Jardim inglês: o estilo que valoriza o aspecto natural e bucólico da paisagem

Influenciados pelas paisagens naturais idealizadas em pinturas, eles apresentam a natureza de forma mais livre e espontânea Caminhos curvos e um ar bucólico, onde a natureza para “ordenadamente bagunçada”, marcam os jardins ingleses. Esse estilo de paisagismo surgiu no século 18 como uma reação à estética formal e simétrica dos jardins franceses, como os do famoso Castelo de Versalhes, na França.
“Inspirados pelas ideias do romantismo, eles propunham uma aproximação com a natureza, valorizando o aspecto natural da paisagem. O jardim inglês rompeu com a rigidez geométrica, adotando formas curvas, lagos irregulares, vegetação espontânea e vistas pitorescas”, conta Alexandre Gibau de Lima (@viridarium.artis), botânico da Universidade de Gotemburgo, na Suécia.
Leia mais
Essa estética foi influenciada também pelas paisagens naturais idealizadas em pinturas. “Os jardins ingleses buscavam representar a natureza de forma mais livre e espontânea. A ideia era criar um ambiente que parecesse não planejado, embora fosse cuidadosamente desenhado”, explica o biólogo e paisagista Eduardo Hortenciano.
Um dos primeiros exemplos de jardim inglês é o Stowe Landscape Gardens, em Buckinghamshire, na Inglaterra, desenvolvido a partir de 1718 por William Kent e Lancelot Brown – considerados os “pais” deste modelo de paisagismo.
O Royal Botanic Gardens, em Kew, na Inglaterra, é considerado Patrimônio Mundial da UNESCO
Needpix/Pixabay/Creative Commons
“Ele é considerado um marco no estilo paisagístico naturalista, com lagos, vales suaves e estruturas que remetem à Antiguidade clássica inseridas na paisagem”, conta Alexandre. Outro exemplo de jardim inglês é o parque do Palácio de Blenheim, em Oxfordshire, criado em 1764. “É um dos jardins de propriedade mais cativantes da Inglaterra”, avalia o botânico.
Na Inglaterra, outros belos exemplos são o St. James’s Park, em Londres, que está conectado ao Palácio de Buckingham; o Stourhead Garden, em Wiltshire; o Sissinghurst Castle Garden, em Kent; e o renomado Royal Botanic Gardens, em Kew, considerado Patrimônio Mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
“Ele é reconhecido internacionalmente por reunir uma diversidade de estilos paisagísticos, incluindo o inglês, além de abrigar uma coleção impressionante de plantas em seus parques e estufas”, fala Alexandre.
O parque do Palácio de Blenheim, em Oxfordshire, é um dos jardins ingleses mais bonitos do país
Simon Q/Wikimedia Commons
Fora da Inglaterra, jardins em estilo inglês famosos incluem o Parque Slottsskogen, em Gotemburgo, na Suécia; o Royal Botanical Garden, em Sydney, na Austrália, e o Mount Stewart Garden, em County Down, na Irlanda do Norte.
Leia mais
Características e espécies
Entre as principais características do paisagismo inglês estão os caminhos sinuosos de terra ou cascalho, que rompem com a rigidez dos traçados geométricos tradicionais, criando uma impressão de naturalidade. A vegetação parece nascida de forma espontânea, apesar de planejada.
“Esses caminhos proporcionam perspectivas que ora revelam, ora ocultam pontos de interesse ao observador, conferindo um dinamismo visual ao passeio”, aponta Alexandre.
O paisagismo inglês está presente no St. James’s Park, em Londres, que está conectado ao Palácio de Buckingham
Flickr/Neil Howard/Creative Commons
Os jardins contam com gramados amplos, lagos e espelhos d’água de contornos irregulares, integrando-se harmonicamente ao ambiente. Árvores e arbustos dispostos de forma aparentemente aleatória criam uma sensação de imersão na natureza, como se o visitante estivesse caminhando por uma floresta.
O jardim inglês também costuma contar com ambientes de contemplação, como bancos, pérgolas, gazebos e caramanchões com trepadeiras, além de estátuas, arcos e obeliscos.
O Royal Botanic Gardens, na Inglaterra, abriga uma coleção de plantas em seus parques e suas estufas
Diliff/Wikimedia Commons
“Elementos arquitetônicos, como pontes, templos ou ruínas, enriquecem o cenário, proporcionando contrastes interessantes. Por fim, toda a composição do jardim é pensada de forma pictórica, como se cada vista fosse um quadro cuidadosamente elaborado para encantar e envolver quem o contempla”, detalha Alexandre.
Leia mais
Conforme o botânico, os jardins ingleses, em sua concepção original, eram compostos principalmente por espécies nativas da Europa, como carvalhos, bétulas e azevinhos.
“Mas, durante a expansão imperial britânica e com o fortalecimento de instituições como o Royal Botanic Gardens, esse estilo paisagístico passou a incorporar também espécies exóticas coletadas em viagens científicas por diferentes partes do mundo”, explica o botânico.
Fora da Inglaterra, um jardim em estilo inglês famoso é o Parque Slottsskogen, na Suécia
BIL/Wikimedia Commons
Hoje, segundo Eduardo, são comuns nestes jardins a presença de rosas (principalmente as inglesas e arbustivas), lavandas, lírios, dedaleiras (Digitalis purpurea), hortênsias, peônias, delphinium, campânulas, heras (Hedera helix), e arbustos como buxinhos, azaleias, rododendros.
Jardins ingleses no Brasil
No Brasil, o maior representante do paisagismo inglês é o Parque da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), considerado um dos mais bonitos do país. Com projeto do paisagista belga Arsène Puttemans, ele permanece praticamente inalterado desde sua implantação, em 1905.
O maior representante do paisagismo inglês no Brasil é parque da ESALQ-USP, em Piracicaba
Ivano Gutz/Wikimedia Commons
Leia mais
“O jardim mistura espécies europeias adaptadas ao Brasil, grandes gramados, árvores monumentais, como figueiras e palmeiras-imperiais, caminhos sinuosos, lago com ilha e faz, ainda, uma integração com a arquitetura clássica do campus”, comenta Eduardo.
O parque da ESALQ, no interior paulista, traz uma integração com a arquitetura clássica do campus
Heitor Carvalho Jorge/Wikimedia Commons
Para Alexandre, um aspecto particularmente interessante da ESALQ é a integração harmoniosa entre espécies exóticas – trazidas de diversas partes do mundo – e nativas da flora brasileira, como ipês, aroeiras, jatobás, paineiras e o majestoso jequitibá.
Além do parque no interior paulista, um dos poucos remanescentes é o Campo de São Bento, em Niterói (RJ), também projetado por Arsène Puttemans, mas que passou por alterações ao longo do tempo.
O parque da ESALQ, em Piracicaba, apresenta uma integração harmoniosa entre espécies exóticas e espécies nativas da flora brasileira
Helder Prado/Wikimedia Commons
Segundo Eduardo, outros jardins nacionais com esse estilo incluem o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que tem algumas áreas que remetem ao paisagismo inglês; o Parque Lage, também no Rio, que mescla o estilo francês e o inglês; o Parque da Independência e o Jardim do Museu do Ipiranga, na capital paulista, com áreas influenciadas pelo estilo, apesar da base francesa.
Para se adaptar ao clima e solo brasileiros, Eduardo conta que, nestes parques, muitas espécies europeias de clima temperado foram substituídas por nativas ornamentais, mais rústicas, resistentes ao calor e adaptadas à temperatura tropical. Outras técnicas usadas incluem o uso de sombreamento, para não expor tanto as plantas ao calor, e a irrigação planejada, mantendo a terra sempre úmida.
O Campo de São Bento, em Niterói (RJ), é um dos poucos remanescentes do paisagismo inglês no Brasil
Marcio Sette/Wikimedia Commons
Leia mais
n
Como montar um jardim inglês em casa
Para quem deseja criar um jardim de estilo inglês em casa, os especialistas indicam alguns elementos essenciais para capturar a essência deste tipo de paisagismo, cuja base é a sensação de “natureza controlada”, mas espontânea. “O jardim inglês convida à contemplação – não é só estético, mas emocional”, destaca Eduado. Veja abaixo:
Caminhos curvos ou assimétricos, feitos de terra batida, pedra ou cascalho, rompem com a rigidez dos traçados lineares e conduzem o olhar de forma orgânica pela paisagem;
Combinação de espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas para compor uma vegetação rica, com aparência espontânea e próxima da natureza;
Gramado com áreas de respiro entre canteiros mistos com flores coloridas, além de trepadeiras floridas;
Pequenos bosques e maciços de arbustos dispostos estrategicamente para ocultar e revelar trechos do jardim, criando uma atmosfera de surpresa e encantamento;
Elementos decorativos que funcionam como pontos focais, como bancos, estátuas, vasos clássicos, esculturas discretas, espelhos d’água ou gazebos, ajudam a reforçar o charme bucólico e romântico característico do jardim inglês;
Uso de espécies nativas, como ipês, paineiras, maracujazeiros e quaresmeiras, que oferecem grande valor ornamental e estão adaptadas ao clima e solo da região.
Os jardins ingleses, como o Royal Botanic Gardens, parecem aleatórios, mas foram muito bem planejados
Geograph/Christine Matthews/Creative Commons
Outro ponto importante são as espécies que vão compor esse jardim. “Observe a insolação e escolha aquelas adequadas ao seu clima”, ensina Eduardo. Plantas recomendadas para um jardim inglês no Brasil, segundo o especialista:
Rosas trepadeiras ou arbustivas;
Lantanas, que substituem as lavandas em regiões quentes;
Ixoras, hibiscos, camélias, azaleias, begônias, lírios-da-paz, bromélias, falsas-íris ou dietes;
Trepadeiras, como jasmim-dos-poetas, tumbérgia e sapatinho-de-judia;
Árvores pequenas, como escova-de-garrafa, ipês e manacás-da-serra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima