adaptação e resposta climática, e reforçando o papel da profissão na construção de cidades mais seguras e resilientes.
Arquitetos e urbanistas têm também responsabilidade na construção de cidades mais justas e sustentáveis, no impacto das edificações ambiente, na escolha de materiais renováveis e no uso consciente dos recursos naturais. “Quanto mais responsável for o projeto, mais responsável será a estrutura ou a edificação com a natureza”, aponta Patrícia.
A justiça climática também passa pelo direito à cidade, segundo a presidente doo CAU/BR. “Isso significa garantir que o planejamento urbano, os planos diretores e as políticas setoriais, como as de habitação e saneamento, alcancem toda a população, promovendo inclusão e equidade no acesso ao território”, diz.
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Segundo a arquiteta e urbanista Patrícia Sarquis Herden, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), esses profissionais são fundamentais na agenda climática, porque atuam em todas as escalas, da moradia à cidade.
“Eles têm a capacidade de propor soluções sustentáveis que vão desde edificações e espaços públicos até o mobiliário urbano, utilizando materiais recicláveis, alternativas energéticas e tecnologias de baixo impacto ambiental”, ela afirma.
O Parque Vitória Régia, em Bauru, SP, destaca a importância dos espaços verdes em meio às grandes cidades
Governo do Estado de São Paulo/Divulgação
Essa atuação permite transformar a realidade das comunidades e contribuir para cidades mais equilibradas e resilientes. “O fazer arquitetônico e urbanístico é, portanto, um instrumento concreto para enfrentar os desafios ambientais e promover qualidade de vida”, diz Patrícia.
Para a arquiteta e urbanista Camila Moreno de Camargo, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP), as estratégias de adaptação e mitigação dos eventos climáticos extremos nas cidades são o principal foco de debate e atuação dos profissionais da área.
“De um lado, porque temos o compromisso de diminuir as emissões de carbono, e isso significa planejamento urbano, moradias próximas ao trabalho, que diminuem deslocamentos, mudança dos modais de deslocamento da população, uso de materiais alternativos nas construções, diminuição do consumo de energia, entre outros”, fala.
Por outro lado, as cidades são extremamente afetadas pelos eventos climáticos, e é fundamental mitigar estes impactos. “A ocupação das cidades de maneira desordenada gerou áreas de pouca permeabilidade do solo, moradias precárias e outras condições que colocam um grande volume de pessoas em risco. É nosso papel desenhar soluções que possam protegê-las”, aponta Camila.
Agenda da COP 30: o que será destaque para arquitetos e urbanistas
Os temas prioritários incluem cidades, governança climática, inovação em sistemas e justiça social. “A programação do evento, definida em dias temáticos, está diretamente ligada a esses assuntos, todos relevantes para a atuação profissional”, coloca Patrícia.
Confira a seguir o que os profissionais da área devem ficar de olho:
10 e 11 de novembro: as discussões se concentram nas cidades, tema central para os profissionais de arquitetura e urbanismo. Ao longo de toda a programação, há pautas em que arquitetos podem atuar de forma integrada, desde o fortalecimento de comunidades até a criação de soluções espaciais sustentáveis.
12 e 13 de novembro: o foco será sobre governança, integridade, cultura, justiça social e ética global, questões que dialogam com a governança climática e com os desafios futuros das cidades.
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14 e 15 de novembro: a conferência discute a transformação de sistemas, com ênfase em energias renováveis e novos materiais. Esses temas se conectam à inovação e à busca por modelos sustentáveis de construção e urbanismo responsável.
17 e 18 de novembro: entram em pauta a gestão planetária e comunitária, a biodiversidade, os oceanos e a participação de povos indígenas, comunidades locais e pequenos e médios empreendedores. Essas discussões envolvem iniciativas que também integram o campo de atuação de arquitetos e urbanistas, principalmente ligadas aos povos originários e ao urbanismo social, voltado a minorias.
19 e 20 de novembro: o debate será sobre mulheres, gênero, pessoas negras, turismo e segurança alimentar que vão tratar da resistência da comunidade. “Inclusive temos uma Comissão de Políticas Afirmativas (CPA), que trata desse tema dentro do Conselho”, conta Patrícia.
Debates relevantes para arquitetos e urbanistas na COP30
Funcionando como uma pré-COP30, a Conferência Internacional CAU 2025, realizada em setembro, trouxe debates relevantes que devem continuar em alta no evento em Belém. Além das questões ambientais, temas como habitação, especialmente para pessoas afetadas por desastres, e urbanismo consciente, com foco em acessibilidade e planejamento inclusivo, estiveram no foco das discussões.
Na conferência do CAU, o conceito de cidade-esponja, apresentado na ocasião pelo arquiteto e urbanista chinês Kongjian Yu (falecido recentemente em um acidente aéreo no Pantanal), foi destacado como referência para soluções resilientes, assim como a arquitetura da paisagem, discutida em parceria com a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), enfatizando a relação com a natureza e o uso consciente do ambiente.
“Também tivemos a Semana da Habitação, com foco nas pessoas atingidas por desastres e que precisam ter uma habitação. Essas pautas devem continuar sendo debatidas na COP30, servindo como base para novos projetos e diretrizes na construção de cidades mais sustentáveis”, explica Patrícia.
Iniciado em 2016, o ambicioso projeto de restauração coordenado pelo arquiteto Kongjian Yu, criador das “cidades-esponja”, transformou cerca de 13 km do canal degradado do rio Meishe, na cidade de Haikou
Turenscape/Divulgação
O evento do CAU destacou, ainda, a emergência climática urbana, apontando a necessidade de integrar políticas de habitação, mobilidade e infraestrutura verde em uma agenda comum de transformação ecológica.
“Foram apontados pela Conferência como temas urgentes: adaptação das cidades a ocorrências extremas, ampliação de áreas verdes e soluções baseadas na natureza, fortalecimento da arquitetura social e de políticas afirmativas e valorização da diversidade territorial e cultural como estratégia de resiliência”, lembra Camila.
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Esses assuntos estarão novamente em pauta na COP30, com eventos programados na Green Zone (espaço aberto ao público). As atividades incluirão painéis e rodas de conversa com profissionais, gestores públicos e representantes da sociedade civil, visando apresentar boas práticas brasileiras e promover a cooperação técnica internacional em torno das cidades sustentáveis.
Na Blue Zone (espaço onde ocorrem as negociações oficiais), o CAU/BR estará no estande Cidades Resilientes, com uma programação diversa sobre o desafio do futuro das cidades. Trata-se do primeiro pavilhão brasileiro com curadoria técnica voltada especificamente para adaptação climática urbana, soluções baseadas na natureza (SbN) e planejamento territorial resiliente.
Decisões da COP30 que podem impactar arquitetos e urbanistas
Patrícia avalia que as definições acerca do futuro das cidades e da resiliência urbana são as que mais podem trazer mudanças no dia a dia dos profissionais do setor. “Isso inclui possíveis normatizações sobre ocupação do solo e planejamento urbano, que podem impactar a forma de projetar e organizar os espaços urbanos”, afirma.
Outro ponto relevante são os materiais de construção, com possíveis recomendações sobre aqueles que devem ser desencorajados ou não estimulados, como concreto e aço. “Esses tipos de materiais e as normativas associadas influenciam diretamente a prática dos arquitetos e urbanistas, permitindo adaptação de projetos e construções para cidades mais sustentáveis e resilientes”, diz Patrícia.
A renovação da orla de Santos, SP, trouxe um grande jardim aberto à população da cidade
Francisco Arrais/Prefeitura de Santos/Divulgação
As decisões tomadas na conferpodem influenciam, ainda, na formulação de políticas públicas, visto que o debate sobre adaptação e mitigação climática envolve diretamente o planejamento urbano, o ordenamento territorial, a habitação e a mobilidade.
“A COP30 deve orientar governos a adotar diretrizes integradas de desenvolvimento urbano sustentável, incorporando soluções baseadas na natureza, infraestrutura verde, gestão das águas e redução das desigualdades socioespaciais. É nesse contexto que arquitetos e urbanistas atuam como formuladores e assessores técnicos, traduzindo metas globais em políticas locais concretas”, detalha Camila.
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Já no campo das práticas profissionais, as decisões da conferência apontam para uma revisão das formas de projetar, construir e gerir o espaço. Isso inclui o uso de materiais de baixo carbono, eficiência energética nas edificações, desenho bioclimático, requalificação de áreas urbanas degradadas e valorização da cultura e da diversidade territorial.
“A arquitetura e o urbanismo são, portanto, instrumentos essenciais para colocar em prática os compromissos internacionais de neutralidade climática e justiça ambiental”, declara Patrícia.
Publicação e cartas à COP30
A publicação CAU na COP30 – Contribuições da Arquitetura e Urbanismo para uma Transformação Ecológica de Desenvolvimento, será entregue às autoridades durante o evento. Ela é resultado do projeto Amazônia Legal: CAU na COP30, da Comissão Especial de Política Urbana e Ambiental (CPUA-CAU/BR). O livro busca refletir sobre os esforços recentes da comissão no país para as questões climáticas e apresenta os projetos de cada região do Brasil.
“A iniciativa reforça o compromisso dos arquitetos e urbanistas no enfrentamento das mudanças climáticas e na necessidade de planejar e construir cidades mais justas e resilientes, capazes de reagir aos danos climáticos observados”, comenta Patrícia.
Capa da publicação do CAU/BR que será entregue às autoridades durante a COP30
CAU-BR/Divulgação
A publicação traz artigos de mais de 40 autores indicados pelos conselhos estaduais e do DF com ideias e sugestões para uma atuação profissional consciente em relação às mudanças climáticas. “A iniciativa contribui para o debate sobre a cidade do futuro, indicando caminhos para reduzir os impactos ambientais da construção e promovendo a articulação de todo o conjunto autárquico em apoio às ações dos arquitetos”, afirma a presidente do CAU/BR.
Além disso, o CAU/SP enviou para a organização da COP30 a Carta da Terra e da Cidade, com importantes reflexões sobre justiça climática e o papel dos profissionais de arquitetura e urbanismo nesse sentido.
Já o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) enviou a Carta de São Luís, que reúne o pensamento sobre uma agenda urbana mundial que possa promover justiça social e preservação ambiental diante do atual cenário de emergência climática, debatidos no Seminário Internacional IAB – Construindo uma Agenda Urbana Mundial para a COP30, realizado em junho em São Luís, MA.
O papel de arquitetos e urbanistas frente às mudanças climáticas
De acordo com Camila, a COP30 vem para provocar os profissionais da área a colocar em prática uma agenda de ação, acompanhada de uma reflexão a respeito do que já podem ser implementado para reduzir a emissão de carbono e mitigar o impacto dos eventos extremos.
“Isso pode ser efetivado desde pequenas ações, como a ampliação do uso da luz natural nas habitações para diminuir o consumo de energia, até a grandes transformações, como planos de mobilidade urbana que tenham como foco a redução dos deslocamentos e a priorização do transporte coletivo”, analisa a arquiteta.
O Centro Cultural Matarazzo, em Presidente Prudente, SP, é um exemplo de como uma construção antiga pode ganhar um novo uso de forma sustentável
Prefeitura de Presidente Prudente/Divulgação
Temas como transição energética justa, mobilidade sustentável, planejamento urbano resiliente, infraestrutura verde, habitação digna e uso racional de recursos naturais têm relação direta com a prática profissional de arquitetos e urbanistas.
“A arquitetura e o urbanismo são essenciais na tradução desses compromissos em ações concretas — desde o planejamento territorial e desenho urbano, que orientam cidades menos desiguais e mais adaptáveis, até soluções construtivas de baixo carbono, que reduzem emissões e ampliam a eficiência energética”, pontua Camila.
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Na análise da arquiteta, cada decisão global sobre clima se desdobra, inevitavelmente, no espaço construído.
“As diversas frentes que compõem a formação do arquiteto urbanista fazem com que ele tenha uma visão privilegiada da ocupação e uso dos territórios. Seja nas construções, seja na paisagem, seja na mobilidade, seja na acessibilidade, seja no patrimônio. É essa capacidade de olhar macro que permite apresentar soluções para o planejamento territorial, sempre aliando qualidade de vida e sustentabilidade”, explica.
Arquitetos e urbanistas elaboraram laudos pós-desastre para avaliar a segurança das edificações após enchentes em Porto Alegre, RS, em 2024
Gilvan Rocha/Agência Brasil
Para Patrícia, os arquitetos e urbanistas têm, ainda, papel fundamental no enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas nas questões relacionadas a ações de proteção e defesa civil nas cidades.
Na prevenção, atuam no mapeamento de risco e identificação de áreas vulneráveis. Na ação de mitigação de risco, desenvolvem projetos para regiões de encostas ou sujeitas a inundações, com o objetivo de reduzir incidentes. Na ocorrência de desastres, trabalham em projetos voltados à adaptação urbana. Um exemplo recente foi o das enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024.
“Houve a atuação de arquitetos e urbanistas por meio da Assistência Técnica de Interesse Público (ATIP) do CAU/BR, elaborando laudos pós-desastre, que avaliam a segurança das edificações para saber se a estrutura está ou não abalada. Essa atuação foi fundamental para saber se as pessoas podiam ou não voltar para suas casas”, detalha.
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c
A última etapa desse ciclo é a de reconstrução, onde os profissionais projetam a recuperação e requalificação das áreas afetadas, contribuindo para o fortalecimento das políticas de adaptação e resposta climática, e reforçando o papel da profissão na construção de cidades mais seguras e resilientes.
Arquitetos e urbanistas têm também responsabilidade na construção de cidades mais justas e sustentáveis, no impacto das edificações ambiente, na escolha de materiais renováveis e no uso consciente dos recursos naturais. “Quanto mais responsável for o projeto, mais responsável será a estrutura ou a edificação com a natureza”, aponta Patrícia.
A justiça climática também passa pelo direito à cidade, segundo a presidente doo CAU/BR. “Isso significa garantir que o planejamento urbano, os planos diretores e as políticas setoriais, como as de habitação e saneamento, alcancem toda a população, promovendo inclusão e equidade no acesso ao território”, diz.



