Conectando a cidade alta com a cidade baixa, a Ladeira da Misericórdia é uma via pública de Salvador, na Bahia, que, há muitos anos, vive um processo de degradação e segue fechada. Nos anos 1980, um projeto piloto de revitalização foi idealizado pelos arquitetos Lina Bo Bardi, Marcelo Ferraz, Marcelo Suzuki e o engenheiro-arquiteto João Filgueiras Lima (conhecido como Lelé). Mesmo finalizado, o conjunto nunca foi usufruído pela população soteropolitana e, hoje, tem sido revisto por novas propostas de restauração.
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Concebido como ponto de partida para a reabilitação do centro histórico, o conjunto buscava articular arquitetura, cultura, política urbana e inclusão social. A proposta reunia restauro, construção contemporânea e um programa de usos mistos voltado a manter a população vivendo na porção central da capital baiana.
Mais do que um projeto pontual, a Ladeira da Misericórdia foi idealizada como um modelo urbano replicável. “Seria um modelo do que poderíamos fazer em todo o centro histórico. Era uma intervenção pensada para ser expandida para outras escalas”, explica o arquiteto Marcelo Ferraz em entrevista à Casa e Jardim.
A proposta para a Ladeira da Misericórdia era funcionar como um projeto piloto de revitalizar o centro histórico de Salvador. Desenho de Lina Bo Bardi
Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi ©/Reprodução
O contexto de Salvador e a escolha da Ladeira Misericórdia
“A situação da ladeira era muito semelhante à de outros quarteirões do Pelourinho, com casas abandonadas, ruínas e lotes vazios”, relata Rodrigo Sena, arquiteto e coordenador do Teatro Castro Alves, que dedicou seu mestrado ao estudo da Ladeira da Misericórdia. O cenário de degradação, segundo ele, não era exceção, mas regra na maioria do centro histórico.
Nos anos 1970 e 1980, Salvador vivia um processo acelerado de deslocamento do seu eixo econômico e administrativo. A criação de novos centros, fora da área histórica, levou ao abandono progressivo de casarões, sobrados e da infraestrutura urbana.
O projeto surgiu em um momento de alinhamento entre os interesses da gestão municipal e a visão dos arquitetos idealizadores, que buscavam reativar não apenas a Ladeira, mas também outros equipamentos culturais do centro histórico. Fotografia de 1989, autoria não identificada
Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi ©/Reprodução
Diante desse contexto, na segunda gestão do prefeito Mário Kertész, a Ladeira foi escolhida para o plano piloto em uma iniciativa coordenada pela Secretaria de Projetos Especiais e os estudos iniciaram ainda em 1986.
Tal seleção foi motivada tanto pelo significado histórico quanto pela visibilidade. “Trata-se de um dos acessos mais antigos entre a cidade alta e a cidade baixa, moldado por muros de contenção e pela topografia acidentada, além de ser extremamente visível de diferentes partes da cidade”, destaca Rodrigo.
A Ladeira foi um ponto estratégico do ponto de vista histórico e de deslocamento urbano, uma vez que é uma importante via de conexão entre a cidade alta e a cidade baixa
Manuel Sá/Divulgação
A proposta do conjunto arquitetônico da Ladeira da Misericórdia
O imóvel que serviu de base para o projeto era formado por três casas do século 19, uma ruína do século 18 e um terreno baldio então vazio. A proposta consistia em integrar essas partes distintas em um único conjunto arquitetônico, em diálogo com a própria lógica dos centros históricos brasileiros, onde a unidade se destaca justamente pela continuidade da linguagem arquitetônica.
No espaço das residências do século 19, a ideia foi recuperá-las com o uso da argamassa armada. No térreo, haveria um espaço destinado ao comércio, ao artesanato e outras atividades realizadas por aqueles que habitariam a porção superior dos sobrados.
Os sobrados teriam um uso comercial e também residencial, com a premissa de não expulsar os moradores que já viviam ali. Fotografia de 1987 de autoria desconhecida
Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi ©/Reprodução
Por sua vez, no espaço das ruínas, foi projetado o Bar dos Três Arcos, que busca integrar a pré‑existência histórica à materialidade da argamassa. “É como se ali fosse o ponto de encontro daquele conjunto, das pessoas que estão ali e vão usufruir daquele espaço”, destaca Rodrigo.
Já no terreno baldio, idealiza‑se o Restaurante Coati. Por não haver ali uma construção anterior, é justamente nessa parte do conjunto que a linguagem moderna e o caráter do novo se tornam mais evidentes.
Esse desenho de Lina Bo Bardi é um dos estudos para o Restaurante Coati e evidencia a intencionalidade em integrar e tratar a construção como parte da paisagem local
Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi ©/Reprodução
“É uma construção que materializa o que Lina entendia por uma casa, uma construção que é a própria paisagem, se misturando com a vegetação e o solo”, conta Renato Anelli, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e vice-presidente do Instituto Lina B. e P. M. Bardi – Casa de Vidro.
O restaurante oferece aberturas com a vista para a Baía de Todos os Santos, assim como uma mangueira que se entrelaça às placas onduladas de concreto armado utilizadas.
O restaurante oferece aberturas que se voltam tanto para a antiga vegetação quanto para a Baía de Todos os Santos
Manuel Sá/Divulgação
Além do diálogo com a paisagem, o projeto estabelece uma articulação com o patrimônio e com a concepção de restauro proposta por Lina — uma das responsáveis por introduzir no Brasil a abordagem italiana conhecida como “restauro crítico”, que propõe intervenções capazes de dialogar com a construção original, mas também de responder aos novos usos e demandas do espaço.
Nesse sentido, desde o início, um princípio do projeto foi atender a demanda por habitação existente e a rejeição da lógica de higienização social de outras intervenções em áreas históricas brasileiras. Em vez de expulsar moradores residentes, a proposição era por uma arquitetura que fosse capaz de acolher e dialogar com a vida cotidiana. “O social era tão importante quanto a arquitetura, ou até mais. A ideia era que o projeto e o programa de habitação andassem lado a lado”, diz Marcelo.
O projeto da Ladeira da Misericórdia era inovador a partir da ideia de ativar o espaço pré-existente e dialogar com usos contemporâneos
Manuel Sá/Divulgação
Tratava-se da concretização de um modelo, hoje entendido como fachadas ativas, em que os diferentes usos e demandas de quem vive no espaço são trazidos de forma associada. “É um dos poucos lugares em que, de fato, tentou-se resolver o problema social do centro histórico. Trabalho e moradia no mesmo lugar são a chave para que o centro funcione como um lugar vivo”, complementa Rodrigo.
O projeto também marcou o retorno de Lina Bo Bardi, já em seus anos finais de vida, a Salvador — cidade com a qual a arquiteta mantinha uma relação profunda desde o fim dos anos 1950: além da Ladeira, estavam sob sua coordenação projetos como a Casa do Benin, a sede do Olodum, o Teatro Gregório de Matos e o Cine Glauber Rocha.
O uso da argamassa armada
A argamassa armada é um sistema construtivo feito a partir da combinação de argamassa de cimento com telas metálicas, formando placas finas, leves e resistentes. Embora a técnica já existisse, foi a partir do trabalho de João Filgueiras Lima, o Lelé, que passou a ser desenvolvida de forma sistemática no Brasil, especialmente para obras públicas de baixo custo e rápida execução.
À frente da Fábrica de Equipamentos Comunitários (Faec), criada pela prefeitura de Salvador, Lelé estruturou um modelo de produção industrializada dessas peças. Outra vantagem é que esse tipo de material conseguia ser facilmente transportado para regiões de difícil acesso, como o centro histórico da capital baiana.
O uso da argamassa armada era um dos destaques do projeto da Ladeira da Misericórdia e foi uma das colaborações oriundas da parceria com o arquiteto Lelé
Manuel Sá/Divulgação
Na Ladeira da Misericórdia, a argamassa armada foi utilizada tanto na recuperação das casas do século 19 quanto na estabilização das ruínas do século 18. “Ela permitia reforçar estruturas existentes, criar lajes, escadas e contenções, garantindo segurança sem apagar necessariamente a materialidade original”, observa Rodrigo.
Recuperação e novas expectativas para a Ladeira da Misericórdia
Apesar da sua importância, o projeto da Ladeira foi interrompido entre 1989 e 1990, com a mudança da gestão da prefeitura. Ainda que finalizado, o conjunto não foi inaugurado e daquele em momento em diante passa por um processo gradativo de degradação.
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A Ladeira da Misericórdia voltou a ganhar destaque a partir de estudos recentes que analisam o estado atual do conjunto arquitetônico e suas possibilidades de reativação. Nos últimos meses, a Prefeitura de Salvador, o Instituto Bardi e a associação cultural Pivô Arte e Pesquisa têm realizado encontros para discutir caminhos para essa retomada.
Estudos já realizados sobre a estrutura atual indicam um estado de conservação considerável, embora haja necessidade de algumas intervenções em razão do longo período em que o espaço permaneceu sem uso
Manuel Sá/Divulgação
A iniciativa tem sido acompanhada pelos arquitetos Marcelo Suzuki e Marcelo Ferraz, que colaboraram com um diagnóstico sobre o estado de conservação. “O resultado mostrou que, estruturalmente, o conjunto está muito bem, mas irá precisar de intervenções, principalmente onde há ferragem exposta, infiltrações e a necessidade de refazer toda a parte elétrica, hidráulica e de escoamento de água”, diz Ferraz.
Outro desafio é que, hoje, a Ladeira se configura como uma obra histórica, o que exige ainda mais cuidado nas intervenções. “Não se trata apenas de restaurar uma obra moderna que já é histórica; é preservar o espírito do projeto, que compreendia o patrimônio como algo vivo, em constante transformação”, destaca Renato
O futuro do conjunto da Ladeira da Misericórdia segue em discussão, mas deixa um importante legado para a arquitetura e os modos de pensar o patrimônio em zonas históricas no Brasil
Manuel Sá/Divulgação
Os rumos do espaço seguem em discussão e em diálogo entre os diferentes agentes envolvidos. “A grande tarefa do que está sendo feito agora passa pela presença dos autores do projeto original. Ter esses agentes envolvidos é fundamental”, pontua Rodrigo.
A proposta é que o conjunto torne-se um centro cultural, com atividades diversas e residências artísticas. “A ideia nunca foi transformá-lo em uma galeria fechada, mas em um lugar de uso público, onde as pessoas possam circular, comer, ouvir música e se apropriar do espaço”, reflete Marcelo Ferraz.
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Concebido como ponto de partida para a reabilitação do centro histórico, o conjunto buscava articular arquitetura, cultura, política urbana e inclusão social. A proposta reunia restauro, construção contemporânea e um programa de usos mistos voltado a manter a população vivendo na porção central da capital baiana.
Mais do que um projeto pontual, a Ladeira da Misericórdia foi idealizada como um modelo urbano replicável. “Seria um modelo do que poderíamos fazer em todo o centro histórico. Era uma intervenção pensada para ser expandida para outras escalas”, explica o arquiteto Marcelo Ferraz em entrevista à Casa e Jardim.
A proposta para a Ladeira da Misericórdia era funcionar como um projeto piloto de revitalizar o centro histórico de Salvador. Desenho de Lina Bo Bardi
Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi ©/Reprodução
O contexto de Salvador e a escolha da Ladeira Misericórdia
“A situação da ladeira era muito semelhante à de outros quarteirões do Pelourinho, com casas abandonadas, ruínas e lotes vazios”, relata Rodrigo Sena, arquiteto e coordenador do Teatro Castro Alves, que dedicou seu mestrado ao estudo da Ladeira da Misericórdia. O cenário de degradação, segundo ele, não era exceção, mas regra na maioria do centro histórico.
Nos anos 1970 e 1980, Salvador vivia um processo acelerado de deslocamento do seu eixo econômico e administrativo. A criação de novos centros, fora da área histórica, levou ao abandono progressivo de casarões, sobrados e da infraestrutura urbana.
O projeto surgiu em um momento de alinhamento entre os interesses da gestão municipal e a visão dos arquitetos idealizadores, que buscavam reativar não apenas a Ladeira, mas também outros equipamentos culturais do centro histórico. Fotografia de 1989, autoria não identificada
Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi ©/Reprodução
Diante desse contexto, na segunda gestão do prefeito Mário Kertész, a Ladeira foi escolhida para o plano piloto em uma iniciativa coordenada pela Secretaria de Projetos Especiais e os estudos iniciaram ainda em 1986.
Tal seleção foi motivada tanto pelo significado histórico quanto pela visibilidade. “Trata-se de um dos acessos mais antigos entre a cidade alta e a cidade baixa, moldado por muros de contenção e pela topografia acidentada, além de ser extremamente visível de diferentes partes da cidade”, destaca Rodrigo.
A Ladeira foi um ponto estratégico do ponto de vista histórico e de deslocamento urbano, uma vez que é uma importante via de conexão entre a cidade alta e a cidade baixa
Manuel Sá/Divulgação
A proposta do conjunto arquitetônico da Ladeira da Misericórdia
O imóvel que serviu de base para o projeto era formado por três casas do século 19, uma ruína do século 18 e um terreno baldio então vazio. A proposta consistia em integrar essas partes distintas em um único conjunto arquitetônico, em diálogo com a própria lógica dos centros históricos brasileiros, onde a unidade se destaca justamente pela continuidade da linguagem arquitetônica.
No espaço das residências do século 19, a ideia foi recuperá-las com o uso da argamassa armada. No térreo, haveria um espaço destinado ao comércio, ao artesanato e outras atividades realizadas por aqueles que habitariam a porção superior dos sobrados.
Os sobrados teriam um uso comercial e também residencial, com a premissa de não expulsar os moradores que já viviam ali. Fotografia de 1987 de autoria desconhecida
Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi ©/Reprodução
Por sua vez, no espaço das ruínas, foi projetado o Bar dos Três Arcos, que busca integrar a pré‑existência histórica à materialidade da argamassa. “É como se ali fosse o ponto de encontro daquele conjunto, das pessoas que estão ali e vão usufruir daquele espaço”, destaca Rodrigo.
Já no terreno baldio, idealiza‑se o Restaurante Coati. Por não haver ali uma construção anterior, é justamente nessa parte do conjunto que a linguagem moderna e o caráter do novo se tornam mais evidentes.
Esse desenho de Lina Bo Bardi é um dos estudos para o Restaurante Coati e evidencia a intencionalidade em integrar e tratar a construção como parte da paisagem local
Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi ©/Reprodução
“É uma construção que materializa o que Lina entendia por uma casa, uma construção que é a própria paisagem, se misturando com a vegetação e o solo”, conta Renato Anelli, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e vice-presidente do Instituto Lina B. e P. M. Bardi – Casa de Vidro.
O restaurante oferece aberturas com a vista para a Baía de Todos os Santos, assim como uma mangueira que se entrelaça às placas onduladas de concreto armado utilizadas.
O restaurante oferece aberturas que se voltam tanto para a antiga vegetação quanto para a Baía de Todos os Santos
Manuel Sá/Divulgação
Além do diálogo com a paisagem, o projeto estabelece uma articulação com o patrimônio e com a concepção de restauro proposta por Lina — uma das responsáveis por introduzir no Brasil a abordagem italiana conhecida como “restauro crítico”, que propõe intervenções capazes de dialogar com a construção original, mas também de responder aos novos usos e demandas do espaço.
Nesse sentido, desde o início, um princípio do projeto foi atender a demanda por habitação existente e a rejeição da lógica de higienização social de outras intervenções em áreas históricas brasileiras. Em vez de expulsar moradores residentes, a proposição era por uma arquitetura que fosse capaz de acolher e dialogar com a vida cotidiana. “O social era tão importante quanto a arquitetura, ou até mais. A ideia era que o projeto e o programa de habitação andassem lado a lado”, diz Marcelo.
O projeto da Ladeira da Misericórdia era inovador a partir da ideia de ativar o espaço pré-existente e dialogar com usos contemporâneos
Manuel Sá/Divulgação
Tratava-se da concretização de um modelo, hoje entendido como fachadas ativas, em que os diferentes usos e demandas de quem vive no espaço são trazidos de forma associada. “É um dos poucos lugares em que, de fato, tentou-se resolver o problema social do centro histórico. Trabalho e moradia no mesmo lugar são a chave para que o centro funcione como um lugar vivo”, complementa Rodrigo.
