Estévia: conheça a planta que serve como adoçante natural

Você sabia que o açúcar branco pode ser substituído por uma folha verde, sem calorias e com poder adoçante centenas de vezes maior? É isso mesmo. A natureza nos surpreende com a estévia (Stevia rebaudiana), velha conhecida de quem busca um estilo de vida mais saudável, que pode ser cultivada em sua própria horta.
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A planta tem origem nas regiões montanhosas do Brasil e do Paraguai, distribuída na zona de fronteira entre os dois países. “A estévia é um arbusto com folhas oblongas e lanceoladas. Apresenta crescimento rápido, permitindo a realização do primeiro corte com três a quatro meses de cultivo, e quatro cortes por ano, permanecendo no campo por cinco anos ou mais”, descreve Fábio Gelape Faleiro, pesquisador da Embrapa Cerrados.
Como cuidar da estévia
O cultivo da estévia é bastante simples, exigindo exposição solar, solo leve e bem drenado, além da irrigação cuidadosa para evitar o encharcamento das raízes
umzzzart/Wikimedia Commons
A estévia é considerada uma planta de fácil cultivo e de baixa manutenção, mas requer atenção básica aos cuidados essenciais. “O cultivo da estévia é fácil. É cultivada comercialmente em diversos países com clima subtropical a tropical, especialmente onde há temperaturas amenas e boa luminosidade. Não tolera geadas severas”, conta Fábio.
Confira as condições ideais de cultivo a seguir:
Solo: leve, bem drenado, com pH entre 6,0 e 7,5;
Luz: gosta de alta luminosidade para acumular glicosídeos, substâncias edulcorantes com alto poder adoçante;
Temperatura: entre 20 a 30 °C. Deve ser protegida de geadas e temperaturas muito baixas, que prejudicam seu desenvolvimento;
Adubação: correção da acidez do solo com calcário e aplicação de matéria orgânica (esterco bovino curtido ou aviário) 15 dias após a implantação. Depois dos cortes, realize a adubação de plantio (em covas/sulcos) e de cobertura para garantir a nutrição da planta;
Rega: frequente, mas evitando o encharcar o solo;
Poda: estimula o perfilhamento (emissão de brotos laterais), aumentando a produção de folhas.
Estévia em vaso
A estévia precisa de um vaso resistente, com furos de drenagem, e de tamanho adequado para acomodar a planta e facilitar o manejo
Gabriela F. Ruellan/Wikimedia Commons
O vaso para a estévia deve ser proporcional ao crescimento da planta. Para evitar o apodrecimento das raízes, é fundamental que haja furos de drenagem. Quanto ao material, a escolha depende do estilo do ambiente no qual está inserido, e da necessidade de retenção ou liberação de umidade.
“O tamanho ideal é de 5 litros para plantas pequenas e temporárias, e 15 litros para crescimento mais vigoroso e maior número de colheitas. Quanto maior o tamanho do vaso, maior o tamanho da planta e maior o número de colheitas. Os solos precisam ser leves, férteis e bem drenados. Substratos comerciais a base de fibra de côco também podem ser utilizados com sucesso”, recomenda Fábio.
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Como fazer mudas de estévia
A propagação de estévia por estaquia de galhos é geralmente mais segura do que por sementes, uma vez que produz mudas com as mesmas características genéticas da planta-mãe
Tangopaso/Wikimedia Commons
A estévia pode ser propagada tanto por estacas quanto por sementes. A estaquia é o método mais eficiente, pois garante características uniformes e melhor qualidade. A disseminação por sementes também é uma alternativa, porém menos confiável, devido à baixa taxa de germinação e à variabilidade genética das plantas resultantes.
“As taxas de germinação das sementes são baixas e o crescimento é lento. A propagação por estacas é mais indicada para pequenos plantios devido ao custo da mão de obra para produção das mudas. Uma importante demanda para a pesquisa é viabilizar a propagação da estévia por sementes visando o desenvolvimento de sistemas de produção mais extensivos”, indica Fábio.
Quando colher a estévia?
Para obter o máximo dulçor da estévia, a colheita deve focar nas folhas mais maduras e saudáveis, de cor verde intensa
Flyingbikie (Robert Lynch, Melbourne/Austrália)/Wikimedia Commons
A colheita das folhas deve ocorrer quando 5% dos botões florais se abrem: é nesse estágio que há maior concentração de esteviosídeo, o composto que confere poder adoçante à planta. As folhas devem estar completamente desenvolvidas, verde-escuras e livres de doenças. O processo é realizado com ferramentas de corte, em que se realiza a poda da planta inteira, dois centímetros acima do solo.
“Essas folhas devem ser secas ao sol por seis horas sobre uma superfície de plástico ou de alvenaria, semelhante aos ‘terreiros de secar café’. O ponto ideal de umidade para o armazenamento das folhas é em torno de 10 a 12% de teor de água e/ou quando as folhas ficam quebradiças. Entretanto, antes do armazenamento, as folhas são separadas dos ramos com o uso de um ‘rastelo'”, detalha o pesquisador. A flor é geralmente removida para que o sabor das folhas seja realçado.
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Floração da estévia
A Stevia rebaudiana é classificada como uma Planta de Dia Curto (PDC). Isso significa que, para iniciar a floração, ela precisa de noites longas (13 horas de escuro). Segundo o especialista, a poda ou o transplante em dias curtos atua como um fator de estresse que acelera a indução floral.
As flores da ‘Stevia rebaudiana’ são pequenas e brancas, com cerca de cinco pétalas cada, que crescem em inflorescências agrupadas no topo dos caules, conhecidas como cachos terminais
Ethel Aardvark/Wikimedia Commons
“Nesta condições, a estévia pode iniciar o florescimento muito cedo, logo depois da formação de quatro folhas verdadeiras. Desaconselha-se o plantio nos meses de menor comprimento do dia, afim de prevenir o florescimento das mudas ainda no viveiro. Para uma maior produção de fitomassa, é importante que as plantas de estévia floresçam o mais tardiamente possível”, ele orienta.
Suas flores são pequenas, de cor branca, e nascem em cachos terminais, formando inflorescências. Elas tem aproximadamente 7-15 mm de largura, e não são consideradas ornamentais.
Pragas e doenças na estévia
As manchas na folha da estévia podem ser sinais de uma infecção fúngica, como a mancha-de-alternaria, causada pelo fungo ‘Alternaria solani’
Garlan Miles/Wikimedia Commons
A estévia pode ser suscetível a algumas pragas e doenças fúngicas, especialmente se houver excesso de umidade e nutrientes. “As pragas mais comuns são pulgões, cochonilhas, lagartas, formigas e nematoides. Com relação às doenças, as mais comuns são causadas por fungos dos gêneros Alternaria e Septoria”, revela Fábio.
A prevenção começa com o manejo cultural que inclui boa drenagem e rega adequada. Se necessário, realize tratamentos específicos utilizando soluções naturais e seguras, para evitar a contaminação das folhas, mantendo-as próprias para o consumo. “Deve-se evitar o uso de defensivos porque podem comprometer a qualidade das folhas”, ele complementa.
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A planta estévia como adoçante natural
Segundo a nutricionista Mariana Kirjner Toscani, as folhas da estévia são utilizadas para a extração dos compostos adoçantes. A planta é considerada segura e natural quando empregada na forma de glicosídeos purificados de esteviol. Essa substância foi aprovada por órgãos reguladores como ANVISA, EFSA (Europa) e FDA (Estados Unidos).
“Os principais compostos da Stevia rebaudiana são os glicosídeos de esteviol, especialmente o esteviosídeo e o rebaudiosídeo A, responsáveis pela doçura natural da planta. Esses compostos apresentam poder adoçante aproximadamente 200 a 400 vezes maior que o da sacarose, sem fornecer calorias”, ela argumenta.
As folhas de estévia contêm glicosídeos de esteviol, além de vitaminas (A, C e do Complexo B), minerais (como cálcio, ferro, magnésio, fósforo e zinco) e outros compostos fenólicos e flavonoides
Portal Nmi/Wikimedia Commons
A estévia tem um sabor intensamente doce, mas pode deixar um leve amargor ou gosto metálico residual, principalmente em extratos que não são tão purificados. “Essa percepção varia conforme o tipo de glicosídeo. Recentemente, algumas formulações incluem colorandina, um composto natural que ajuda a reduzir o amargor residual, tornando o sabor mais equilibrado e agradável”, aponta Mariana.
Benefícios e propriedades da estévia
A nutricionista explica que, por ser isenta de calorias e não elevar os níveis de glicose no sangue, a estévia é uma alternativa interessante para pessoas com diabetes ou que desejam reduzir o consumo de açúcar.
“Além disso, não é fermentável por bactérias orais, contribuindo para a prevenção de cáries. Alguns estudos também sugerem um leve efeito na redução da pressão arterial e da glicemia, embora sejam necessárias mais pesquisas para confirmar esses resultados”, ela acrescenta.
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Formas de consumo da estévia
Conhecida por sua versatilidade, a estévia pode ser consumida como adoçante, substituindo o açúcar em receitas frias e quentes. “A estévia é encontrada em pó, gotas concentradas ou em misturas com outros adoçantes, como eritritol ou maltodextrina. Também é amplamente utilizada em bebidas, frutas, iogurtes, sobremesas light ou diet e outros produtos industrializados”, diz Mariana.
Apesar de ser um substituto do açúcar, seu uso na culinária deve ser ajustado, uma vez que a estévia não desempenha as mesmas funções do açúcar. “O açúcar confere volume, textura e caramelização, funções que a estévia não reproduz. Por isso, em receitas como bolos e pães, é indicado associar a estévia a outros ingredientes que mantenham essas propriedades estruturais”, ela compara.
A estévia pode ser usada para adoçar naturalmente chás, sucos e sobremesas, e está disponível em diversas formas, como líquida e em pó
Freepik/jcomp/Creative Commons
“A estévia é centenas de vezes mais doce que o açúcar, sendo necessária uma quantidade muito menor para atingir o mesmo nível de doçura. A equivalência exata varia conforme a marca, a pureza do extrato e o tipo de formulação, portanto é essencial seguir as orientações do fabricante”, destaca Mariana.
A Ingestão Diária Aceitável (IDA) para os glicosídeos de esteviol é de 4 mg por quilo corporal, sendo segura para todas as faixas etárias, incluindo pessoas com diabetes. Ela destaca a importância de verificar o rótulo do produto para identificar os ingredientes e compreender seu perfil calórico e de doçura.
Contraindicações e efeitos colaterais
De modo geral, os glicosídeos purificados são bem tolerados. No entanto, em indivíduos mais sensíveis, seu consumo excessivo pode provocar leve desconforto gastrointestinal. “O uso da folha crua ou de extratos não purificados não é recomendado, pois não possuem aprovação como adoçantes alimentares. Gestantes e pessoas com condições de saúde específicas devem buscar orientação profissional antes do uso contínuo”, alerta Mariana.

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