Decoração afetiva: como usar lembranças e heranças na casa

Uma decoração verdadeiramente viva e pulsante é aquela que reflete a personalidade do morador. Compor o lar com objetos afetivos, como heranças de família, peças trazidas de viagens e lembranças pessoais, é uma das formas mais simples de trazer identidade à casa, sem gastar muito.
No projeto do seu próprio lar, o arquiteto Vitor Penha trouxe personalidade à sua casa com objetos colecionáveis e de valor afetivo, contrastando a modernidade com decorações vintage
Rafael Castro/Divulgação
“Decoração afetiva é aquela que valoriza memórias, vínculos e objetos que contam a história de quem vive ali. Vai além da estética. Cada elemento tem sentido. Ao invés de seguir tendências, a decoração parte do que é significativo para os moradores, criando ambientes mais autênticos, acolhedores e com presença”, fala a arquiteta Juliana Fabrizzi.
No lar da apresentadora do É de Casa, Talitha Morete, a estante carrega memória afetiva, com adornos da Ekko Home, objetos trazidos de viagens e do acervo pessoal da moradora. O quadro apoiado no aparador roxo foi presente do artista Elimar Matos. Projeto do arquiteto Gregory Copello
Lília Mendel/Divulgação
Segundo a designer de interiores Fernanda Moreira, o décor afetivo pode estar em diversos elementos no ambiente. “Pode ser a cor de uma parede que traz boas recordações aos moradores, um piso antigo, uma obra de arte, uma mesa que faz parte da família há tempos ou objetos que evidenciem paixões, gostos, experiências e memórias”, indica.
No projeto do escritório Pro.a Arquitetos, móvel-bar antigo, em estilo chippendale, é herança de família e faz par com a mesa Saarinen com tampo de mármore nero marquina, com cadeiras Whisbone de madeira ebanizada. O piso de madeira já existente foi mantido
Gisele Rampazzo/Divulgação
Ou seja, quaisquer elementos que tenha um significado especial para o morador podem virar decoração. “Às vezes, o valor não está na peça em si, mas no que ela representa. Em vez de deixá-los escondidos em caixas, o ideal é trazê-los à luz — literalmente — e dar a eles um novo protagonismo”, comenta a arquiteta.
Resgatada de uma obra pelo pai da designer de interiores Mariana Aguiar, a cadeira de madeira foi reformada. Os pratos foram adquiridos em viagem a Dubai
Daniela Magario/Divulgação
Isso inclui itens como fotografias antigas, móveis herdados, peças de arte feita por alguém querido, objetos trazidos de viagens, uma coleção de livros, uma colcha feita à mão, um rádio vintage, louças de família, cartas guardadas, máquinas de costura, malas, colheres de pau, regadores, instrumentos musicais, discos de vinil, etc.
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“Não existe regra. Se o objeto te traz boas lembranças, a sua casa pode e deve acolher. Essas peças despertam conversa, resgatam histórias e ajudam a criar uma casa única, daquela que você pode chamar de sua, com a certeza de que existem ali elementos que ninguém mais tem. Itens que o representam de verdade”, fala Juliana.
A colcha colorida pendurada na parede atrás da cama foi adquirida em uma viagem à Índia pelos moradores e ganhou destaque no ambiente projetado pela arquiteta Solange Calio
Denilson Machado/MCA Estúdio/Divulgação
Por isso, para uma decoração afetiva, não existe padrão a ser seguido. A principal característica é a autenticidade. “A casa ganha alma quando está cheia de camadas que representam a trajetória de quem mora ali. Pode haver mistura de estilos, móveis reaproveitados, peças antigas, artesanato. O importante é que tudo tenha conexão emocional com o morador. É uma decoração com história viva, pessoal e única”, diz Juliana.
No projeto do escritório Von Frühauf Arquitetura e Interiores, a cadeira The Chair, de Hans Wegner 1950, do acervo pessoal dos moradores ganha destaque no home office, assim como a gravura comprada em viagem e outros objetos afetivos pessoais
Fabio Jr. Severo/Divulgação
Para transformar a casa em um espaço com objetos afetivos, a ideia é integrar essas peças com o restante da decoração de forma natural, mas intencional.
A máquina de costura herdada da avó da moradora recebeu a tapeçaria natural da Leva Oficina para compor um cantinho cheio de afeto, no projeto da arquiteta Bianca Rieg
Paulo Hintz/Divulgação
“Uma colcha de crochê pode virar almofada ou manta. Uma cristaleira antiga pode se transformar em apoio no lavabo. Basta ter criatividade e olhar sensível. Um bilhete ou uma receita escrita à mão, daquelas de um prato que a avó preparava, pode ser emoldurada e colocada na cozinha ao lado de louças modernas”, explica Juliana.
Pessoais e preciosos, os detalhes estão em toda parte deste projeto da arquiteta Ana Bahia, como na sala de estar, com o conjunto que forma uma espécie de mesas de centro. Pufe desenhado pela arquiteta recebeu tecido listrado garimpado por ela, assim como os bancos encontrados em antiquários e lojas. As sardinhas foram compradas em Lisboa, em uma viagem a Portugal
Studio Tertúlia / Divulgação
É possível misturar peças cheias de memória com itens contemporâneos, criando equilíbrio, atualizando o olhar e dando novo sentido às histórias. “É recontar o passado com a identidade do presente”, aponta.
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O lar da apresentadora Astrid Fontenelle, projetado pelo designer de interiores Newton Lima, guarda diversos objetos trazidos de viagens, que proporcionam memória afetiva
Rafa Castro/Divulgação
Para usar lembranças e heranças na decoração da casa, comece identificando quais peças têm valor emocional, despertam boas memórias e se conectam com a sua história.
“Depois, é olhar para a rotina e pensar como esses elementos podem estar presentes de forma verdadeira e às vezes até funcional no dia a dia da sua casa. Acredito muito que o toque pessoal está justamente nisso: trazer essas peças para o lar de um jeito atual, usando de outras formas, com liberdade e criatividade”, avalia Juliana.
As duas cadeiras antigas resgatam as tradições da família e ganharam lugar especial na casa neste projeto do Studio Bo.ssa, dos arquitetos Ananda Bastos, Ticiane Zizi e Victor Vazquez
Victor Vazquez/Divulgação
Nem sempre é preciso manter tudo como era. “Às vezes, restaurar ou adaptar pode ser o caminho: pintar um móvel antigo com uma cor atual, emoldurar cartas ou fotos em uma composição de parede, usar louças herdadas no dia a dia ou como peças decorativas abertas, misturar tapetes e tecidos antigos com outros mais contemporâneos”, orienta Fernanda.

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