O Brasil é um país desigual em muitos aspectos e no mercado de Arquitetura e Urbanismo isso é bastante evidente. De acordo levantamento realizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) em 2020, 4,33% dos profissionais que participaram da pesquisa se declararam pretos, 13,1% pardos e apenas 0,2% indígenas. O custo elevado da formação, a falta de redes de apoio e a ausência de referências diversas contribuem para a perpetuação das desigualdades, principalmente entre as mulheres pretas. Para tentar mudar essa realidade, surgiu o Programa de Estágio Aproxima | Diversidade e Inclusão Étnico-Racial na Arquitetura.
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A iniciativa foi criada em 2023 por Caroline Martins, diretora de Diversidade e Inclusão da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura de São Paulo (SAsBEA/SP), com apoio do arquiteto Lourenço Gimenes, sócio do escritório FGMF, que colaborou com a concepção da primeira edição do projeto.
“Inicialmente, surgiu como uma ação interna na FGMF, visando aumentar a diversidade racial na equipe. Mas vimos que não era um problema só nosso, todo o mercado da arquitetura carece de diversidade racial. Acabamos estendendo o programa para nossos amigos e parceiros, e já não é mais uma ação de uma empresa, é um programa do setor todo”, diz Lourenço.
Apenas 4,33% dos arquitetos que participaram de pesquisa do CAU/BR em 2020 se autodeclararam negros
Freepik/Creative Commons
Para gerir a iniciativa, foi criada a Associação Aproxima, uma organização independente e sem fins lucrativos comprometida em promover a diversidade racial e a igualdade de oportunidades.
Segundo Lourenço, hoje o programa conta com a participação de mais de 40 empresas de diversos segmentos: escritórios de arquitetura, paisagismo, interiores, gerenciadoras, construtoras, incorporadoras, indústrias e lojas.
Caroline Martins, idealizadora do Programa de Estágio Aproxima, que hoje se tornou uma organização independente e sem fins lucrativos
Programa Aproxima/Divulgação
O trabalho envolve capacitação, com cursos e oficinas gratuitos; ações culturais e de repertório, com visitas e passeios guiados; e experiência profissional de estágio rotativo, que conecta os estudantes aos diferentes escritórios e empresas participantes, além de oferecer uma rede de apoio e visibilidade profissional, o que amplia as chances de inserção no mercado de trabalho.
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“As empresas recebem letramento racial, que é um processo de aprendizado e troca sobre os efeitos do racismo estrutural e como podemos combatê-lo. Além disso, os alunos têm acesso gratuito a uma biblioteca de cursos de primeira linha e a atividades culturais, de maneira que eles conseguem rechear o currículo com experiências práticas, ferramentas e vivência”, explica o arquiteto da FGMF.
Arquitetos brancos (78,14%) ainda são a esmagadora maioria no mercado de trabalho da área no Brasil, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Freepik/Creative Commons
A iniciativa é voltada a estudantes pretos, pardos e indígenas matriculados entre o 2º e o 4º ano do curso de Arquitetura e Urbanismo de faculdades da capital paulista. As inscrições acontecem duas vezes por ano e são divulgadas pelas redes sociais da associação.
As empresas parceiras oferecem vale-transporte e vale-refeição, além de uma bolsa-estágio com valor mínimo de R$ 1.500 por mês.
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Os estudantes passam por um processo de triagem que assegura o cumprimento dos requisitos de raça, matrícula ativa e residência na cidade de São Paulo. A seleção envolve o preenchimento de um formulário de inscrição, o envio de um vídeo de apresentação e a realização de entrevistas, nas quais são considerados o potencial, o interesse e a trajetória de cada participante.
“O objetivo é identificar estudantes comprometidos com o desenvolvimento pessoal e coletivo, e que se identifiquem com os valores e propósitos do programa”, aponta Caroline, que assumiu a presidência da Associação Aproxima.
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Segundo ela, 90 estudantes já foram beneficiados pelo programa, sendo 53 encaminhados a estágios e 37 ainda na fase de capacitação. “Mas o principal resultado vai além dos números: muitos participantes ganharam confiança, ampliaram seus repertórios profissionais e culturais, e passaram a se enxergar como futuros arquitetos plenamente inseridos no mercado”, avalia.
