Jorge Zalszupin ganha primeira exposição na Polônia, sua terra natal

Ele nasceu Jerzy — nome que em português soa como Iéji. Para as filhas, Verônica e Marina, era simplesmente “Pá”. Para Annette, a esposa francesa, era “Poupoul”. Entre tantos nomes e apelidos, Jorge Zalszupin carregou em cada um deles um fragmento de sua própria história. Nascido em Varsóvia e marcado pela diáspora após a Segunda Guerra Mundial, aportuguesou o nome ao chegar ao Brasil e tornou-se um dos mais importantes nomes do design internacional. Aqui, soube como ninguém fundir o modernismo europeu ao artesanato brasileiro, criando um estilo sofisticado, impregnado de alma tropical.
Jerzy ficou na Polônia, enquanto Jorge enraizou-se no país que escolheu para viver e trabalhar. Só retornaria à terra natal já aos 90 anos, em 2002, acompanhado das filhas. Não foi, no entanto, um reencontro doce: “Seu coração se apertou de tristeza”, lembram Verônica e Marina. Embora celebrado no Brasil e no mundo, jamais recebera reconhecimento em sua própria nação. Isso começaria a mudar quando Maria Murawsky, então estudante de arquitetura, se deparou com o famoso carrinho de chá JZ em uma publicação internacional. A curiosidade a levou até Lissa Carmona, CEO e curadora da Etel — marca que, desde 1998, detém os direitos de reprodução das criações do designer. Dessa aproximação nasceu o projeto que, anos depois, culminaria na primeira exposição de Jorge Zalszupin em solo polonês.
À esq., mesa Pétalas e, à dir., poltrona Presidencial
Pion Studio
A mostra Jorge Zalszupin: Warsaw – São Paulo – Warsaw, em cartaz de 6 de setembro a 19 de outubro, ocupa a Villa Gawrońskich — marco arquitetônico de Varsóvia erguido em 1924, dois anos após o nascimento de Zalszupin, em estilo neobarroco. A exposição, realizada em parceria com a Visteria Foundation, fundada pela editora Katarzyna Jordan, propõe um retorno simbólico, uma espécie de reencontro entre criador e origem. “Nosso design é maravilhoso e precisa ser mostrado ao mundo cada vez mais”, afirma Lissa Carmona, amiga da família e curadora da mostra ao lado de Murawsky.
LEIA MAIS
A retrospectiva é concebida como um percurso poético, reunindo mais de 25 peças de mobiliário, 40 desenhos originais e uma seleção de fotografias que evidenciam a trajetória do arquiteto-designer
Pion Studio
A cadeira Kanguru é um dos destaques da exposição
Pion Studio
A retrospectiva é concebida como um percurso poético, reunindo mais de 25 peças de mobiliário, 40 desenhos originais e uma seleção de fotografias que evidenciam a trajetória do arquiteto-designer. No primeiro andar do casarão, sete ambientes de pé-direito alto acolhem móveis icônicos e textos de parede em tons terrosos, emoldurados por plantas tropicais — filodendros, costela-de-adão, samambaias, bromélias e cacto-cipó. Ali, brilham criações como a poltrona Dinamarquesa, as mesas Pétalas, os sofás Presidencial e 801, além de projetos arquitetônicos e documentos que revelam a evolução de seu pensamento criativo. “Queremos mostrar ao público local sua filosofia única, sua sensibilidade modernista e a relevância de sua obra para o design e a arquitetura brasileiros”, explica Murawsky.
Da esq. para a dir., poltrona Ondine, sofá 801, mesa de centro Andorinha e mesa lateral JZ
Pion Studio
À esq., poltrona Ouro Preto e, à dir., poltrona Annette
Pion Studio
Maria Murawsky e Lissa Carmona
Pion Studio
Entre vídeos e fotografias, a mostra resgata também a faceta industrial de Zalszupin, com a linha Eva, de utensílios plásticos lançada nos anos 1970 pela Hevea — concorrente direta da Tupperware. Há ainda espaço para a vida íntima: a casa modernista em São Paulo, hoje transformada em museu, aparece como cenário de afeto, onde Jorge era não apenas designer, mas marido dedicado e pai presente.
Para Verônica e Marina, a exposição significa mais do que reconhecimento tardio: é reparação histórica. “É uma grande honra estarmos aqui, em Varsóvia, cidade que meu pai foi obrigado a abandonar durante a invasão nazista. Temos certeza de que, desta vez, ele está feliz. Este retorno exalta todo o seu trabalho e talento”, afirmam, emocionadas. E, como diriam os brasileiros: salve Jorge.
Revistas Newsletter

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima