Copan, ícone da arquitetura paulista, vira opção de hospedagem e atrai investidores

Localizado no centro de São Paulo, o Copan é uma obra arquitetônica monumental, ícone do modernismo brasileiro e um dos pontos turísticos mais famosos da capital paulista. Com suas curvas sinuosas, projetadas por Oscar Niemeyer, com colaboração do arquiteto Carlos Lemos, o edifício tem se tornado um point de visitantes interessados em uma experiência de estadia diferente na cidade.
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“O prédio em si é um evento. O térreo é cheio de lojas, além da arquitetura icônica. O entorno também é especial, com restaurantes estrelados, bares, casas de show. Saindo a pé, alguns poucos minutos de caminhada são suficientes para chegar a muitos lugares legais”, comenta Natalia R. Camargo, que tem três apartamentos para locação via Airbnb no edifício, o primeiro comprado em 2021.
Os brises da fachada do Copan realçam a ondulação do projeto de Oscar Niemeyer
Flickr/Gabriel Fernandes/Creative Commons
A história do Copan
Idealizado para homenagear a capital paulista em seu quarto centenário, o projeto inicial foi encomendado pela Companhia Pan-americana de Hotéis e Turismo, cuja abreviatura — Copan — deu nome ao prédio. Uma peculiaridade do projeto é o uso de brises, que oferecem proteção solar e ajudam a realçar a fachada ondulada. A sua importância fez com que fosse tombado como Patrimônio Histórico da cidade.
Inaugurado em 1961, o edifício tem 115 metros de altura, 32 andares e 120 mil m² de área construída. Dividido em seis blocos, tem 1.160 apartamentos de tamanhos variados. Como uma “mini cidade no ar”, ele conta até com um CEP próprio. O Copan também tem uma galeria de 72 lojas em seu piso térreo e um cinema, o Cine Copan, que está com rumores de reabertura.
Os grandes caixilhos de vidro garantem a ampla vista para a cidade de São Paulo, um dos grandes atrativos do apartamento no edifício Copan, projetado pela arquiteta Fernanda Altemari pensando em curtas locações
Miti Sameshima/Divulgação
“Há famílias que vivem aqui há mais de 40 anos e jovens tendo pela primeira vez a experiência de morar sozinhos. Isso tudo faz do Copan um espaço diverso, plural e cheio de faces”, descreve o site Airbnb no Copan, criado por Judson Sales em 2014.
O empresário notou o potencial do edifício para as locações de curta temporada após se mudar para o endereço em 2009. “Comecei casualmente. Eu ia sair de férias e apareceu uma pesquisadora estadunidense querendo alugar por um mês. Na época, eu viajava bastante porque trabalhava de home office. Gostei da ideia e comecei a alugar mais frequentemente”, relembra.
O apartamento Borogodó, projetado pela designer de interiores Yanaina Barros, do escritório Yanaina Interiores, foi reformado pela Alê Reformas. Móveis da Via Madeira. Vidros da HDO Vidros. Plantas e decorações da Existe Flor em SP
Monica Assan/Divulgação
Ele conta que, à época, havia poucos apartamentos para alugar no Copan para curta estadia. “No começo, a administração era contra, mas fui ganhando o respeito ao demonstrar que meu trabalho é sério e alinhado às regras do prédio”, diz.
Com o tempo, o negócio cresceu e ele passou a alugar apartamentos vagos, que ele decorava e depois sublocava. Com o sucesso da empreitada, os próprios donos buscaram Judson para que ele cuidasse de suas unidades.
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“Eu comecei fazendo tudo, inclusive limpeza”, fala o investidor, que hoje conta com uma equipe de 15 pessoas e cerca de 10 diaristas para dar conta do negócio, que envolve imóveis de 74 proprietários diferentes.
“Até a pandemia eu fazia tudo de forma artesanal. Depois o negócio explodiu. Muita gente passou a buscar o Copan como um lugar diferente para conhecer na cidade. Eu cheguei a ter mais de 80% de hóspedes paulistanos. Gente que vinha para conhecê-lo por dentro como ideia de diversão, já que os bares e restaurantes estavam fechados”, afirma.
Projetado pela designer de interiores Yanaina Barros, do escritório Yanaina Interiores, o apartamento Pés Descalços traz piso da Granilithos. Obra executada pela Alê Reformas
Monica Assan/Divulgação
De acordo com Judson, as diárias mais em conta partem de R$ 150 e as mais caras chegam a R$ 3 mil, conforme a estrutura do apartamento, tamanho e itens de conforto. “O custo varia muito. Depende se é dia de semana ou fim de semana, se tem grandes eventos na cidade”, fala Natalia.
Como cada apê é bem diferente dos outros, tanto em termos de decoração como de vista e disposição da planta, a experiência é sempre uma novidade.
Apartamento 3220 no Copan tem projeto da Sofia Libório Prata, do escritório SLP Bioarquitetura. Serralheria do Ateliê Edição Limitada. Revestimento de porcelana massa plena no piso e banheiro da Keramika. Tacos originais reaproveitados para elaboração da cama king size, desenhado pelo escritório e executada por Adriano Mazzei. Cobogó fabricado in loco
Carolina Lacaz/Divulgação
“Tentamos trazer acolhimento de lar, de casa, com toda a sua função, para esses menores espaços, visando uma experiência visual, sensorial e de conforto para o hóspede”, destaca a designer de interiores e cenógrafa Yanaina Barros, do escritório Yanaina Interiores, que idealizou alguns dos projetos do Airbnb no Copan.
Em 2023, a empreitada abriu um espaço próprio no térreo do edifício para atender aos hóspedes e guardar itens oferecidos sob demanda, como panelas de fondue, berços, colchões extras e air fryer. “O prédio é bem organizado e exige documentação completa e com antecedência de todos que entram”, aponta Natalia.
O apartamento Lúpulo foi reformado pela DAZ Engenharia, com projeto pela designer de interiores Yanaina Barros, do escritório Yanaina Interiores. Marecnaria da Mendes Marcenaria. Vidros da Dinâmica Vidros. Revestimento da parede da Global Pedras. Plantas e decorações da Existe Flor em SP
Monica Assan/Divulgação
“Evidentemente os conflitos com vizinhos cresceram, já que o volume de hóspedes é de aproximadamente três mil por mês. Não tem como garantir que todos são respeitosos. Mas agimos rapidamente para resolver problemas”, aponta Judson.
Ele também acredita que a locação de curta temporada teve impacto positivo para o Copan. “A valorização dos imóveis foi imensa neste tempo. Um apartamento que em 2015 valia R$ 230 mil, hoje vale mais de R$ 500 mil”, declara.
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“Essa movimentação também foi relevante para os lojistas. Praticamente todos os restaurantes que existem hoje não existiam quando eu comecei”, garante Judson, que conta que quase metade dos hóspedes são da própria capital paulista.
De acordo com Natalia, a taxa de ocupação costuma ser bem alta. “Tenho a sensação de que o público é bem diverso: paulistanos que querem curtir a noite do centro da cidade, admiradores de arquitetura, pessoas comemorando datas especiais, casais”, exemplifica.
Descoberto durante a reforma, o forro nervurado foi reenquadrado para ficar aparente e se transformar em um atrativo do projeto da arquiteta Fernanda Altemari. A escrivaninha desenhada pela arquiteta, executada em MDF cru com revestimento da Monofloor, tem formas orgnânicas que remetem à fachada do edifício Copan, uma homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer, que o projetou. Cadeira da Flexform
Miti Sameshima/Divulgação
Para Judson, o sucesso dos aluguéis de curta temporada no Copan são um somatório de diversos fatores. “Lá atrás o principal atrativo era o valor histórico do prédio e as vistas. Mas isso impulsionou o comércio local que virou uma referência gastronômica. E esses movimentos se alimentam. Como tem mais restaurantes no entorno, isso faz com que mais pessoas tenham interesse por vir”, avalia.
“Por fim, a virada de chave foi entender a importância dos projetos de arquitetura. As pessoas topam pagar mais para estar em um lugar diferente. Que tenha algo que elas não têm em casa. Um cinema, uma banheira, uma decoração autêntica, uma vista”, completa o empresário.
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e
Judson acrescenta que os próximos passos incluem replicar o modelo do Copan em outros endereços. Ele começou, recentemente, a operar locações de curta temporada no edifício Mirante do Vale, do arquiteto Waldomiro Zarzur, concluído nos anos 1960.
“E tenho planos de expandir para outros prédios históricos que passaram por retrofit, como Edifício Virgínia [do arquiteto José Augusto Bellucci, de 1951] e Basílio 177 [ na região da República], que estão em fase final de obras”, revela.

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