“A arquitetura ainda é um campo majoritariamente branco e elitizado, com barreiras que começam no acesso à educação e se estendem à permanência e à inserção profissional. Estudantes negros, pardos e indígenas frequentemente não se veem representados, o que impacta diretamente o sentimento de pertencimento e a continuidade na profissão”, ela analisa.
Os estudantes participantes do Programa de Estágio Aproxima, que visa a inclusão de estudantes pretos, pardos e indígenas
Victor Lucena/Divulgação
Vinícius Ortega, de 22 anos, é um dos participantes do programa. Ele, que estuda no Centro Universitário Senac de Santo Amaro, conheceu a iniciativa pelo Instagram e atua, há um ano e meio, no escritório Konigsberger Vannucchi, por onde passou por diferentes setores.
“O estágio em grandes escritórios e instituições de prestígio abre portas que, historicamente, foram restritas a uma parcela muito pequena da população brasileira. Ao oferecer capacitação e experiências práticas, o programa não apenas transforma trajetórias individuais, mas também contribui para uma mudança estrutural no ambiente corporativo”, diz o estudante.
Aos 22 anos, o jovem estudante de Arquitetura Vinícius Ortega é um dos participantes do Programa de Estágio Aproxima
Arquivo Pessoal/Divulgação
Ele acredita que, ao sair do estágio, estará mais confiante para “vender” o seu trabalho e tudo que aprendeu. “O programa permitiu que eu me sentisse e realmente fosse mais capacitado para ingressar e tentar vagas em outras empresas e até confiante o suficiente para criar o meu próprio escritório”, diz
Além disso, o projeto tem gerado mudanças reais nas empresas parceiras, que passaram a adotar práticas inclusivas e conscientes sobre a diversidade racial. “Dessa forma, o Aproxima contribui não apenas para a trajetória individual dos estudantes, mas também para transformações estruturais na arquitetura, tornando o setor mais representativo e equitativo”, diz a presidente da ONG.
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As empresas podem participar por meio de patrocínio institucional, parcerias de estágio, apoio educacional ou ações de letramento racial promovidas pela associação. Também existe a modalidade de apoio para pessoas físicas por meio da plataforma Apoia-se, com doações a partir de R$ 20 mensais.
“A inclusão não acontece de forma espontânea, ela precisa ser planejada, mediada e incentivada. Iniciativas como o Aproxima rompem o isolamento histórico de profissionais racializados, criando referências, acesso e pertencimento. Além disso, a diversidade amplia a qualidade e a relevância da produção arquitetônica, tornando o setor mais representativo da sociedade brasileira”, coloca Caroline.
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A iniciativa foi criada em 2023 por Caroline Martins, diretora de Diversidade e Inclusão da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura de São Paulo (SAsBEA/SP), com apoio do arquiteto Lourenço Gimenes, sócio do escritório FGMF, que colaborou com a concepção da primeira edição do projeto.
“Inicialmente, surgiu como uma ação interna na FGMF, visando aumentar a diversidade racial na equipe. Mas vimos que não era um problema só nosso, todo o mercado da arquitetura carece de diversidade racial. Acabamos estendendo o programa para nossos amigos e parceiros, e já não é mais uma ação de uma empresa, é um programa do setor todo”, diz Lourenço.
Apenas 4,33% dos arquitetos que participaram de pesquisa do CAU/BR em 2020 se autodeclararam negros
Freepik/Creative Commons
Para gerir a iniciativa, foi criada a Associação Aproxima, uma organização independente e sem fins lucrativos comprometida em promover a diversidade racial e a igualdade de oportunidades.
Segundo Lourenço, hoje o programa conta com a participação de mais de 40 empresas de diversos segmentos: escritórios de arquitetura, paisagismo, interiores, gerenciadoras, construtoras, incorporadoras, indústrias e lojas.
Caroline Martins, idealizadora do Programa de Estágio Aproxima, que hoje se tornou uma organização independente e sem fins lucrativos
Programa Aproxima/Divulgação
O trabalho envolve capacitação, com cursos e oficinas gratuitos; ações culturais e de repertório, com visitas e passeios guiados; e experiência profissional de estágio rotativo, que conecta os estudantes aos diferentes escritórios e empresas participantes, além de oferecer uma rede de apoio e visibilidade profissional, o que amplia as chances de inserção no mercado de trabalho.
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“As empresas recebem letramento racial, que é um processo de aprendizado e troca sobre os efeitos do racismo estrutural e como podemos combatê-lo. Além disso, os alunos têm acesso gratuito a uma biblioteca de cursos de primeira linha e a atividades culturais, de maneira que eles conseguem rechear o currículo com experiências práticas, ferramentas e vivência”, explica o arquiteto da FGMF.
Arquitetos brancos (78,14%) ainda são a esmagadora maioria no mercado de trabalho da área no Brasil, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Freepik/Creative Commons
A iniciativa é voltada a estudantes pretos, pardos e indígenas matriculados entre o 2º e o 4º ano do curso de Arquitetura e Urbanismo de faculdades da capital paulista. As inscrições acontecem duas vezes por ano e são divulgadas pelas redes sociais da associação.
As empresas parceiras oferecem vale-transporte e vale-refeição, além de uma bolsa-estágio com valor mínimo de R$ 1.500 por mês.
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Os estudantes passam por um processo de triagem que assegura o cumprimento dos requisitos de raça, matrícula ativa e residência na cidade de São Paulo. A seleção envolve o preenchimento de um formulário de inscrição, o envio de um vídeo de apresentação e a realização de entrevistas, nas quais são considerados o potencial, o interesse e a trajetória de cada participante.
“O objetivo é identificar estudantes comprometidos com o desenvolvimento pessoal e coletivo, e que se identifiquem com os valores e propósitos do programa”, aponta Caroline, que assumiu a presidência da Associação Aproxima.
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Segundo ela, 90 estudantes já foram beneficiados pelo programa, sendo 53 encaminhados a estágios e 37 ainda na fase de capacitação. “Mas o principal resultado vai além dos números: muitos participantes ganharam confiança, ampliaram seus repertórios profissionais e culturais, e passaram a se enxergar como futuros arquitetos plenamente inseridos no mercado”, avalia.
“A arquitetura ainda é um campo majoritariamente branco e elitizado, com barreiras que começam no acesso à educação e se estendem à permanência e à inserção profissional. Estudantes negros, pardos e indígenas frequentemente não se veem representados, o que impacta diretamente o sentimento de pertencimento e a continuidade na profissão”, ela analisa.
Os estudantes participantes do Programa de Estágio Aproxima, que visa a inclusão de estudantes pretos, pardos e indígenas
Victor Lucena/Divulgação
Vinícius Ortega, de 22 anos, é um dos participantes do programa. Ele, que estuda no Centro Universitário Senac de Santo Amaro, conheceu a iniciativa pelo Instagram e atua, há um ano e meio, no escritório Konigsberger Vannucchi, por onde passou por diferentes setores.
“O estágio em grandes escritórios e instituições de prestígio abre portas que, historicamente, foram restritas a uma parcela muito pequena da população brasileira. Ao oferecer capacitação e experiências práticas, o programa não apenas transforma trajetórias individuais, mas também contribui para uma mudança estrutural no ambiente corporativo”, diz o estudante.
Aos 22 anos, o jovem estudante de Arquitetura Vinícius Ortega é um dos participantes do Programa de Estágio Aproxima
Arquivo Pessoal/Divulgação
Ele acredita que, ao sair do estágio, estará mais confiante para “vender” o seu trabalho e tudo que aprendeu. “O programa permitiu que eu me sentisse e realmente fosse mais capacitado para ingressar e tentar vagas em outras empresas e até confiante o suficiente para criar o meu próprio escritório”, diz
Além disso, o projeto tem gerado mudanças reais nas empresas parceiras, que passaram a adotar práticas inclusivas e conscientes sobre a diversidade racial. “Dessa forma, o Aproxima contribui não apenas para a trajetória individual dos estudantes, mas também para transformações estruturais na arquitetura, tornando o setor mais representativo e equitativo”, diz a presidente da ONG.
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As empresas podem participar por meio de patrocínio institucional, parcerias de estágio, apoio educacional ou ações de letramento racial promovidas pela associação. Também existe a modalidade de apoio para pessoas físicas por meio da plataforma Apoia-se, com doações a partir de R$ 20 mensais.
“A inclusão não acontece de forma espontânea, ela precisa ser planejada, mediada e incentivada. Iniciativas como o Aproxima rompem o isolamento histórico de profissionais racializados, criando referências, acesso e pertencimento. Além disso, a diversidade amplia a qualidade e a relevância da produção arquitetônica, tornando o setor mais representativo da sociedade brasileira”, coloca Caroline.



