Jardins italianos: o estilo que busca harmonia, proporção e contemplação

Inspirado pelas vilas romanas antigas, esse estilo de paisagismo traz a natureza ordenada segundo os princípios da razão e da estética clássica Os jardins italianos surgiram na época do Renascimento, por volta do século 15, na região da Toscana, na Itália. “Eles eram um reflexo da nova visão humanista da época, em que a arte, a arquitetura e o paisagismo se uniam para criar espaços racionais, ordenados e contemplativos”, explica a paisagista Claudia Canales.
Leia mais
Adicionar Link
Sua principal inspiração foram os jardins clássicos romanos, conforme Alexandre Gibau de Lima (@viridarium.artis), botânico da Universidade de Gotemburgo, na Suécia. “Os jardins italianos renascentistas buscavam criar espaços de harmonia, proporção e contemplação intelectual. Eles foram concebidos não apenas como extensões das residências nobres, mas como cenários simbólicos, onde a natureza era ordenada segundo os princípios da razão e da estética clássica”, explica ele.
Os jardins da Villa Medici de Fiesole, perto de Florença, trazem terraços, escadarias e geometria formal
Sailko/Wikimedia Commons
Segundo Claudia, esses jardins surgiram, principalmente, em vilas e palácios, projetados para mostrar poder, cultura e domínio sobre a paisagem, mas também para promover o lazer e a meditação. “Eles integravam a casa à natureza de forma visual e simbólica”, conta.
Um dos primeiros exemplos de paisagismo italiano foi o jardim da Villa Medici de Fiesole, próximo de Florença, datado da metade do século 15. “Projetado para a família Médici, o jardim trazia terraços, escadarias, geometria formal e uma forte relação com a paisagem natural – elementos que marcariam os jardins italianos dali em diante”, conta Claudia.
O paisagismo italiano foi consolidado no século 16 com projetos como os da Villa d’Este, em Tivoli
Pexels/Marian Florinel Condruz/Creative Commons
O estilo foi consolidado no século 16 com projetos como os da Villa d’Este, em Tivoli, perto de Roma, classificada como Patrimônio Mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e famosa por suas fontes monumentais; e da Villa Lante, em Bagnaia, exemplo clássico de jardim com eixos geométricos, organização em terraços e refinada estrutura de fontes.
Outros jardins icônicos da Itália são os Jardins de Boboli, no Palazzo Pitti, em Florença, um exemplo clássico da grandiosidade florentina; a Villa Aldobrandini, com a famosa fonte Teatro delle Acque, do século 17; o exuberante jardim da ilha Isola Bella, no Lago Maggiore; e a Villa Borghese, em Roma, um dos maiores parques urbanos de inspiração renascentista.
A Villa d’Este, em Tivoli, perto de Roma, é classificada como Patrimônio Mundial da UNESCO
Palickap/Wikimedia Commons
Fora da Itália, o Longwood Gardens, em Kennett Square, nos Estados Unidos, e os jardins do Palácio de Queluz, em Portugal, trazem características do paisagismo italiano. O estilo também influenciou diretamente outros tipos de jardins pelo mundo, como os franceses. “O Palácio de Versalhes teve inspiração italiana antes de se tornar símbolo do estilo francês”, comenta Claudia.
Jardins italianos no Brasil
No Brasil, os jardins italianos públicos são mais raros. Alexandre cita o Jardim Botânico de Jundiaí, no interior de São Paulo, como o exemplo mais próximo da estética no país. “Ele foi planejado para refletir os elementos clássicos deste estilo e oferece ao visitante uma experiência sensorial e estética inspirada nos jardins europeus, mas adaptada ao contexto brasileiro”, conta.
A Villa Lante, em Bagnaia, é um exemplo clássico de jardim italiano com eixos geométricos
Roberto Ferrari/Wikimedia Commons
Embora menos comuns, alguns jardins históricos nacionais ou de inspiração europeia incorporam elementos italianos. “É o caso do Jardim da Casa das Rosas, em São Paulo, com influência dos jardins formais europeus, e os da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que unem referências francesas e italianas”, aponta Claudia.
Leia mais
Adicionar Link
Por aqui, explica Alexandre, reinterpretações do estilo italiano de paisagismo podem ser encontradas, principalmente, em locais como restaurantes de culinária italiana, vinícolas, condomínios residenciais e shoppings, especialmente quando a arquitetura das construções remete ao estilo neoclássico.
A Villa Borghese, em Roma, é um dos maiores parques urbanos de inspiração renascentista
Krzysztof Mariusz Bieganski/Wikimedia Commons
“Muitos jardins de casarões antigos em cidades coloniais brasileiras foram inspirados nos paisagismos europeus, inclusive os italianos, especialmente aqueles pertencentes a famílias de imigrantes”, cita Claudia.
Características e espécies
Os jardins italianos costumam ter uma estrutura bastante formal e geométrica. “Os eixos são bem definidos, geralmente com longas alamedas, e há forte presença de simetria. O uso de terraços é comum, especialmente em áreas com desnível”, explica Alexandre.
O paisagismo em camadas, ligadas por escadas monumentais e rampas, é decorado com fontes, espelhos d’água e estátuas e esculturas clássicas representando ninfas, deuses e figuras mitológicas, além de vasos de terracota ou de mármore.
O Longwood Gardens, em Kennett Square, nos Estados Unidos, traz características do paisagismo italiano
PVSBond/Wikimedia Commons
Grutas artificiais e templos, muitas vezes decorados com conchas e mosaicos, também são elementos comuns. “Há também uma integração cuidadosa entre arquitetura e paisagismo, onde o jardim serve como extensão da residência, e não como um elemento separado”, aponta o botânico.
Leia mais
Adicionar Link
Os canteiros ornamentais são bem definidos e têm formas retangulares ou quadradas. A composição inclui eixos visuais, com caminhos retos de pedra ou saibro, que conduzem o olhar a um ponto focal. Paredes verdes com topiarias são feitas com arbustos podados em formas geométricas ou artísticas. Os jardins costumam ser murados e fechados com portões de ferro trabalhado.
Os Jardins de Boboli, no Palazzo Pitti, em Florença, são um exemplo clássico da grandiosidade florentina
Flickr/HarshLight/Creative Commons
Segundo Alexandre, as espécies associadas ao jardim italiano são aquelas de folhagens perenes, que conferem estrutura ao longo do ano e permitem formas podadas e geométricas.
“Um clássico é o buxinho (Buxus spp.), muito usado em sebes e topiarias. Já o cipreste italiano (Cupressus sempervirens) é indispensável, tanto pelo valor paisagístico, trazendo uma verticalidade imponente, quanto pelo valor cultural que carrega”, detalha. Este último costuma ser plantado em fileiras verticais para marcar caminhos ou limites.
Entre as árvores mais simbólicas, a oliveira (Olea europaea) se destaca por representar o Mediterrâneo. Já o limoeiro (Citrus spp.) também é frequente, uma vez que, além dos frutos, oferece perfume com suas flores delicadas.
Os jardins do Palácio de Queluz, em Portugal, são marcados por fontes e geometrias características do paisagismo italiano
Vitor Oliveira/Wikimedia Commons
“Ervas e arbustos aromáticos, como alecrim, lavanda e tomilho, são essenciais para evocar os aromas e a atmosfera das vilas italianas. Claro, não podemos esquecer das trepadeiras: o jasmim e as rosas trepadeiras são ótimas para pérgolas e muros, adicionando perfume e textura ao espaço”, explana o botânico.
Leia mais
e
Como montar um jardim italiano em casa
Segundo Alexandre, um jardim italiano adaptado à escala de uma casa deve manter os princípios da simetria e da ordem. “Caminhos com pedriscos ou pedra natural, vasos com topiarias bem aparadas, uma pequena fonte central ou parede com água, e, se possível, esculturas com referências clássicas, são fundamentais”, destaca.
Outro ponto importante é a divisão do espaço em “ambientes”, mesmo que pequenos. “Por exemplo, uma pérgola sombreada com trepadeiras pode funcionar como um refúgio de leitura ou contemplação”, ele explica.
A Villa Medici de Fiesole, próxima de Florença, traz um dos primeiros exemplos de paisagismo italiano
Sailko/Wikimedia Commons
Claudia sugere começar definindo um layout simétrico. “Um canteiro retangular central com buxinhos nas bordas é um bom ponto de partida. Se possível, adicione um elemento de água, como uma pequena fonte ou espelho d’água, além de vasos cerâmicos com cítricos, ervas ou oliveiras”, ensina.
Ao escolher as espécies, a dica é pensar em camadas e em um certo “teatro da natureza”, detalha Alexandre. “Essa fusão entre o clássico europeu e a riqueza botânica brasileira é uma forma elegante de reinterpretar o jardim italiano com identidade tropical”, avalia.
Outro ponto destacado por Claudia é que um jardim italiano caseiro não precisa ser grande. “Basta que ele tenha proporção, cuidado nos detalhes e um toque de arte clássica. Mesmo um pequeno quintal ou varanda pode receber essa elegância atemporal com as escolhas certas”, comenta.
O Jardim Botânico de Jundiaí, no interior paulista, é um exemplo adaptado do estilo italiano no Brasil
Flickr/Eduardo Otubo/Creative Commons
Leia mais
Adicionar Link
Veja abaixo as espécies que os especialistas indicam:
Plantas de folhagem perene, como buxinhos (em meia-sombra) ou murta, que podem ser podadas em formas definidas. Outras opções são a ixoras compactas ou violeteiras (Duranta repens);
Lavanda, alecrim, tomilho, loureiro e manjericão, que remetem aos perfumes do Mediterrâneo;
Ciprestes ajudam a dar verticalidade e reforçar o caráter formal. Podocarpos e pinheiro-de-norfolk também podem ser usados;
Cítricos anões, como limoeiros e laranjeiras, podem ser plantados em vasos;
Árvores frutíferas, como a jabuticabeira, são bem adaptadas ao clima brasileiro e têm valor ornamental;
Hera (Hedera helix), jasmim e rosas trepadeiras são boas para pergolados, muros e cercas-vivas;
Videiras ou glicínias podem cobrir pergolados;
Trepadeiras nativas, como o cipó-de-são-joão (Pyrostegia venusta) e a aleluia (Senna splendida), são exuberantes, perenes e também podem dialogar com o estilo italiano;
Ervas e arbustos nativos do Brasil, como íris-da-praia (Neomarica candida), canudo-de-pito (Senna pendula) e macelas (Achyrocline spp.) trazem beleza e sustentabilidade;
Agapantos e azaleias ajudam a florir com elegância.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima