Em Saint-Tropez, apartamentos reverenciam Bauhaus, estética náutica e design italiano

O Dimorestudio assina a reforma de duas unidades de um edifício vanguardista na Riviera Francesa Desenhado em 1931 pelo arquiteto francês Georges‑Henri Pingusson e construído no ano seguinte, o Latitude 43 foi um projeto ambicioso para a sua época. Não à toa, recebeu o apelido de “transatlântico tropézian”, em referência às dimensões e à arquitetura náutica que o levaram à fama. No meio de uma vasta floresta de pinheiros em Saint-Tropez, no sul da França, o edifício foi originalmente concebido como hotel, uma obra de arte de concreto com cerca de 100 quartos, uma piscina e um salão de baile. Do logotipo à porcelana, do mobiliário aos uniformes da equipe, tudo foi projetado detalhadamente para receber a elite da Riviera Francesa. Mas, como fruto de um gênio incompreendido, não foi devidamente apreciado em seu tempo e, logo após a Segunda Guerra, acabou sendo vendido e transformado em um condomínio de luxo. Quase um século e muitas reviravoltas depois, a dupla de designers Emiliano Salci e Britt Moran, do Dimorestudio, de Milão, restaurou duas de suas unidades, marcadas pela majestade dos códigos arquitetônicos mais importantes da década de 1930.
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Na sala de jantar, pendente Oriente, do Dimorestudio, da Dimoremilano, e tapete de origem marroquina
Andrea Ferrari
Nesta, no quinto andar, a linguagem histórica do imóvel de 120 m² é reinterpretada para criar um espaço contemporâneo e, ainda assim, fiel às suas origens. “Aproveitamos a forte identidade da construção e o mobiliário original, projetado pela designer Eileen Gray, que foi preservado nas áreas comuns”, conta Emiliano. “Também buscamos referências da Bauhaus e do arquiteto italiano Gio Ponti para enfatizar a atmosfera mediterrânea”, completa. Tanto a paleta de cores quanto a materialidade remetem às obras de Ponti no pós-guerra, a exemplo dos azulejos vermelho‑coral do hotel Parco dei Principi, em Roma. O restante tece um diálogo entre estilos, épocas e ícones do design, de Le Corbusier e Marcel Breuer a Gabriella Crespi, que recebem a companhia de peças desenhadas e customizadas pelo próprio Dimorestudio, e pinturas da década de 1990.
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No hall de entrada do edifício, os designers Emiliano Salci e Britt Moran posam sobre o tapete de Georges-Henri Pingusson para a Cogolin
Andrea Ferrari
Procuramos manter a história do espaço e torná-lo contemporâneo
No quarto, luminária de piso 387, design Tito Agnoli para a Oluce, e cerâmicas vintage sobre o armário
Andrea Ferrari
Canto do living com escadas de acesso a outro patamar exibe luminária Porcino, design Luigi Caccia Dominioni para a Azucena
Andrea Ferrari
Na cozinha, marcenaria desenhada pelo Dimorestudio
Andrea Ferrari
+ Emiliano Salci, do Dimorestudio, reflete sobre passado, presente e futuro do design
O duo decidiu manter a estrutura original e aprimorá-la com cores e materiais como tecido, madeira e vidro. Vem da curadoria minuciosa de móveis e obras de arte o arremate da “casa‑corredor, que, tal qual um vagão de trem, percorre todo o comprimento do edifício”, descreve Emiliano. No quarto principal, sobre a cama, a cortina é aberta e fechada como aquelas dos vagões‑dormitório. No banheiro, as penteadeiras lembram móveis náuticos e, na cozinha verde‑petróleo, as refeições são preparadas enquanto se admira o mar. Semelhantes aos de um filme de arte ou romance, os cenários dispõem de um design atento ao passado para escrever um presente plausível, culto e refinado, em nada contraposto à vida contemporânea. “É claro que adicionamos a tecnologia necessária para as necessidades de uma família jovem que vem passar as férias com filhos e amigos”, justifica Britt.
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No banheiro, espelho Greta, do Dimorestudio, da Dimoremilano, e banco Tulip, design Eero Saarinen para a Knoll
Andrea Ferrari
Em um dos corredores do prédio, janelas tipo escotilha fazem referência ao universo náutico
Andrea Ferrari
Na varanda, bancos Alicudi e poltrona Pantelleria, do Dimorestudio, da Dimoremilano
Andrea Ferrari
Recorremos à modernidade da Bauhaus, que foi atualizada sem perder seu estilo e esplendor
Fachada do edifício Latitude 43
Andrea Ferrari
Dois dos nomes mais importantes da cena do design atual, Emiliano e Britt materializam nesta reconstrução modernista de estética naval a filosofia de seu Dimorestudio. Por aqui, tudo é inundado por uma luz trazida por grandes janelas e filtrada por cortinas de linho natural. A atmosfera é relaxante, evocativa, teatral. Sem sair da terra firme, a sensação que se tem é de uma viagem em alto-mar, repleta de beleza, funcionalidade, nostalgia e modernidade.
Tradução: Adriana Mori
*Matéria originalmente publicada na edição de maio/2025 da Casa Vogue (CV 472), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual e para assinantes no app Globo Mais.
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