O projeto também marcou o retorno de Lina Bo Bardi, já em seus anos finais de vida, a Salvador — cidade com a qual a arquiteta mantinha uma relação profunda desde o fim dos anos 1950: além da Ladeira, estavam sob sua coordenação projetos como a Casa do Benin, a sede do Olodum, o Teatro Gregório de Matos e o Cine Glauber Rocha.
O uso da argamassa armada
A argamassa armada é um sistema construtivo feito a partir da combinação de argamassa de cimento com telas metálicas, formando placas finas, leves e resistentes. Embora a técnica já existisse, foi a partir do trabalho de João Filgueiras Lima, o Lelé, que passou a ser desenvolvida de forma sistemática no Brasil, especialmente para obras públicas de baixo custo e rápida execução.
À frente da Fábrica de Equipamentos Comunitários (Faec), criada pela prefeitura de Salvador, Lelé estruturou um modelo de produção industrializada dessas peças. Outra vantagem é que esse tipo de material conseguia ser facilmente transportado para regiões de difícil acesso, como o centro histórico da capital baiana.
O uso da argamassa armada era um dos destaques do projeto da Ladeira da Misericórdia e foi uma das colaborações oriundas da parceria com o arquiteto Lelé
Manuel Sá/Divulgação
Na Ladeira da Misericórdia, a argamassa armada foi utilizada tanto na recuperação das casas do século 19 quanto na estabilização das ruínas do século 18. “Ela permitia reforçar estruturas existentes, criar lajes, escadas e contenções, garantindo segurança sem apagar necessariamente a materialidade original”, observa Rodrigo.
Recuperação e novas expectativas para a Ladeira da Misericórdia
Apesar da sua importância, o projeto da Ladeira foi interrompido entre 1989 e 1990, com a mudança da gestão da prefeitura. Ainda que finalizado, o conjunto não foi inaugurado e daquele em momento em diante passa por um processo gradativo de degradação.
Leia mais
A Ladeira da Misericórdia voltou a ganhar destaque a partir de estudos recentes que analisam o estado atual do conjunto arquitetônico e suas possibilidades de reativação. Nos últimos meses, a Prefeitura de Salvador, o Instituto Bardi e a associação cultural Pivô Arte e Pesquisa têm realizado encontros para discutir caminhos para essa retomada.
Estudos já realizados sobre a estrutura atual indicam um estado de conservação considerável, embora haja necessidade de algumas intervenções em razão do longo período em que o espaço permaneceu sem uso
Manuel Sá/Divulgação
A iniciativa tem sido acompanhada pelos arquitetos Marcelo Suzuki e Marcelo Ferraz, que colaboraram com um diagnóstico sobre o estado de conservação. “O resultado mostrou que, estruturalmente, o conjunto está muito bem, mas irá precisar de intervenções, principalmente onde há ferragem exposta, infiltrações e a necessidade de refazer toda a parte elétrica, hidráulica e de escoamento de água”, diz Ferraz.
Outro desafio é que, hoje, a Ladeira se configura como uma obra histórica, o que exige ainda mais cuidado nas intervenções. “Não se trata apenas de restaurar uma obra moderna que já é histórica; é preservar o espírito do projeto, que compreendia o patrimônio como algo vivo, em constante transformação”, destaca Renato
O futuro do conjunto da Ladeira da Misericórdia segue em discussão, mas deixa um importante legado para a arquitetura e os modos de pensar o patrimônio em zonas históricas no Brasil
Manuel Sá/Divulgação
Os rumos do espaço seguem em discussão e em diálogo entre os diferentes agentes envolvidos. “A grande tarefa do que está sendo feito agora passa pela presença dos autores do projeto original. Ter esses agentes envolvidos é fundamental”, pontua Rodrigo.
A proposta é que o conjunto torne-se um centro cultural, com atividades diversas e residências artísticas. “A ideia nunca foi transformá-lo em uma galeria fechada, mas em um lugar de uso público, onde as pessoas possam circular, comer, ouvir música e se apropriar do espaço”, reflete Marcelo Ferraz.



