Jornalista Giuliana Morrone abre casa sustentável, em Brasília; assista ao tour

Nas alvoradas de agosto a novembro, as flores amarelas dos pequizeiros anunciam que os frutos dourados do Cerrado não demoram a chegar. Giuliana Morrone vê de perto os sinais: acorda e desce as escadas em direção ao pátio interno que guarda uma árvore da espécie como um altar. A casa, em Brasília, foi erguida em torno do pé de pequi, que retribui a gentileza ao se ramificar por ela. “Quando cheguei aqui, ele era pequenininho”, lembra a jornalista, enquanto fala de suas próprias raízes nos 500 m² da morada. “Nasci aqui em 1967 e a cidade foi inaugurada em 1960. A minha terra é esta. Sempre volto para observar e admirar este bioma tão diferente, tão delicado.”
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Jornalista Giuliana Morrone abre casa sustentável, em Brasília; assista ao tour
Minha casa é meu altar. E quantas histórias, quantas memórias há na casa da gente
Na sala de jantar, a luminária 2097/18, design Gino Sarfatti para a Flos, coroa mesa Tulipa, de Eero Saarinen, cadeiras Beg, de Sergio Rodrigues, na Hill House, e colares de mesa de Carol Machado, do Corda Bamba Atelier
Joana França
O retorno de Giuliana à capital se deu após cinco anos como correspondente política em Nova York – uma mudança de paisagem brusca, dos arranha-céus de Manhattan para a vastidão do Planalto Central. “Morar em uma casa não estava nos meus planos. Eu vivia num apartamento pequeno no bairro de Tribeca, quando herdei este terreno dos meus pais”, conta. “Resolvi honrá-los e decidi que esta casa deveria ser sustentável. Ela teria que fazer parte da natureza, e a natureza, parte dela.” Os autores precisariam, portanto, compreender as particularidades da região: missão entregue ao Bloco Arquitetos (integrante da lista Casa Vogue 50), de Daniel Mangabeira, Henrique Coutinho e Matheus Seco.
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Este canto do living exibe cadeira de balanço de Joaquim Tenreiro – na área externa, o espaço gourmet leva mesa de Vandinha Ricci e cadeiras Zagrebe, da Breton
Joana França
No living, a dupla de poltronas Wassily, de Marcel Breuer, figura sobre o piso de taco de cumaru da Indusparquet
Joana França
“Há várias maneiras de exercer consciência ambiental em um projeto utilizando processos construtivos tradicionais”, defende Daniel. Na casa de Giuliana, a filosofia encontra a prática: a residência não tem aberturas voltadas para o poente, possui ambientes vazios que propiciam iluminação e ventilação naturais (privilegiando o vento leste), é respeitosa com a rua sem a necessidade de cercas, além de, claro, “ter sido gentil com o pequizeiro”, recorda o arquiteto. A construção ainda utiliza placas solares para aquecimento de água e painéis fotovoltaicos que completam o sistema energético autossuficiente. Para Daniel, uma conduta sustentável vai além da técnica: trata-se de jogar a favor do relógio. “A verdadeira beleza na arquitetura é aquela que resiste ao tempo, e isso também é sustentabilidade. Não se trata só de uso e aproveitamento de recursos naturais, mas de criar espaços duráveis, que não precisem ser refeitos em poucos anos. Assim, minimizamos o descarte e reduzimos o impacto ambiental.”
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Na sala de jantar, detalhe da máquina de escrever que pertencia ao pai de Giuliana
Joana França
Os mascotes Caramela (à esq.) e Potato descansam sob a escada de mármore
Joana França
No banheiro da suíte, banheira Barcelona, da Victoria + Albert Baths, na Doka Bath Works
Joana França
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Os traços dos representantes da nova geração da arquitetura brasiliense se embrenham no paisagismo de Mariana Siqueira (ou seria o contrário?), do Jardins de Cerrado. Espécies exóticas e nativas convivem em harmonia no jardim interno, embebido da luz natural que atravessa a claraboia nos dois pavimentos. Já o jardim dos fundos, composto por Giuliana, é abastecido apenas por água da chuva. “Tomei a decisão de não ter irrigação aqui. Por que usar tanta água se já estamos nos limites planetários?”, questiona a moradora, que pretende plantar mais forrações, capins e outras plantas que dependam menos da água, já que a região passa por seca de três a cinco meses por ano – um ato de respeito ao ecossistema local, como explica Daniel: “Precisamos acostumar o nosso olhar para a época da seca e entender que o nosso bioma apresenta variações de cor e de floração. Nós, brasileiros, somos muito acostumados à exuberância da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica, sempre verdes e frondosas. O Cerrado se comporta de maneira distinta, mas igualmente rica”.
O ponto de partida do desenho da casa foi o pequizeiro. A cor, o tom, a forma: tudo nele é lindo
No pátio conectado ao escritório, Giuliana, de vestido Quero Melancia, brinca com Caramela e Potato – o pequizeiro é adornado com bandeirinhas do Nepal, presente de uma amiga
Joana França | Beleza: Biel Alvez
Cadeiras da Armando Cerello acompanham uma mesa de apoio de madeira no jardim, tudo sobre piso cerâmico Invecchiatto Rosso, da Lepri
Joana França
O mesmo cuidado desprendido à composição dos jardins preenche os interiores. Do banheiro a céu aberto ao estilo James Turrell, onde a dona da casa toma banho de lua, aos artefatos que simbolizam a espiritualidade, os elementos por ali são carregados de intenção e memória. Habitar esse lugar inspirou movimentos na vida de Giuliana: após 30 anos de carreira no jornalismo político, começou a estudar ESG e outros temas relacionados à sustentabilidade, publicou livro, adotou mais um cachorro – o Potato, para fazer companhia à Caramela – e encontrou um novo amor, com quem tem aprendido a dançar gafieira na sala de estar.
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O pé de pequi sombreia parte da fachada
Joana França
No living, Giuliana repousa no sofá Dock, design Guilherme Wentz para a Decameron, em frente ao jardim com paisagismo de Mariana Siqueira – completam a cena mesa lateral Janete, de Sergio Rodrigues, mesa de centro Cristal, de Bernardo Figueiredo, ambas na Hill House, esculturas de mão adquiridas na Feira de San Telmo, em Buenos Aires, e jogo de xadrez e tapete marroquinos
Joana França | Beleza: Biel Alvez
Algumas coisas, no entanto, nunca mudam: a máquina de escrever que pertencia ao pai e que despertou nela a paixão pela escrita a acompanha em todos os endereços, assim como a tela presenteada pela amiga e artista plástica Maria Lúcia Sigmaringa e a luminária de Gino Sarfatti, que os passarinhos fazem de poleiro. E se algum dia faltar inspiração, há o pequizeiro a postos para ajudar as ideias fluírem. “Às vezes, estou sem criatividade, aí venho para o lado de fora, penso um pouco, dou três passos e volto para a mesa do escritório para continuar meu texto.” No bioma de Giuliana, é sempre tempo de florescer.
*Matéria originalmente publicada na edição de outubro/2025 da Casa Vogue (CV 477), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual e para assinantes no app Globo Mais.
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